terça-feira, 31 de março de 2020

Zig e Zog. Brasil, pandemia, isolamento social, impactos econômicos e um presidente que não está a altura de um mero vírus

Foi Paul Samuelson quem proporcionou meu primeiro contato com a disciplina de Economia I, na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, por meio de seu livro Introdução à Análise Econômica, na época utilizado como bibliografia básica.livro texto.
E devo confessar que, desde o início, tive minha atenção atraída por um trecho em que o afamado professor, laureado com o prêmio Nobel de Economia, procurava demonstrar as vantagens da organização do sistema de preços, baseado no livre mercado, como forma de resolução dos problemas econômicos fundamentais, de o que, como e para quem produzir.
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É desse livro que transcrevo integralmente a seguinte parábola:

"Em Flandres havia dois reinos. Em Zig, o bom Rei Juan requisitava os gêneros alimentícios levados à cidade em época de fome, pagando aos camponeses um preço justo (mas generoso) e racionando os suprimentos em proporções satisfatórias para todos. Como a fome persistisse, os cidadãos moribundos abençoavam o Rei moribundo. Em Zog, que ficava perto, em época de fartura, cada um dos doze comerciantes construiu em segredo (e encheu de cereais baratos) um armazém de gêneros alimentícios. Quando veio a fome, venderam o produto pelo dobro do preço comum, chegando até a despojar as pessoas de seus relógios e de suas jóias. Algumas (mas não todas, em absoluto) das jóias eles as deram a camponeses menos atingidos, para provocar a saída da maior quantidade de gêneros. E quando a notícia se espalhou, de lugares que ficavam à distância de Zig vieram camponeses trazendo alimentos. Quanto mais durasse o período de fome, maior era o preço que os Zoguitas pagavam pelos gêneros, até que finalmente o mercado os limitou a uma dieta mínima. Quando passou a crise, a cidade inteira devia aos comerciantes, mas estava viva, e cada um dos comerciantes lamentava que a concorrência por parte de seus colegas havia impedido que ele aumentasse vinte vezes a sua fortuna, em vez de apenas quatro. (extraído de Samuelson - Introdução à Análise Econômica - vol 1 - página 74 - Agir/MEC, 1972).

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Desde minha primeira leitura, e por pior que fossem os resultados apresentados, me solidarizei com o Rei Juan e sua preocupação em pagar o justo valor dos gêneros alimentícios encomendados aos camponeses. Da mesma forma, a distribuição de rações satisfatórias de alimentos a toda a população, sem se importar com atributos dos cidadãos como sobrenome, linhagem, posses e riquezas, função social desempenhada, classe social, etc. provocou marcas na minha forma de encarar a realidade social, o ambiente em que eu vivia. 
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Por outro lado, não há como deixar de reconhecer e questionar as razões de apresentação tão desigual, desde seu início, da situação dos dois reinos. 
Afinal, em Zig, já somos lançados em meio à fome avassaladora. Nenhum detalhe adicional nos permite identificar as razões da crise. Não somos informados se houve algum tipo de previsão, se houve inépcia, negligência, imprudência por parte do bom Rei Juan. Sabemos que, em meio à tormenta, ele tratou a todos como cidadãos iguais, com direitos iguais aos dele.
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Completamente diferente é a situação em Zog, onde sabemos que foi feita provisão de gêneros nos tempos de "vacas gordas", à semelhança da história do sonho do Faraó e José do Egito, ou de políticas de estoques mínimos, mantida por vários governos, de distintos matizes ideológicos. 
Mas, sabemos mais. Não se tratava de um mercado de concorrência pura ou perfeita, como a tese vendida nos manuais, e que ampara o altar ao deus mercado: afinal, eram apenas 12 comerciantes. Situação característica de mercados oligopólicos, e de todas as consequências daí decorrentes, como a prática de colusão de preços!!!
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Talvez não intencionalmente, também somos apresentados à verdadeira face do comerciante, no auge de seu processo de acumulação de capital, de forma a mais selvagem e bárbara possível. Somos apresentados a pessoas que, para aumentarem suas riquezas em apenas 4 vezes, chegaram às raias da extorsão, cobrando preços exorbitantes, jóias, tesouros. 
