quarta-feira, 25 de março de 2020

Vida, longa, intensa causa mais morte que outras causas. Doenças com as quais o país foi incapaz de lidar também. Mas a causa aguda agora é o corona virus.



É verdade.  Vivendo em  um país onde a população menos favorecida não tem qualquer cuidado por parte das autoridades públicas, carecendo do mínimo básico para sua sobrevivência, o Brasil é espaço privilegiado para o surgimento e a disseminação de doenças responsáveis por alto índice de letalidade.
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Sem poder contar com tratamento sanitário mínimo de água e esgoto, no que ironicamente acabam por se igualar a famílias da chamada classe média, as famílias de menor poder aquisitivo e visibilidade social não têm outra opção exceto a de permitir que suas crianças brinquem ao lado de esgoto a céu aberto e convivam com condições tão precárias que a surpresa não é a quantidade de mortes na primeira infância, ainda por doenças já sob controle ou extintas naqueles países que atribuem alguma importância à manutenção de uma vida digna para sua população.
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Não é surpresa pois, que crianças continuem sendo afetadas e acabem vindo a óbito por verminoses várias; que sejam vítimas de gastroenterite,  coqueluche; para não falar de dengue, zica (com as suas nefastas consequências sobre o sistema nervoso central) e, agora até o retorno do sarampo, ou pólio, etc. etc.
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A lista é longa e não sou médico, o que me leva a parar por aqui.
Mas, mesmo não frequentando centros de saúde, postos de urgência ou hospitais, não creio que esteja exagerando ao dizer que tais doenças acometem e causam danos, embora com intensidade distinta, também em adultos, jovens ou mais velhos.
E estaria exagerando menos ainda se me referisse à grande quantidade de óbitos e outros males, causados pela desnutrição.
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Pois é, a fome mata. E muito.
E, ao contrário de ampliar a rede de saúde pública, de prestação de serviços gratuitos, o governo Bolsonaro e seu Posto de combustíveis adulterados, que atende pelo nome de Paulo Guedes, se preocupa em cortar gastos,  ou dividí-los entre a saúde e a educação (isso em um país que além de população idosa que só faz aumentar, precisa urgentemente de melhorar a qualidade da educação e formação em geral e profissional, em particular).
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O tal Posto de contaminação briga para manter o teto de gastos, independente do momento que o país atravessa e, não está longe do momento que iremos assistir a sua apresentação das vantagens da substituição da saúde pública, do SUS caro, pelos serviços de saúde complementar, privados.
Afinal, nada como o mercado, sob  ótica de um liberal, mesmo que falido (em ideias, já que em termos de gestão de fundos, próprios e dos outros que nele confiaram, parece ter tido êxito), para resolver qualquer problema das sociedades humanas.
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E não venham aqueles que se recusam a fazer funcionar seus neurônios, em defesa do(s) vendilhão(lhões) do templo do deus mercado, alegar que a culpa da falta de mais recursos para a saúde ou a falta de hospitais e equipamentos de emergência se deva à opção por construção de portos em Cuba, ou de arenas para a FIFA.
Vários de nós que nos opomos com virulência até ao atual governo e sua trupe de idiotizados (até o Mandetta percebeu que o melhor é se calar e manter-se no cargo, tal qual já se dera conta o ministro que não tem o costume de respeitar as regras legasis, embora responda pela Justiça!?!?!?).
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Importa lembrar que as críticas ao padrão FIFA exigido nas obras dos eventos esportivos do período 2014 a 2016, deram não apenas origem a passeatas, em geral de indivíduos portando bandeiras e estandartes vermelhos, mas chegaram, inclusive, à sugestão/proposta de que se cancelasse os Jogos.
A critica dos partidários de esquerda, forte, era justamente a de que a verba usada para os Jogos teria melhor utilização na adoção de políticas de inclusão social e de sua maximização.
