terça-feira, 28 de maio de 2019

Manifestações em prol de quem de mito, passou a mico. Pior: um mico que flerta com o golpe

Posso estar enganado, mas aprendi desde pequeno que se alguém pede socorro, é porque se encontra ou se sente em situação de perigo.
No caso de pedir apoio, ajuda, é um reconhecimento (nem sempre ruim!) de que não está em uma posição de força. Não está confortável.
Raras vezes o pedido de auxílio é sinal de humildade ou alguma atitude especial, visando incorporar muito maior quantidade de pessoas em projetos, ações, propostas, de forma a dar-lhes a oportunidade de se sentirem participantes, sujeitos da ação. Mesmo quando a tarefa é, reconhecidamente hercúlea.
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Por outro lado, dentre as muitas lições que tive a oportunidade de aprender com minha avó, uma lição que nunca esqueci foi a de que, quando você tem alguma queixa ou reclamação a fazer, você deve procurar direto a pessoa que tem a responsabilidade pela solução do problema enfrentado.
Por mais que todas as pessoas devam sempre ser valorizadas, qualquer que seja sua função, dirigir uma reclamação àquelas pessoas que não  têm condições ou autoridade para resolver a questão, pode soar como simples desabafo, apenas uma atitude para chamar a atenção, sem qualquer efeito senão o barulho,  além de se tornar uma perda de tempo.
Desta forma, a fazer alguma reclamação, procure quem pode ter a solução e trate direto com essa pessoa.
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Refiro-me a essas recordações em razão do instante que nosso país atravessa, marcado pelo envolvimento do próprio presidente da República em convocação de manifestações públicas de apoio a seu governo. A ponto de ter manifestado, em várias ocasiões, a vontade de ir às ruas, congratular-se com o povo.
Ora, se de fato tivesse o apoio da população, ou ainda a certeza de ter tal apoio, seria no mínimo perda de tempo patrocinar tais convocações.
Afinal, ou se tem ou não se tem o apoio ou a certeza dele. E não deveriam caber dúvidas disso.
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Exceto que o presidente esteja se sentindo fraco. O que não é o caso, por suas intervenções, comemorando o resultado das manifestações por ele convocadas.
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E, se é verdade que o presidente não foi às ruas, como manda a prudência e o aconselharam seus assessores, sabemos todos que esteve presente ao menos no mundo virtual, em que passa grande parte do tempo em que deveria estar governando o país.
E, se as manifestações não foram um fiasco, ao menos conseguiram juntar um contingente de pessoas, sempre prontas a, posteriormente, acorrerem às redes sociais e acreditarem em fotos manipuladas, para expandirem o número de participantes significativamente.
Afinal, há uma certa percepção equivocada de todos que estamos presentes em algum evento, muito por força de nosso envolvimento emocional, de que o movimento é mais poderoso e tem mais presença de público que o que a realidade fria nos indica.
Coisas da visão distorcida da paixão.
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E, embora ao pedir apoio a seu governo, o presidente mostre que não é o mito que se apregoa, estando mais próximo de ser um grande mico, impressiona-me o fato de não procurar ir direto levar suas queixas ou demandas àqueles que têm a responsabilidade e competência para ajudarem a resolver a situação.
Afinal, se Bolsonaro foi eleito (democrática e desgraçadamente!), também os deputados e senadores foram escolhidos pelo povo para representá-los. E é com os membros do Congresso que o presidente tem a obrigação de se sentar e entrar em entendimentos.
Se é de fato seu desejo promover reformas que permitam que o país possa evoluir e voltar a ser uma nação rica, de economia em crescimento, emprego e mais justiça e igualdade de oportunidades para todos.
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O problema é que alegando que isso é o jeito velho de se fazer política, através de entendimentos, negociações, acordos e soluções de compromisso, o irresponsável que ocupa a presidência aproveita para lançar sobre toda a classe política a pecha de corrupta e venal.
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Talvez por ter estado quase 30 anos no Congresso, vivendo nas sombras, nos espaços onde se realizam as negociações mais escusas e indecentes, o presidente tenha ficado tão viciado como o fumante de boca torta do cachimbo. E, a partir daí, acredite que todas as negociações sejam negociatas. Sempre abjetas.
