segunda-feira, 23 de março de 2020

Crise séria de saúde e o respeito dos pitacos pelo momento razão para não falar mal do vírus maior de nosso país

Confesso a meus (raros) leitores, sentir uma dificuldade imensa de postar pitacos, qualquer pitaco, nesses tempos de pandemia de Covid-19.
Várias são as justificativas para tal dificuldade.
Primeiro, o medo de em uma hora como essa, acabar postando algum conteúdo que, ao contrário de trazer informações úteis, acabe servindo de mecanismo de difusão de inverdades, as famosas "fake news", ou de notícias capazes de provocar alarmismo, mais que a tranquilidade que o momento exige.
Por óbvio, e por não ser da área médica, é minha crença que entre as precauções que todos dotados de um mínimo de juízo devemos ter, é evitar disseminar o pânico, procurar transmitir tranquilidade e solidariedade, contribuindo para a criação de um ambiente mais amistoso e solidário em nossa comunidade.
Nesse momento, trazer palavras de estímulo, e esperança de que o ciclo do vírus irá logo estar encerrado é, em minha opinião, o mais importante. 
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Por outro lado, não devemos adotar  uma postura panglossiana, tão equivocada ou até pior que a do pessimismo depressivo. 
Uma coisa é ser otimista. Outra, muito mais agradável, simpática e mais irresponsável é adotar a posição de que o vírus não existe, ou existe sem a carga de transmissão a ele atribuída, o que apenas contribui para que ele se alastre aumentando assim, sua letalidade, cujo grau ainda parece ser reduzida embora o desconhecimento que o cerca não nos permite cravar qualquer veredito sobre o saldo final. 
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Outra razão para evitar postar os pitacos é que, em meio a uma crise de saúde pública séria, confesso ficar pouco à vontade para fazer comentários envolvendo, por exemplo, a postura, o comportamento alienado, irresponsável daquele que, em outros países, situações e épocas, deveria despontar como o grande líder, o timoneiro da nação, o ocupante do Executivo em nosso país.
Poderia dar a impressão de que eu estava me aproveitando de uma verdadeira e imensa catástrofe, para manifestar minhas opiniões políticas a respeito desse amigo e protetor de milicianos, esse oportunista e aproveitador cujo único objetivo político depois de chegar ao poder é o de manter-se nele, de preferência, destruindo tudo aquilo que minimamente a sociedade brasileira conseguiu construir, erigir e fazer evoluir na direção de uma sociedade mais democrática e justa. 
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Ora, Bolsonaro, todos já sabem e souberam desde sempre, é um mentiroso contumaz, desde os tempos de seu engajamento no exército, ainda no posto de tenente. 
Desde os tempos em que, boquirroto e sem qualquer autocontrole ou autoconfiança ( o que a psicologia deve explicar melhor que meus parcos conhecimentos do tema), transformou-se em porta-voz de um movimento de reivindicação salarial para a tropa. 
Movimento que, como é comum acontecer, coloca à frente, como bucha de canhão, não seus verdadeiros líderes. Mas os inseguros e incapazes de perceberem a real dimensão do que pensam estar representando. 
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Só para abrir um parênteses, essa é, por exemplo, uma das hipóteses por trás da figura mítica e falsa, do herói construído, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, por ocasião da Inconfidência Mineira. 
Pela hipótese, o alferes tinha uma personalidade, talvez por insegurança pessoal, que o levava a assumir o papel de frente, sempre aquele mais espinhoso ou perigoso, chamando a atenção para si, o bobo da corte, cuja proeminência serviria como biombo protetor dos verdadeiros líderes da trama. No caso, de fato é interessante que Tiradentes fosse a liderança de um movimento que afetava muito mais as posses, riquezas e patrimônio de intelectuais de origem portuguesa mais elevada na escala social. 
E, no entanto, Tiradentes foi quem assumiu toda a responsabilidade pelo movimento, o que lhe valeu o direito de ser o único a receber a pena capital. 
