quarta-feira, 8 de julho de 2015

Crise Política de ocasião? Ou a crise é real?

Enquanto Aécio continua comportando-se como a criança mimada, o "enfant terrible" que tanta preocupação trouxe a seu avô Tancredo no passado, dando demonstrações inequívocas de não ter absorvido a derrota que a maioria do povo brasileiro lhe impôs em 2014 e, inclusive cometendo o tresloucado ato de flertar com o golpismo, traindo toda a tradição aprendida em família, o Planalto parece, cada vez mais, completamente atônito e perdido em meio à situação política do país.
Tal situação de perplexidade e descoordenação pode ser ilustrada pela notícia publicada ontem na coluna Painel, da Folha, de que, embora avisado, o governo nada fez para impedir que a CPI da Petrobras aprove a convocação de Aloísio Mercadante e Edinho Silva para prestarem depoimentos em relação às denúncias feitas contra ambos, por Ricardo Pessoa, da UTC.
Mesmo que não tivesse nada a temer, a presença do mais forte e próximo ministro de Dilma, o ministro chefe da Casa Civil, Mercadante, transformar-se-ia em espetáculo, dando margem a que a oposição fizesse desse momento, mais um instante para continuar colocando mais combustível na fogueira do golpismo.
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Sem confiança na capacidade de atuação de seu ministro mais forte, inclusive quanto à necessidade de que o governo reaja e não deixe prosperar o ambiente de crise que a oposição e parte da midia conservadora insiste em difundir, o que resta à presidenta é antecipar-se a seus auxiliares e sair em público, para contestar as acusações que lhe são imputadas e denunciar o que chama de golpismo.
Foi isso que se viu na entrevista de Dilma, concedida à Folha e publicada no dia de ontem, 7 de julho, cuja repercussão mostra que a presidenta não está disposta a cair sem lutar em defesa do mandato que o povo lhe conferiu.
Mesmo que reagindo de forma considerada pesada, típica de quem está acuada, o que é sinal, para alguns, de que o objetivo primeiro da oposição foi alcançado. A crise finalmente foi levada para o interior do próprio governo. E pelas mãos da própria presidenta.
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Enquanto isso, em entrevista concedida também no dia de ontem à Rádio Gaúcha, como notinha de pé de página, sem qualquer destaque maior nos informa, Aécio comete o ato falho ao afirmar que foi "reeleito presidente da República", quando queria referir-se à reeleição para o comando de seu partido.
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De toda a situação a que estamos assistindo, o que podemos admitir é que, cada vez mais, Dilma depende do PMDB e de seu vice, Temer, o que é curioso, já que o peemedebista é um dos que mais têm a ganhar com qualquer manobra que acabasse interrompendo o mandato de Dilma.
Enfim, para quem tem um ministro como Mercadante, na posição de relevo que ele ocupa e com a inabilidade que o ministro parece cultivar, só mesmo dependendo de aliados tão sujeitos a pressões e interesses próprios como a base aliada tem demonstrado agir.
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Mas, se Dilma está fragilizada e reage até com certo tom de desespero, como os próprios aliados reconhecem, o PSDB passa a imagem ainda pior de arrogância e de que, como afirma Elio Gaspari em sua coluna de hoje, na Folha (Caderno Poder - A6), "age como se tivesse recebido do Padre Eterno um mandato para governar o país. Replica a soberba de Lula e do comissariado petista ao solidarizarem-se com os mensaleiros".
Tudo isso, a propósito da convenção que reconduziu Aécio, domingo último, ao comando de seu partido e que, ao contrário do destaque dado pela midia em relação à recepção dada pelos petistas a seu ex-tesoureiro Vaccari na convenção petista, não teve muita repercussão.
Mas, como nos informa Gaspari, Eduardo Azeredo, o mensaleiro mineiro, que renunciou à presidência do partido justamente por sua posição de réu no caso, foi tratado como convidado de honra no evento.
