terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Retornando do recesso com a transformação de Djokovic em herói do estado de barbárie, por defender direitos individuais SEUS, em antagonismo ao direito de todo um povo.

Tenho visto, em redes sociais, uma série de homenagens prestadas ao novo ídolo da liberdade individual e do direito que todo o cidadão tem de agir de acordo com suas convicções éticas, morais, religiosas, etc., o tenista sérvio Djokovic.

Transformado em herói pela extrema direita mundial, não poderia ser diferente em nosso país,  onde está ganhando o status de símbolo de defesa dos valores defendidos pelos bolsotários.

A continuar neste ritmo, em pouco alcançará o posto de muso do verão deste país tropical.

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Isso exige de nós que analisemos mais atentamente os tais valores dos grupos de nossa direita extrema, que o tenista parece representar.

Antes uma observação necessária em relação ao esportista, líder do ranking de tenistas profissionais; recordista de títulos de grandes “slams” ao lado de Federer e Rafael Nadal, com 20 conquistas; recordista de vitórias do Aberto da Austrália, onde venceu em nove ocasiões; e, franco favorito a superar a barreira dos 21 títulos dos maiores torneios da modalidade.

Dado seu currículo, o reconhecimento de suas qualidades de atleta se impõe sem dar margem a contestações.

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Reconhecida sua importância para o tênis profissional, há que se enumerar algumas outras observações  pertinentes para a compreensão da elevação do sérvio ao papel de ‘mártir’ na defesa dos direitos individuais.

A primeira delas trata de uma obviedade: como todo grande campeão, não é demais reconhecer que o sérvio deve se cercar de uma estrutura sofisticada de auxiliares, desde técnico ou técnicos, até ‘sparrings’, preparadores físicos, médicos, nutricionistas, relações públicas, responsáveis pela área de comunicação, ‘media training’, e toda uma equipe especializada que o cerca com o objetivo de responder pelo planejamento e administração de sua carreira.

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Outra observação se refere ao fato de que, já há alguns anos, o Aberto da Austrália (até então o torneio de encerramento da temporada anual) passou a ser o torneio de início da temporada, sendo realizado tradicionalmente no mês de janeiro.

Logo, não há como se alegar que o calendário era de desconhecimento de qualquer de seus atletas.

Ademais, o mundo atravessa, desde o final de 2019, uma crise de origem sanitária e humanitária, a Covid 19 (SARS cov 2), classificada como uma pandemia. Em função da pandemia, da facilidade de transmissão do vírus, e do elevado número de óbitos, vários países, têm, ao longo de todo este período, adotado medidas de cunho radical, extremas, de restrições severas a certos direitos individuais.

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Neste pitaco, não é meu propósito discutir o acerto ou mesmo o exagero das medidas de restrição recomendadas e adotadas, com maior ou menor rigor em praticamente todos os países do mundo.

Desejo frisar apenas que, ao lado da recomendação de medidas de adoção de higienização pessoal, como o uso de álcool ou a constante e correta lavagem das mãos, e do uso de máscaras, a medicina tem recomendado às pessoas evitarem aglomerações e ambientes fechados que, dada a evolução das condições de assistência médica-hospitalar, e o avanço da própria Covid, podem levar à decisão de decretação de ‘lock down”.

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Como muitos negacionistas não reconhecem ou admitem a crise de saúde que varre o mundo, muitos são contrários, não apenas às restrições aos direitos individuais de ir e vir, circular livremente, etc. Nesse caso, fazem questão de não usar as máscaras, se aglomeram, são contra as medidas que, se todos com consciência da necessidade do cuidado social viessem a praticar, poderia evitar o abarrotamento de hospitais, postos de saúde, clínicas, Unidades de Pronto Atendimento, macas, camas e enfermarias e, por fim, de Unidades de terapia intensiva.  

Se agissem menos preocupados com seu próprio umbigo, e com a tal e já desgastada EMPATIA, os ‘lock downs’ talvez não viessem a se tornar necessários.

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Mais tarde devo fazer alguma observação sobre o comportamento e a postura de Djokovic, frente à pandemia, ou mesmo frente a suas conviccções pessoais.