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Bem, o Cavalão, apelido dado ao Bolsonaro das fileiras do Exército, conforme nos relata Elio Gaspari, é a típica figura que, para aparecer e esconder sua falta de confiança e insegurança, até doentia, é capaz de se tornar a voz, ventríloco, de um movimento de que se beneficiaria, claro, embora em menor proporção que outros, mais dotados. 
E, fantasiosamente, falando como líder do movimento dos oficiais seus colegas, expôs em entrevista concedida, um plano maluco de explodir instalações militares, distribuindo bombas em alguns quartéis. 
Curiosamente, isso em uma época que se admite que os militares não tinham qualquer simpatia pela imprensa, nem gostavam de sair apresentando ou expondo suas ideias, especialmente as criminosas. 
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Há até a hipótese de que tal aversão dos quartéis à mídia foi que ajudou a salvá-lo de uma expulsão desonrosa do Exército, depois de ter negado que apresentara croquis de implantação das supostas bombas. 
Desenhos que laudos feitos mostraram ter sido de sua autoria. 
A bem da verdade, deve-se dizer que o Cavalão apresentou laudos negando sua autoria, o que lhe valeu o benefício da dúvida. 
E, daí, a saída negociada de seu pedido de passagem para a reserva, com a promoção a capitão, de onde partiu para o exercício de uma carreira política medíocre de mais de 30 anos...
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Todo esse parênteses, apenas para abordar, de forma superficial, o comportamento infantil, guiado pela insegurança e a ciumeira em relação a quem lhe faz sombra, caso do ministro Mandetta, que apenas revela aquilo que a maioria dos eleitores já tinha alguma desconfiança: Bolsonaro é uma personalidade patológica. 
Um indivíduo facilmente classificável como abnormal, ou incapaz de lidar com a realidade de forma madura e racional. 
O que permitiu-lhe as manifestações todas, ridículas e displicentes, em relação à Covid-19.
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Ainda bem que o governo tem, além de seu presidente, o ministro Mandetta, com equipe séria de assessores, entre os quais não podemos situar o dirigente maior da ANVISA que, talvez para se manter no poder, rebaixa-se ao papel reles de puxa-saco.
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Então, se fosse para ficar dando pitacos apenas contra a questão de nosso desgovernante, melhor seria ficar quieto em meu canto. 
Ainda mais que, do ponto de vista da economia, tema que talvez eu pudesse ou devesse abordar com maior conhecimento de causa, o que tivemos foi, a princípio, uma total paralisação e inércia.
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Tão preocupado estava, ou está o ministro liberal de araque - aquele que trabalhou com Pinochet, no Chile dos tempos de golpe; aquele que já manifestou a vontade de edição de um AI5, etc. - com a continuidade de sua agenda de destruição de todo e qualquer direito dos menos favorecidos, dos direitos trabalhistas e sociais, dos idosos, dos mais pobres, do Estado brasileiro e de sua possibilidade de procurar transformar-se em um Estado de bem estar, que até no momento de anúncio de algumas medidas, completamente insuficientes para enfrentar a crise econômica de caráter secundário à crise de saúde, esse sinistro preocupou-se em abordar a privatização da Eletrobras. 
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Ou seja, em momento de crise em que as consequências mais trágicas são questões de manutenção da vida, de sobrevivência, o sinistro se preocupa em vender para seus amigos, do sistema financeiro internacional, talvez, o patrimônio do povo brasileiro agonizante. 
Isso em momento em que todo o mundo está enfrentando a mesma crise, com as mesmas consequências e preocupação para com a economia. O que leva governos sérios a adotarem medidas destinadas a criar moeda, ampliar os dispositivos de apoio e sustentação de renda e empregos em meio a medidas que também se preocupam em assegurar a solvabilidade de famílias e empresas. Essas últimas, as empresas,  cujos acionistas e proprietários, tomados por medo genuíno, vêem seu valor dissolver nos pregões das bolsas em torno de todo mundo. 