O que o faz se recusar a se reunir e discutir qualquer assunto de caráter mais nobre. Mesmo que de discutível resultado para o povo, último beneficiário das medidas.
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Porque ou é isso, ou vai ficando cada vez mais claro que a intenção do presidente é muito mais autoritária, muito mais truculenta. Ou seja, suas reformas devem passar como ele as desenhou, sem qualquer espaço para alterações, mesmo que para seu aperfeiçoamento.
Especialmente porque aperfeiçoar as medidas, no sentido do atendimento aos interesses do povo, significa muitas vezes obrigar outros setores mais poderosos, a abrirem mão de todos os benefícios e vantagens que idealizaram.
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Digo isso, mas acho que, no fundo, o que move Bolsonaro não é o desejo de fazer o Congresso se amesquinhar, se apequenar e passar, por temor, a aprovar tudo que seu mestre enviar e mandar.
Pior que isso: acho que, no fundo, o que esse presidente deseja é fechar o Congresso, com apoio da população ou parte dela. No fundo, o que ele parece desejar é fechar tudo e, como já citado por um de seus filhos, mandar um cabo e um soldado para fechar até o Supremo.
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Importa observar que nessa função de jogar a Constituição na lata de lixo, a julgar por declarações que apenas mantiveram o mesmo tom e conteúdo das emitidas pelo presidente, Bolsonaro conta com o apoio de, ao menos, seu Ministro do Gabinete da Segurança Institucional, o general linha dura Augusto Heleno.
E confesso, que fiquei surpreso ao procurar pesquisar de que se trata a tal Segurança Institucional.
Porque, ingenuamente, acreditava que era o general responsável por cuidar da Segurança das Instituições do Brasil.
Mas, qual não foi minha surpresa ao descobrir que o cargo tem a função de prestar assistência direta e imediata ao Presidente, assessorando pessoalmente em assuntos militares e de segurança.
Logo, nada a ver com respeito às Instituições. Nem, necessariamente ao livrinho.
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Para ser justo, devo admitir que muitos que foram às manifestações, provavelmente repeliriam um golpe como o prenunciado.
Como foi dito pela imprensa, apenas uma minoria de pessoas, a pior espécie delas, as ressentidas, podem ter essa ambição, ainda não escancarada totalmente.
A maioria, pode sim ter ido às ruas para aprovar a reforma da Previdência de Paulo Guedes ou melhor dizendo de seus patrões do mercado financeiro.
Ou o pacote anticorrupção de Moro, o juiz que prende e arrebenta, desde que não seja colega de ministério, ou tenha mostrado arrependimento de práticas delituosas, como nos casos dos ministros da Casa Civil ou do Turismo.
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Alguns podem até achar mesmo que o COAF, que sempre esteve ligado ao Ministério da Fazenda, onde tinha autonomia e independência até para poder fornecer subsídios à Lava Jato, deveria ir parar sob o comando de um ministro desmoralizado, que poderia interromper investigações, especialmente contra colegas, filhos e outros que tais.
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Mas, que eu gostaria de ter acesso a resultados de pesquisas com tais pessoas, bem intencionadas, para poder avaliar o quanto se deixam iludir com as propostas que defendem sem conhecer, isso é fato.
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De minha parte, afirmo que tais reformas não irão permitir o país voltar a crescer. Até mesmo as contas do governo, é discutível que possam ter melhoras imediatas ou de médio prazo.
O país vai continuar tendo corrupção, por que isso é da parte podre da nossa sociedade, aqui ou em qualquer lugar do mundo.
A Previdência, em especial a proposta de capitalização, irá apenas aumentar a desigualdade e a conflagração entre os brasileiros.
Iremos sucatear nossa educação superior, de qualidade elevada, mas não iremos nos incomodar, já que meninas continuarão usando rosa e meninos se vestirão de azul.
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Sobretudo um alerta: Bolsonaro flerta com o golpe. E tem cheiro de golpe no ar.


Um comentário:

Anônimo disse...

Houve o golpe de 2016 e embalado naquela lambança, um outro golpe, mais perverso, ronda o país novamente. É preciso ainda incorporar outro agente no pacote: parte das igrejas pentecostais... Acredito que as coisas estão ocorrendo de acordo com a programação: desmoralizar instituições, sondar o nível de apoio popular e buscar as bençãos do senhor... ops... senhores.