Vá saber quantos não morreram de fome, na miséria, à míngua, por não terem nem um pedaço de grão de areia para poderem ter acesso ao alimento necessário. 
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Chama-me também a atenção que não houve roubos, agressões, violências, saques e roubos aos depósitos onde se estocavam os alimentos. E que à custa da rapina feita aos seus clientes, puderam encomendar e ampliar a compra e fornecimento de alimentos em localidades vizinhas. 
Nenhuma palavra sobre a organização do reino de Zog, como se já há muito o Estado de tão mínimo já não tivesse mais razão de existir, e seu Rei tivesse sido deposto pelos comerciantes unidos e poderosos. 
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Nesse momento específico experimentado em nosso país, não passa despercebido também o fato de que os comerciantes sabidamente concederam créditos aos seus clientes, independente dos riscos incorridos, já que não apenas tratava-se de uma situação extraordinária, mas da possibilidade de os sobreviventes endividados poderem ter que saldar suas dívidas com seu próprio suor e trabalho, sob as condições impostas por donos de capitais talvez em fase de industrialização.
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Da pouca consciência de classe em si, ou ausência da consciência de classe para si, percebemos que não estávamos nos defrontando com cidadãos conscientes de seu futuro proletário...
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Mas, acima de tudo, uma observação que mexe muito comigo é a relativa às razões de os camponeses, de Zog ou de reinos que passaram a lhes abastecer, não terem resolvido, em momento de tragédia humanitária, procurado assegurar a venda, com menores margens sem dúvida, de sua produção para o reino de Zig, de mesma distância que Zog. 
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De toda a passagem e por meus comentários, fica nítida a minha aversão a esse sistema que se transformou em religião, dogmática, mecanicista, falsa e ilusória, que cultua o "deus ex-machine", o deus Mercado. 
Em relação a esse deus, afirmo que sou completamente ateu. 
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Gripe, Economia e Brasil

Todo o trecho introdutório, que serve mais para caracterizar e deixar claras as raízes de minha visão de mundo, permitindo que todos entendam minhas limitações e os argumentos que utilizo, nesse pitaco têm a função de embasar minha opinião a respeito do momento de crise que atravessamos em função da Covid 19.
E, de quebra, da recomendação de todos os cientistas, médicos, epidemiologistas, estatísticos, para que toda a população se mantenha em isolamento social, o máximo que for possível.
Afinal, a nenhum de nós é alheia a noção da necessidade de se fazer a provisão, o sortimento das dispensas das casas; como também é necessário que se façam compras de medicamentos, carnes, outros tipos de gêneros de bens, de limpeza, etc. 
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Nesses casos, há que se sair às ruas, e voltar imediatamente terminada a tarefa, não sem antes lembrar os cuidados devidos a todos, independente de qualquer outra visão ou comportamento. 
Lavar as mãos, higienizar bem, com água e sabão. Passar álcool e/ou água sanitária em todas as superfícies ou embalagens e produtos trazidos da rua. 
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No entanto, não há como não reconhecermos, ao menos os que não vivem nas nuvens, que tais cuidados dificilmente poderão ser tomados por todos aqueles que vivem em condições de higiene sanitária completamente precárias, muito por culpa de nossos "gestores de Zog". 
É tão difícil pedir que quem não tem água tratada ou esgoto em casa possa manter as condições de higiene pessoal recomendadas, quanto de que se mantenham em isolamento social. 
Afinal, é muito difícil, em cubículos em que convivem mais de 7 ou 8 pessoas, espremidas umas sobre as outras, que mantenham a distância de um metro ou metro e meio, ou que evitem tossir sem jogar perdigotos nos seus familiares e agregados. 
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Para esses, não é completamente descabido acreditar que estarão mais protegidos nas ruelas, nas calçadas que em seus "lares".
