Tenho plena convicção de que vou falar o óbvio mas, às vezes, o inesperado que a vida nos apresenta acaba impactando e alterando nosso comportamento e nossos planos.
Essa a explicação para a ausência
de pitacos praticamente em todo esse mês de agosto, justo no momento em que tem
início a campanha eleitoral que, por si só, é um instante raro e repleto de
assuntos e temas para comentários.
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Mas, uma batida de automóvel,
ainda no primeiro sábado do mês, e a obrigação de a estabelecer contatos com a
seguradora, providenciar documentos, desde a comunicação do sinistro, até a
busca por imagens de câmaras que permitissem entender a dinâmica do acidente e
eventuais responsabilidades, acabaram por ocupar muito mais de meu tempo, de
minha atenção e até de minha energia.
Felizmente, nenhum de nós
condutores, tivemos problemas além do susto. E fora o orgulho ferido, sempre
doloroso, as perdas foram apenas materiais. Menos mal.
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E, embora tivesse o desejo de fazer
observações a respeito das entrevistas dos principais candidatos concedidas na
semana passada ao Jornal Nacional, a própria evolução dos fatos já nos apresenta
novos e mais importantes aspectos a serem objeto de comentários.
Refiro-me especialmente ao debate
entre os presidenciáveis ocorrido na noite de ontem, sob patrocínio da Rede
Bandeirantes e um pool formado por Folha, Uol, TV Cultura.
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Debate que acabou se tornando um
duelo desigual, entre 3 candidatos representantes da direita civilizada, somados a um ultra-radical fascista e a Ciro
Gomes, sempre centrado em sua própria pessoa, contra um candidato de ...
esquerda?
Afinal, enredado em meio ao arco
de alianças que permitiu a Lula formar uma coalização com 10 partidos de
distintas ideologias e concepções, como analisar a posição e postura de Lula?
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Está bem, Lula ganhou tempo de
propaganda eleitoral, cuja importância todos reconhecem. Mas, a que tipo de
promessas e ofertas foi agregando partidos e apoios tão contraditórios como do
PSOL e do PSD; PSB e Avante; Pcdo B, PV, Solidariedade e Rede?
Tamanha diversidade, como o
candidato faz sempre questão de marcar, desde a sua excelente entrevista dada a
Bonner e Renata ( a melhor de todoas, em minha opinião!) assinala sua
capacidade de composição, sua disposição ao diálogo e à pacificação, etc.
Mas, da mesma forma que o auxilia,
pode também trazer prejuízos, como me pareceu ter acontecido no debate, ontem.
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Explico: o temor de perder apoios
impede que o candidato aborde uma série de temas, que podem ferir sensibilidades
e interesses dos seus apoiadores, enquanto o obriga a tratar de outros, caros aos
aliados, e para os quais ele pode não estar tão bem preparado.
O que ajuda a explicar o que
muitas pessoas sentiram e já comentaram, a respeito de sua participação ontem:
Lula pareceu cansado. Muito preso ao passado, a realizações de seu governo.
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Em sã consciência, não há como
negar que seu governo teve muitos pontos positivos, como ele faz questão de assinalar,
em todas as oportunidades.
Mas tratar o passado com os olhos
de hoje, tiram de perspectiva e foco o momento e as limitações que cercaram seus
mandatos. Em especial o primeiro, onde assumiu o governo de um país, muito
próximo a uma terra arrasada.
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Sim, teve o plano real e a inflação
não fugiu ao controle, embora tivesse superado os dois dígitos ao final do
governo FHC.
Adicionalmente, a economia do país
havia quebrado, a segunda vez, por questões da gestão cambial que quase nos
impôs a necessidade de decretação de uma moratória.
Medida evitada em razão de vultoso
empréstimo feito pelo FMI, o que nos colocou e obrigou a todos os candidatos daquele
período, a assumirem o compromisso de cumprir as determinações do Fundo (como
sempre!).
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Lula, é bom lembrar, teve que assinar
uma carta, ao lado dos demais candidatos, se comprometendo a cumprir os acordos
com o Fundo. Origem do que depois veio a ser a Carta aos Brasileiros, por ele anunciada
e difundida.