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E o Posto Ipiranga de Bolsonaro faz o que, em meio à crise, além de querer aproveitar-se do momento de pânico, para prosseguir implantando o conteúdo do saco de maldades que, ao final, irá deixar o povo brasileiro à mingua?
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Aparece em entrevista coletiva, para bajular o chefe de quinta categoria a quem deve prestar vassalagem, já que sustentáculo de sua prática dedicada aos seus verdadeiros comandantes, os interesses dos mais abastados, dos donos do capital, na ordem financeiro, internacional, financeiro nacional ou até produtivo.
E anuncia medidas que apenas antecipam o que o governo, por dever e respeito às leis, deveria fazer ao longo do ano, como a antecipação dos pagamentos de décimo terceiro. 
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Mas, em minha opinião, pior ainda é o anúncio de difícil implementação, e que pelo valor chega mais ao nível de escárnio, de concessão de R$ 200,00 por 3 meses, de um auxílio para os brasileiros que lhe fazem encher a boca para mostrar que sua política tem reduzido o desemprego: os que vivem de bico. 
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Pacote de medidas, agora complementado pela Medida Provisória que permite ao patrão conceder licença por 4 meses, suspendendo o contrato de trabalho, SEM REMUNERAÇÃO, em troca de uma oferta de curso de qualificação "on line" e de difícil fiscalização...
Mais uma vez, na contramão de tudo que os verdadeiros lideres e governantes de países europeus estão fazendo. Na contramão do que o próprio Trump, que parece ser o Mito do mito subdesenvolvido de nosso Brasil, vem adotando. 
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Outros países estão preocupados em dar tranquilidade e recursos para a sua população poder ficar tranquila em casa, sem a preocupação de lutar para ganhar sua sobrevivência.
Aqui no Brasil, estamos preocupados em que os empresários não tenham custos, para não reivindicarem posterior ajuda ao governo. 
Aqui, os poderosos são, mais uma vez os privilegiados pelas medidas. 
Mas, seria mesmo realista esperar coisa diferente?
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Ah! sim. 
Poderíamos ter nossa economia recebendo a ajuda de um imbecil que aproveitando-se do sobrenome e da sua posição de detentor de mandato, agride gratuitamente nosso maior parceiro comercial.
Poderíamos ter um chanceler que mostra que até pano de chão pode ter mais altivez que qualquer ministro escolhido pela indicação de gurus como Olavo de Carvalho, talvez depois de ler mapas astrológicos nas estrelas. 
Poderíamos ter mais uma morte curiosa de um outro colaborador arrependido, a bem da verdade,  agora sem interferência visível, de quem quer que seja. 
Falo de Bebianno, o ex-ministro e ex-amigo, vítima de ataque cardíaco, a quem não foi direcionada qualquer manifestação seja do Cavalão, seja dos equídeos de sua linhagem. 
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Para não falar de coisas que perdem a importância em meio à nossa luta - que deve ser de todos- pela manutenção da VIDA, é que os pitacos estão meio que paralisados. 
Evitando o contato social e nos resguardando para quando o vendaval passar. 
É isso. 

2 comentários:

Anônimo disse...

Impossível expressar minha indignação, e também tristeza, para com aqueles que apoiam jair. Até porque a maioria está longe de ser privilegiado, segundo o data folha 35% apoiam a gestão que ele vem fazendo da pandemia... Considerando a aboluta ausência de discernimento da criatura, este número é infelizmente revelador. Revela uma parte expressiva da sociedade que é ou apoia, a violencia, o preconceito, a ignorancia e bajulação. 35%...segundo a FGV 14.4% da população brasileira pertence às classes sociais A e B... apesar das circunstâncias distintas, os dois números acima me desanimam. Me deparo com minha absoluta impotência perante dois dragões: o da ignorância e o da intolerância, sendo por ambos devorado.

Fernando Moreira

Carlos A. J. Henrique disse...

Lastimavelmente o que se vê é a apropriação da incapacidade intelectual para a projeção de pessoas sem escrúpulo. O artigo deixa isso bem claro. O desgoverno parece estar querendo provocar uma situação insustentável. Mas muito bem examinados os fatos pelo texto.