Não satisfeitos, os peessedebistas incluíram na lista de oradores, a filha de Roberto Jefferson, outro mensaleiro, esse ao contrário de Azeredo, já condenado, no caso do mensalão petista.
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Mas, como diz Gaspari, com grande dose de ironia, se o petismo reage mal às  críticas e acusações, procurando culpados a quem responsabilizar por seus erros, o membro do PSDB, mais elegante, finge que não ouviu e, apenas explica de novo.
Ou seja, quer vencer pelo cansaço, ao menos àqueles que não são influenciáveis por descrições tendenciosas que a imprensa divulga como se fossem isentas de qualquer interesse.
Gaspari lembra bem.
No TSE, basta que um pedido de vistas de um ministro seja feito que, independente do placar que já esteja o julgamento paralisa-se qualquer processo de análise contra a lisura das eleições do ano passado.
Gilmar Mendes, aliás, já nos deu inequívocas demonstrações de que tal comportamento pode ser adotado e tem efeitos importantes. Afinal, o pedido de vista bloqueia a conclusão do julgamento.
Por outro lado, conforme afirmei ontem, nesse espaço, não basta o TCU indicar ou vetar as contas de Dilma no primeiro mandato.
Há que tal recomendação, para surtir efeitos, passar pela apreciação da Câmara, essa mesma instância institucional que não se preocupa em julgar desde 2002, qualquer conta de qualquer governo.
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Fica claro de tudo que o julgamento de Dilma será político, caso ocorra, e como tal, haverá reações que não são triviais.
Mas, nenhum sujeito honesto, mesmo que anti-petista e veementemente contrário a Dilma, não poderá de admitir que um julgamento por esse Congresso de contas do último de 12 anos é, no mínimo, algo escabroso, em termos de decência.
Ou então, tal julgamento é a mão do Padre Eterno, fazendo o curso das coisas voltarem à situação da qual nunca deveriam ter saído.
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Apenas uma observação, que não pode ser esquecida e que não me canso de tentar resgatar, para conservar ao menos a minha memória: arrogância maior que a do comissariado petista e de Lula foi a do idealizador do plano de governo do país por 20 anos: Serjão, o homem forte do governo FHC.
Aquele mesmo que lançou a ideia de que o PSDB ficaria 20 anos no poder, mas que, infelizmente, acabou vitimado por uma infecção pulmonar.
Pois bem, foi na declaração de Sérgio Motta que Lula se inspirou, ao que parece, para querer ficar 20 anos no poder com seu PT.
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Outra questão importante, que para muitos passa despercebida, diz respeito à relação entre Dilma, a criatura e Lula, o criador.
Em sua origem, Dilma era pedetista. Ao que parece, mais brizolista. Ou seja, mais favorável e vinculada àquele que um dia chamou Lula de "esse sapo barbudo" que deveríamos engolir.
Foi com gestões pedetistas no Rio Grande do Sul que Dilma ocupou cargos de relevo, dentre os quais o de secretaria de Energia, que a catapultou para o governo federal.
Dilma nunca foi, até então e mesmo depois, integrante do PT, filiada ao PT.
Apenas filiou-se para poder ser indicada por Lula, para sucedê-lo.
Daí que fica difícil apenas afirmar que há, na relação entre ambos, uma traição ou uma ruptura da relação entre criador e criatura. Relação que, claro, existe, mas que nunca havia existido antes, como costuma ser difundido.
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Traição maior de uma relação entre criador e criatura poderia, com mais justiça e acerto, ser demonstrada no caso de Aécio e seu avô.
Aécio agindo cada vez mais como se fosse da antiga Banda de Música dos golpistas da UDN. Contra o PSD de que seu avô era um dos expoentes.
Mas, com relação a essa postura do neto, traindo o comportamento mais cordato e pacificador do avô, ninguém se preocupa.
Uma pena.

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