terça-feira, 30 de agosto de 2022

Frases a serem melhor debatidas; o gesso que não permite qualquer debate; e a liberdade de expressão dos empresários do zap

A sociedade civil tutelada, considerada incapaz de decidir seus objetivos e seus rumos:

"Quem decide se um povo vai viver numa democracia ou numa ditadura são as suas Forças Armadas. Não tem ditadura onde as Forças Armadas não apoiam. No Brasil, temos liberdade ainda. Se nós não reconhecermos o valor desses homens e mulheres que estão lá, tudo pode mudar".

Declaração feita a apoiadores no cercadinho em frente ao Palácio do Alvorada.,  em  18 de janeiro de 2021.

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A destacar que o autor da frase foi excluído do Exército acusado pela prática de atos terroristas.

Naquela ocasião, ainda jovem, planejou colocar e explodir bombas em instalações militares,  atentando contra  a vida dos soldados, talvez como forma de reconhecimento desse valor de seus colegas.

Expressando a covardia que é sua marca, a frase é construída de forma a comportar uma ameaça e, ao mesmo tempo, deixar aberto o caminho para um recuo.

Afinal, se os grupos armados não apoiam e se omitem sem tomar partido, dificilmente qualquer movimento contra o regime democrático terá êxito, por mais cindida que esteja a sociedade civil.

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Logo é uma obviedade dizer que não tem ditadura onde Forças Armadas não apóiam, embora as forças armadas podem não ser, exatamente, as institucionais.

O que nos permite entender a preocupação em armar a população, e as diversas vezes em que se manifestou a favor de atuação de grupos milicianos, em defesa de uma pretensa liberdade.

O que me dá a chance de filosofar: nada como o autoengano.

Afinal, nunca foi a questão de defesa da segurança pessoal.

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Em discurso proferido em São Paulo, em comemoração ao 7 de setembro de 2021, novamente a frase de caráter dúbio, covarde:

“Dizer mais a vocês, nós acreditamos e queremos a democracia, a alma da democracia é o voto. Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança por ocasião das eleições. Dizer também que não é uma pessoa do Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável porque não é....

Desejar a democracia, discursar favorável ao voto é louvável. Embora a mesma declaração permita trazer a ameaça de atentado à  democracia e ao voto, se este as condições do sistema eleitoral, e até se o voto não for aquele por ele determinado.

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Sem a apresentação de qualquer prova, mínima que seja, em descrédito do sistema de urnas eletrônicas e no voto digital, Tchutchuca não deseja alterar o sistema de votação, consagrado e justo.

Seu desejo não é o de implantar voto em papel, urnas manuais, sujeitas a todo o tipo de manipulação, por todos aqueles participantes do processo eleitoral e de escrutínio. (A tal respeito, tendo sido escrutinador em 3 ou 4 eleições, até o ano de 1985, posso afirmar que, mesmo sem qualquer intenção desonesta, em várias oportunidades, fui testemunha da existência de condições para a prática de fraudes).

Seu único e evidente desejo é claro: tumultuar. Fomentar a desconfiança para, caso derrotado, poder atiçar seus milicianos contra o resultado desfavorável.

 E daí, incentivar o golpe.

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Em 22 de agosto passado, em entrevista concedida ao Jornal Nacional, questionado se respeitaria o resultado das urnas, o tchutchuca do Centrão, respondeu:

 "Seja qual for [o resultado das urnas], eleições limpas devem e têm que ser respeitadas. Limpas e transparentes tem que ser respeitadas".

Muitos comemoraram a fala, atribuída à intenção de tranquilizar o país. Fala, mais uma vez, de caráter dúbio.

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 E, embora respeitados âncoras de jornal televisivo, nenhum dos entrevistadores fez a pergunta básica: o que o candidato entende por eleições limpas? Como definir e controlar o conceito de limpas e sua aplicabilidade?

 Admito que uma coisa é ser jornalista e querer extrair os fatos e opiniões. Outra muito diferente é ser mero leitor de teleprompter. Notícias que já chegam prontas para apresentação.