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Se tais críticas de movimentos de esquerda (a bem da verdade, houve críticas no mesmo sentido de adeptos de outras vertentes do pensamento político) não prosperaram ou renderam algum benefício para a população mais carente, é porque a construção das obras dos jogos interessava PRINCIPALMENTE aos empresários, aos mesmos que agora se apavoram com a possibilidade de uma depressão profunda que irá lhes reduzir o lucro. Afinal, para alguns empresários, preocupa o lucro em queda, não a morte de 5 a 7 mil queridos velhinhos).
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Para não parecer sectário, importa dizer que o PT obteve também rendimentos de toda ordem com as tais obras. Embora não estivesse sozinho nessa dolorosa empreitada de gerir e se aproveitar de propinodutos.
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Felizmente, do ponto de vista meramente esportivo, o Brasil conheceu, à la Napoleão, seu Waterloo: os 7 a 1 da Alemanha.
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Volto às causas de mortes tão lembradas agora, em nosso país, que incluem a violência urbana, a selvageria que caracteriza as relações sociais esgarçadas e que dá origem a um grau de insegurança pública raras vezes tão perceptível.
É verdade que temos uma população mais numerosa; que temos um número cada vez maior de desempregados, o que se agrava à medida que além de cada vez mais escassos, os empregos tornam-se cada vez mais precarizados. O que aumenta a insegurança e se transforma em gatilho para a explosão de doenças psíquicas de caráter social.
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Se esses fatos são fatores capazes de explicar, parcialmente, a bárbarie a que temos assistido, com homicídios banais, feminicídio, agressões por pura crueldade, qual a principal medida adotada na área da Segurança Pública, senão a de aumentar o trancafiamento de criminosos (o que não inclui os criminosos sob suspeição, que ocupam cargos no governo).
Criamos assim um sistema penitenciário que serve de escola para o crime, mais voltada para a promoção da vingança social que alcançar uma eventual reeducação.
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As respostas de nosso desgoverno em curso? Mais cadeias e mais superlotação. Tratamento às bestas feras humanas mais desumanos e indignos, muitas vezes que aqueles de que foram autores.
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Mais repostas? Aumentar o porte de armas, para que cada cidadão em situação próxima do stress possa dar vazão à pressão e insegurança de que é portador. Permitindo, no limite, até que os mais pobres, tratados como invisíveis sociais, ou seres fantasmas, possam finalmente tomar uma postura capaz de lhes permitir o retrato na primeira página do jornal, policial!
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Há muita morte por acidentes de trânsito, o que nos dá a liderança folgada nesse tipo de óbito?
Então a medida é reduzir todas as normas e ações voltadas à redução de velocidade, de obrigação de comprovação de manutenção da capacidade de condução de veículos, a eliminação dos equipamentos de fiscalização.
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E vêm alguns estatísticos, matemáticos, construtores de mitos  e fantasias irracionais, tão bossais quanto o governante que insistem em defender, alegar que estamos propagando um ambiente de histeria no Brasil, já que a COVID-19 mata apenas nossos queridos velhinhos...
Insistem em divulgar que outras causas são estatisticamente mais letais, como a influenza, por exemplo, no Brasil.
E esses indíviduos, que insistem em renegar a ciência, não se incomodam em mostrar seu apoio à política de distribuição de renda mais liberal que pode ser imaginada: a que elimina parcela significativa da população.
Dada a capacidade instalada da economia, afinal, a mesma produção poderá, em bom economês, ceteris paribus, permitir aos sobreviventes acesso a maior cesta de bens.
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E eles talvez tenham razão, mas as causas que citam para a letalidade já está presente, sem que eles se incomodem ou façam algo para mudar já há algum tempo. Não é uma causa aguda, que por essa sua agudicidade, merece tratamento privilegiado, ao menos nesses tempos.
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Porque se eles continuarem apresentando argumentos dessa espécie, é bom lembrar que a maior causa de mortalidade no mundo, creio eu, é a Vida.
Vida extensa, longa, intensa, com amor, paixão e prazer, provavelmente seja, até hoje, e não apenas no nosso país, a causa maior de toda a mortalidade.
É isso.


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