Em reunião que se encerrou na noite de ontem, quarta feira, o COPOM – Comitê de Política Monetária, do Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros da economia, a SELIC, em 0,75%.
A elevação, como destacado pela grande imprensa, representa
a primeira elevação dos juros desde julho de 2015, o que não significa que não
fosse antecipapa por agentes do mercado, em razão da elevação dos indicadores
da inflação no país.
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Dessa forma, se surpresa houve, deveu-se mais à variação de
0,75%, frente à expectativa de 0,5% no limite.
Além da medida, o Banco Central já antecipou a decisão de novo
aumento, de mesma magnitude, para a próxima reunião a ser realizada no prazo de
45 dias.
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Embora pelo sistema de metas inflacionárias adotado pelo
país a medida seja o instrumento quase exclusivo para o combate à inflação, a justificativa
para a elevação da taxa não se prende, nesse momento, ao repique inflacionário,
apenas.
Outro motivo ocupa o primeiro plano da preocupação do colegiado
composto pelos diretores do Banco Central: a desvalorização do câmbio.
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Cabe aqui, recordar a frase atribuída a Mário Henrique Simonsen,
o ministro da Fazenda do governo Geisel, para quem se “ a inflação aleija, o
câmbio mata”.
A questão é que, para uma economia que cada vez mais se especializa
e depende da produção e exportação de “commodities”, a elevação do preço do
dólar significa maior receita de vendas em reais e maior lucro para os produtores
que optarem por destinarem sua produção para venda no mercado externo.
O que é muito benéfico para as contas do setor externo do
país.
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Assim, ao optar por deslocar sua produção para o mercado
externo, haverá menor oferta de produtos internamente, redução que, frente à
manutenção da demanda irá pressionar os preços. Ou seja: a desvalorização
cambial alimenta, por esse lado, a elevação de preços, em especial de alimentos
e minerais e matérias primas, indispensáveis para a indústria.
Situação que reflete de forma mais realista, o verdadeiro significado
de inflação: a carestia. O desabastecimento; o sumiço dos produtos nas gôndolas,
pela impossibilidade de os comerciantes reporem os estoques, cada vez mais
caros, com o resultado das vendas dos produtos que realizaram.
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Fica fácil perceber, pois, que para que o desabastecimento
não surja, o produtor deve tomar a decisão de vender sua produção no mercado
interno, o que só fará aos mesmos preços que consegue obter, depois de feita a
conversão do preço em dólar, cada vez maior, para a moeda nacional.
Por outro lado, em especial, em termos de insumos industriais,
mais elaborados, de maior valor agregado e maior conteúdo tecnológico, na maior
parte das vezes, a economia brasileira depende do fornecimento externo: as
importações.
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Entre as razões para tanto, podem ser citadas o processo de
desnacionalização enfrentado pelo país pós Plano Real e liberalização e
flexibilização dos fluxos de capitais, via privatizações e privatarias; via
tomada de controle de empresas nacionais por capitais externos. Além dessa
processo, deve ser citado o processo de desindustrialização a que o país foi
submetido desde os anos 90; a queda de produtividade da economia brasileira,
fruto de uma série de fatores, dentre os quais destacamos a baixa qualificação
e capacidade tecnológica de nossas empresas e trabalhadores.
Em duas palavras da moda, a falta de investimento em Educação
e Ciência (e tecnologia).
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O problema é que a dependência de importações, inclusive na
questão dos combustíveis fósseis, implica na realimentação da espiral inflacionária,
mais uma vez, em função do câmbio desvalorizado.
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Observa-se que o câmbio provoca a elevação da inflação, como
efeito de causas externas, que nada têm a ver, como alguns querem fazer crer,
com a elevação da emissão monetária posta em curso pelo Banco Central, em razão
da pandemia. Nem é culpa da elevação de gastos públicos, que representam muito
mais nesse momento de crise sanitária que atravessamos, o resultado do gasto de
transferências de renda que a compra de produtos, muito específicos, por parte
do governo. Ou seja, se há gastança pelo governo, não é necessariamente do tipo
de gasto que possa ser considerado capaz de pressionar a oferta interna de
produtos.
Do lado dos beneficiados com o auxílio emergencial, seria até
dispensável argumentar com sua quase irrisória participação na elevação de
preços, em especial de alimentos.
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Ninguém igonora que o benefício pago permitiu a milhões de cidadãos
brasileiros invisíveis terem sua existência descoberta pelo ministro Guedes.
Tampouco que o pagamento permitiu a muitas famílias poderem se sustentar e
adquirirem os produtos que lhes assegurassem sua subsistência.
