quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Pitacos preguiçosos de início de ano

Os pitacos começam, como o ano, preguiçosos.
Assim como a quadra que se inicia, espero ter a capacidade de tornar seus textos mais curtos. De leitura mais fácil.
Mas, antes, a todos aqueles que têm a paciência de visitarem essa página, a todos os que costumam me acompanhar, desejo o melhor 2019 possível.
O mais feliz.
Um ano em que possamos dar asas a nossos sonhos, significados e coerência a nossas realizações e em que nossos temores não possam vicejar.
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O ano começa com a posse dos novos escolhidos pela população brasileira para comandarem os destinos do país e dos estados pelos próximos quatro anos.
Governos que se instalam e, todos sabemos e a midia não nos deixa esquecer, que deverão ser marcados pela situação de penúria das contas públicas.
Que obriga que sacrifícios sejam feitos em todos os níveis da administração pública e por todos os setores da sociedade.
Como sempre, embora reconheça a situação de calamidade das contas da União e dos entes subnacionais, que é uma unanimidade, os conflitos que deverão se apresentar se referem mais à forma que ao conteúdo final.
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Dessa forma, embora suspeitando que as medidas de política a serem adotadas no futuro imediato de nosso país não serão no sentido e direção que acredito fossem as recomendadas, torço, pelo bem do povo e dos trabalhadores do Brasil, para que não sirvam para agravar e piorar a situação de miséria da maioria de nossa população. 
Que as medidas de política sejam menos na direção de ampliar o fosso e mais no sentido de permitir o cumprimento de uma postulação muito cara a mim: de cada um segundo sua possibilidade, a cada um segundo sua necessidade.
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Utopia?
Claro, mas se como diz a sabedoria popular, pau que dá em Chico tem de dar também em Francisco, espero que as promessas iniciais do governo, de destravar a economia, liberalizar geral, respeitar o esforço individual não deixem de afetar e reduzir privilégios, acabar com cartórios, benefícios, poderes de mercado exercidos por organizações oligopólicas.
Há que admitir que será uma grande conquista se a parcela de receita arrecadada pelo governo, que apenas passeia pelos cofres públicos e retorna sob a forma de incentivos, subsídios, favorecimentos - e vista grossa, que não é corrupção, mas é prima irmã dela - sejam reduzidas, senão eliminadas.
Afinal, se se quer passar a valorizar o mérito individual, que é meta de todos nós, é inegável que todos têm que começar do mesmo ponto de partida.
Com as mesmas condições e oportunidades.
E para isso, o fim de privilégios é a principal arma.
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E como falei de utopia, apenas devo deixar registrado que não consigo enxergar, em meio a todos os apoios que levaram Bolsonaro ao poder, a vontade, o interesse, a disposição de alterar o "status quo".
Não consigo imaginar os empresários que desejam ainda uma maior precarização das relações trabalhistas, dispostos a apoiarem melhores remunerações e condições menos iníquas de trabalho.
Não consigo visualizar os mercados financeiros, que tanto apoiaram e aprovam os primeiros atos do novo governo (vide os resultados da Bolsa e do dólar), se contentarem com menores espaços para a obtenção e busca de rendimentos, em detrimento de interesses produtivos mais efetivos.
Menos ainda acredito que os interesses ruralistas, do agronegócio, que são os que têm segurado o desempenho da economia brasileira recente, possam sentar a mesa e discutir que comportamento deverão adotar, para não agredir o meio ambiente, e respeitar índios e outras comunidades mais fragilizadas.
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Quanto à posse, algumas observações são interessantes de se fazer.
Primeiro o destaque dado à quebra de protocolo com o discurso/comunicado simpático, feito em Libras, por Michelle Bolsonaro.
Destaque justo, e um aceno no sentido da inclusão de todos os que têm problemas de deficiência auditiva, que pelo que informa a midia, atingem os 10 milhões de pessoas no nosso país.
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Segundo, o fato de a oposição, ou parcela mais aguerrida dela, ter boicotado a posse, não estando presente à solenidade. Como se fosse antidemocrática a postura, perfeitamente normal e comum, de o bloco de representantes da minoria se ausentar ou se retirar do plenário para manifestar sua contrariedade ou insatisfação com algum tipo de ato político.
Pior seria se, como acontece por exemplo naquele país "antidemocrático" que é a Inglaterra, o grupo de oposição se manifestasse com vaias.
Que aqui no Brasil poderia dar motivo inclusive para a ação truculenta de certos membros da maioria ou ainda do corpo de seguranças do Legislativo.
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Mas, como a maioria se acha a dona da cocada preta, até o comportamento da minoria ela deseja pautar. E, dá-lhe críticas, à ausência de PSOL, PT e PSB, da sessão de posse.
Esquecem que ser maioria não significa deter o monopólio da verdade ou dos comportamentos sociais.
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Assim, li ontem, em um portal - talvez no UOL, uma série de justificativas que, segundo o autor dos comentários, não justificam em absoluto o comportamento DESELEGANTE da minoria.
Como se cumprir o seu papel político, representando aos que não votaram no candidato eleito e a ele se opõem, fosse algo deselegante!!!
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Em meio à lista de comentários provocados pela percepção de que a oposição perdeu, mas não se entregou, nem se curvou, até criticou a argumentação adotada por alguns, de que o comportamento de agora, repete apenas o comportamento de PSDB e DEM de 2014.
Siglas cujos membros, também sem saber aceitar a derrota, se furtaram de comparecer à solenidade de posse de Dilma para o segundo mandato.
Contra o qual já estavam tramando desde aquele momento...
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E ainda somos brindados com a fala do neto de ACM, presidente justamente do ... DEM, de que a oposição deveria comparecer e esquecer as divisões provenientes da campanha.
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Em terceiro lugar e para não me estender muito, lembrar que, como todos fizeram questão de assinalar, Bolsonaro, mesmo eleito, continua em campanha: contrariando o discurso que ele mesmo proferiu na Câmara, de que irá governar para todos.???
E, em um instante supremo, ficamos informados de que a sociedade brasileira será, por seu intermédio, libertada do socialismo que corrompe suas tradições.
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Aquele socialismo dos governos petistas que, a título de melhorar as condições de vida das populações mais carentes, com condições de vida menos dignas, resolveu ampliar os benefícios, EM RESPEITO AO QUE É PRECEITO CONSTITUCIONAL, de programas de assistência já praticados nos governos anteriores, que hoje apoiam o vencedor.
Isso, sem prejuízo de deixar os ricos mais ricos, e ampliar como nunca antes na história de nosso país, a participação dos estratos mais ricos na partilha do bolo que é a renda nacional (da riqueza, nem se fale!).
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Socialismo de araque que sempre privilegiou os maiores, os campeões, em prol de conseguir espaço para dar migalhas aos mais pobres.
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Enfim, o presidente disse no parlatório, puxando o coro dos idiotas que nossa bandeira nunca será vermelha.
Não bastasse o nome Brasil, de origem tupi, significar pau em brasa, de coloração vermelha viva, fui pesquisar para descobrir que, de 12 bandeiras que nosso país já ostentou, seja como colônia ou mesmo país independente de Portugal, ainda no Império, nove delas tinha não apenas a cor vermelha, como essa cor representava a maior parte do símbolo nacional.
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Pena que os nossos novos governantes, e até a midia ou parte dela, não conheçam história, ou não tenham interesse em ir contra os detentores do poder, para esclarecer a população e dar a ela, condições de igualdade de conhecimento e de discernimento.
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Não poderia deixar de concluir com uma observação sobre a fala de um dos ministros empossados, ao afirmar que o novo governo terá como regra o respeito aos contratos, sendo contrário à quebra de contratos.
Bom saber disso. Mas é importante espalhar isso na mídia, especialmente aquela que continua criticando o fato de o aumento do funcionalismo público, cuja última parcela, por LEI - não foi por um mero contrato, mas algo muito maior, uma lei - começa a vigorar agora a partir de janeiro, não foi, nem pode ser considerado nem um abuso, nem uma medida monocrática de Lewandowski destinada a colocar pedras no caminho do novo mandatário.
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É isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

