Nesses tempos de cólera e mortalidade em alta, tenho passado
horas a procurar respostas para o comportamento, característico de um genocida,
adotado por Jair Bolsonaro.
Devo confessar que perplexidade e frustração são, até agora,
os únicos resultados a que minhas análises têm me conduzido. Provavelmente, por
força de partir de hipóteses incorretas ou inaplicáveis.
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Talvez residisse aí meu principal engano: querer ver
racionalidade em um comportamento de alguém, que apenas é revelador de uma
personalidade sociopata. Antissocial. Alguém completamente incapaz de sentir
empatia pelo outro ou remorso por suas ações e condutas.
Procurando entender melhor os portadores de tal transtorno,
apoio-me no Google que informa que pessoas com tais características tendem a
ser autoconfiantes, arrogantes e teimosos.
Traços que se aplicam bastante bem ao perfil do ex-capitão,
até no que revelam de forma implícita. Afinal, especialistas argumentam que
aqueles que fazem questão de mostrar quão autoconfiantes são, em geral são
pessoas dotadas de enorme insegurança.
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Nesse sentido, autossuficiência e autoestima serviriam como
um EPI, um equipamento para esconder a verdade interior, de insegurança e
timidez.
Ao contrário, portadores de autoconfiança dentro de limites
razoáveis seriam pessoas equilibradas, conscientes de suas capacidades, e que
não precisariam ficar alardeando tais atributos.
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Sem conhecimentos mais amplos para dar pitacos sobre o tema,
apenas assinalo que, em minha opinião, o presidente não passa de um inseguro.
Senão vejamos: dono da Bic - mas poderia ser uma Mont Blanc, sem qualquer
problema - ninguém discuto o fato de que
é dele, desde que dentro da lei, a assinatura com poder de fazer, deixar de fazer,
vetar, nomear, escolher, direcionar ações, atividades e metas. Algumas, várias, envolvendo o que faz o mundo funcionar: recursos financeiros.
No entanto, sua preocupação em não se tornar uma rainha da Inglaterra,
ou em demonstrar que ele é quem manda, ou quem demite ou convida ministros e
assessores, que ele é que foi eleito, etc. chega a ser risível, tamanha a
insistência em expressar o que é a essência do estado de direito, em relação ao
candidato sufragado pela maioria do povo.
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Ora, a isso, dá-se o nome de democracia. E, dentro das atribuições
e competências discriminadas em documentos legais, tudo que ele fizer ou se
propuser a fazer, deve ser obedecido.
Até por militares, de patentes mais elevadas, conquistadas
ao longo do exercício de toda uma carreira.
Sim, em nosso país, os generais de 4 estrelas devem prestar
continência e obediência ao capitão, comandante em chefe das Forças Armadas.
Isso é o que está lá no livrinho.
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Mas, não é só em termos de poder e autoridade, que Bolsonaro
parece ter dúvidas hamletianas.
Sua necessidade de se mostrar macho, imbrochável, um
reprodutor de primeira linha, capaz de gerar outros vários machos com apenas
uma fraquejada, é notória. Difundida como sua função de garanhão, justificativa usada para
os recursos recebidos a título de auxílio moradia, enquanto deputado.
Ou ainda, sua referência ao passado de atleta, capaz
de lhe assegurar imunidade e saúde, mesmo contra vírus poderosos, causadores de mera gripezinha, frente ao temível e saudável organismo. Status de atleta
que procura transmitir por meio de sessões constrangedoras de flexões que
realiza, ou com a prática de futebol, ou corridas rasas.
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Comportamentos que se alternam com outras em que exibe cenas
de "golden shower", ou faz questão de tecer algum comentário de cunho homossexual.
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Mas acho que seria uma hipótese algo simplória, de minha
parte, atribuir ao presidente um desejo sádico de assistir ou acompanhar o sofrimento
do povo. Seria simplista alegar sua aliança com o vírus, e sua subordinação à
morte.
Ele pode ser sádico, além de não ser coveiro, como fez
questão de nos esclarecer. Já mostrou também
que não se acha todo poderoso, afinal, todos vão mesmo morrer, e ele lamenta,
mas o que ele pode fazer?
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Mais sério, claro, foi sua comemoração em acertar, não as
medidas de prevenção frente à pandemia, não as compras de vacinas capazes de asseguraram
esperança à população: esperança de vida.
Ele preferiu comemorar que todas as previsões, os maus presságios,
que havia feito, se concretizaram. O que era uma inverdade. Mas, preferiu comemorar
a morte de um dos indivíduos do grupo de teste para a Coronavac, evento infeliz,
sem qualquer vinculo com a realização dos testes.
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A mim, é difícil esquecer sua expressão de derrota ou
decepção, ao se referir à chegada das vacinas e ao início do processo de
vacinação em nosso país.
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Que ele indicasse tratamentos inócuos, como a montagem e distribuição
de kits Covid, ineficazes e com efeitos colaterais desconhecidos ou arriscados,
poderia ter explicação. Afinal, a compra e até a fabricação de medicamentos poderiam
ter rendido gastos extravagantes, emergenciais e extrateto, com interesses
outros, não explicitados.
Que mandasse uma delegação com funcionários graduados fazer
um tour por Israel - país onde a vacinação foi considerada prioridade máxima e
onde até o primeiro ministro se prontificou a participar da campanha de
conscientização em prol da vacina- em busca de uma proteína sob a forma de spray nasal,
ainda em estágio preliminar de testes contra o corona, dá para entender.
Afinal, é o tipo de negócios que, bem negociado, permite
rachadinhas interessantes.