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E reconheço que não gosto de Bonner, desde que em reunião de equipe de editoria selecionava as matérias a serem apresentadas ao Hommer Simpson, que considerava que todos nós fôssemos.

Mas, a lista de frases golpistas que apresentei serve apenas para tentar reforçar o ponto: qualquer Simpson da vida real iria questionar o que se entende por eleições limpas.

Os apresentadores do Jornal Nacional, não!

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Aceitaram a frase e mudaram de assunto, da mesma forma que se comportaram quando Renata perdeu a fala, não por falta de ar como o “tigrão das jornalistas” ironizando a Covid, mas pega no contrapé por uma desculpa obtusa de figura de linguagem.

Figura de linguagem, de retórica ou tropo de palavras são estratégias usadas pelo orador, para provocar determinado efeito na interpretação do ouvinte.

Imitar pacientes com falta de ar, atende apenas à má estratégia de tentar ser grosseiramente e grotescamente jocoso.

O representante da morte se divertindo com o sofrimento e a morte por asfixia, de centenas de milhares de brasileiros.

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Debate da Band

Tive ciência, hoje, de que no debate da Band, o tigrão das jornalistas teria afirmado que não iria cumprimentar a mão de presidiário.

Em minha opinião, Lula é que não deveria, em nenhuma hipótese, apertar a mão de um genocida, dono de fortuna em imóveis adquiridos com pagamentos feitos com dinheiro em espécie, não contabilizados.

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Ainda em relação ao debate, concordo com a excelente análise de Luiz Eduardo Soares, para quem o Debate da Band foi apenas um show midiático, ou reality, sem alcançar seu objetivo: de expor ideias e propostas e aprofundar em sua discussão.

Eu mesmo fui de opinião que Lula estava muito apático. Todos queriam ver, no centro da arena, a luta sangrenta entre Lula x Tchutchuca.

Mas o formato do debate, totalmente engessado, impede tal confronto ou a oportunidade de comparação.

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Por sorteio, o candidato a dar continuidade à desconstrução do país foi o primeiro a fazer perguntas aos demais. Escolheu e bateu pesado em Lula.

Como um boxeador, Lula acusou o golpe, ficou tonto, mas não beijou a lona. Preferiu ficar nas cordas, puxando ar.

A partir daí, a pergunta deveria ser feita, pelo mesmo critério de sorteio, por outro candidato.

Por óbvio, estando em segundo lugar nas pesquisas, a segunda pergunta seria dirigida a ao despresidente.

O que impedia Lula de levantar qualquer questão ao atual mandatário.

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Até em certo momento, Lula pediu licença para fazer um comentário sobre outro assunto, distinto do que a pergunta que lhe foi endereçada.

Mas, seria uma deselegância, uma descortesia, fugir do tema, ao qual ele acabou voltando.

Debates assim, com tantas amarras, servem apenas para aquilo que Luiz Eduardo Soares nos apresenta: mostrar quem está do lado do fascismo e aqueles que têm muitas convergências com o fascista.

Não é debate. E todos os candidatos se situam contra o que não pode ser deseducado, até para firmar posição em prol da pacificação.

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Grupo de whatsapp de empresários

Tem causado muita crítica o “desrespeito à liberdade de expressão” protagonizada por medida adotada por Alexandre de Moraes, a pedido da Polícia Federal, para dar continuidade às investigações contra empresários, ricos e poderosos, que faziam, abertamente, apologia à um atentado à democracia.

Editoriais, como o do Jornal da Band, ou opiniões como a de seu âncora, Oinegue, são críticas pesadas à decisão, chegando a dar a entender que, com tal comportamento, Moraes está jogando seu currículo no lixo.

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Claro, os empresários, homens, brancos, ricos, anunciantes importantes para qualquer meio de comunicação, merecem ser tratados como o que são: patrões da mídia.

E, forçoso reconhecer: aparentemente não foram além de manifestar seu caráter e sua opinião desprezível. Gananciosa e ególatra.