Mas, nem o auxílio foi tão significativo, embora muito
relevante para várias famílias, quando superou em muito a soma de outros auxílios
sociais obtidos; nem se o auxílio foi capaz de permitir a compra de alguns
produtos a mais que aqueles que compõem a cesta básica.
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Além disso, lembremos que as parcelas do auxílio foram declinantes,
de 600 reais as quatro primeiras, para 300 reais as últimas. E as compras devem
ter continuado a serem realizadas, embora em valores mais limitados, enquanto a
inflação escalava, justo no período da redução do rendimento.
De mais a mais, o auxílio era destinado a dar condições de
todo aquele prejudicado pelo desemprego ou pela impossibilidade de obter a sua
sobrevivência dos bicos do mercado informal, poder continuar se sustentando.
Logo, informalmente todo esse contingente de 66 milhões de pessoas,
já estaria obtendo recursos e participando do mercado.
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Se a inflação não se deve à elevação da demanda ou à emissão
monetária, então sua origem encontra-se nos choques de oferta, pela quebra de
safras. Ou a explicação que passa pelo câmbio.
Isso, independente de o Banco Central ter atuado para conter
a escalada do dólar tendo, inclusive, utilizado as reservas internacionais
formadas pelos governos petistas, para injetar dólar a vista no mercado forçando
a queda de sua cotação.
As reservas internacionais, que encerraram 2020 no nível de
350 bilhões de dólares, estavam em 343,5 bilhões ao final de fevereiro depois
de terem atingido os 378,1 bilhões em meados de 2019.
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A utilização das reservas constituídas, é preciso deixar
bastante claro, pelos governos esquerdistas ou “comunistas” do PT, estão sendo dilapidadas
aos poucos pelo (des) governo liberal e
sem propostas, do genocida Bolsonaro.
Não basta matar mais de 300 mil pessoas, há que esgotar
também com os 370 bilhões de reservas que esse desgoverno herdou.
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Entendidas as razões que justificam a elevação da Selic, resta
analisar, brevemente duas questões: a primeira, o país pode estar caminhando, celeremente
para uma situação de estagflação, desemprego em alta, queda do PIB ou desempenho
pífio, e inflação em escalada, mesmo que não acelerada.
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Tal situação que representa o pior dos dois mundos, teria a
capacidade de alimentar o agravamento de ambas as situações. Senão vejamos: a
incerteza de ganhos na esfera produtiva, seja pelos efeitos deletérios da
pandemia e da mortalidade que ela acarreta, seja pela elevação dos juros, que
impactam positivamente os ganhos financeiros da riqueza fictícia, às custas de
adiamentos, atrasos, paralisações de decisões de investimento ou mesmo de
produção do setor real da economia, acaba criando um panorama desfavorável aos
negócios. Tal cenário leva os donos do capital, principalmente o externo, mas
não só, a retirarem seus recursos do país. A saída ou fuga de capitais,
alimentada por toda a situação de caos político, social, sanitário que o país
atravessa, acaba pressionando para cima os preços do dólar.
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Dólar mais caro, realimenta o processo espiral de inflação
maior, mais risco de reações sociais ou políticas (perda de popularidade dos
governantes), mais fuga de capitais; ao mesmo tempo, preços mais caros,
importações mais caras, dificuldades maiores de importação de insumos, redução
das atividades produtivas, maior desemprego, mais invisíveis, necessidade de
aumento dos prazos e valores de auxílios emergenciais, maior gasto público, maior
endividamento interno...
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Ou seja: o cenário é trágico, embora não poderia dizer que é
pessimista.
Como diz a lei de Murphy: não há situação nenhuma ruim que não
possa piorar.
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Por tudo isso, acho que o Banco Central ao elevar a Selic,
agiu mais de forma a atender à pressão ou chantagem dos agentes do mercado
financeiro, que estão cada vez mais exigindo juros futuros maiores para continuarem
financiando o governo, no processo de rolagem da dívida.
Ou seja: talvez a explicação seja fruto da captura do órgão
regulador pelos regulados.
O que já era previsto.
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Uma última observação: em um país em que a instabilidade é a
regra; a Justiça é morosa, e nem um pouco preocupada em fazer prevalecer o
direito; o governante é um sociopata, genocida; os políticos vivem todos em um
parque de diversões, aproveitando as cores, as luzes, a música em meio aos
carrinhos de uma montanha russa; os ministros são meros capachos, e a população
é composta de eleitores capazes de votarem em lixo, não sobra muito espaço para
tratar de temas como o retorno e o discurso de estadista de Lula; as reações de
Bolsonaro; o retorno cada vez mais acintoso da censura; as trocas de seis por meia
dúzia nos ministérios do terror; a lives proponentes de golpes por parte do genocida.
Por isso, peço desculpas aos amigos que acompanham nossos
pitacos.