sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Pitacos e reflexões sobre conteúdos das redes sociais

 



link do youtube: https://youtu.be/cuxU9ByVY08

Circula nas redes sociais texto atribuído ao farmacêutico Meyer M. Treinkman, de resposta crítica a recomendação feita pelo líder supremo do Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini, para o mundo muçulmano boicotar tudo e qualquer coisa de  origem judia.

Apesar de bastante comum, este tipo de campanha de boicote a produtos e a determinadas marcas, sempre tive muitas dúvidas quanto à eficácia de tal comportamento. E não de agora.

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Sempre fui reticente quanto à capacidade de um boicote de consumidores, por exemplo, a determinada marca de combustível ou à compra de carne de boi em geral ou de determinado frigorífico, provocar a queda do preço considerado abusivo.

Também sempre duvidei da eficácia de um boicote a qualquer marca determinada por que seu fabricante não adota uma abordagem com base na E-S-G (governança ambiental, social e corporativa), ou desrespeita ou descumpre a legislação trabalhista, ou por questões de crenças religiosas, ou simpatias políticas.

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Sem citar produtos ou marcas, todos sabemos da cultura do boicote de que o Brasil tem se tornado terreno cada vez mais fértil, tendência revigorada pelas redes sociais e transformada em ‘campanhas de cancelamento’ (até de pessoas!).

Reconheço que minhas dúvidas em relação ao boicote sempre tiveram como base a dificuldade de se obter a adesão de um número expressivo de consumidores, seja de forma individual ou em pequenos grupos familiares ou sociais, portadores de um forte sentimento de objetivo comum, capaz de atingir um grau de coordenação e controle que concretizasse a ideia de que, “agindo em conjunto, sem consumir, a demanda reduziria e, pela lei da procura e da oferta, os preços cairiam”.

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Claro, este raciocínio tem como ponto de partida o  pressuposto equivocado e enganoso da existência de uma “lei da procura e oferta”. Lei que, conta a lenda, para o professor Delfim Neto, foi mais uma das várias outras tantas leis que não pegou em nosso país, virando letra morta.

É que fora dos manuais neoclássicos, em que desempenhava a função de omitir a influência e o poder de alguns agentes econômicos no mercado, essa lei só se aplicava, na prática, a raríssimos casos, sob condições particularíssimas - menos a regra que a exceção.

E isso era ensinado nos livros e cursos de introdução à Economia. Lição que mais tarde se fazia acompanhar da surrada máxima de que “na prática, a teoria é outra”.

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A dificuldade de coordenação deste tipo de ações, a que sempre fiz referência, caiu por terra com o advento da internet e o desenvolvimento das famigeradas redes (anti)sociais.

O que pode ser ilustrado por exemplos de facilidade de troca de mensagens e postagens, como são os “flashmob” - grupo de pessoas recrutadas para se reunirem repentina e instantaneamente em um ambiente público, para promoverem uma apresentação que transmita alguma mensagem; ou mesmo para combinar previamente local e hora das atuais brigas de torcidas organizadas.  

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Quanto à resposta do farmacêutico, minha primeira sensação é a de que trata-se de texto muito interessante e instrutivo. Contém várias informações que normalmente são desconhecidas ou caem no esquecimento. Deste ponto de vista, a  oportunidade que nos oferece de ampliar os nossos conhecimentos é  digna de consideração e agradecimento.

No entanto, ao meu ver, o texto é desigual e profundamente racista.

Desigual, por que, se formos aceitar a definição do Google, os judeus são membros de uma religião, o judaísmo; não de um grupo étnico. O site de buscas nos fornece, inclusive, uma explicação: a dispersão dos judeus (grupo étnico) pelo mundo, desde tempos antigos. O que os levou a diversas miscigenações (casamentos, conversões, etc.) que fizeram a etnia perder força frente à religião. Menos o vínculo genético, mais o espiritual.

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A desigualdade do texto se dá porque confunde a origem étnica, com a religião, e até o país de origem das mentes brilhantes que lista. Assim, considera tanto  um gênio como Freud, austríaco e ATEU, crítico da religião;  quanto Ehrlich, alemão; um Paul Samuelson destaque de minha área, a Economia, americano;  e um Salk, norte-americano; refere-se a Bella Schick, húngara; Ludwig Traube, do Digitalis (e Digoxina), polonês; Minkowsky, da insulina, nascido na Lituânia, e os classifica a todos como judeus. Ainda na Economia cita como judeus ao russo Kuznetz; ao americano Milton Friedan; Arrow, Sollow, Markowitz, todos americanos.

Curiosamente, não lista o alemão  Karl Marx, filho de casal de rabinos. Nem se refere à família de judeus de origem alemã, os Rothschild, banqueiros de fama internacional. Talvez pela ligação com com o dinheiro, visto como instrumento de opressão, exploração e até perseguição! Algo sujo(?)

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Como a ninguém passa despercebido o fenômeno da drenagem de cerébros (‘brain drain’), prática adotada desde sempre pelos EUA, não deve surpreender o fato de que foram os judeus de maior qualificação que tiveram a preferência de abrigo naquele país: os intelectuais, filósofos,  cientistas, pesquisadores, artistas, músicos. A estes, o país americano forneceu financiamento, acesso aos melhores laboratórios e equipamentos, além de um ambiente propício a que dessem vazão a sua genialidade de forma a produzir, principalmente, conhecimento.

Quanto aos “Zés, o homem comum do povo judeu”, que devem ter tido uma vida boa, simples, normal, sem nada de excepcional, os registros não tratam.

E  de Abraão, até os nossos dias, deve ter havido muitos milhões a mais de judeus comuns que  que os gênios listados.

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Além disso, o texto é profundamente racista: islamofóbico. Ignora a importância da civilização mesopotâmica, assíria, egípcia; os avanços gerados pelos árabes na astronomia, química, e até na medicina: a pesquisa nos informa que, a partir de estudos de tratados de Hipócrates e  Galeno eles promoveram várias inovações, como a ideia da criação dos hospitais e de farmácias.

Mas, não é só. Poderíamos falar de Ibn Sina, ou Avicenna, autor de Canone da Medicina, obra utilizada no ensino médico por séculos, que descrevia diversas patologias de desordens centrais  e seus possíveis tratamentos, como as manias e alucinações, pesadelos, demências, epilepsia, derrame, paralisias, tremores e até distúrbios sexuais. A descrição que nos legou de estruturas anatômicas e de regiões do cérebro deixaram marcas: o nome das regiões e estruturas, utilizados ainda hoje.  

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Interessante é que o texto apresenta uma  cronologia, faz uso de dados numéricos, esquecendo-se de que não fosse a matemática, os algarismos e a álgebra, nem mesmo o texto mesmo poderia ser escrito.

Pois é! Falando agora de evolução científica e tecnológica, a máquina de guerra montada por Israel e alguns dos judeus lá instalados (sionistas militaristas) é assombrosa. Mas, a principal arma utilizada: o corte do fornecimento de alimentos, água, energia, luz, combustíveis, a privação da liberdade de locomoção, é prática tão antiga quanto outros cercos, entre os quais o de Troia.

Aliás, os judeus que invadiram o Congresso americano pedindo imediato cessar fogo também são árabes terroristas?

Vale a reflexão:  quem é o responsável pela lavagem cerebral feita nas crianças árabes, que os leva depois a reconhecer como inimigo aquele que coloca sua sobrevivência em risco todo o tempo,? Seriam os palestinos radicais que, como eles, cresceram subjugados e submetidos a um tratamento que não é tolerado nem para animais?


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