O ritual de passagem de ano tem por princípio a renovação da esperança, que no meu entendimento é o combustível de nossa aventura neste planeta.
Para 2019 a esperança vem em cores diferentes, especialmente pela posse do novo presidente. Dois fatos no entanto me surpreenderam nas solenidades de posse:
1. O fato do presidente e de seus ministros assinarem o termo de posse com uma caneta popular. Há naturalmente um aspecto simbólico neste ritual, que a primeira vista pode parecer grandioso (como foi amplamente divulgado nas redes sociais, certamente por profissionais ligados à corte do ex-capitão), mas tem o cheiro, cor e cara da mais pura demagogia. Pouco importa a marca da caneta, isto não torna ninguém melhor ou pior, mais ou menos humilde ou justo! Mas em se tratando de tudo o que tem marcado a vida do agora presidente trata-se de mais uma maquiagem.
2. O discurso do ministro Paulo Guedes, em especial ao tratar das absurdas aposentadorias de alguns segmentos do setor público, o que deve ter causado algum desconforto. Pode significar novos fronts. Lembro que Lula, logo no início de seu primeiro mandato falou em "abrir a caixa preta do judiciário".... e deu no que deu.... No mais confirmou a subserviência ao capital...

Entendo que a oposição deveria comparecer à solenidade, até para se diferenciar do que foi feito com a ex-presidenta deposta e como demonstração pública e simbólica de que respeitam os resultados das urnas, afinal parte da mídia joga as cartas daqueles que estão no poder. Penso ainda que a oposição precisa de se repensar, até para entender como perdeu as eleições, em seus diversos níveis, país afora.
Seja como for em 2019 será um ano de medo para aqueles que defendem a democracia, uma vez que o excapitãoatualpresidente classifica qualquer coisa contrária àquilo que ele pensa como socialismo. E o pior muita gente país afora.

Um abraço e que possamos ter esperança em 2019.

Fernando Moreira