Luto
Chegamos ao final desse mês de outubro, marcado por uma das perdas mais significativas que o desenrolar natural da vida nos proporciona: a passagem da minha mãe, no dia dos professores.
A data é ela mesma curiosa, em razão da origem profissional de minha mãe, normalista do Instituto de Educação e professora do ensino estadual.
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Anos depois, tendo se bacharelado em Biblioteconomia, passou a trabalhar na biblioteca do Instituto de Educação, e transferiu-se para a Secretaria de Administração, onde veio a ocupar o cargo de Diretora, até sua aposentadoria.
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De forma breve, devo fazer referência ao seu trabalho de conclusão do curso de Biblioteconomia, cujo conteúdo identificava, listava e apresentava a ficha catalográfica de todos os discursos da carreira de homem público do ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Monografia que, tendo em vista o período autoritário de ditadura militar que caracterizava o país, não mereceu a atenção devida, exceto junto à Biblioteca do Congresso americano e, aqui em nossa terra, de Serafim Jardim, o incansável guardião da memória de JK.
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Vale assinalar que, em razão de dificuldades de toda ordem encontradas na tarefa de datilografia dos originais de seu TCC (trabalho de conclusão de curso), que por pouco não implicavam na temível perda de prazos, se propôs a datilografar trabalhos para amigos, colegas, e todos que lhe procuravam.
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Além de alguma remuneração, isso lhe valeu várias noites sentadas à frente da IBM elétrica, muitos novos saberes e conhecimentos e contatos pessoais, como o mantido com o professor Washington Peluso Albino de Souza, pioneiro do Direito Empresarial no Brasil, e autor de livros sobre o tema.
Um dos livros traz o agradecimento à Maria Coeli Machado, responsável pela datilografia dos originais da obra.
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De temperamento alegre, nem o Alzheimer que a acometeu nos últimos 9 anos de vida, conseguiu lhe tirar o sorriso discreto do rosto, que um tio classificou certa feita como, o sorriso enigmático de Monalisa.
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Ao longo de toda sua doença, minha mãe foi partindo dessa vida, culminando agora com sua partida física.
Mas está presente, como sempre esteve, na vida de todos nós, que tivemos o prazer e a honra de com ela termos convivido.
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Enquanto isso...
Um jovem esquizofrênico, com recente passagem policial vinculada ao tráfico, usuário de crack e ao que parece, sem fazer uso correto do medicamento recomendado por profissional da área médica, atacou e assassinou a golpes de faca uma menina inocente, de 5 anos de idade, que chegava para a aula na manhã de ontem, dia 30, em Betim.
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O fato trágico, deplorável, traz à memória outro, semelhante, acontecido no interior da Livraria Cultura em São Paulo, onde um rapaz foi golpeado com um taco de baseball, vindo a falecer em razão do golpe desferido também por um rapaz desequilibrado mental.
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A comoção que tais notícias geram, em especial, no caso de Betim, por se tratar de uma criança e por seu algoz ser um rapaz recém liberado da prisão, ainda em uso de tornozeleira eletrônica, justificam o tratamento de destaque dado pela mídia.
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Reconhecer a selvageria do ato e as circunstâncias que o cercam não deve, contudo, transformar o fato em um espetáculo, nem dar espaço para reações - naturais, a princípio - de cobrança, revolta, vingança.
Digo isso, porque não é a cadeia o lugar para pessoas portadoras de transtorno mental, o que não dá direito a que se lembre que "nossas leis não mantêm afastados do convívio social" aqueles que representam um problema potencial.
Identificado o transtorno, o correto seria o Estado ter condições de proporcionar o jovem recolhimento, do tipo de medida de segurança, a um lugar adequado para tratamento, com acompanhamento especializado.
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Favorável que sempre fui, à luta antimanicomial, há que se debater de forma séria, e em foro apropriado, o tratamento a ser dispensado a tais pacientes, de maneira a resguardar a segurança e integridade das potenciais vítimas, que na maioria das vezes, nem conheciam ou mantinham relacionamento com os portadores dos transtornos.
