“Nenhum homem é uma ilha; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”. John Dunne, citado por Hemingway em Por Quem os Sinos Dobram.
Lembro-me do forte impacto que me causou quando
li a frase de Dunne, citada (imortalizada) por Hemingway, em Por Quem os Sinos
Dobram. Essa mesma frase é a que tem martelado em minha cabeça desde que tomei
conhecimento do sumiço, desaparecimento, execução de Dom Phillips e Bruno
Pereira.
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Confesso não saber se em função do ambiente, a
região Amazônica, a imensa floresta tropical cuja maior extensão fica
localizada em nosso país; se em razão das imagens que trago em minha imaginação
e memória dos tempos do primário, quando ouvíamos fascinados a descrição de
rios da dimensão do mar.
Daí a lembrança incontinenti da frase de Dunne:
nenhum homem é uma ilha ... cada homem é uma partícula ... das margens; se um
pedaço de terra é arrastado na cheia dos rios, a redução da dimensão de terra
firme nos arrasta juntos. Por isso, choro pelas cheias. Pela terra arrastada.
Pelas casas levadas como pluma, junto aos parcos – se alguns bens em seu
interior. E choro pela morte de povos indígenas, os verdadeiros povos
originários e proprietários da floresta.
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Choro pelos ribeirinhos, indigenistas, pequenos
agricultores, tanto os pais, quanto os familiares, eliminados, executados pelas
hordas de assassinos trogloditas do agronegócio, do narcotráfico, das
quadrilhas de madeireiros, grileiros, mineradores, cuja única ambição é fazer
sumir do mapa aquele patrimônio que, de tão monumental, não merecia ter ficado,
em grande parte, nas terras brasileiras das gangues de bolsonazi e seus
apoiadores fascistas.
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Também hoje fui impactado pela leitura de um
texto de Eliane Brum, cujo link repasso:
Não é incompetência nem
descaso: é método
https://www.nexojornal.com.br/ensaio/2022/N%C3%A3o-%C3%A9-incompet%C3%AAncia-nem-descaso-%C3%A9-m%C3%A9todo
Embora longo,
o texto, sua leitura torna-se fundamental. Necessária. Até para lembrar de
outras vítimas dos bandidos, escroques,
gangsteres e assassinos e grileiros que invadiram o espaço deixado vago naquela
região, por um Estado que nunca soube explorar, de forma científica, racional e
preocupada com a preservação da própria vida em nosso planeta.
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Alías que,
ao contrário, atiça a malta de criminosos a invadirem, depredarem, destruírem
tudo que encontram pela frente, já que sob o comando de quem apenas visa e
instrumentaliza a ação da morte e da barbárie.
Estado sob
o comando de assassinos genocidas, bandidos, ladrões como dizia a música, de
gravata e capital, sempre dispostos a expandir suas propriedades, riquezas e
atividades lucrativas em detrimento diretamente da vida humana daqueles que atravessarem
seu caminho, ou a mais longo prazo e indiretamente, da vida em todo o planeta.
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A propósito,
é importante dizer que atividades lucrativas por não incorporarem os custos das
externalidades que produzem e que crescem em magnitude e escala exponencial
quando comparada à expansão da área plantada ou de pastagem, ou da produção de
soja, gado, peixes, caça, minérios e madeiras ilegais.
Externalidades
negativas dos custos irresponsavelmente transferidos para a sociedade, via devastação
do meio ambiente, poluição e suas consequências, como doenças e morte.
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Como o
texto de Eliane Brum destaca, no rastro de morte incentivado pelo armamento sem
limites, sem restrições e qualquer tipo de controle, infelizmente as vítimas
nem sempre são um indigenista branco, como Bruno Pereira, agente público respeitado
e que foi vítima de punição simplesmente por ter cumprido a legislação e as
funções e atribuições do cargo que ocupava.
Tampouco entre
as vítimas se encontra um jornalista branco, estrangeiro, vindo de um país desenvolvido,
de primeiro mundo, como Dom Phillips, motivo suficiente para causar um verdadeiro
alvoroço em escala mundial e resulatar na condenação do governo brasileiro e de
suas autoridades.
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Situação incapaz
de causar maior constrangimento e vergonha a todos nós brasileiros, seja por
existir entre nós, aqueles que optaram por entregar a condução do país a alguém
sem qualquer preparo, condição intelectual ou dignidade pessoal, um ser desprezível
que se preocupa exclusivamente com seus interesses e os de sua família, além
dos milicianos que o cercam e de que se vale.
