Diz a lenda que na maior parte do mundo os militares são profissionais reconhecidos e respeitados em razão de seu patriotismo, de sua disponibilidade e capacidade de sacrificar a própria vida na luta em defesa, muitas vezes, de ideais e valores caros à população que integram e constituem nossa nacionalidade.
Assim, este conjunto de homens e mulheres é capaz de colocar
em risco sua própria vida, encarando e enfrentando várias guerras em defesa da implantação
e permanência de valores abstratos que dão sentido e fazem a vida valer a pena,
como: Liberdade, Democracia, Soberania e
Integridade do território nacional, entre outros.
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Sabe-se, no entanto, que esta visão romântica (e heroica)
situa-se muito distante da realidade, sendo não só uma falsidade.
No fundo, a imagem transforma-se em uma narrativa útil,
capaz de justificar o envio de jovens inocentes, despreparados, a maioria ignorante,
sem qualquer consciência das razões pelas quais estão sendo enviados a guerras
espúrias.
Jovens que, sob a pressão de toda atrocidade e carnificina com
que se confrontam, encontram nas drogas e na fuga da realidade ou no desenvolvimento
de todo o tipo de distúrbio psíquico, a força para levarem à frente sua missão.
Que se transforma apenas na sua sobrevivência.
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O que levou Erich Hartman a cunhar a frase cada vez mais
admitida como uma das que melhor define a guerra, como
“é um lugar onde jovens, que não se
conhecem e não se odeiam, se matam, por decisões de velhos que se conhecem e se
odeiam, mas não se matam.”
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Nem vou abusar, neste pitaco, da paciência dos que amigos
que me leem para abordar as motivações reais de tais confrontos, muitas vezes injustificáveis.
Algumas vezes baseados em justificativas sórdidas e apenas ilustrativas da
pequenez do espírito humano.
Outras vezes, sem qualquer razão exceto as piores imagináveis:
o delírio ou personalidade doentia de um líder ou de um conjunto deles; ou
apenas a velha máxima econômica da lei da demanda e oferta, examinada sob ótica e os interesses da indústria armamentista
bélica, que estimula demandas que as possibilitem produzir, destruir e LUCRAR.
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De militares, SERES HUMANOS, poderia abordar várias outras
estórias, uma destacando entre todas as demais, pela capacidade que sempre teve
de me sensibilizar: a história do Chico que mata o seu melhor amigo e protetor,
em pleno Vietnã, na passagem que trago comigo da peça do distante 1977, Os Filhos
de Kennedy.
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Mas neste pitaco a abordagem é de outra natureza e serve
para tratar da inutilidade total de grande parte dos militares que integram, em
especial, o Exército Brasileiro.
Porque sendo o Brasil um país sem a tradição de participação
em guerras, exceção feita à discutível e questionável Guerra do Paraguai, e à aventura
da despreparada, mal treinada e mal equipada Força Expedicionária Brasileira em
terras italianas por ocasião da Segunda Grande Guerra, a única função real das
Forças Armadas, quando entediadas da caserna, é vir imiscuir-se na vida política
nacional.
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Faço um rápido parênteses para duas observações:
i- a primeira quanto ao despreparo de nossas tropas,
descritas em vários livros de combatentes, tanto americanos quanto de pracinhas brasileiros.
Despreparo que levou o Alto Comando do Exército a perceber a
necessidade de profissionalização das Forças e de desenvolvimento e formação de
programas de treinamento e especialização nos Estados Unidos, função em que o
general Lyra Tavares teve destaque.
ii- embora a falta reconhecida de profissionalismo da nossa FEB,
todos os militares e autores de livros americanos são unânimes em reconhecer o
esforço e heroísmo de nossos pracinhas. A eles e sua dedicação, desassombro e
coragem, rendo minhas homenagens. Deles, o Brasil e nosso Exército são
devedores eternos.
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Em razão de sua formação de cunho hermético, hierárquico,
disciplinador e, como consequência, AUTORITÁRIA, os militares tupiniquins são presas da
realização de uma autoanálise falaciosa que os induz a se acharem os maiores
entendidos das necessidades e das soluções para sanar os graves problemas da
nossa sociedade.
Falácia que a história tem comprovado insistentemente, desde
o golpe militar que redundou na instauração da República, ou que redundou na
Revolução de 30, que levou Vargas ao poder e, posteriormente, ao Estado Novo.
Ou ainda ao descalabro de 21 anos, implantado pela Ditadura de 64.
