terça-feira, 13 de abril de 2021

Divagando sobre as razões de tanto comportamento reles: de Kajuru, já que do presidente não se deve esperar coisa distinta

 Cercada de dúvidas, muitas delas pouco convincentes, algumas questões devem ser destacadas na tal gravação da conversa entre Kajuru e Bolsonaro.

A primeira delas, a preocupação do senador em demonstrar, até com insistência, toda a sua subserviência ao presidente. O que não o impediu de se referir e até criticar, de forma inteiramente deselegante, vários de seus colegas.

***

Vá lá: mais que subserviência e um comportamento tipicamente cafajeste, que não deve surpreender a grande parte daqueles que o conhecem mais de perto, Kajuru ainda estava gravando a conversa.

Nada contra gravar as conversas que mantém com quem quer que seja: o deputado Mário Juruna, deputado federal pelo PDT no início da década de 80, já deixava claro que iria gravar todos os seus pronunciamentos, e outros feitos por seus colegas, da tribuna da Câmara.

***

Eram outros tempos, talvez de maior decência nas relações particulares, e o deputado circulava pelo recinto da casa legislativa portando um gravador, para registrar tudo que o homem branco afirmava.

Afinal, como se justificava, a palavra do homem branco não era confiável.

Constatação que seria posteriormente, em 1993, confirmada por Lula, ao se referir à existência de 300 picaretas, naquela Casa.

***

O interessante é que Juruna gravava à frente de todos os seus colegas, que tinham ciência de que estavam sendo gravados, bem como do uso que as fitas teriam.

Diferente de qualquer um mal intencionado, capaz de gravar conversas particulares, algumas até confidenciais, havidas, aproveitando-se da boa fé dos amigos. Que não foram alertados de que estariam sendo gravados.

E pior: que teriam trechos divulgados, sem conhecimento prévio.

***

Independente de todos os atores envolvidos e de suas motivações, Kajuru deveria ser levado à Comissão de Ética, depois de essa comissão decidir se irá ou não aplicar alguma punição à deputada e pastora Flordelis, pelo ato trivial de mandar assassinar seu marido; ou decidir sobre falas de Eduardo Bolsonaro, o bananinha, contra a democracia; ou ainda de Flávio Bolsonaro, pela prática contumaz de rachadinhas ou aquisições milionárias de imóveis, etc.  

São muitas as questões sobre as quais a Comissão de Ética deveria se pronunciar, o que pode impedir dar um tratamento tempestivo, ao caso do senador Kajuru.

***

E levado à apreciação de seus pares (e ímpares, em respeito a alguns dos representantes do povo!), não há como não concluir pela necessidade de cassação do mandato do político de comportamento sempre tão folclórico.

Salvo se, e aí está o centro da questão: salvo se Bolsonaro soubesse da gravação, como parece ser o caso.

O que aqueles que o conhecem admitem que deve corresponder à realidade, já que ele falou poucos palavrões!?!?!?!

Segundo essa versão, Bolsonaro teria se contido, para escandalizar menos que sua performance na reunião de 22 de abril de 2020.

***

Peço desculpas, mas aqui não resisto a fazer um parêntese, para lembrar de JK e Juca Chaves, naquela ocasião em que, dominados por comunistas, o país assistia à acusação feita ao presidente de ser bossa nova. Afinal, “bossa nova é ser presidente, desta terra descoberta por Cabral”.

***

Se ciente da conversa com Kajuru e até autorizada sua divulgação, o presidente teria incorrido em mais uma de suas já famosas ações de esticar a corda.

Provocando, mais uma vez, para sentir a receptividade da sociedade a alguma ação diretamente contra o STF, ou a reação dos Ministros.

***

Rosa Weber, imediatamente, acusou o golpe: e decidiu pela suspensão de entrada em vigor do decreto sobre armas com que o genocida, decidiu reforçar o estímulo à morte, não bastasse o estrago feito pela Covid, com sua colaboração.

***

O fato é que, mais uma vez, o presidente comete crime de responsabilidade ao procurar interferir em assuntos internos do Senado, como o motivo de instalação da CPI da Covid, já determinado.

Aqui, fica nítida sua intenção em tão somente provocar a dispersão de temas a serem investigados, de forma a que, no tumulto, nada se conclua no tempo determinado de funcionamento da Comissão de investigação.

Ainda assim, é uma interferência no mínimo indevida, mesmo que a abertura para essa manifestação tivesse sido oferecida pelo senador pelego.

***

Pior é tentar articular com o sujeito vil, que se presta a tantos papéis desabonadores, a tentativa de intimidação contra o STF. Ou mais que isso, o crime de tentar romper a harmonia preceituada em nossa Constituição, entre os poderes.

