Confesso que tem sido muito difícil para mim, redigir os pitacos, o que antes eu fazia com muita facilidade e até alegria.
Mas, agora que a vida voltou ao normal e não tenho mais outros motivos que possam impedir a redação do texto (tais como problemas de saúde em família, etc.), a verdade é que a desculpa que me sobra é bastante trivial: não estou me sentindo apto, não me sinto preparado para emitir opiniões sobre o momento que estamos vivendo.
E não por ter deixado de acompanhar os eventos que insistem em invadir nossas casas pela telinha. Ao contrário. Mas por total incapacidade minha, e aqui reconheço essa incapacidade de entender minimamente o que ando vejo, escutando, lendo...
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Só a título de exemplo, enquanto no Morumbi o São Paulo aplicava sonora e inexplicável goleada no Toluca, pelo placar de 4 a zero, às vezes eu sintonizava a tv Senado, onde a advogada Janaína respondia a questões de Suas Excelências Senadores.
Respondia é maneira de dizer. Ela gritava, em minha opinião, desrespeitava os senadores, procurando até mesmo ensinar-lhes o que eles deveriam fazer.
A ponto de, em certo momento, em resposta a um senador do PDT, começar dizendo que exigia ser respeitada, aos berros, dizendo que não iria tratar, naquele recinto, de relações particulares, entre ela e o cliente.
A reação foi tão curiosa, que exigiu imediata intervenção do presidente Lira, da Comissão, pedindo que a convidada se lembrasse de onde estava, e do comportamento que dela se esperava.
O que deu à advogada a oportunidade de se levantar e sair do recinto, quem sabe para se acalmar, e ir ao banheiro.
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Já antes, havia me espantado com a douta resposta que sapecava em outro senador, que falou antes do senador Humberto Costa.
Oportunamente questionada a respeito das pedaladas, a advogada saiu com uma resposta que, no mínimo, já mostra como ela estava imbuída e preocupada tão somente com a questão de salvar o país das garras da corrupção.
Aos detalhes: o senador, corretamente dizia que, alegar que pedaladas houve antes, nos governos FHC e Lula, e que apenas ganhararam uma dimensão com Dilma muito mais espetaculosa, significava, em sua maneira de ver as coisas, que todos deveriam ser punidos, indistintamente.
Em sua opinião, haveria crime sempre e em qualquer circunstância, fosse o valor envolvido de 1 real, ou 1 milhão ou 1 bilhão.
Foi mais longe, questionou porque as pedaladas parecia estarem sendo toleradas com governadores, prefeitos, todos que ocupam cargos do Executivo, tanto pedaladas quanto as questões dos decretos orçamentários, mas não estariam sendo toleradas com Dilma.
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Para minha surpresa, qual foi a resposta da advogada?
Começou dizendo que o problema é que os valores apresentaram crescimento exponencial, e isso era o crime de Dilma. Prosseguiu para dizer que não sabia, não detinha a informação e, portanto, não poderia afirmar nada a respeito das contas anteriores de FHC e Lula. Que conhecia tais contas apenas de informações e gráficos publicados em jornais, mas que os números de Dilma mostravam, cabalmente, o crime de responsabilidade.
Que ela ignorava e fazia questão de desconhecer ou refletir a respeito... em relação aos seus antecessores.
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Mas, foi mais longe. E aí, é que eu percebi que estava vivendo um mundo surreal. Disse que ela apenas sabia dos valores e documentos do TCU a respeito das questões de pedaladas em 2014.
Ora, mas o STF não havia delimitado o problema do crime a ser julgado politicamente e juridicamente apenas ao mandato atual? Não é verdade que a presidenta não poderia estar sendo julgada por contas que são relativas a mandato anterior?
Independente de, como disse a advogada, o ano anterior ser pior, por ser ano eleitoral.
Ora, é outro mandato, e não cabe mais julgamento agora.