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Mas, minha hipótese mais atual é de que Bolsonaro preferiu
se aliar ao vírus e aos seus efeitos deletérios apenas para não ter que reconhecer
que o rei está nu. E assim, não ter que debater a real e frustrante realidade
que é responsabilidade exclusivamente sua.
Afinal, é dele a escolha de ministros. Foi dele, por mais
que os interesses do mercado financeiro pressionassem, a escolha de um
economista de formação liberal, formado em Chicago e treinado no fracasso da
experiência chilena de Pinochet: Paulo Guedes.
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Guedes, incensado pelos “mercados” representava o salvo conduto,
junto àqueles que, de fato possuem e
exercem o poder, a assegurar a chegada de Bolsonaro ao governo.
Lembremos que Bolsonaro sempre deixou claro que nada entendia
de economia, como também que, quando estudante da Academia Militar, estava
em voga e sendo disseminada uma visão de desenvolvimento fortemente
nacionalista, capitalista, desigual, com forte presença do Estado, então
militarizado e autoritário, como indutor do programa destinado a transformar o país
no Brasil grande, no Brasil potência.
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Difícil acreditar que quem sempre preferiu se meter com
distribuição de recursos entre funcionários de seu gabinete, e distribuição de
recursos entre milicianos, fosse ter visão macroeconômica, ou ainda visão
liberal.
Mas Guedes era tudo aquilo que o oportunismo do capitão recomendava.
E faro ele sempre mostrou ter. Ao menos para as pequenas ilegalidades.
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Tal oportunismo eleitoral, levou à nomeação de Guedes à
situação de Posto Ipiranga, justo no momento em que o petróleo iniciava uma
recuperação de preços no mercado internacional. E, como preços elevados do óleo
bruto representam aumento de custos de toda a cadeia dos combustíveis dele derivados,
a alta do preço do barril e dos combustíveis, com a resultante alta dos custos de transportes, soma-se à nossa dependência do modal rodoviário para
escoamento da nossa produção, afetando os preços em geral, especialmente
de produtos como alimentos, de grande impacto na cesta básica das famílias brasileiras.
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Enquanto o óleo subia de preço, junto com combustíveis, transportes e preços em geral, que se elevaram 4,52%, acima da meta de inflação, o apoio de Bolsonaro junto a parcela importante de seus apoiadores, tratados como gado, descia ladeira abaixo.
Junto com a queda de apoio, iniciava-se a perda
de prestígio de Guedes. Afinal, a política de preços de mercado da Petrobrás
segue a lógica de mercado da cartilha de Guedes.
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Mas, os conflitos entre o Guedes Ipiranga e o Bolsonaro, “militar”
estatizante, já vinham durante todo o governo. E entre anúncios de medidas no
sentido da liberalização e retrocessos, ficou claro para os donos do capital
que haviam embarcado em uma canoa com maiores fugas de água que aquela que haviam
previsto.
Investidores internacionais começaram a retirar recursos do
país, repatriando recursos. A incerteza no ambiente econômico, fez o dólar se
valorizar.
Com isso, preços de produtos internacionais tornaram-se mais
elevados, com efeitos duplos: por um lado, encareciam produtos como o petróleo,
e disparavam nova reação em cadeia de preços já tratada. De outro, tornavam
mais interessante para produtores de “commodities” direcionarem sua produção
para mercados no exterior. Vendas pagas em dólares valorizados representavam
elevação de receitas e ganhos para os produtores do agronegócio, como: soja e
derivados, milho, insumos para ração alimentar para rebanhos.
Vale assinalar que tais produtos já tinham demanda elevada
por parte de mercados chineses, o que ajudava a elevar os preços em dólar.
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Internamente, o efeito foi nova elevação de preços de alimentos
e produtos de primeira necessidade, realimentando a alta de preços.
Inflação que nada tem a ver com aumento de demanda interna
como consequência de pagamento de auxílio emergencial ou a elevação de gastos
e déficits, ou expansão monetária para dar curso ao pagamento de tais auxílios.
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Junto à inércia e inação de Guedes, acovardado para se
manter no cargo, e a elevação inflacionária dos preços, a economia não cresceu
como era a promessa quando do golpe contra a presidenta Dilma; o desemprego só
fez aumentar, apesar das reformas ditas estruturantes ou modernizadoras, na
verdade meras medidas de castração dos direitos trabalhistas e sociais, e emasculação
da classe trabalhadora, até chegar ao resultado do PIB de queda de -4,1%, a
maior da série, em 2020.
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Ora, como a queda do PIB pode facilmente ser atribuída ao vírus,
a melhor estratégia para esconder o tremendo fracasso da área econômica seria
dar corda e continuar dando corda ao seu efeito deletério, sobre a vida, a
sociedade, a economia.
O governo cada vez apresenta um resultado pior. Mas Jair tem
uma desculpa. E sem poder culpar a Guedes, sua escolha, melhor se aliar ao
vírus.
Que mantém o sonho vivo para 2022, apesar de não dar a mesma
certeza em relação à população e aos eleitores de Bolsonaro.
Certeza apenas a narrativa de que a bandeira do país jamais
será vermelha. Como o sangue anêmico da população que segue bovinamente o
presidente.
Um comentário:
Boa análise, Paulo. O sentimento diante a tanta destruição e descaso com a vida é indignação e perplexidade diante da cegueira dos seguidores irracionais de figura tão perversa.
Não desanimamos na luta pela defesa pela vida, e pela vida digna para todos.
Força e coragem!!!
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