É importante ainda lembrar que o
primeiro ministro da Fazenda de seu governo não conseguiu escapar da adoção de
uma política aos moldes do fundo, de cunho essencialmente liberal. Neoliberal,
para recordar um termo então muito usado.
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Sua primeira indicação para
presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (embora não fosse sua primeira
opção) era um banqueiro, cuja missão era cooptar o apoio de seus colegas
banqueiros.
Lula teve êxitos, inclusive apoiando
a Campanha contra a Fome e depois fazendo políticas sociais, de inclusão,
ninguém nega.
Mas, os donos do grande capital,
principalmente financeiro, mas também dos grandes empresários lucraram como ‘nunca
antes na história desse país’.
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A incorporação de perto de 46
milhões de brasileiros no mercado de consumo, foi um tremendo êxito, gerador
até de situação econômica de pleno emprego e crescimento.
Mas, os ricos foram muito mais
beneficiados, o que significa que a conta foi paga pelos setores da chamada
classe média. Razão para que até hoje Lula tenha dificuldades para obter apoio junto
a esses segmentos.
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Então, recordar do ambiente daquele
período é importante para ajudar, objetivamente, a ver as dificuldades que Lula
enfrentou, e que impossibilitaram que ele pudesse fazer mais ou diferente.
O problema é que se esse passado,
visto hoje, permite análises que mostrem que outras decisões e alternativas, talvez
tivessem apresentado resultados mais eficientes, a verdade é que esse passado
abre também a caixa de Pandora da corrupção e compra de apoios.
O que traz para 2022, o tema já
tão surrado e gasto, dominante em 2018.
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E aqui Lula fica emparedado, e se
comporta de forma a não apresentar sugestões.
O que permite que, no debate, o
candidato do Novo (partido que de novo só tem o nome!), Luiz Felipe venha fazer
discurso de radicalismo neoliberal, desejando privatizar a tudo e a todos.
E, ao
contrário do que muitos analistas indicam, a falta de Estado com atuação forte
e necessária entre os mais desfavorecidos, o candidato do passado elitista,
venha pregar a redução do Estado a um mínimo. Agravando mais o problema que já
foi chamado de “ausência do pobre no Orçamento”.
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A candidata do
União Brasil, com raízes nos segmentos mais elititstas, em especial no
agronegócio, também se vê às voltas com o discurso único, e equivocado, da
criação do Imposto Único, de Marcos Cintra Cavalcanti Albuquerque, seu vice.
Esse mesmo Marcos
Cintra favorável à volta da CPMF, no início do governo do tchutchuca do Centrão,
tigrão apenas com mulheres a Vera.
A ideia de
imposto único, suficiente debatida, no fundo é a ideia de um imposto regressivo
ao limite. Com a finalidade de impedir o uso de instrumentos de política fiscal
para uma economia voltada ao povo brasileiro (não apenas aos ricos!).
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Ciro, embora
tenha boas ideias, e um bom projeto, não convence com discurso de paz e amor,
ele que sempre foi truculento e com uma propensão de uso de práticas típicas de
um coronel tirano.
Tebet foi quem
mais aproveitou a oportunidade de se mostrar e fazer um discurso coerente com
sua posição. Ela, de direita, que se notabilizou com uma participação
irrepreensível, na CPI da Covid.
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Já quanto ao tchutchuca, mostrou
apenas mais do mesmo: grosseria, mentiras e ‘fakes news’, a postura arrogante e
autoritária, de caráter tipicamente golpista. Além de misoginia, falta de
traquejo e postura, e até mesmo falta de cultura e dicção.
Mostrou números de um País das
Maravilhas, onde posa de Chapeleiro Louco. Um mundo paralelo de fantasias e de desconstrução
do país.
Típico de quem, arbitrariamente,
utiliza do momento eleitoral para adota políticas demagógicas e populistas, ao
menos enquanto durarem as eleições.
Passadas as eleições, se vitorioso,
voltará a decretar sigilos de 100 anos para toda sua campanha, e suas motociatas
excludentes, tudo sob o poder das forças milicianas armadas por sua gestão
irresponsável.
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