Eles apenas trocavam ideia. Em prol do cometimento de um crime.

Imagino apenas se o grupo de whatsapp denunciado fosse composto por gente ligada ao comando do tráfico, cada um deles postando elogios à qualidade das drogas, ao melhor formato de distribuição, aos preços ou até à logística de distribuição de armas, de forma a prestar segurança ou, depois, cobrar dívidas contraídas por usuários.

A liberdade de expressão seria defendida tão enfaticamente?

 

 

 

 


segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Observações do debate e avaliação dos candidatos e suas mensagens

Tenho plena convicção de que vou falar o óbvio mas, às vezes, o inesperado que a vida nos apresenta acaba impactando e alterando nosso comportamento e nossos planos.

Essa a explicação para a ausência de pitacos praticamente em todo esse mês de agosto, justo no momento em que tem início a campanha eleitoral que, por si só, é um instante raro e repleto de assuntos e temas para comentários.

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Mas, uma batida de automóvel, ainda no primeiro sábado do mês, e a obrigação de a estabelecer contatos com a seguradora, providenciar documentos, desde a comunicação do sinistro, até a busca por imagens de câmaras que permitissem entender a dinâmica do acidente e eventuais responsabilidades, acabaram por ocupar muito mais de meu tempo, de minha atenção e até de minha energia.

Felizmente, nenhum de nós condutores, tivemos problemas além do susto. E fora o orgulho ferido, sempre doloroso, as perdas foram apenas materiais. Menos mal.

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E, embora tivesse o desejo de fazer observações a respeito das entrevistas dos principais candidatos concedidas na semana passada ao Jornal Nacional, a própria evolução dos fatos já nos apresenta novos e mais importantes aspectos a serem objeto de comentários.

Refiro-me especialmente ao debate entre os presidenciáveis ocorrido na noite de ontem, sob patrocínio da Rede Bandeirantes e um pool formado por Folha, Uol, TV Cultura.

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Debate que acabou se tornando um duelo desigual, entre 3 candidatos representantes da direita civilizada,  somados a um ultra-radical fascista e a Ciro Gomes, sempre centrado em sua própria pessoa, contra um candidato de ... esquerda?

Afinal, enredado em meio ao arco de alianças que permitiu a Lula formar uma coalização com 10 partidos de distintas ideologias e concepções, como analisar a posição e postura de Lula?

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Está bem, Lula ganhou tempo de propaganda eleitoral, cuja importância todos reconhecem. Mas, a que tipo de promessas e ofertas foi agregando partidos e apoios tão contraditórios como do PSOL e do PSD; PSB e Avante; Pcdo B, PV, Solidariedade e Rede?

Tamanha diversidade, como o candidato faz sempre questão de marcar, desde a sua excelente entrevista dada a Bonner e Renata ( a melhor de todoas, em minha opinião!) assinala sua capacidade de composição, sua disposição ao diálogo e à pacificação, etc.

Mas, da mesma forma que o auxilia, pode também trazer prejuízos, como me pareceu ter acontecido no debate, ontem.

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Explico: o temor de perder apoios impede que o candidato aborde uma série de temas, que podem ferir sensibilidades e interesses dos seus apoiadores, enquanto o obriga a tratar de outros, caros aos aliados, e para os quais ele pode não estar tão bem preparado.

O que ajuda a explicar o que muitas pessoas sentiram e já comentaram, a respeito de sua participação ontem: Lula pareceu cansado. Muito preso ao passado, a realizações de seu governo.

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Em sã consciência, não há como negar que seu governo teve muitos pontos positivos, como ele faz questão de assinalar, em todas as oportunidades.

Mas tratar o passado com os olhos de hoje, tiram de perspectiva e foco o momento e as limitações que cercaram seus mandatos. Em especial o primeiro, onde assumiu o governo de um país, muito próximo a uma terra arrasada.

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Sim, teve o plano real e a inflação não fugiu ao controle, embora tivesse superado os dois dígitos ao final do governo FHC.

