quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

Nova vitória em terceiro turno não afasta risco à democracia. É necessário ficar alerta

 





link no Youtube: https://youtu.be/DnmBa6NgAEM

A primeira eleição de Rodrigo Pacheco para a presidência do Senado contou, inclusive, com apoio  financeiro do ex-presidente genocida, refugiado nos Estados Unidos.

Ao menos essa é a conclusão que pode ser extraída da declaração do senador capixaba Marcos do Val, em entrevista ao Estado de São Paulo, a respeito de haver recebido R$ 50 milhões em emendas parlamentares como gratidão pelo apoio ao eleito.

***

É certo que o senador bolsonarista tentou voltar atrás e dar uma interpretação nova, a expressões que não nega ter usado.

E agora o senador surpreende aos seus eleitores e a todo o país, ao anunciar sua renúncia ao mandato, decepcionado por ter recebido proposta de participar ativamente de um golpe de estado, inspirado pelo fascista que comandava o Executivo. Segundo ele, o ex-presidente o coagiu, sem êxito.

***

Ao longo do exercício do cargo Pacheco conseguiu, mineiramente, se desvencilhar de cabo eleitoral de tal peso, assumindo posturas e adotando decisões pautadas pelo caráter de respeito ao Estado Democrático de Direito não podemos nos esquecer que essa alteração de rota não se deu sem idas e vindas.

Foi assim, por exemplo, com a instalação da CPI da Covid, determinada pelo Supremo em atendimento a provocação por senadores da oposição. Na mesma linha podem ser incluídas as colocações em pauta e votações de PECs de cunho nitidamente eleitoral, como a dos Precatórios e de alteração das alíquotas de ICMS.

***

Menos mal: sua atuação ao longo do processo eleitoral, especialmente em relação ao segundo turno; sua defesa da urna eletrônica; o reconhecimento imediato do resultado do pleito e do novo presidente eleito; e sua atuação firme ao rechaçar o golpe terrorista de 8 de janeiro mereceram o apoio do presidente Lula.

No entanto, ganhar ontem do candidato do golpista fujão, Rogério Marinho,  em mais uma vitória apertada na disputa de terceiro turno das eleições, deve ser saudada como  como vitória da democracia.

Democracia EM RISCO.

***

A começar pelo fato de Marinho prometer colocar em pauta as medidas de vingança legislativa, inclusive de votação de impeachment de ministros do Supremo considerados algozes dos representantes do fascismo, apenas por não terem tolerado as patranhas e tentativas de subversão da ordem e do direito inspiradas pelo genocida.

Quanto a isso, o próprio Pacheco fez referência, no discurso apresentando sua candidatura, ao dizer do papel de legislador do Senado. Sem revanchismo, mas aberto à discussão de vários temas que envolvem o STF, através de apresentação e aprovação de leis definindo novos comportamentos e novas relações.

***

Em minha visão, muito pior seria transformar o Senado naquilo que Eduardo Cunha e o imaturo e patético Aécio transformaram a Câmara, na gestão Dilma II.

Incluo aí a criação de CPI dos atos de 8 de janeiro, de interesse da turma golpista. Com que objetivo, além de tumultuar?

Para mim, simples: criar um espaço e ocupá-lo, com audiências e depoimentos capazes de, com apoio e recursos oficiais, difundirem a mensagem falseada de que houve um golpe eleitoral, perpretado com apoio dos ministros do TSE que agiu contra a lisura do pleito.

***

Nesse caso, para cada analista sério de Tecnologia da  Informação e Computação, seriam convocados vários analistas contratados a peso de ouro das terras Yanomami, inclusive militares. Muitos militares.

Os mesmos que participaram das tentativas do Exército e seu general de araque ministro de defesa de então, Paulo Sérgio,  contra as urnas eletrônicas, o código fonte (não questionado) e  a inviolabilidade de todo o processo.

Com isso, o país todo estaria sob a influência de debates estéreis, mas capazes de criarem o ambiente propício a impedir o governo eleito de exercer seu mandato.

***

Em momento de crise de relacionamento com forças militares, tal ambiente estimularia a manutenção de todo o movimento divisor da sociedade, mantendo os cidadãos não preparados para o convívio social em ambiente democrático ativos nas ruas, nas portas dos quarteis.

Como se já não bastasse toda a elite, todo o mercado financeiro e seus asseclas e toda a classe empresarial truculenta do agroatraso, da grilagem de terras, da mineração poluidora nefasta e assassina (mercúrio, Mariana, Brumadinho) e da porteira aberta para os crimes ambientais em oposição ferrenha.

Como disse em entrevista à revista Exame o inacreditável abílio diniz (minúsculo até no caráter!) temer uma reforma tributária do tipo Robin Hood, tirando dos ricos para dar aos pobres.

***

Para mim, longe de as relações com militares estarem voltando ao seu curso normal, com o general Tomás Miguel, ex-chefe de gabinete do golpista-mor Eduardo Villas Bôas, no comando do Exército, não pode ser esquecido o fato de que não houve a falada insubordinação do então comandante  Arruda, do Exército; José Múcio não foi omisso ou subserviente; e  Lula deveria ter assumido que, consultado sobre a prisão de golpistas acampados em Brasília na noite do dia 8, contrariadíssimo, teve de ceder e adiar a ação uma vez informado que poderia haver reação armada dos golpistas.

***

Enquanto isso, o Clube de Militares da reserva, os militares de pijama, que se acham a salvação da pátria e suas publicações fazem coro às falas irresponsáveis e fascistas do fujão, para quem o governo Lula não deverá ter longa duração.

Não sei como andam os ânimos dos oficiais graduados, responsáveis pela omissão de defesa do território nacional e pelo desrespeito à Constituição Federal que juraram proteger e fazer cumprir, especialmente no caso do genocídio Yanomami.

Não sei como estão os ânimos dos jovens oficiais, atraídos pelo canto da sereia de militares no poder, de nossos representantes do ultradireitismo fascista.

***

Mas minha expectativa quanto à Ordem do Dia no próximo 31 de março é muito ruim: criado tecendo loas ao período de ditadura militar e sob pressão de seus colegas,  o tom da nota oficial pode ser contrário ao espírito do novo período democrático.

Por outro lado, um governo democrático pode muito, mas não pode se omitir e deixar de se pronunciar com veemência em tal situação.

E aí, o que fazer para apoiar a nossa frágil democracia?

 

 


Nenhum comentário: