Cercada de dúvidas, muitas delas pouco convincentes, algumas questões devem ser destacadas na tal gravação da conversa entre Kajuru e Bolsonaro.
A primeira delas, a preocupação do senador em demonstrar,
até com insistência, toda a sua subserviência ao presidente. O que não o impediu
de se referir e até criticar, de forma inteiramente deselegante, vários de seus
colegas.
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Vá lá: mais que subserviência e um comportamento tipicamente
cafajeste, que não deve surpreender a grande parte daqueles que o conhecem mais
de perto, Kajuru ainda estava gravando a conversa.
Nada contra gravar as conversas que mantém com quem quer que
seja: o deputado Mário Juruna, deputado federal pelo PDT no início da década de
80, já deixava claro que iria gravar todos os seus pronunciamentos, e outros feitos
por seus colegas, da tribuna da Câmara.
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Eram outros tempos, talvez de maior decência nas relações
particulares, e o deputado circulava pelo recinto da casa legislativa portando
um gravador, para registrar tudo que o homem branco afirmava.
Afinal, como se justificava, a palavra do homem branco não
era confiável.
Constatação que seria posteriormente, em 1993, confirmada
por Lula, ao se referir à existência de 300 picaretas, naquela Casa.
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O interessante é que Juruna gravava à frente de todos os
seus colegas, que tinham ciência de que estavam sendo gravados, bem como do uso
que as fitas teriam.
Diferente de qualquer um mal intencionado, capaz de gravar
conversas particulares, algumas até confidenciais, havidas, aproveitando-se da
boa fé dos amigos. Que não foram alertados de que estariam sendo gravados.
E pior: que teriam trechos divulgados, sem conhecimento prévio.
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Independente de todos os atores envolvidos e de suas
motivações, Kajuru deveria ser levado à Comissão de Ética, depois de essa
comissão decidir se irá ou não aplicar alguma punição à deputada e pastora Flordelis,
pelo ato trivial de mandar assassinar seu marido; ou decidir sobre falas de
Eduardo Bolsonaro, o bananinha, contra a democracia; ou ainda de Flávio
Bolsonaro, pela prática contumaz de rachadinhas ou aquisições milionárias de imóveis,
etc.
São muitas as questões sobre as quais a Comissão de Ética
deveria se pronunciar, o que pode impedir dar um tratamento tempestivo, ao caso do senador Kajuru.
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E levado à apreciação de seus pares (e ímpares, em respeito
a alguns dos representantes do povo!), não há como não concluir pela
necessidade de cassação do mandato do político de comportamento sempre tão folclórico.
Salvo se, e aí está o centro da questão: salvo se Bolsonaro
soubesse da gravação, como parece ser o caso.
O que aqueles que o conhecem admitem que deve corresponder à
realidade, já que ele falou poucos palavrões!?!?!?!
Segundo essa versão, Bolsonaro teria se contido, para
escandalizar menos que sua performance na reunião de 22 de abril de 2020.
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Peço desculpas, mas aqui não resisto a fazer um parêntese,
para lembrar de JK e Juca Chaves, naquela ocasião em que, dominados por
comunistas, o país assistia à acusação feita ao presidente de ser bossa nova.
Afinal, “bossa nova é ser presidente, desta terra descoberta por Cabral”.
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Se ciente da conversa com Kajuru e até autorizada sua
divulgação, o presidente teria incorrido em mais uma de suas já famosas ações
de esticar a corda.
Provocando, mais uma vez, para sentir a receptividade da sociedade
a alguma ação diretamente contra o STF, ou a reação dos Ministros.
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Rosa Weber, imediatamente, acusou o golpe: e decidiu pela suspensão
de entrada em vigor do decreto sobre armas com que o genocida, decidiu reforçar
o estímulo à morte, não bastasse o estrago feito pela Covid, com sua
colaboração.
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O fato é que, mais uma vez, o presidente comete crime de
responsabilidade ao procurar interferir em assuntos internos do Senado, como o
motivo de instalação da CPI da Covid, já determinado.
Aqui, fica nítida sua intenção em tão somente provocar a
dispersão de temas a serem investigados, de forma a que, no tumulto, nada se
conclua no tempo determinado de funcionamento da Comissão de investigação.
Ainda assim, é uma interferência no mínimo indevida, mesmo
que a abertura para essa manifestação tivesse sido oferecida pelo senador
pelego.
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Pior é tentar articular com o sujeito vil, que se presta a
tantos papéis desabonadores, a tentativa de intimidação contra o STF. Ou mais
que isso, o crime de tentar romper a harmonia preceituada em nossa Constituição, entre os poderes.
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O drama é que propor um pedido de impeachment de ministro do
Supremo, depende de, penso eu, a prática de atos juridicamente capazes de configurarem
algum tipo de crime. Não me parece que seja o caso, especialmente, quando alguns
atos criticados foram escudados pelo colegiado como um todo monolítico.
Mas, se CPI, como vários juristas têm mostrado, é instrumento
típico do poder Legislativo, e tem normas definidas para serem definidos, um impeachment
tem outra lógica, que passa muitas vezes pelo presidente do Senado, este outro
serviçal do poder executivo, que é Rodrigo Pacheco.
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Não me venham falar que esse capacho é mineiro. Felizmente
não é. Embora seja da escola de Minas, já tão sem prestígio há tanto tempo, a
ponto de gerar senadores que não se avexam de se mostrarem como são, caso do
radialista Carlos Viana.
Minas está muito mal de representatividade!
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Mas, porque razão Bolsonaro não deseja a instalação de uma CPI, de resto quando
todo efeito dela pode apenas levar a uma pizza mais demorada?
Meu argumento é que não há mais nenhum brasileiro, dotado de
um mínimo de condição de raciocinar, que ainda não percebeu a quantidade de
atos criminosos, alguns, adotados por Bolsonaro no trato da pandemia.
Isso o comprova a queda de popularidade avassaladora que o
presidente tem experimentado nas pesquisas de opinião pública.
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Se a ação do presidente é, no mínimo, considerada de grave
omissão, o que o leva a temer uma CPI que pode se arrastar e, repito, acabar
como várias outras, em pizza?
Confesso que pensei que era o medo de ficar cada vez mais
dependente de votos favoráveis do Centrão. Mas, minha hipótese é que não é essa sua
preocupação.
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Acredito que seja apenas o fato de tal CPI poder se arrastar,
cada vez mais, até chegarmos às portas de 2022, com denúncias novas e novas
acusações a cada dia, de forma a demonstrar, de vez, o descalabro que é o governo
do responsável por toda a destruição do país, de sua economia, das instituições,
e inclusive da população, depois de 355 mil mortes.
É isso.
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