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Em meio ao surgimento dessa crise, tive a oportunidade de ser chamado por duas vezes para emitir opiniões sobre os impactos da gripe no nosso processo produtivo, na nossa economia, professor de Economia que sou. 
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Em todas as minhas entrevistas, citei que a questão de fábricas onde se aglomeram trabalhadores, tomando a decisão de interromperem suas atividades, em especial na China, então principal oficina e fornecedora de insumos em todo o mundo, acabaria nos levando a uma paralisação total. 
Entraríamos em recessão por não termos o que ou com que recursos produzir, o que levaria à decisão lógica e racional de não mantermos nossas unidades produtivas funcionando. 
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Ou seja: se vai faltar insumos e materiais para que as fábricas possam operar; se elas irão paralisar as atividades por falta de condições materiais, por que razão continuar cobrando a presença, a marcação de ponto de seus operários?
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A mim, em nenhum momento passou despercebido que não adianta mandar todo esse pessoal de volta a suas estações de  trabalho. Eles não terão muito o que fazer, ou farão muito menos que antes. 
Para mim também fica claro que as empresas não conseguirão suportar os ônus de pagamento de todas as suas obrigações, com funcionários, com operários, com os tributos, com fornecedores, com bancos e financiadores, estando de portas fechadas. 
Muito embora várias delas estão sobrecapitalizadas e com muitos recursos sendo mantidos em operações meramente especulativas no mercado financeiro. 
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A verdade é que nesse momento, como os comerciantes de Zog, era necessário que o governo emprestasse recursos, emitisse dinheiro, fizesse os gastos necessários para assegurar a renda que os empregados teriam direito a receber. 
Como na França, acredito que não poderíamos ser tímidos. Deveríamos, o governo em nome de toda a sociedade, isentar, na crise e tão somente nesse momento, as empresas de pagarem serviços de utilidade pública, aluguéis, tributos, encargos sociais. 
Ao governo competiria a obrigação de pagar os salários, integralmente, dos empregados de pequenas, micro e médias empresas. Parcialmente, poderia até se propor a pagar o salário de empresas maiores.
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Tudo para manter a população tranquila, segura, satisfeita e preocupada em manter sua saúde e sua vida. 
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Para autônomos, para os que vivem de bicos, seria dada uma renda mínima, por período limitado, sujeita a ampliação do tempo se necessário, para que eles não se vissem na contingência de terem de sair de casa, para tentarem algum tipo de garantia de sustento. 
Não há como lidar com a realidade ou dar murro em ponta de faca: mesmo que todos os "empreendedores" de nosso país fossem para as regiões centrais dos núcleos urbanos, não teriam clientes em número suficiente para demandarem seus serviços e sua renda seria sempre muito pequena. 
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Estando já no meio da rua, restaria a eles o chamado "trade-off", pegar a gripe e vir a morrer da pandemia, ou morrer de fome. 
Nessa situação, até o estado de emergência poderia caracterizar e servir de argumento para os saques, roubos, invasões de estabelecimentos comerciais. 
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Bem as medidas são conhecidas de todos. O problema é que vai tirar o país de seu esforço de contenção de gastos, preocupação central do sinistro liberal, Guedes. 
Para esse, ministro típico de Zog, desde que os comerciantes sobrevivam e o Estado não venha interferir ou impactar a nossa economia, não venha assumir dívidas gigantescas (que nada mais são de dívidas da sociedade - hoje - com ela mesma, no futuro!), não deve o governo adotar medidas que visam aumentar a intervenção no domínio público. 
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Não fora o Legislativo, a Câmara antes, e o Senado ontem, o vale de R$ 600,00 reais não iria se tornar uma possibilidade. Mera possibilidade, se lembrarmos o que nos ensinam cientistas políticos: não basta a legislação, há sempre a possibilidade de tudo não funcionar, dependendo da forma de implementação da política decidida. 
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Mas, estou certo de que Guedes tentará se assenhorear da decisão de que foi apenas espectador passivo. 
Assim como o seu chefe, que ao invés de preocupar-se com as vidas de seus eleitores, está mais preocupado com a economia que sem funcionar pode transformá-lo no pior presidente de toda a história do país. 