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Fica meu respeito à menina, e meus sentimentos à família, e minha preocupação com o tratamento a ser dado ao jovem doente.
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Observação: o tema é delicado e merece tanto meu respeito que, apesar de tratá-lo, antecipo meus pedidos de desculpas se o tratei ou usei expressões ou externei opiniões, completamente leigas.
Mas em um país dominado por um ataque de loucura total
Volto para o tema da vez, Bolsonaro.
Para comentar o ridículo de sua viagem e seu comportamento, que nos envergonha a todos, exceto aos que creditam a um eterno mimimi o fato de um mínimo de compostura, respeito à dignidade do cargo, às tradições do país e nossa cultura, serem cobrados de nosso representante máximo no exterior.
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Amigo de miliciano ou não, participante de rachadinhas ou não, aproveitador de verbas públicas em proveito próprio ou empregador de funcionários fantasmas ou não, o mito para todos aqueles que mostram serem portadores de imenso recalque ou falta de intelecto, ou serem mal intencionados mesmo, Bolsonaro foi eleito para ser presidente do Brasil.
Presidente macunaímico, como nossa realidade. Que não precisa a cada instante ficar nos lembrando de como somos cidadãos inviáveis, de segunda categoria...
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Ao aparecer em redes sociais comendo uma espécie de macarrão instantâneo, o nosso miojo no Japão, comentando não se adaptar ao cardápio da recepção oficial, ou ao dar declarações de que estava em visita a um país capitalista, referindo-se à China, Bolsonaro joga no lixo toda nossa tradição de diplomacia e cortesia.
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A tais comportamentos, e na mesma linha, estão as inúmeras manifestações agressivas ao povo argentino, ou ao povo chileno, o primeiro por eleger alguém de oposição ao seu corte ideológico, o segundo por protestar legitimamente contra a usurpação de seus direitos.
Diga-se de passagem que a mesma usurpação de direitos que seu posto Ipiranga, o liberalzinho Paulo Guedes, tem como receita de bolo ou proposta para adotar em nossa economia.
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Não contente com tantas aberrações de comportamento, o presidente ainda, e mais uma vez, ofende as mulheres. Mas não é apenas misoginia. Ofende a trabalhadoras, jornalistas, obrigadas a cobrirem o show de insensatez que ele protagoniza, com comentários de que todas as mulheres, em especial as ali presentes a trabalho, assinale-se, estariam dispostas a fazer tudo para poderem estar a sós com um príncipe árabe.
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O mesmo príncipe com que ele diz ter tanta afinidade quanto com um irmão, apesar das suspeitas de que tal príncipe foi quem mandou executar o jornalista crítico ao governo árabe, em prédio de embaixada do país no exterior.
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Diga-me com quem tu andas...
Bolsonaro depois não gosta quando recaem sobre ele, suspeitas de suas ligações temerárias, para não dizer mais nada, com seus vizinhos milicianos, os queirozes da vida, e outras pessoas de mesmo tipo de comportamento suspeito.
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O que me dá uma saudade de quando o país era representado por um Lula, falastrão, tolo e ingênuo, talvez em alguns momentos até inebriado pela conquista pessoal e consagradora obtida, em especial, considerando sua origem.
Que saudade dá quando Lula era o cara. Sem precisar bajular e falar gracejos infelizes a respeito daqueles com quem tinha encontros agendados.
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Que saudade quando os irmãos de Lula eram do tipo de Vavá e não do tipo de um sheik sob suspeição.
Que saudade dá quando a quadrilha do Torto em Brasília, patrocinada por D. Marisa, era apenas a reunião de caipiras em festas de São João, não a quadrilha que infesta as cercanias da residência de Bolsonaro.
Não a gangue de filhos herdeiros de Bozó.