Adicionalmente, a economia do país havia quebrado, a segunda vez, por questões da gestão cambial que quase nos impôs a necessidade de decretação de uma moratória.

Medida evitada em razão de vultoso empréstimo feito pelo FMI, o que nos colocou e obrigou a todos os candidatos daquele período, a assumirem o compromisso de cumprir as determinações do Fundo (como sempre!).

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Lula, é bom lembrar, teve que assinar uma carta, ao lado dos demais candidatos, se comprometendo a cumprir os acordos com o Fundo. Origem do que depois veio a ser a Carta aos Brasileiros, por ele anunciada e difundida.

É importante ainda lembrar que o primeiro ministro da Fazenda de seu governo não conseguiu escapar da adoção de uma política aos moldes do fundo, de cunho essencialmente liberal. Neoliberal, para recordar um termo então muito usado.

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Sua primeira indicação para presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (embora não fosse sua primeira opção) era um banqueiro, cuja missão era cooptar o apoio de seus colegas banqueiros.

Lula teve êxitos, inclusive apoiando a Campanha contra a Fome e depois fazendo políticas sociais, de inclusão, ninguém nega.

Mas, os donos do grande capital, principalmente financeiro, mas também dos grandes empresários lucraram como ‘nunca antes na história desse país’.

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A incorporação de perto de 46 milhões de brasileiros no mercado de consumo, foi um tremendo êxito, gerador até de situação econômica de pleno emprego e crescimento.

Mas, os ricos foram muito mais beneficiados, o que significa que a conta foi paga pelos setores da chamada classe média. Razão para que até hoje Lula tenha dificuldades para obter apoio junto a esses segmentos.

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Então, recordar do ambiente daquele período é importante para ajudar, objetivamente, a ver as dificuldades que Lula enfrentou, e que impossibilitaram que ele pudesse fazer mais ou diferente.

O problema é que se esse passado, visto hoje, permite análises que mostrem que outras decisões e alternativas, talvez tivessem apresentado resultados mais eficientes, a verdade é que esse passado abre também a caixa de Pandora da corrupção e compra de apoios.

O que traz para 2022, o tema já tão surrado e gasto, dominante em 2018.

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E aqui Lula fica emparedado, e se comporta de forma a não apresentar sugestões.

O que permite que, no debate, o candidato do Novo (partido que de novo só tem o nome!), Luiz Felipe venha fazer discurso de radicalismo neoliberal, desejando privatizar a tudo e a todos.

E, ao contrário do que muitos analistas indicam, a falta de Estado com atuação forte e necessária entre os mais desfavorecidos, o candidato do passado elitista, venha pregar a redução do Estado a um mínimo. Agravando mais o problema que já foi chamado de “ausência do pobre no Orçamento”.

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A candidata do União Brasil, com raízes nos segmentos mais elititstas, em especial no agronegócio, também se vê às voltas com o discurso único, e equivocado, da criação do Imposto Único, de Marcos Cintra Cavalcanti Albuquerque, seu vice.

Esse mesmo Marcos Cintra favorável à volta da CPMF, no início do governo do tchutchuca do Centrão, tigrão apenas com mulheres a Vera.

A ideia de imposto único, suficiente debatida, no fundo é a ideia de um imposto regressivo ao limite. Com a finalidade de impedir o uso de instrumentos de política fiscal para uma economia voltada ao povo brasileiro (não apenas aos ricos!).

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Ciro, embora tenha boas ideias, e um bom projeto, não convence com discurso de paz e amor, ele que sempre foi truculento e com uma propensão de uso de práticas típicas de um coronel tirano.

Tebet foi quem mais aproveitou a oportunidade de se mostrar e fazer um discurso coerente com sua posição. Ela, de direita, que se notabilizou com uma participação irrepreensível, na CPI da Covid.

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Já quanto ao tchutchuca, mostrou apenas mais do mesmo: grosseria, mentiras e ‘fakes news’, a postura arrogante e autoritária, de caráter tipicamente golpista. Além de misoginia, falta de traquejo e postura, e até mesmo falta de cultura e dicção.