O que ele já está próximo de se tornar. 
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Daí a preocupação de Bolsonaro de mandar todos os cidadãos para a volta à vida normal. 
Daí sua preocupação em que a economia volte a produzir, sem o governo precisar de emitir (como acertadamente está fazendo o Banco Central), sem precisar de assumir riscos de crédito, ou dívidas particulares e itens de custo de produção das empresas. 
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Esse demente que ocupa a presidência, e que só pensa em seus problemas de imagem, já suficientemente queimada para todo o sempre, no mundo inteiro, não consegue perceber que um verdadeiro estadista é aquele que está adotando as medidas que permitam seu povo superar os momentos mais tenebrosos de crise. 
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A economia pode não ir bem. Mas, a população tendo saído da pandemia, com pequenas e inevitáveis perdas, irá saber ser reconhecida àqueles que lutaram para que as dimensões da catástrofe fossem menores. 
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O Rei de Zig, moribundo era saudado pelo seu povo. Pela fábula, Zog nem tinha rei, nem qualquer governante a ser lembrado. 
E aí Bozo? Qual a razão para seus temores?

quarta-feira, 25 de março de 2020

Vida, longa, intensa causa mais morte que outras causas. Doenças com as quais o país foi incapaz de lidar também. Mas a causa aguda agora é o corona virus.



É verdade.  Vivendo em  um país onde a população menos favorecida não tem qualquer cuidado por parte das autoridades públicas, carecendo do mínimo básico para sua sobrevivência, o Brasil é espaço privilegiado para o surgimento e a disseminação de doenças responsáveis por alto índice de letalidade.
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Sem poder contar com tratamento sanitário mínimo de água e esgoto, no que ironicamente acabam por se igualar a famílias da chamada classe média, as famílias de menor poder aquisitivo e visibilidade social não têm outra opção exceto a de permitir que suas crianças brinquem ao lado de esgoto a céu aberto e convivam com condições tão precárias que a surpresa não é a quantidade de mortes na primeira infância, ainda por doenças já sob controle ou extintas naqueles países que atribuem alguma importância à manutenção de uma vida digna para sua população.
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Não é surpresa pois, que crianças continuem sendo afetadas e acabem vindo a óbito por verminoses várias; que sejam vítimas de gastroenterite,  coqueluche; para não falar de dengue, zica (com as suas nefastas consequências sobre o sistema nervoso central) e, agora até o retorno do sarampo, ou pólio, etc. etc.
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A lista é longa e não sou médico, o que me leva a parar por aqui.
Mas, mesmo não frequentando centros de saúde, postos de urgência ou hospitais, não creio que esteja exagerando ao dizer que tais doenças acometem e causam danos, embora com intensidade distinta, também em adultos, jovens ou mais velhos.
E estaria exagerando menos ainda se me referisse à grande quantidade de óbitos e outros males, causados pela desnutrição.
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Pois é, a fome mata. E muito.
E, ao contrário de ampliar a rede de saúde pública, de prestação de serviços gratuitos, o governo Bolsonaro e seu Posto de combustíveis adulterados, que atende pelo nome de Paulo Guedes, se preocupa em cortar gastos,  ou dividí-los entre a saúde e a educação (isso em um país que além de população idosa que só faz aumentar, precisa urgentemente de melhorar a qualidade da educação e formação em geral e profissional, em particular).
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O tal Posto de contaminação briga para manter o teto de gastos, independente do momento que o país atravessa e, não está longe do momento que iremos assistir a sua apresentação das vantagens da substituição da saúde pública, do SUS caro, pelos serviços de saúde complementar, privados.
Afinal, nada como o mercado, sob  ótica de um liberal, mesmo que falido (em ideias, já que em termos de gestão de fundos, próprios e dos outros que nele confiaram, parece ter tido êxito), para resolver qualquer problema das sociedades humanas.
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E não venham aqueles que se recusam a fazer funcionar seus neurônios, em defesa do(s) vendilhão(lhões) do templo do deus mercado, alegar que a culpa da falta de mais recursos para a saúde ou a falta de hospitais e equipamentos de emergência se deva à opção por construção de portos em Cuba, ou de arenas para a FIFA.
Vários de nós que nos opomos com virulência até ao atual governo e sua trupe de idiotizados (até o Mandetta percebeu que o melhor é se calar e manter-se no cargo, tal qual já se dera conta o ministro que não tem o costume de respeitar as regras legasis, embora responda pela Justiça!?!?!?).
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Importa lembrar que as críticas ao padrão FIFA exigido nas obras dos eventos esportivos do período 2014 a 2016, deram não apenas origem a passeatas, em geral de indivíduos portando bandeiras e estandartes vermelhos, mas chegaram, inclusive, à sugestão/proposta de que se cancelasse os Jogos.
A critica dos partidários de esquerda, forte, era justamente a de que a verba usada para os Jogos teria melhor utilização na adoção de políticas de inclusão social e de sua maximização.
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Se tais críticas de movimentos de esquerda (a bem da verdade, houve críticas no mesmo sentido de adeptos de outras vertentes do pensamento político) não prosperaram ou renderam algum benefício para a população mais carente, é porque a construção das obras dos jogos interessava PRINCIPALMENTE aos empresários, aos mesmos que agora se apavoram com a possibilidade de uma depressão profunda que irá lhes reduzir o lucro. Afinal, para alguns empresários, preocupa o lucro em queda, não a morte de 5 a 7 mil queridos velhinhos).
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Para não parecer sectário, importa dizer que o PT obteve também rendimentos de toda ordem com as tais obras. Embora não estivesse sozinho nessa dolorosa empreitada de gerir e se aproveitar de propinodutos.
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Felizmente, do ponto de vista meramente esportivo, o Brasil conheceu, à la Napoleão, seu Waterloo: os 7 a 1 da Alemanha.
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Volto às causas de mortes tão lembradas agora, em nosso país, que incluem a violência urbana, a selvageria que caracteriza as relações sociais esgarçadas e que dá origem a um grau de insegurança pública raras vezes tão perceptível.
É verdade que temos uma população mais numerosa; que temos um número cada vez maior de desempregados, o que se agrava à medida que além de cada vez mais escassos, os empregos tornam-se cada vez mais precarizados. O que aumenta a insegurança e se transforma em gatilho para a explosão de doenças psíquicas de caráter social.
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Se esses fatos são fatores capazes de explicar, parcialmente, a bárbarie a que temos assistido, com homicídios banais, feminicídio, agressões por pura crueldade, qual a principal medida adotada na área da Segurança Pública, senão a de aumentar o trancafiamento de criminosos (o que não inclui os criminosos sob suspeição, que ocupam cargos no governo).
Criamos assim um sistema penitenciário que serve de escola para o crime, mais voltada para a promoção da vingança social que alcançar uma eventual reeducação.
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As respostas de nosso desgoverno em curso? Mais cadeias e mais superlotação. Tratamento às bestas feras humanas mais desumanos e indignos, muitas vezes que aqueles de que foram autores.
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Mais repostas? Aumentar o porte de armas, para que cada cidadão em situação próxima do stress possa dar vazão à pressão e insegurança de que é portador. Permitindo, no limite, até que os mais pobres, tratados como invisíveis sociais, ou seres fantasmas, possam finalmente tomar uma postura capaz de lhes permitir o retrato na primeira página do jornal, policial!
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Há muita morte por acidentes de trânsito, o que nos dá a liderança folgada nesse tipo de óbito?
Então a medida é reduzir todas as normas e ações voltadas à redução de velocidade, de obrigação de comprovação de manutenção da capacidade de condução de veículos, a eliminação dos equipamentos de fiscalização.
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E vêm alguns estatísticos, matemáticos, construtores de mitos  e fantasias irracionais, tão bossais quanto o governante que insistem em defender, alegar que estamos propagando um ambiente de histeria no Brasil, já que a COVID-19 mata apenas nossos queridos velhinhos...
