segunda-feira, 18 de abril de 2016

Um show de horrores na Câmara e impeachment para Aguirre

Domingo, 17 de abril. O relógio marcava alguns poucos minutos passados das 23 horas de um dia em que todas as atenções estavam centradas em questões e discussões políticas.
De repente, contrariando as previsões iniciais de que sairia da bancada da Bahia o voto que asseguraria o placar necessário à aprovação da remessa do processo de impeachment de Dilma ao Senado, ocorre a explosão definitiva de palmas, gritos e comemorações de alegria.
Coube a um deputado da bancada de Pernambuco o voto decisivo, de número 342.
A partir desse instante, se as imagens de todas as principais redes de televisão instaladas em plenário ainda não tinham sido suficientes para mostrar o nível ridiculamente baixo de conduta de nossos representantes, não houve mais espaço a dúvidas.
***
No afã de comemorarem a derrota que infligiam ao governo naquele instante crucial, todos os oposicionistas, favoráveis ao golpe, tiraram do fundo da garganta o grito que ali ficou guardado desde o último pleito de 2014.
E os versos de "Eu sou brasileiro, com muito orgulho e muito amor..." passou a ser entoado por todos que, finalmente, comemoravam a conquista no tapetão, daquilo que não tiveram capacidade de conquistar pela via democrática e mais difícil do voto.
***
Se até esse momento, sucediam-se as imagens supreendentes e chocantes de total descompostura de Suas Excelências, os nobres deputados, daí para a frente cheguei à conclusão que estava mesmo em um ambiente dominado pelo mesmo público, e com o mesmo comportamento das torcidas organizadas nas arenas de futebol.
Com direito a vaias, apupos, deputadas mulheres impedidas de se manifestarem, e deputados utilizando-se de plaquinhas com dizeres contra o governo e favoráveis ao impedimento, para impedirem as câmeras de focalizarem o rosto e a expressão de quem discursava.
Claro, apenas daqueles cujo partido, cujo voto já aberto ou cujo início da declaração de voto já sinalizava que seria um voto contrário ao desejado pelos elegantes e educados senhores.
***
De minha parte, apenas a constatação de que, tanto esforço fez a Globo, entre outras tevês, de dar ao evento a conotação de uma Copa do Mundo, colocando câmaras espalhadas no plenário até como forma de constranger a todos aqueles que "estavam contra o desejo do povo brasileiro (?)"  ( não era esse o discurso de transformar a votação em um reality show? ) e os que tinham a convicção de que votavam a favor da preservação da democracia acabavam sendo impedidos de se manifestar, de aparecer, de dar a cara a conhecer e até a bater.
***
Talvez por que os que levantavam as plaquinhas não pudessem tolerar discursos em prol da democracia, ou em prol de valores mais elevados ligados à justiça, ao reconhecimento de que não se derruba um governo porque não nos é simpática a presidente, não se dá sequência a um processo de impeachment se não houver a comprovação de que o presidente, seja quem for, não cometeu um crime de responsabilidade. Tipificado e definido tal crime, como o exige o Direito, expressamente na lei.
***
E esses deputados que mostraram toda sua deseducação e baixeza de comportamento, muitos deles com suspeições sobre suas pessoas e suas condutas conforme informes extraídos da Lava Jato, ainda vaiavam aqueles discursos destinados a mostrar a total falta de legitimidade de um processo que não só se instaurou, teve curso e chegou até aquele momento movido pelos sentimentos mais torpes que podia dominar alguma pessoa, o senhor Eduardo Cunha.
O que eu percebi é que os nobres e incorruptíveis deputados preferiam sufocar pelo barulho de seus apupos, os questionamentos contra a figura do presidente da Casa, agora quase vice presidente de nosso país, unidos todos para fazer calar a verdade de que ontem, a corrupção venceu.
***
Curioso que os votos que, mesmo falando em Deus, na Pátria, na Família, na avó, na vaca malhada, na cadelinha, nos filhos e netos, mulheres, amantes e até em torturadores, como o fez Bolsonaro, não tivessem tempo estabelecido, nem regras, nem colegas dispostos a interromper a cantilena de citações, nem gritos de vota, vota.
Mas os que argumentavam que não havia crime de responsabilidade; os que alertavam que o processo todo destinava-se a tirar o eleito pelo voto popular para substitui-lo por quem não teve qualquer voto, nunca; os que insistiam em deixar claras as intenções contrárias a dar prosseguimento às investigações da Lava Jato, esses eram imediatamente constrangidos a votarem.
***
A transmissão de ontem foi um show de horrores e a data ficará na história como sendo aquela em que a corrupção foi combatida no nosso país. Em que as gangues que tomaram de assalto o poder foram dele apeadas, de forma definitiva. Em que Cunha, nosso santo guerreiro ficou do seu lugar, no centro da mesa principal, com o ar de escárnio e riso zombeteiro, imagem que consegui flagrar especialmente quando da declaração de voto do presidente do Conselho de Ética, o senhor José Carlos Araújo, que alertava ao presidente da Casa de que a vez dele iria chegar.
Essa imagem, do riso da vitória de quem não tem qualquer caráter e nem qualquer constrangimento de estar na posição em que ele, Cunha, ocupou, é a que vai ficar marcada em minha memória como a mais fiel expressão de quanto nosso país se apequenou e se amesquinhou, e como mostrou sua incapacidade de se emancipar e tomar em suas mãos a possibilidade de construir uma sociedade verdadeiramente justa e democrática.
***
Vergonha pelo golpe. Vergonha pelo que estamos fazendo com nossa democracia e com os votos de 54 milhões de eleitores.
***

Mas, como atleticano que sou, confesso que já devia estar acostumado. Afinal foi assim que vimos o Fluminense ganhar títulos contra nosso muito melhor futebol jogado dentro dos gramados.
Nós sabemos o que é sermos derrotados no tapetão.
E, nossa luta e nossas derrotas extracampo, apenas e talvez nos valorizem mais.

***

Semifinais do Mineiro.

Só para deixar claro minha repulsa pelo que nosso técnico Diego Aguirre, anda fazendo.
Embora não seja de Aguirre a culpa. Afinal, ele é mero contratado do Atlético. A culpa maior cabe a Daniel Nepomuceno por trazer um técnico que escala mal, mexe mal  e cujo time não tem qualquer padrão definido de jogo.
O time do Atlético cada vez mais parece ser um amontoado de jogadores, sem funções claras em campo, sem saber o que devem saber, sem jogadas ensaiadas e que dependem apenas de seus momentos de inspiração, cada vez mais raros, para conseguir superar os adversários.
Fora Aguirre e suas invenções que já se provaram inócuas.


Nenhum comentário: