quinta-feira, 13 de maio de 2021

Pitacos vários, refletindo sobre a cloroquina; os decretos e as bravatas do Senhor da Morte; e a importância da Amazônia para a sobrevivência do Exército

 Já tive a oportunidade de me manifestar antes, mas não custa repetir a minha opinião: Bolsonaro é apenas um covarde.

Característica que, conforme os recentes casos noticiados e fartamente documentados, parece  um padrão de conduta típico, forjado nas escolas e academias militares ou no convívio na tropa.

Tal juízo se confirma pela observação do comportamento do ministro general Luiz Eduardo Ramos, da Casa Civil, e sua decisão de se esconder para tomar a vacina contra a Covid; ou do general Pazuello, ex-ministro da Saúde, em sua covardia ridícula no atendimento à convocação para testemunhar na CPI da Covid, do Senado; ou o comportamento omisso do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, salientado em reportagem de março último da IstoÉ; e até mesmo do general Mourão, sempre solícito em expor suas opiniões discordantes aos jornalistas, embora preferindo se resguardar de apresentá-las diretamente ao presidente.

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Admitida a covardia ostensiva de Bolsonaro, há que se analisar seu discurso não como um conjunto de desculpas esfarrapadas e vadias. Há que se buscar, em suas falas, mesmo que desconexas, algum motivo recôndito. Motivo das reflexões deste pitaco.

Assim, por mais que não concordemos com a racionalidade (se alguma!) de seu comportamento, uma reflexão talvez permitisse lançar alguma luz sobre o caos de seu mandato.

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Nesse sentido, por mais que já tenha sido exposta a lógica de sustentação da sua defesa da cloroquina e outros medicamentos ineficazes, é importante destacar que a hipótese aqui  sustentada é a de que tal defesa, longe de estar ligada a questões médicas, farmacêuticas ou de saúde, tem a ver com a Economia.

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Em várias ocasiões Bolsonaro teve a oportunidade de manifestar sua preocupação com os rumos da economia, em especial com a taxa de crescimento do país e com a decorrente redução das taxas de desemprego. Ou vice-versa.

Nunca é demais lembrar que o inimigo com que se confronta, o oponente privilegiado que o capitão elegeu como alvo a ser batido, e até condenado ao esquecimento, não é outro senão o presidente Lula, que no último ano de seu mandato entregou uma taxa de crescimento de 7,5% do PIB.

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Daí seu temor e suas críticas à adoção das medidas recomendadas pela ciência, de restrição ou isolamento social, expressos desde o início da pandemia na afirmação de que  “ Se a economia afundar, acaba o governo...” .

Também não é demais lembrar que seu ídolo, Trump, apresentava números de desempenho econômico em seu país,  que Bolsonaro sonhava atingir. Isso, antes da chegada da Covid.

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E pouco importa que ele tivesse acreditado no discurso estapafúrdio e destrutivo de Paulo Guedes, indicando-o para o Ministério da Economia e para o papel de principal conselheiro.

Guedes não entregou nenhum resultado positivo prometido no primeiro ano de governo. O que não impediu de continuar angariando o apoio dos setores empresariais de nossa elite putrefata, espoliadora e especulativa, acrescida de uma rara capacidade de adotar um comportamento de puxa-saco. Além de seguir o perfil do chefe: negando em um dia a afirmação mais descabida que havia feito no dia anterior.

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Bolsonaro percebeu que não conseguiria levar a economia a um comportamento minimamente esperado, seja por culpa de Guedes e pelas políticas ou não-políticas adotadas; seja em razão da chegada da pandemia. Daí seu apego à cloroquina.

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Não que fosse sua intenção promover uma mortandade recorde da população do país (mesmo que intuísse que as vidas ceifadas seriam as da população mais pobre, mais necessitada e, em sua visão, menos merecedora de sua atenção e cuidados); nem que perseguisse a chamada imunidade de rebanho, conceito cujo significado tenho dúvidas que fosse capaz de enteder.