Insistem em divulgar que outras causas são estatisticamente mais letais, como a influenza, por exemplo, no Brasil.
E esses indíviduos, que insistem em renegar a ciência, não se incomodam em mostrar seu apoio à política de distribuição de renda mais liberal que pode ser imaginada: a que elimina parcela significativa da população.
Dada a capacidade instalada da economia, afinal, a mesma produção poderá, em bom economês, ceteris paribus, permitir aos sobreviventes acesso a maior cesta de bens.
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E eles talvez tenham razão, mas as causas que citam para a letalidade já está presente, sem que eles se incomodem ou façam algo para mudar já há algum tempo. Não é uma causa aguda, que por essa sua agudicidade, merece tratamento privilegiado, ao menos nesses tempos.
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Porque se eles continuarem apresentando argumentos dessa espécie, é bom lembrar que a maior causa de mortalidade no mundo, creio eu, é a Vida.
Vida extensa, longa, intensa, com amor, paixão e prazer, provavelmente seja, até hoje, e não apenas no nosso país, a causa maior de toda a mortalidade.
É isso.


segunda-feira, 23 de março de 2020

Crise séria de saúde e o respeito dos pitacos pelo momento razão para não falar mal do vírus maior de nosso país

Confesso a meus (raros) leitores, sentir uma dificuldade imensa de postar pitacos, qualquer pitaco, nesses tempos de pandemia de Covid-19.
Várias são as justificativas para tal dificuldade.
Primeiro, o medo de em uma hora como essa, acabar postando algum conteúdo que, ao contrário de trazer informações úteis, acabe servindo de mecanismo de difusão de inverdades, as famosas "fake news", ou de notícias capazes de provocar alarmismo, mais que a tranquilidade que o momento exige.
Por óbvio, e por não ser da área médica, é minha crença que entre as precauções que todos dotados de um mínimo de juízo devemos ter, é evitar disseminar o pânico, procurar transmitir tranquilidade e solidariedade, contribuindo para a criação de um ambiente mais amistoso e solidário em nossa comunidade.
Nesse momento, trazer palavras de estímulo, e esperança de que o ciclo do vírus irá logo estar encerrado é, em minha opinião, o mais importante. 
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Por outro lado, não devemos adotar  uma postura panglossiana, tão equivocada ou até pior que a do pessimismo depressivo. 
Uma coisa é ser otimista. Outra, muito mais agradável, simpática e mais irresponsável é adotar a posição de que o vírus não existe, ou existe sem a carga de transmissão a ele atribuída, o que apenas contribui para que ele se alastre aumentando assim, sua letalidade, cujo grau ainda parece ser reduzida embora o desconhecimento que o cerca não nos permite cravar qualquer veredito sobre o saldo final. 
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Outra razão para evitar postar os pitacos é que, em meio a uma crise de saúde pública séria, confesso ficar pouco à vontade para fazer comentários envolvendo, por exemplo, a postura, o comportamento alienado, irresponsável daquele que, em outros países, situações e épocas, deveria despontar como o grande líder, o timoneiro da nação, o ocupante do Executivo em nosso país.
Poderia dar a impressão de que eu estava me aproveitando de uma verdadeira e imensa catástrofe, para manifestar minhas opiniões políticas a respeito desse amigo e protetor de milicianos, esse oportunista e aproveitador cujo único objetivo político depois de chegar ao poder é o de manter-se nele, de preferência, destruindo tudo aquilo que minimamente a sociedade brasileira conseguiu construir, erigir e fazer evoluir na direção de uma sociedade mais democrática e justa. 
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Ora, Bolsonaro, todos já sabem e souberam desde sempre, é um mentiroso contumaz, desde os tempos de seu engajamento no exército, ainda no posto de tenente. 
Desde os tempos em que, boquirroto e sem qualquer autocontrole ou autoconfiança ( o que a psicologia deve explicar melhor que meus parcos conhecimentos do tema), transformou-se em porta-voz de um movimento de reivindicação salarial para a tropa. 
Movimento que, como é comum acontecer, coloca à frente, como bucha de canhão, não seus verdadeiros líderes. Mas os inseguros e incapazes de perceberem a real dimensão do que pensam estar representando. 
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Só para abrir um parênteses, essa é, por exemplo, uma das hipóteses por trás da figura mítica e falsa, do herói construído, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, por ocasião da Inconfidência Mineira. 
Pela hipótese, o alferes tinha uma personalidade, talvez por insegurança pessoal, que o levava a assumir o papel de frente, sempre aquele mais espinhoso ou perigoso, chamando a atenção para si, o bobo da corte, cuja proeminência serviria como biombo protetor dos verdadeiros líderes da trama. No caso, de fato é interessante que Tiradentes fosse a liderança de um movimento que afetava muito mais as posses, riquezas e patrimônio de intelectuais de origem portuguesa mais elevada na escala social. 
E, no entanto, Tiradentes foi quem assumiu toda a responsabilidade pelo movimento, o que lhe valeu o direito de ser o único a receber a pena capital. 
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Bem, o Cavalão, apelido dado ao Bolsonaro das fileiras do Exército, conforme nos relata Elio Gaspari, é a típica figura que, para aparecer e esconder sua falta de confiança e insegurança, até doentia, é capaz de se tornar a voz, ventríloco, de um movimento de que se beneficiaria, claro, embora em menor proporção que outros, mais dotados. 
E, fantasiosamente, falando como líder do movimento dos oficiais seus colegas, expôs em entrevista concedida, um plano maluco de explodir instalações militares, distribuindo bombas em alguns quartéis. 
Curiosamente, isso em uma época que se admite que os militares não tinham qualquer simpatia pela imprensa, nem gostavam de sair apresentando ou expondo suas ideias, especialmente as criminosas. 
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Há até a hipótese de que tal aversão dos quartéis à mídia foi que ajudou a salvá-lo de uma expulsão desonrosa do Exército, depois de ter negado que apresentara croquis de implantação das supostas bombas. 
Desenhos que laudos feitos mostraram ter sido de sua autoria. 
A bem da verdade, deve-se dizer que o Cavalão apresentou laudos negando sua autoria, o que lhe valeu o benefício da dúvida. 
E, daí, a saída negociada de seu pedido de passagem para a reserva, com a promoção a capitão, de onde partiu para o exercício de uma carreira política medíocre de mais de 30 anos...
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Todo esse parênteses, apenas para abordar, de forma superficial, o comportamento infantil, guiado pela insegurança e a ciumeira em relação a quem lhe faz sombra, caso do ministro Mandetta, que apenas revela aquilo que a maioria dos eleitores já tinha alguma desconfiança: Bolsonaro é uma personalidade patológica. 
Um indivíduo facilmente classificável como abnormal, ou incapaz de lidar com a realidade de forma madura e racional. 
O que permitiu-lhe as manifestações todas, ridículas e displicentes, em relação à Covid-19.
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Ainda bem que o governo tem, além de seu presidente, o ministro Mandetta, com equipe séria de assessores, entre os quais não podemos situar o dirigente maior da ANVISA que, talvez para se manter no poder, rebaixa-se ao papel reles de puxa-saco.
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Então, se fosse para ficar dando pitacos apenas contra a questão de nosso desgovernante, melhor seria ficar quieto em meu canto. 
Ainda mais que, do ponto de vista da economia, tema que talvez eu pudesse ou devesse abordar com maior conhecimento de causa, o que tivemos foi, a princípio, uma total paralisação e inércia.
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Tão preocupado estava, ou está o ministro liberal de araque - aquele que trabalhou com Pinochet, no Chile dos tempos de golpe; aquele que já manifestou a vontade de edição de um AI5, etc. - com a continuidade de sua agenda de destruição de todo e qualquer direito dos menos favorecidos, dos direitos trabalhistas e sociais, dos idosos, dos mais pobres, do Estado brasileiro e de sua possibilidade de procurar transformar-se em um Estado de bem estar, que até no momento de anúncio de algumas medidas, completamente insuficientes para enfrentar a crise econômica de caráter secundário à crise de saúde, esse sinistro preocupou-se em abordar a privatização da Eletrobras. 