***

O drama é que propor um pedido de impeachment de ministro do Supremo, depende de, penso eu, a prática de atos juridicamente capazes de configurarem algum tipo de crime. Não me parece que seja o caso, especialmente, quando alguns atos criticados foram escudados pelo colegiado como um todo monolítico.

Mas, se CPI, como vários juristas têm mostrado, é instrumento típico do poder Legislativo, e tem normas definidas para serem definidos, um impeachment tem outra lógica, que passa muitas vezes pelo presidente do Senado, este outro serviçal do poder executivo, que é Rodrigo Pacheco.

***

Não me venham falar que esse capacho é mineiro. Felizmente não é. Embora seja da escola de Minas, já tão sem prestígio há tanto tempo, a ponto de gerar senadores que não se avexam de se mostrarem como são, caso do radialista Carlos Viana.

Minas está muito mal de representatividade!

***
Mas, porque razão Bolsonaro não deseja a instalação de uma CPI, de resto quando todo efeito dela pode apenas levar a uma pizza mais demorada?

Meu argumento é que não há mais nenhum brasileiro, dotado de um mínimo de condição de raciocinar, que ainda não percebeu a quantidade de atos criminosos, alguns, adotados por Bolsonaro no trato da pandemia.

Isso o comprova a queda de popularidade avassaladora que o presidente tem experimentado nas pesquisas de opinião pública.

***

Se a ação do presidente é, no mínimo, considerada de grave omissão, o que o leva a temer uma CPI que pode se arrastar e, repito, acabar como várias outras, em pizza?

Confesso que pensei que era o medo de ficar cada vez mais dependente de votos favoráveis do Centrão. Mas, minha hipótese é que não é essa sua preocupação.

***

Acredito que seja apenas o fato de tal CPI poder se arrastar, cada vez mais, até chegarmos às portas de 2022, com denúncias novas e novas acusações a cada dia, de forma a demonstrar, de vez, o descalabro que é o governo do responsável por toda a destruição do país, de sua economia, das instituições, e inclusive da população, depois de 355 mil mortes.

É isso.

quinta-feira, 8 de abril de 2021

De vassalos e sabujos: os homens que compõem nossas forças militares e nosso governo civil

Confesso não saber as razões, mas como qualquer pessoa curiosa e com acesso à leitura de jornais, é de meu conhecimento que o ano astrológico tem início no dia 20 de março, quando o sol entra em aquário!!!

Portanto, em minha ignorância, acredito não estar cometendo um erro muito grosseiro se afirmar que o ano zodiacal tem início em abril.

O que, como brasileiro, significa que temos fartura de datas para marcar o início do Ano Novo: a oficial, de 1º de janeiro; a informal, de aceitação inquestionável pela maior parte da população, do final do Carnaval; e a astrológica, do mês de abril.

***

E, estejamos entrando na Era de Aquário de mudanças prometidas ou desejadas, ou não, o certo é que Abril começou quente nesse ano de 2021.

Quente e mórbido, em razão do vírus da Covid e do comportamento tipicamente genocida de quem deveria assumir a liderança responsável no combate da pandemia que nos assola.

***

Ao contrário, o comportamento perverso e genocida de Bolsonaro nos arrasta, cada vez mais, para o centro do desastre humanitário, demográfico, econômico e social, que varre nosso país, a partir do desdenho que insiste em demonstrar por medidas de isolamento social, ou o uso de máscaras, pelo respeito às recomendações cientificamente comprovadas, e até da importância tempestiva de adoção de campanhas de vacinação.

***

Este comportamento de negação da crise e de sua dimensão ou de seus efeitos deletérios é que permite entender a sequência de trocas de ministros responsáveis pela Saúde, mas não apenas, aproveitando toda circunstância para desestabilizar o país e seu próprio governo.

Daí a dança de cadeiras nos ministérios da Justiça, das Relações Exteriores, da Secretaria de Governo, Cidadania, Educação, etc. etc.

E nesse abril quente, até mesmo na Defesa e nas Forças militares.

***

A essa altura, apesar de decorridos apenas 7 dias de abril, fica cada vez mais evidente sua continuada tentativa de se cercar de militares confiáveis e adeptos de uma aventura golpista, autoritária, antidemocrática, sob seu comando, sonho que acalenta desde antes mesmo de eleito ou empossado.

Muito se disse da galhardia e compromisso democrático do general Fernando Azevedo, e sua disposição de conservar o papel das Forças Armadas como forças de defesa das instituições de Estado.

***

Ok. Vamos esquecer que Azevedo estava presente, junto ao arremedo de ditador, no helicóptero que sobrevoou o Forte Apache em dia de manifestação antidemocrática promovida por aquela parcela da população que não se sente madura o suficiente para não precisar de viver sob tutela.

