quinta-feira, 30 de julho de 2015

Pitacos sobre economia, Copom e Selic e as mudanças incompreensíveis de Levir no Galão

Está chegando agosto. Mês considerado aziago do ponto de vista da política nacional.
Afinal, o chamado mês do cachorro louco é marcado tanto pela morte de Getúlio Vargas, em 1954, quanto pela renúncia de Jânio, em 1961, estopim de toda a série de eventos que vieram a desembocar no golpe militar de 64. Foi ainda no dia 22 de agosto, do ano de 1976 que ocorreu o acidente que vitimou Juscelino Kubitscheck.
Mas, curioso, recorri à internet buscando conhecer a razão da fama do mês, cuja característica mais marcante, registrada em minha memória, é a de ser um mês de muito vento.
E descobri que foi em agosto que Hitler tornou-se o chefe do Estado alemão, além de ter tido início a Primeira Grande Guerra, de terem sido lançadas as bombas atômicas sobre o Japão, ou de ter sido iniciada a construção do Muro de Berlim.
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A explicação considerada mais razoável, contudo, diz respeito ao período do cio das cachorras, cuja maior concentração, segundo consta, se dá  nesse mês. O que leva os cachorros à loucura e a brigas.
Há ainda a informação de que era esse o mês em que os navegantes portugueses costumavam sair em suas expedições de exploração de novas terras, o que levava à redução de casamentos em Portugal, no período. Entretanto, o mês é considerado o mês das noivas na Alemanha.
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Deixando de lado as tradições e eventos que fazem a fama do mês, o mês promete do ponto de vista da política nacional.
Afinal, além do retorno dos trabalhos legislativos, interrompidos pelo recesso de julho, com uma pauta considerada de alto poder de explosão, a expectativa é de que sejam apresentadas as denúnicas pela Procuradoria Geral do senador Collor e do Presidente da Câmara, Eduardo Cunha.
Também devemos testemunhar algum tipo de manifestação, pelo TSE, em relação às acusações feitas à Dilma e a sua campanha à reeleição de 2014 e teremos o pronunciamento e, talvez a decisão do TCU em relação às "pedaladas" protagonizadas pela presidenta em seu primeiro mandato.
Ou seja, especialmente com Eduardo Cunha procurando vingar-se de Dilma e seu PT, a quem atribui os descuidos de que é acusado na Lava Jato, teremos a ampliação do espaço para a pirotecnia e o espetáculo midiático que são as CPIs, com a promessa de instalação e início dos trabalhos da Comissão sobre o BNDES, e sobre os Fundos de Pensão.
Pólvora suficiente para tornar o mês muito agitado.
Adicionalmente, manifestações já programadas, uma contra o governo no dia 16 de agosto, outras favoráveis ao governo, e até em desagravo, durante o mês também podem trazer momentos de tensão e exaltação.
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Do ponto de vista da economia brasileira, depois da redução da meta de superávit primário, de 1,1% para 0,15% , anunciada na última semana pelos ministros da Fazenda e Planejamento, e da elevação da Selic em mais 0,5% no ano, conforme decisão do COPOM anunciada ontem, a expectativa é apenas de maior elevação dos níveis de desemprego na economia brasileira.
A primeira medida, que já havíamos tratado na semana passada, representou o reconhecimento, pelo governo da inviabilidade de se manter, e perseguir, a meta absurda projetada para o ano.
Enfim, as equipes do governo concluíram que não havia como elevar as receitas fiscais de um país onde a economia e o nível de atividade despenca ladeira abaixo.
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Como os gastos do governo costumam ser incompressíveis, sob risco inclusive de certo tipo de despesas acabarem acarretarem a elevação, em escala ampliada, de gastos no futuro, a queda  observada na receita traria, já devidamente precificada pelo mercado obrigou a equipe econômica a admitir a necessidade de alterar suas projeções. A bem da manutenção de uma certa transparência e da credibilidade junto ao mercado.