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Sempre é bom lembrar que os generais atuais, condecorados por
bravura nas guerras de travesseiro que travam nos quartéis, são aqueles que optaram
pela carreira militar justamente na época dominada pelos generais da linha dura
do pós 64, que são contemporâneos dessa fase trágica de nossas Forças Armadas.
E que são estes
militares que tiveram sua formação baseada nos cursos e apostilas de Segurança
Nacional da Escola Superior de Guerra, formação deturpada e deformada pela
visão antidemocrática, como já expressa antes pelo professor Sobral Pinto.
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Essa turma de militares que, agora ao lado de um ex-colega,
expulso das fileiras da tropa por atos de terrorismo, não tem qualquer pudor de
mostrar seus interesses mais recônditos de poder e autoridade.
Nem mesmo se preocupam em disfarçar o fato de, em seguidas
situações, terem sido conduzidos à
humilhação pública por esse ex-militar a quem hoje, por força da opção equivocada
e enganada de mais de 30% da população votante em 2018, além da disciplina e da
legislação, acabam tendo que prestar obediência, como comandante em chefe das
Forças Armadas.
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Militares com comportamento tão torpe e criticável que, por
obediência cega (e interesses escusos) aceitam se submeterem a ordens ilegais
emanadas do autoritário e intelectualmente limitado chefe de ocasião. Um chefe golpista,
antidemocrático, sempre ameaçando rasgar e descumprir a Constituição que jurou
obedecer e preservar.
Uma caricatura de ser humano, que faz questão de se mostrar admirador
de valores contrários à preservação da vida e da dignidade humana e dos
direitos humanos mais básicos.
Um homem que elogia a tortura e torturadores, ou seja, que demonstra
satisfação não com o mais cruel, mas com o mais covarde ato causado pelo Estado
contra seus cidadãos.
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Nossos militares no poder, e os ministros militares desse
descalabro de governo, como o general Heleno (de trágica e vergonhosa
experiência no Haiti), além do outro, ávido por se tornar candidato a vice, o Braga
Netto (comandante da intervenção de resultados negativos no Rio) e agora este
general da defesa, Paulo Sérgio, são incapazes de entender que sua função é
servir a um Estado. Não a um governo, mesmo que os benefícios que auferem dessa
decisão sejam atrativos.
Não se intimidam de tentar promover a descrença fantasiosa
no nosso sistema eleitoral, funcionando de forma exemplar há mais de 25 anos.
Assim se comportam, como instrumentos manipuláveis, para
agradar aos desejos de seu chefe, atemorizado por provável derrota eleitoral e
as consequências de perda de imunidade que daí advinda.
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Para posarem de democratas, aceitam o convite para
participar da comissão do TSE que cuida de sugestões para aperfeiçoamento das
eleições.
Como homens infantilizados que fazem “tudo que seu mestre
mandar”, aceitam tentar criar narrativas que desrespeitam a lei, a Constituição,
as instituições e até a Justiça e o Tribunal que lhes serviu como Anfitrião (o infeliz
grego da mitologia!).
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Rápido para soltar notas em tom de ameaça, exigindo
retratação do ministro Barroso, quanto ao papel subalterno que estão se
prestando exercer, o ministro da Defesa mostra-se extremamente lento para vir a
público condenar e deixar clara a posição das Forças em defesa da democracia e
do Estado de Direito, deixando claro não compactuarem com qualquer tentativa de
tomada do poder, senão pelo voto.
Ao não se expressar, mesmo vendo o atual chefe desfilar
entre partidários de medidas antidemocráticas no dia 1 de maio, como o
fechamento do Supremo, do Congresso ou mesmo o golpe militar com o ex-militar, a
Defesa, as Forças mostram-se no mínimo omissas, ou favoráveis ao golpe contra a
democracia.
Afinal, diz o ditado que quem cala, consente.
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Comportam-se bem diferentes da postura que, nos Estados
Unidos, as forças militares – aquelas que lutam, guerreiam e têm o respeito do
povo e o peito cheio de medalhas por atos de bravura no campo real de batalha -,
demonstraram quando Trump irresponsavelmente sugeriu a invasão do Capitólio a 6
de janeiro último.
Agindo assim, dão apenas cada vez mais munição e argumentos
para todos que são favoráveis a medidas como a tomada há mais de 70 anos na Costa
Rica: a dissolução das Forças.
Afinal, para que ficar bancando e gastando com órgãos inúteis,
dispostos a se voltarem contra o desejo da maioria da sociedade?
Um comentário:
Bom pitaco!
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