Vamos esquecer que Azevedo faz parte dessa mesma turma de militares que se considera responsável pela manutenção e pela guarda da democracia, do respeito à ordem e segurança e pela liberdade.

Guardiãs dos mais elevados valores nacionalistas, morais, éticos, dessa população brasileira infantilizada e incapacitada.

***

Vamos esquecer da máxima popular, de que “Rei morto, Rei posto” e que, para cada Azevedo que sai, sempre tem um Braga Neto para assumir o lugar, com a mesma subserviência escudada pela disciplina, hierarquia e.... pelo sonho golpista.

O mesmo Braga Neto, defensor da democracia, que divulga nota em comemoração ao golpe militar que instaurou 21 anos de arbítrio, prisões, tortura e mortes, sem dar cabo, antes ao contrário, da corrupção civil ou fardada.

Ah! dirão, mas o golpe militar impediu a implantação do comunismo.

Uma inverdade: ninguém, nem nada retira das mentes doentias, os fantasmas que elas cultivam com tanto zelo, seja como resultado, de um lado, seja como forma de justificativa de seus arroubos e desvarios.

***

É fato que os nossos militares não apresentam comportamento distinto de seus congêneres de outras nacionalidades.

Mas, para militares que se julgam os pais da Pátria, a última bolacha do pacote, mesmo em um país que não tem qualquer pretensão de domínio internacional, de conquistas típicas de império, o mais recomendável seria a extinção dessas forças.

Ao menos evitaria a tentação, futura, de repetição de algumas passagens convenientemente esquecidas de nossa história, em que  as forças armadas se voltaram contra o povo brasileiro (vide episódio de Canudos, ou  do sítio de Caldeirão, no governo Dutra).

***

A extinção das forças armadas, além de tudo, serviria como fonte importante de economia de recursos públicos.

***

Mas, se a subserviência militar de um general Braga Neto, ou Augusto Heleno, encontra amparo na disciplina, porque é difícil aceitar que generais se submetam a um ex-tenente, ainda mais considerado mau soldado, não fica atrás a subserviência de um cardiologista reconhecido por seus pares, como o dr. Marcelo Queiroga.  

***

Vale dizer que o dr. Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, ainda levou algum tempo depois de sua nomeação para mostrar sua capacidade de se curvar ao poder.

Enquanto não se desvencilhava das clínicas de que era sócio para assumir a pasta da Saúde, até que se mostrou um homem voltado para a aplicação das melhores recomendações da prática médica científica.

***

Correndo atrás do tempo perdido, procurou negociar e adquirir maior quantidade de vacinas com laboratórios produtores internacionais. Além disso, mostrou preocupação em promover o uso de máscaras, de hábitos de higiene, de medidas de isolamento social.

***

No entanto, para não ser dispensado antes de ter tempo de poder mostrar e marcar sua carreira com os sinais de vassalagem explícita, deixou claro que a política de saúde não é do ministro, que é meramente um executor da política de governo.

Para bom entendedor, embora ele seja o médico, quem dá a receita é o ex-militar, com quadro clássico de psicopatia.

***

E, para fazer referência a outro ditado popular, como não há bem que sempre dure, o ministro acaba de explicitar que seu apego à boa ciência não resiste à presença de seu chefe,  em viagem que fez acompanhando o irresponsável que dirige o país a Chapecó.

Em visita de solidariedade e confraternização ao prefeito negacionista e mentiroso daquela cidade catarinense, divulgador do tratamento precoce de ineficácia comprovada, Bolsonaro voltou a elogiar a independência e autonomia e liberdade dos médicos favoráveis à aplicação de placebos.

No que foi prontamente apoiado pelo ministro, cuja fala transcrevo a seguir: “ Aqui em Chapecó, ...., nós pudemos ter o exemplo de que é possível conciliar a autonomia do médico com a recuperação dos nossos pacientes.”

***

Resta apenas assinalar que as UTIs estão lotadas de pacientes de Covid na cidade; que o número de óbitos supera a de outras cidades do estado; que tratamento precoce, na opinião do responsável pela saúde naquele município é o acolhimento precoce e não a aplicação de medicação sem eficácia e que o prefeito decretou o 'lockdown' tão temido pelo capitão, de 14 dias no mês de março.

***

Queria tratar ainda da sabujice de Aras e de André Mendonça, mas deixo para outro momento. Afinal, ainda veremos mais ocasiões de os dois candidatos à cadeira no Supremo estarem  se arrastando heroicamente pelo chão.

Como as serpentes do Paraíso. Ou como os fariseus dos templos de Cristo.