Entretanto se já esperada e até cobrada pelos analistas de mercado, a redução do superávit para algo equivalente a pouco mais de 10% da meta anterior foi uma surpresa.
E, desprevenido, o mercado reagiu de forma a provocar a elevação do câmbio e da queda da bolsa.
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Com relação a esse comportamento da área econômica, o destaque deve ser dado à perspectiva de que nem mesmo o superávit sugerido de 0,15% seja alcançado.
Nesse caso, e para se antecipar e não ser acusado de omitir informações, o governo já reconheceu, ele mesmo, a possibilidade de o superávit transformar-se em mais um déficit primário, agora por responsabilidade (ou irresponsabilidade) do Congresso.
Ou seja, caso o Congresso continue com sua intenção de manter o sangramento do governo Dilma, não aprovando as medidas encaminhadas pelo Executivo visando a elevação da arrecadação, já está presente no cenário a possibilidade de novo déficit. Dessa forma, a equipe econômica conseguiu limitar o espaço de atuação do legislativo, colocando-o em situação de beco sem saída.
Sob a ameaça de transferir para aquele Poder, a responsabilidade que é, primeiramente do Executivo.
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A mesma chantagem, em prol da aprovação das medidas de elevação da arrecadação, já começa a tomar corpo, agora motivada pela sinalização da possibilidade de as agências avaliadoras do grau de risco de um país retirarem a classificação do Brasil como economia merecedora de crédito.
Mais uma vez, espertamente as equipes econômicas já se manifestaram no sentido de que ou o Congresso aprova as medidas encaminhadas para sua apreciação, ou será responsabilizado por algo cuja responsabilidade maior é apenas das próprias equipes econômicas.
E que medidas são essas?
Basicamente, a questão da desoneração das folhas de pagamentos das empresas e outras medidas como a taxação do dinheiro remetido sem o pagamento de tributos para fora do país.
O que é interessante, mas inexplorado pela imprensa de forma geral.
Porque se é possível que o envio de recursos seja feito para fora do país, havendo regulamentação para tal remessa, alegar-se que haverá algum tipo de 'perdão' para que os donos desses recursos possam esquentar ou legalizar esse recurso e permitir sua internalização é, no mínimo, curioso.
No mínimo, por ser sinal de que há ciência no governo de que teve gente cometendo as irregularidades, ou mesmo crimes, quando da remessa de tais dinheiros.
E não é pouco o valor remetido ilegalmente para fora do país, já que o governo tem a expectativa de arrecadação de mais de 20 bilhões de reais.
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O que acho curioso e que ninguém destaca é que esses recursos significativos, não poderiam ser de ampla parcela da população, devendo ser vinculado a uma proporção muito pequena da população, e muito rica.
E nesse caso, a medida destinada a promover a repatriação do dinheiro deveria ser considerada como MAIS uma de impunidade. A mesma impunidade que a sociedade diz não aceitar mais de forma passiva.
A mesma impunidade que leva a verdadeiras campanhas em prol do aumento do rigor da aplicação das penas, especialmente quando os atos ilegais correspondem a atos tido como mais violentos, e cometidos, em geral pelo rapaz preto, pobre, de pequena escolaridade e morador da periferia.
Grita capaz de gerar até mesmo a adoção de medidas absurdas como a de redução da maioridade penal, tão somente para quem cometar crimes considerados hediondos.
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Pois bem. E o que é pior, se há alguma escala de comparação ou forma de mensuração: um assalto violento, a mão armada, cujo desfecho pode gerar a perda de uma vida, a da vítima, ou a canetada ou o ato de corrupção que, ao desviar recursos da educação, da merenda escolar, ou da saúde, acaba condenando, muitas vezes à própria morte milhares, ou até milhões de pessoas, por falta de recursos para proporcionar a assistência que lhes é devida?