Mostrou números de um País das Maravilhas, onde posa de Chapeleiro Louco. Um mundo paralelo de fantasias e de desconstrução do país.

Típico de quem, arbitrariamente, utiliza do momento eleitoral para adota políticas demagógicas e populistas, ao menos enquanto durarem as eleições.

Passadas as eleições, se vitorioso, voltará a decretar sigilos de 100 anos para toda sua campanha, e suas motociatas excludentes, tudo sob o poder das forças milicianas armadas por sua gestão irresponsável.

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Pitacos sortidos, a respeito de uma sociedade que se perdeu nela mesma

O primeiro pitaco é a título de homenagem a Bárbara Vitória, a menina de 10 anos de idade e todo um futuro pela frente, interrompido brutal e estupidamente no último domingo.

Crime cometido com conotação sexual, o que levou a sua morte, tendo em vista a menina conhecer, o principal suspeito pelo crime hediondo.

Nessa hora de tristeza, em que a família da menina merece solidariedade irrestrita, apenas uma observação sobre o suspeito e seu suposto suicídio: não há pena maior e condenação pior para um criminoso torpe que o remorso.

Punição que vai além da justiça dos homens e de qualquer desejo de vingança, como Raskolnikov já comprovava em Crime e Castigo do genial Dostoiévski.

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A propósito de crimes e castigos, lembro-me que era ainda menino quando soube da morte de meu bisavô, assassinado.

Pelulante, metido a valentão como as crianças que estão acordando para o mundo, cobrei meu avô em relação à atitude que ele teria tomado. Para mim, era imperativo que ele tivesse lavado a honra da família conforme a tradição de Talião.

Foi quando ouvi pela primeira e única vez a história pela boca de meu avô: o assassino era um compadrer que devia ao meu bisavô. Ao saber do ato tresloucado do pai, sua filha, abandonou-o, em reação à morte do padrinho.

O pobre coitado acabou louco, internado.

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Castigo divino

 

Pelo que conheço de leituras esparsas da Bíblia, os livros que a compõem referem-se a dois momentos no tempo e a dois Testamentos. O primeiro momento, que relata o Gêneses e o Êxodo, entre outros episódios, corresponde ao Antigo Testamento.

Nele, a figura de Deus que nos é transmitida é a de um Deus rancoroso, vingativo, que poderia ser classificado como autoritário e cujos castigos em grande medida consistiam em punições violentas, muitas vezes nos moldes da Lei de Talião.

Para ser mais preciso, da lei cuja origem é o Código de Hamurabi da Babilônia, datado de 1770 antes de Cristo e anterior aos livros judeus em centenas de anos, conforme me ensina o Google.

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Parece-me que alguns cristãos, desses que em testemunho de sua fé passeiam com as Escrituras debaixo do braço em qualquer lugar onde vão, têm pouco tempo para leitura ou pouco fôlego, focando sua leitura apenas nesse primeiro Testamento.

Mas, o que gostaria de assinalar é que não há como negar que todos os livros evidenciam que seus autores estavam narrando uma História cujo objetivo era, sem dúvida, apacentar a população, como às ovelhas.

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Nesse sentido, agiam como os pastores no pastoreio, protegendo, cuidando, alimentando, e impondo suas leis, seu estilo de comportamento e suas crenças aos demais cidadãos.

Nunca é demais concluir, mesmo aceitando-se a fé individual e sua capacidade de produzir milagres e remover montanhas, que nesse sentido a Religião e sua expressão eram um mecanismo de manipulação do povo, e seu ópio.

 

Amor divino

O segundo Testamento contido na Bíblia é composto pelos Evangelhos, e corresponde às narrativas consideradas pelo Igreja e a Santa Sé, como as mais adequadas, dentre todos os evangelhos escritos, para manter o povo cordato e obediente.

Afinal, os Evangelhos que chegaram até os nossos dias e se tornaram os mais conhecidos foram 4 em meio a um número bem maior de evangelhos, a partir dessa seleção considerados apócrifos.