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E olhe que eu nem estou questionando o fato de o TCU ser apenas órgão consultivo e, portanto, não ter qualquer mérito mais significativo ou qualquer outro efeito maior a recomendação - pois que trata-se apenas de uma recomendação- feita pelo tribunal, no minúsculo mesmo, em relação às contas de Dilma.
Porque é preciso deixar bem claro: as contas de 2015, as que poderiam dar ensejo a qualquer acusação de ato de crime de responsabilidade no EXERCÍCIO DO MANDATO, o próprio Tribunal não julgou nem se pronunciou ainda.
A menos que eu tenha perdido essa notícia nos jornais...nos últimos dias.
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Mas, além de destempero total da advogada o que mais foi visto?
Primeiro, mais destempero. A advogada arrogante, tratando os senhores senadores como se tratasse com um bando de imbecis, ou ao menos os que não estavam convencidos de que Dilma não merece ser impichada...
Depois, a advogada reconhecendo que cometeu ilegalidades, como a que ela mesma revelou, de que, por amizade que mantém com Miguel Reale Jr. - o outro advogado que patrocina a causa, menos como advogado e mais como político que é, filiado ao PSDB-, ela deu aulas no lugar do professor titular de Direito, mesmo sem ter feito concurso.
Ou seja: mesmo não estando habilitada, ela estava dentro de sala de aula, ensinando a seus alunos, talvez, o respeito às normas jurídicas...
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Bem a advogada, que admitiu que fez tudo por amor, não ao Brasil, mas ao dinheiro que a contratou para dar o parecer ao PSDB, tentava vender a ideia de ser a salvadora do país. Junto com os outros interessados diretos em forçar uma situação apenas e tão somente para poderem dar o golpe.
Desrespeitar as nossas leis e nossa Constituição.
Afinal, crime de responsabilidade, embora previsto não pode ser apenas bradado. Há que ser provado e, antes de mais nada, ter sido cometido...
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Nesse meio tempo, surge uma senadora para fazer uma manifestação, não de inquirição ou consulta ou esclarecimento junto à advogada - talvez reconhecendo aquilo que eu já começava a me convencer: a advogada que assina o pedido de impeachment é muito fraquinha... Mas o que a senadora queria era fazer uma moção de desagravo à Janaína.
Ou seja: hipotecar solidariedade a quem estava ofendendo, aos berros, às vezes, a Casa a que a senadora pertencia.
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Em minha opinião, já houve antes, naquela Alta Câmara legislativa gente que tinha assento e compostura. De muito melhor qualidade que os senadores que hoje ali frequentam.
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No meio de todo meu completo assombro, devo dizer, no entanto que, conhecendo o senador Anastasia como conheço, já que tive a oportunidade de trabalhar com ele na Secretaria de Planejamento de Minas, quando ele era o adjunto do professor Paulo Paiva, e sabendo de sua reconhecida capacidade intelectual como professor de Direito Constitucional, não acredito que ele irá fazer um relatório que manche e enlameie toda sua trajetória de honra.
Não posso acreditar que o professor vá jogar na lata de lixo da história, apenas por compadrio com esse outro senador que, em minha opinião não honra Minas como faz questão de honrar o Rio, o menino do Rio: o tíbio e embolorado Aécio...não acredito que Anastasia vá fazer um relatório político, politiqueiro, negando tudo que construiu até aqui, apenas para poder alcançar o poder, custe o que custar.
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Em minha opinião, diferente dos homens vaidosos e vazios de quem é amigo, que por isso mesmo almejam estar nas fotos oficiais no lugar central, Anastasia tem a personalidade dos grandes homens que sabe que mandam e são quem tomam as decisões e têm as rédeas sob seu comando, mesmo que sem aparecer com destaque nas fotos. Afinal, a Eminência parda, não pode tomar muita luz, para não ficar manchada.