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Hoje, temos de ver o ex-futuro e fracassado indicado para embaixada nos EUA, postando retrato ao lado do filho do presidente argentino eleito, o nosso herdeiro com macho, com fuzil no colo.
Aliás, a fixação de Eduardo por fuzil e armas, pistolas, sempre em sua mão, são mais interessantes e, quem sabe, reveladoras de seus instintos, que o comportamento de seu irmão Carlucho.
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E a vergonha de estar se expondo ao lado de alguém que, independente de qualquer outra postura, é capaz de se assumir, como o filho de Fernadez.
Rapaz cuja resposta sábia e alto astral mostra que, de filhos e educação, temos muito a aprender com nossos hermanos e vizinhos.
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Isso tudo, depois de, da tribuna da Câmara, Eduardo ter feito um discurso de que, se as manifestações orquestradas pela esquerda internacional que hoje assolam o Chile, chegarem ao nosso país, tais movimentos serão repelidos como machos: à força de tropas militares.
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Para concluir a lista de comentários de desatinos, Bolsonaro já estando ciente há mais dias, até semanas de que houve quebra de sigilo por parte do governador do Rio, ao ser informado que fora citado no processo de investigação da morte de Marielle, preferiu se calar por que razão?
Afinal, se foi informado, como garantiu em seu discurso raivoso em rede social, não houve ali, já naquele instante a descoberta de que Witzel cometeu uma irregularidade?
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Ou Bolsonaro preferiu se calar para ter tempo para buscar, ou no limite, fosse outra pessoa, até forjar provas e documentos que pudessem lhe fornecer um álibi?
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Ora, o tal livro existe de fato ou não, com a letra do porteiro?
O que ganharia o porteiro ao citar, por engano, em mais de uma oportunidade, algo que em tese consta no livro?
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Porque Carlos conseguiu acesso à fita de áudio, que a Polícia parece não ter encontrado, ou visto, ou analisado?
Ok, em se tratando da Polícia do Rio, que não consegue encontrar e interrogar Queiroz. Aquele da fita de áudio com empregos e muita grana, junto à Câmara.
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Se foi enviado à Procuradoria Geral, porque, baseado em que documentação oficial, o Procurador mandou arquivar o processo com a citação do porteiro como improcedente?
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Vivemos, como diz o Ministro Marco Aurélio, tempos difíceis, malucos. Diria, tempos bicudos...
A Globo e parte da imprensa ameaçada, acovardada, os Tribunais como Juízos de Exceção, também acovardados.
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A PF, ao que parece agindo apenas sob ordens de Bolsonaro e seu moro predileto.
O Coaf sendo impedido de fazer seu papel, que cumpriu sem interferências em todo o período em que fomos governados por corruptos petistas, e agora, sob censura, a pedido do filho e interesses daquele que foi eleito para combater a corrupção...
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Nesse meio tempo, nossas praias têm mais óleo, piche, etc.
E na Esplanada em Brasília, nossos ministros têm mais ligações com laranjais, embora façam turismo em praias, uns; enquanto outros passeiam sua ignorância contra o Meio Ambiente, que deveriam preservar.
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Tempos de fato, dolorosos. De luto. De lutas
Um comentário:
Paulo Feitosa,
Boa tarde!
Uma vez mais venho manifestar meus sentimentos pela perda de sua querida mãe.
Lendo seu artigo de hoje, acompanhando diariamente a sequência de loucuras, ignomínias, misoginias, autoritarismo explícito, intolerâncias e desatinos de toda ordem, que invadiram o pútrido e miniciano Brasil Bolsonariano, pensei no grande historiador inglês do século XX, Eric Hobsbawm. Se vivo, ele faria mais um livro de sua famosa trilogia, em homenagem ao Brasil: a Era da Insensatez Tropical.
Seguimos pobres, desiludidos,tristes, envergonhados, maltratados, humilhados e afrontado. Mas seguimos acima de tudo brasileiros.
"Um índio descerá de uma estrela colorida, brilhante..."
Um abraço
Paulo Bretas
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