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No entanto, esse Novo Testamento apresenta não apenas a figura do Deus tornado Homem, como Jesus, o Nazareno.

Ele tenta ainda difundir uma mensagem que vai na direção contrária à figura do Pai autoritário e punitivo da primeira parte da Bíblia.

Agora o Deus é um ser sensível, capaz de entregar o próprio Filho, que é ele mesmo, em sacrifíco para a redenção de todos os homens. Todos pecadores.

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A mensagem agora transmitida coloca o Amor como o valor maior e a lei máxima a ser seguida.

Ao contrário da teoria do estabelecimento do Contrato Social para a criação do Estado, cuja base é negociação de uma solução de compromisso, a proposta dos Evangelhos para a boa convivência social é a de uma sociedade onde todos deveriam evitar a adoção de atitudes egocêntricas.

O amor ao próximo é a única forma que poderia, em tese, criar uma sociedade fraterna: Ama ao próximo como amas a ti mesmo.

Pelo visto, ou o  sacrifício da morte de Jesus deu errado ou foi a humanidade que falhou. O que levou Hobbes à conclusão inexorável de o homem ser o lobo do homem.

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A mensagem de Cristo, ele próprio interpretado como personificação do Amor, parece não ser aquela usada como guia para uma série de cristãos de carteirinha, responsáveis pela doação de dízimos vultosos e que pregam a vingança e não a justa punição como a que o próprio Jesus admitia ao tentar organizar a lista dos apedrejadores da mulher infiel.

Cristãos que cobram nas redes sociais a pena de morte para o criminoso de Bárbara Vitória. Destinatários da mensagem do Papa Francisco, que questiona os valores cristãos daqueles que pregam a aplicação dessa sentença.

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Projetos de Lei de penas perpétuas

Enquanto isso, para dar sequência ao festival de bestialidades que vem assolando o país desde a chegada da besta fera ao poder em 2019, pregando o ódio, estimulando a divisão na sociedade e exercendo o papel de motorista da morte, na Câmara Federal aprova-se um projeto de Lei que nitidamente visa retirar do criminoso qualquer possibilidade de recuperação e reintegração social, condenando-o a ficar o maior tempo possível segregado do convívio social, no limite, até o final de sua vida.

(Não o FEBEAPÁ, Festival de Besteiras, do ponto de vista cultural de modos e costumes sociais de Stanislaw Ponte Preta!)

Este projeto, proposta de um capitão das forças militares auxiliares do genocida do Planalto, teve trâmite em regime de urgência, anexado por Lira, o presidente da Casa, a outro projeto anterior, mais uma vez atropelando os regulamentos internos.

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Lira, discípulo de Eduardo Cunha e agora, o anjo protetor do 01 Neurônio, proteção vendida a peso de orçamentos de ouro, embora secretos, não escapará, assim como seu beneficiário do braço longo da justiça: sem nenhum revanchismo, apenas nos limites da lei, no papel que se regojiza desempenhar de cúmplice.

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A eterna luta do Bem contra o mal (oficial)

Enquanto isso, em culto na Câmara, o ex-terrorista continua sua pregação da luta que se avizinha, do mal contra o Bem. Profético, poderia até aprofundar a descrição do mal, da morte, do genocídio, do golpe, da ditadura contra o Bem, representado pelos defensores dos valores da democracia, da justiça social, do respeito à diversidade.

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Em se tratando de golpe, a questão é que o miliciano no poder não engana ninguém. Como seu ídolo Trump, é covarde. Prefere ficar assistindo desatinos de seus seguidores pela tevê que ir à luta.

Covarde típico, o que torna mais assustador o momento atual é sua capacidade de destilar nos fascistas que o seguem partirem para o tudo ou nada.

Como disse bem Ruy Castro em sua coluna ontem, esse estrupício miliciano não deseja um golpe.

Encarnação da morte, o que ele parece incentivar, cada vez mais é o início de uma guerra civil, cruenta e fratricida.