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Mas, já não contava mesmo com as grandes redes - de comunicação, todas venais e cheias de interesses escusos. E ainda assim, surpreendo-me com a facilidade com que trafegam e dão espaço para que os golpistas possam trafegar de lá para cá, emitindo opiniões, mesmo que omitindo rendas ou contas...
Agora, daí a virem com a bombástica notícia de que Temer não irá tentar se reeleger em 2018, caso se consuma mesmo o golpe agora.
Daí a dizer que o democrata vice vai propor uma reforma política que acabe com a invenção de FHC e seu PSDB, de reeleição, é no mínimo risível.
Logo Temer, que não tem votos nem para se eleger síndico de condomínio.
Afinal, a quem a mídia tenta iludir, quando diz que Temer não irá se candidatar?
Quando ele se candidatou e venceu uma eleição majoritária?
Como ele está pretendendo e pavimentando sua caminhada rumo ao assento presidencial?
Senão via golpe dos mais baixos e vis?
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E tudo isso, apesar do toma lá, dá cá de cargos que a imprensa agora anuncia como a montagem do governo de salvação nacional, e antes era apenas o balcão de negócios podre da corrupção do PT.
Ok. Você golpista e antidemocrático venceu. Está vencendo.
E que pena que o país que você está construindo é tão podre e ruim. Fajuto mesmo. E você nem sabe ou percebe que está sendo manipulado por interesses da mídia mais inescrupulosa que podemos imaginar existir.
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Tanto que vem aí, na Fazenda, provavelmente, Henrique Meirelles. Aquele mesmo que presidente do Banco Central, foi blindado por Lula, virando ministro, para que não tivesse que responder administrativamente a processos internos, instaurados pelo próprio BC.
Aquele que mantinha os juros em mais de 18%, mesmo que a inflação estivesse abaixo da meta, de 4,5%. E tudo isso tão somente, para dar lucros a seus amigos do mercado. Aqueles pobrezinhos dos banqueiros...
Não é a toa que seu nome é tão recebido por banqueiros de toda espécie. Quem não gosta de ganhar dinheiro, já perguntava Sílvio Santos a suas colegas de auditório. Quem quer dinheiro???
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Do ponto de vista da economia, agora que se discute se deverá ou não ser dado um choque de gastos no país, com sua redução - que irá, por óbvio, acabar afetando os gastos sociais do governo, ou se tomar a direção contrária do aumento da carga tributária, apenas uma questão.
Como se sabe, atravessando o país uma depressão, como estamos, tanto é prejudicial cortar gastos, do ponto de vista da demanda agregada e da criação de empregos, quanto aumentar tributos.
Mas, porque ninguém tem mencionado que o multiplicador da economia vinculado aos tributos tem menor impacto e menor força que o gerado pelos gastos do governo?
Em bom português, as consequências, para o emprego de um corte de gastos são mais rigorosas..
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Não poderia terminar sem tecer um comentário adicional.
Não gosto. Nunca gostei de Fernando Pimentel. Nunca confiei nele e seu próprio partido não deveria confiar, depois que ele traiu o PT mineiro, para apoiar Aécio e a indicação de Márcio Lacerda para a prefeitura de BH, há alguns anos.
Coitado! Tão incompetente que é, conseguiu a façanha de ser feito de tolo até por Aécio.
Que lhe deu um nó.
Bem não confio. Não gosto. Acho que ele é traíra. Não votei nele, não recomendaria o voto nele, em qualquer circunstância, e agora ele apronta mais essa.
Para blindar sua mulher, nomeia-a Secretaria do Trabalho. Tudo bem que não está tendo mesmo trabalho algum no país, para dar a ela alguma atividade.
Mas sua decisão de nomeá-la para escapar da punição da operação Zelotes, ou Acrônimo, ou ainda da própria Lava-Jato, apenas demonstra que minha intuição não me engana.
Ao menos minha intuição, já que do resto cada vez mais acho que entendo menos.
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