Mas não são
apenas os apoiadores - arrogantes, ressentidos,
preconceituosos, de caráter minúsculo e inspiração fascista – que se mostram incapazes
de sentir vergonha de tal estado de coisas. Aliás, muitos destes até justificam
ações realizadas na Amazônia com base no falacioso e pobre argumento “da defesa
de nossa soberania”, como o idiota e agressivo militar suspeito da prática de
atos de terrorismos e, por tal motivo, expulso da tropa.
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Todos
nós ou a maioria de nós a quem tais eventos provocam repulsa e reprovação acabam,
por omissão, contribuindo para a promoção de um fenômeno de naturalização, de
banalização da morte.
Todos
nós, assistentes passivos da ação de um governo que investe contra o seu
próprio povo, transformado em inimigo interno de uma guerra tremendamente
desigual – de milícias armadas até os dentes, contra grupos de população faminta
e miserável – temos nossa parcela de responsabilidade.
***
Essa
passividade ou temor, muitas vezes expressa sob a forma de desespero em meio à luta
diária pela conquista da sobrevivência, da simples obtenção do pão, uma vez que
povos famélicos não ousam se dar ao luxo de sonhar com saúde, educação,
trabalho, direitos, é que nos impede de exigir
a punição dos criminosos e mandantes de crimes que se repetem ‘ad nauseam’ (até
nos causar nojo).
A
ausência de postura de cobrança mais rigorosa é que permite que continuemos
apenas testemunhas mudas das mortes das Marielles, dos Anderson Gomes e outros
motoristas como Evaldo dos Santos Rosa, e sua família, metralhados com mais de
80 tiros por soldados do Exército; por 28 seres humanos chacinados em Vila Cruzeiro,
no Rio, suspeitos de serem bandidos ou não; dos Genivaldos no Sergipe e tantos
outros torturados e assassinados por policiais.
Todos
com a característica de serem negros, pobres, jovens, de comunidades e, muitas
vezes sem explicação ou qualquer suspeição. Muitos trabalhadores honestos e portadores
de sonhos.
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Na
região da Floresta Amazônica vários são os crimes cujas vítimas são famílias
inteiras de ribeirinhos, de pequenos agricultores, de povos indígenas ou
quilombolas, de pessoas humildes ou funcionários de organizações que lutam na defesa
da vida e da integridade das pessoas e da floresta e de nosso meio ambiente.
Casos
que vão se tornando tão corriqueiros que acabam não merecendo sequer uma nota
na imprensa. Casos que passam despercebidos de todos nós e que integram
estatísticas crescentes e aterradoras que atingiram apenas em 2021 um total de
35 mortes e 391 casos de violência contra a pessoa, inclusive torturas.
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Não
poderia deixar de mencionar minha indignação contra o Exército e os militares
de patentes mais elevadas e mais tempo de serviço, especialmente aqueles da reserva,
sempre dispostos a defenderem ações militares em defesa da Amazônia, de uma guerra
imaginária e fantasiosa, contra inimigos cujas armas são apenas a preocupação
com a preservação e a assistência a populações menos privilegiadas, ali
instaladas há séculos.
Esta
guerra fantasiosa serve para atestar o despreparo
de militares de nossas Forças Armadas que, por mais patentes e condecorações
que ostentem não têm qualquer experiência
nos campos de batalha, nas trincheiras reais, a ponto de não saberem diferenciar
civis comuns de exércitos inimigos, organizados, disciplinados e armados.
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Daí
a minha indignação, e minha revolta silenciosa e apática contra o governo,
autoridades com cargo eletivo, militares com a missão de zelar e proteger
aquele pedaço de nosso território, e preservá-lo em benefício de toda a vida no
planeta.
Minha
indignação contra os agrotrogloditas e empresários sem moral e sem caráter; os
políticos e as quadrilhas que ocupam o espaço ocioso deixado pelo Estado
nacional, com todo o tipo de crimes, corrompendo e aliciando os habitantes da
região em troca de pouco mais que alimentos e alguns remédios.
E
a razão de meus sinos interiores repicarem em homenagem póstuma a todas as
vítimas da selvageria e da criminalidade. Esta a razão de meu choro.
Um comentário:
Seu texto retrata a indignação à barbárie que se repete de forma tão despudorada. Tristeza profunda…
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