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Ou seja, em momento de crise em que as consequências mais trágicas são questões de manutenção da vida, de sobrevivência, o sinistro se preocupa em vender para seus amigos, do sistema financeiro internacional, talvez, o patrimônio do povo brasileiro agonizante. 
Isso em momento em que todo o mundo está enfrentando a mesma crise, com as mesmas consequências e preocupação para com a economia. O que leva governos sérios a adotarem medidas destinadas a criar moeda, ampliar os dispositivos de apoio e sustentação de renda e empregos em meio a medidas que também se preocupam em assegurar a solvabilidade de famílias e empresas. Essas últimas, as empresas,  cujos acionistas e proprietários, tomados por medo genuíno, vêem seu valor dissolver nos pregões das bolsas em torno de todo mundo. 
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E o Posto Ipiranga de Bolsonaro faz o que, em meio à crise, além de querer aproveitar-se do momento de pânico, para prosseguir implantando o conteúdo do saco de maldades que, ao final, irá deixar o povo brasileiro à mingua?
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Aparece em entrevista coletiva, para bajular o chefe de quinta categoria a quem deve prestar vassalagem, já que sustentáculo de sua prática dedicada aos seus verdadeiros comandantes, os interesses dos mais abastados, dos donos do capital, na ordem financeiro, internacional, financeiro nacional ou até produtivo.
E anuncia medidas que apenas antecipam o que o governo, por dever e respeito às leis, deveria fazer ao longo do ano, como a antecipação dos pagamentos de décimo terceiro. 
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Mas, em minha opinião, pior ainda é o anúncio de difícil implementação, e que pelo valor chega mais ao nível de escárnio, de concessão de R$ 200,00 por 3 meses, de um auxílio para os brasileiros que lhe fazem encher a boca para mostrar que sua política tem reduzido o desemprego: os que vivem de bico. 
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Pacote de medidas, agora complementado pela Medida Provisória que permite ao patrão conceder licença por 4 meses, suspendendo o contrato de trabalho, SEM REMUNERAÇÃO, em troca de uma oferta de curso de qualificação "on line" e de difícil fiscalização...
Mais uma vez, na contramão de tudo que os verdadeiros lideres e governantes de países europeus estão fazendo. Na contramão do que o próprio Trump, que parece ser o Mito do mito subdesenvolvido de nosso Brasil, vem adotando. 
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Outros países estão preocupados em dar tranquilidade e recursos para a sua população poder ficar tranquila em casa, sem a preocupação de lutar para ganhar sua sobrevivência.
Aqui no Brasil, estamos preocupados em que os empresários não tenham custos, para não reivindicarem posterior ajuda ao governo. 
Aqui, os poderosos são, mais uma vez os privilegiados pelas medidas. 
Mas, seria mesmo realista esperar coisa diferente?
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Ah! sim. 
Poderíamos ter nossa economia recebendo a ajuda de um imbecil que aproveitando-se do sobrenome e da sua posição de detentor de mandato, agride gratuitamente nosso maior parceiro comercial.
Poderíamos ter um chanceler que mostra que até pano de chão pode ter mais altivez que qualquer ministro escolhido pela indicação de gurus como Olavo de Carvalho, talvez depois de ler mapas astrológicos nas estrelas. 
Poderíamos ter mais uma morte curiosa de um outro colaborador arrependido, a bem da verdade,  agora sem interferência visível, de quem quer que seja. 
Falo de Bebianno, o ex-ministro e ex-amigo, vítima de ataque cardíaco, a quem não foi direcionada qualquer manifestação seja do Cavalão, seja dos equídeos de sua linhagem. 
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Para não falar de coisas que perdem a importância em meio à nossa luta - que deve ser de todos- pela manutenção da VIDA, é que os pitacos estão meio que paralisados. 
Evitando o contato social e nos resguardando para quando o vendaval passar. 
É isso.