Não se tratava de saúde pública, mas de procurar estimular e levar a população às ruas em busca de emprego, com a ajuda do desmonte que Guedes arquitetara em relação às relações de trabalho, cada vez mais precarizadas e à retirada de direitos trabalhistas históricos.

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O que revela que, mesmo tendo afirmado ter lido a obra de Keynes, na língua original, Guedes foi incapaz de entender que o comportamento do nível de emprego não depende da disposição do trabalhador, senão que do estado de expectativas e das decisões do empresário,  dono dos meios de produção.

Comprando a ilusão vendida pelo bufão Guedes, e em busca da expansão do nível de atividade econômica, Bolsonaro parece ter visto na cloroquina o passaporte, ou o seguro para que o trabalhador pudesse se dirigir ao seu local de trabalho dando curso à produção.

Dessa forma, a cloroquina reduziria o medo de o trabalhador se infectar ou transformaria a infecção em algo banal, sem gravidade (“uma gripezinha”!).

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Por isso o desespero do ex-capitão quando o desenvolvimento de estudos médicos começou a demonstrar tanto a ineficácia da cloroquina no tratamento da pandemia, quanto os seus efeitos colaterais potencialmente letais.

Voltar atrás na recomendação do remédio significaria não apenas admitir seu erro, mas aceitar ficar a reboque de governadores e prefeitos, que ele encarava como potenciais concorrentes ao Planalto, na adoção das medidas sanitárias que ele tanto criticara.

Além disso, tal retrocesso poderia ser interpretado como a admissão de sua responsabilidade em relação a algumas das mortes ocorridas.

Talvez essa seja a razão de optar por partir para o tudo ou nada, aprofundando sua aposta, mantendo e intensificando o  comportamento omisso e irresponsável adotado desde o início da crise sanitária.

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Quanto à reiteração das bravatas de que teria pronto um decreto visando impedir as medidas de isolamento social decididas por prefeitos e governadores, à essa altura, quando a vacinação avança mesmo a passos lentos no território nacional, minha opinião é de que servem a outro propósito.

Acredito até que acabará emitinto o decreto, assim que os índices de vacinação em relação à população forem maiores, e os valores de contágio e óbitos estiverem em níveis tão reduzidos quanto aqueles de ocupação da capacidade dos serviços hospitalares.

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Nesse caso, e com a crise sob maior controle, o ex-capitão poderá tentar uma jogada para ser lembrado como o responsável por medidas que permitirão a tão necessária retomada da economia, como ele sempre pregou. Sem consequências maiores e mais graves para o povo.  

A ideia seria, então, procurar ser lembrado como a última referência na defesa dos interesses dos trabalhadores, para aproveitar-se da memória curta do eleitorado.

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Embora não vinculada imediatamente ao senhor da morte, outra questão que acho interessante discutir nesse pitaco  diz respeito à visão dos nossos militares (o que inclui o capitão) em relação à Amazônia.

É corrente a opinião de que os militares têm, a respeito daquela região, uma visão ultrapassada, anacrônica, de defesa das riquezas do território nacional e de nossa soberania. Sob essa ótica, os militares serviriam para impedir que forças militares estrangeiras promovessem uma invasão, com possível domínio e anexação daquelas terras aos seus países e interesses.

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Tal crença seria cômica, especialmente quando se sabe que, aos militares e ao governo atual, pouco importa que houvesse a exploração econômica das terras amazônicas e suas riquezas por empresas de capital e interesses estrangeiros.

O ponto focal é que houvesse a exploração econômica do bioma, que deixaria de ser tratado como um santuário, passando a gerar algum tipo de renda para o país ou grupos nacionais associados.

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Se a questão da exploração nacional versus estrangeira é uma falsa questão, qual o verdadeiro interesse dos militares na Amazônia?

A hipótese que apresento é a de que a soberania é mera cortina de fumaça, artifício para justificar o discurso da necessidade da presença das Forças Armadas no local. E justificar a existência e custeio de uma instituição como o Exército nacional, sem qualquer outra função aceitável e crível, em benefício do Estado e do povo brasileiro.  

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