Aqui, quero apenas lembrar que, como vários outros países e instituições médicas de respeito e tradição têm reiteradamente negado a eficácia do combate à Covid pela criação de uma falaciosa imunidade de rebanho, a maioria dos países têm adotado medidas protetivas de sua população, entre as quais a de fixação de regras rígidas para a chegada de turistas ou viajantes ao país.

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O Brasil mesmo, sem que houvesse grita mais significativa dos pretensos defensores de direitos e liberdade, já adotou desde proibição simples da entrada de pessoas oriundas de determinados países, até a necessidade de testagem, comprovação de testes com resultados negativos, quarentenas, etc.

O Brasil, por forças equivocadas e falsas, de defesa sem limites da liberdade, é contrário ao passaporte vacinal, mas não se furta de estabelecer medidas que visem manter o acesso a nosso território seguro.

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Bem, como vários outros países, a Austrália adotou mais recentemente, restrições à chegada e à entrada no seu território, de todos aqueles não vacinados.

Ao que consta, não há qualquer obrigatoriedade de vacina para quem quer que seja. Não há compulsoriedade. Mas, se alguma pessoa tiver interesse de ir à Austrália, deve seguir a lei do país, que impõe a apresentação de passaporte vacinal.

Aos insatisfeitos, a opção é não irem àquele país.

Simples assim.

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Djokovic sabia bem disso, e não poderá nunca argumentar, acompanhado de toda sua assessoria técnica, desconhecer tal regulamentação legal.

Ele sabia que não poderia entrar naquele país para a disputa que tinha como objetivo conquistar.

E a prova de sua ciência é que alegou ter tido a doença em dezembro, o que já criaria anticorpos. Preencheu documentos – vá lá com ENGANOS -  para poder ludibriar as autoridades australianas. Tanto mentiu e  teve de retroceder, que até mesmo sua doença hoje é questionada.

Ou seja: defendendo a tal sagrada liberdade dele, jogou uma cartada alta. Blefou. E teve o tratamento e decisão merecida.

Fica de fora do torneio do ‘Australia Open’, perde o direito de tentar quebrar o recorde de slams.

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Vira ídolo? Vira símbolo de defesa dos direitos individuais?

Somente pode adotar tal postura aquele que despreza o estado de direito e a lei, fundamento de nosso convívio social. Aquele que é favorável à liberdade individual e até ao direito natural, inalienável, de ir e vir, de decidir o que é melhor para si, contrapondo-se até mesmo ao direito de outros povos.

Logo, quem coloca o tenista sérvio no pedestal, é apenas quem admite o desrespeito às normas; que admite o crime com método de comportamento dos frustrados; quem prega que a violência é arma lícita de defesa de seu direito, mesmo que contra o direito e a vontade expressa da maioria.

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Para os defensores do sérvio, vigora a lei do mais forte, mesmo que criminosos de qualquer periculosidade, desde que pretos, pobres, jovens, excluídos, sejam veementemente condenados.

Para estes, qualquer punição menos que a pena de morte é pequena.

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Estes, aqui extremistas bolsotários, pregam o estado do caos social, da barbárie, do desrespeito ao direito, contraditoriamente a título da defesa de .... curioso direito.

No fundo, direito só os meus ou dos de meu grupo!!!

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Mas, têm e fazem o herói que merecem ter. Um negacionista que por ter ignorado a pandemia e suas trágicas consequências promoveu torneios de tênis, com aglomeração de público, de onde vários atletas saíram infectados.

Inclusive ele mesmo, o pretenso atleta de saúde indestrutível.

Pior ainda, em minha opinião, são as ligações pessoais e de amizade do tenista com políticos e mandatários sérvios, como Milan Jolovic, aliado de Ratko Mladic, condenado por genocídio em seu país ou com Milorad Dodik, que nega a existência das atrocidades do massacre de Srebrenica.

Ok. O sérvio pode ser um grande atleta, mas não é tolo ou ingênuo.

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Pode ter a posição política ou ideológica que quiser. Isso é problema dele.

Mas elevá-lo à condição de defensor dos direitos é o mesmo que pregar a morte, como forma de defesa da vida.

Nada demais, para um país onde o ministro da Saúde alega que, como o presidente de quem é capacho, a liberdade vale mais que a vida!!!

 

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