sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Galípolo, a coerência de sua trajetória e a (in)coerência na defesa da PEC 65
https://youtu.be/fXeaKof1ED0
Presidente Galípolo, o chamado menino de ouro do Lula, em razão de ser o mais jovem economista a ocupar a presidência do Banco Central é bem mais que essa referência
carinhosa. E já é portador de uma experiência bem significativa, apesar da pouca idade.
Mestre pela PUC-SP, professor, coautor de livros em parceria com intelectuais renomados como o professor Belluzzo, conta com experiências exitosas na administração
paulista, além de se qualificar ao maior cargo da Autoridade Monetária, por sua passagem pelo mercado financeiro, na presidência do Banco Fator e por sua atuação em
processos de privatização.
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Tem, portanto, importante bagagem e formação adequada dentro do espírito econômico dominante.
Ao reconhecimento de sua trajetória deve-se acrescentar sua indicação, pelo atual governo, para o cargo de Diretor de Política Monetária, efetivamente o mais importante
cargo em uma instituição cujo papel é o de servir de Autoridade Monetária.
Embora Lula tenha criticado severamente ao seu antecessor Roberto Campos Neto, jamais deve ser desprezada a responsabilidade de Galípolo na decisão de elevar em mais de
4% - e manter - os juros básicos da economia.
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Não é justo tirar de Galípolo o mérito de estar presidindo o órgão responsável pela rubrica do maior gasto público atual, com pagamento de juros, e a elevação da dívida pública nominal.
Aquela dívida e a gastança exagerada que as Atas do Copom utilizam para justificar a manutenção de juros pornográficos de 10% em termos reais.
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Mas seu bom mocismo, apesar da ausência de coerência com o discurso de desenvolvimento econômico e social do governo que integra, não se revela apenas pelos efeitos
estrutivos que a política de juros que conduz provoca sobre o nível de emprego, de renda, de crescimento da atividade produtiva.
A contradição torna-se mais clara ao assumir a defesa da PEC 65 que, sob o argumento de dar maior autonomia financeira e orçamentária ao Banco, advoga a completa
independência do Banco em relação ao governo, tornando o órgão um 4º poder da República.
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Isso implica que, bem ao sabor do ideário neoliberal e dos interesses do mercado financeiro, o Banco Central fica livre de interferências políticas do governo para
exercer sua missão, embora submetido às pressões e chantagens – POLÍTICAS – feitas pelo mercado na defesa de seus resultados, advindos do rentismo. E tudo sob aplausos
dos grandes empresários e da mídia, também ela dominada por grandes capitais.
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Em corte postado em redes sociais, de evento em defesa da PEC, Galípolo faz uma digressão da origem e evolução a proposta, citando na abertura de sua manifestação, a fala
a frase célebre de ministro da Suprema Corte dos Estados Unidos, para quem a luz do sol é o melhor desinfetante.
A partir daí, apresenta um histórico da PEC, como resultado de “… vários anos, anos mesmo de discussão com o relator, … ouvir bastante servidores aqui da casa, se chegou
a um texto” … que não era pautado por falta de concordância do governo.
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A seguir relata “várias reuniões e vários diálogos” em que houve pessoas que discordaram totalmente, outras parcialmente, até com argumentos jurídicos de vício de origem
em proposta apresentada no Senado com alteração na estrutura administrativa do governo.
E prossegue dizendo que depois de conversas em que o governo admitiu apoiar a autonomia do Banco, chegou-se a um impasse: o governo não admite a mudança de regime do
Banco, de autarquia regida pelo Direito Público, para um tipo de “estrovenga” do Direito Privado nem a alteração do regime trabalhista dos servidores, do RJU para a CLT.
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Tal impasse levou o Senado a afirmar que não colocaria a proposta em pauta e votação, sem a concordância do governo. Por outro lado, como o projeto sofreu alterações em
relação ao que havia sido “dialogado com os servidores e os representantes dos servidores” aqui da casa, para que o governo aprovasse a proposta, o presidente reuniu-se
com os chefes de Departamento, que ficaram irredutíveis quanto a não acatar a proposta do governo, com base na visão de que a mudança do status jurídico da instituição
deve ser considerado o cerne da proposta.
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Infelizmente o breve histórico feito contém distorções, penumbras, sombras ou trevas que impedem a ação detergente da luz do sol. Por exemplo, o diálogo com os servidores
não pode se reduzir aos chefes de departamentos ou ao grupo de servidores comissionados, com interesses bastante claros, e lícitos de, como celetistas, passarem a ter
remuneração a nível de mercado. Bem além dos limites de tetos que devem respeitar hoje, no serviço público.
Se houve reuniões de apresentação da proposta para os servidores, com participação muito efetiva dos diretores Aílton e Rodrigo, de Fiscalização e Administração
respectivamente, o diálogo foi interditado, com as reuniões se prestando mais a vender a ideia da redenção de um corpo de servidores que vem sofrendo corrosão salarial há
anos, e vendo crescer as diferenças entre carreiras de Estado de mesma importância, classificadas como típicas de Estado como as do Banco.
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Há por certo, servidores da ativa que, não satisfeitos com resultado de votação eletrônica com participação de toda a categoria, em que 74% rechaçaram a integralidade da
proposta, sem admitir alterações superficiais, se batem pela PEC e a defendem, e são os que têm voz e encontros agendados com a Diretoria do Banco.
Mas estão longe de serem os representantes dos servidores, tarefa que cabe ao Sinal, o sindicato oficial reconhecido legalmente. E, por mais que o Sinal enviasse ofícios
e solicitações de agendamento de reuniões, nunca foram recebidos para tratar do tema.
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Pior: reunião com servidores inativos, veementemente contrários à proposa, sugerida e agendada pela própria Diretoria, foi cancelada por falta de horário na agenda(?). Argumento, no mínimo falacioso, senão cômico.
Na verdade, a PEC é contra o Banco Central, contra o Governo e o Estado e contra a sociedade brasileira. Esse o verdadeiro motivo da desfaçatez daqueles que a defendem.
Afinal, se são legítimas as reivindicações de remunerações mais elevadas e mais próximas daquelas obtidas por outras carreiras típicas de Estado, com o mesmo nível de
qualidade de serviços prestados, a solução mais solar é uma negociação mais realista e criteriosa com o governo, visando reduzir as assimetrias externas (e internas!!!)
ao banco.
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5 comentários:
Muito bom, mestre. Assino onde?
Perfeito. Parabéns PC!
Fez-me lembrar "o ovo da serpente". Hoje só é aceita decisão no COPOM com unanimidade. Na gestão do RCN, ele afirmava consultar o "mercado" para decisão da tx Selic.
Hoje, sem qualquer rubor facial, defende-se a manutenção de dois diretores que seriam reconduzidos pelo presidente Lula. Ora, pois, ....
Uma mudança constitucional que é defendida pela Febraban é contestada pela maioria dos funcionários do BC, ativos e aposentados, mostra bem a quem veio servir, não é ao Estado e muito menos aa sociedade brasileira. PEC 65 NÃO!!! Paulo Lino - func. aposentado do BC-SP.
Em 2024 os juros pagos no ano superaram o crescimento nominal do PIB, e este ano deve piorar, pois se anuncia um crescimento menor e um juro maior, já que a taxa é aplicada sobre base majorada. Fica difícil assim o BC "fomentar os pleno emprego" e o sistema financeiro atender aos "interesses da coletividade", como preconiza a lei. Iso Sendacz
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