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Bem, voltando à economia, ao elevar a Selic, pela sétima vez consecutiva, o COPOM mostra não apenas independência em relação ao governo. Mas mostra uma incapacidade grande de enxergar, por trás de estatísticas e números, os aspectos sociais que estão no cerne da economia. E que asseguram à economia ser enquadrada no âmbito das ciências sociais.
Demonstra também uma espécie de miopia, ao continuar enxergando apenas uma justificativa para o fenômeno da inflação, que vai expandindo seus tentáculos e sua influência pela economia do país.
Afinal, se os custos industriais estão elevados, não são por excesso de encomendas, ou de compras que pressionam a capacidade de produção de fornecedores.
São por decisões da própria equipe econômica, de realinhar as tarifas e preços públicos em uma tacada só.
São por força da elevação de preços de alimentos, ainda pressionados pela questão do clima.
São provenientes do poder de mercado da maior parcela dos setores produtores do país, que perdem vendas, mas não reduzem as margens de lucro com que operam.
São provenientes do câmbio, fruto da elevada taxa de juros que atraindo vultosas massas de capitais, promoveram a valorização esdrúxula do real, comprometendo nossa já abalada competitividade e levando os empresários a perceberem que a importação de insumos era mais interessante, dados os preços desses produtos no exterior, em contraposição aos valores dos mesmos bens, em reais.
Não apenas tal situação condenou vários setores da cadeia de fornecedores à quebra, como ainda gerou uma elevação significativa de nosso déficit em conta de transações correntes.
Agora, com a economia brasileira completamente estropiada, a produção em baixa, o desemprego em alta, queda na renda real do trabalhador, e aumento alucinante e alucinado dos juros, as agências internacionais avaliadoras de riscos alegam justamente a situação de nossa combalida economia, como forma de justificar a possibilidade de o país sofrer um rebaixamento de sua nota.
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Como fica claro que a situação que levou agora à mudança na sinalização da capacidade de a economia brasileira reagir e começar a ganhar força deverá se arrastar por todo o ano de 2016, a possibilidade de se concretizar a ameaça da perda do grau de bom pagador é cada vez maior.
Nada a favor das agências de risco, que em minha opinião atribuem algumas notas e emitem avaliações muitas vezes sob a ótica de interesses especulativos, que nada têm com a estrutura ou dinâmica real da economia.
Entretanto, o problema é que, se o país perde essa classificação, os grandes gestores de fundos e capitais externos devem, por força de medidas regulamentares, deixarem de aplicar no país, o que promoveria uma inflexão da entrada de captais e até, no limite, a uma inversão desse fluxo.
Com isso, a procura por dólares iria crescer o que levaria a aumento do preço da moeda estrangeira. Por força da substituição de cadeias de fornecedores de insumos nacionais por estrangeiros, já comentada, os custos industriais tenderão a se elevar ainda mais, com a elevação do preço do dólar.
Daí para que novo repique da inflação não seja elemento estranho ao cenário, obrigando o Banco Central e ao COPOM, voltarem atrás na sua decisão de que essa elevação efetuada no dia de ontem, seja a última.
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Esse quadro pode se tornar mais grave, caso o FED eleve ainda nesse ano as taxas de juros básicas dos Estados Unidos, com a transferência de recursos de nossa economia em busca da maior segurança da economia americana.
Ontem o FED não elevou as taxas, mantidas em 0,25% anuais por mais um período. Mas, a possibilidade de elevação existe e pode estar já sendo praticada em setembro.
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Apenas para reforçar o quadro: nesse caso, o dólar se valorizaria, os preços de insumos importados e alimentos e outras commodities, ou de "bens tradeables" acabaria trazendo impactos nos índices de preços, o COPOM elevaria novamente as taxas de juros; a economia brasileira aprofundaria sua recessão; a população perderia poder de compra e empregos; as receitas do governo iriam declinar e o país iria ter de conviver com novas explicações do ministro em relação às razões de ter de elevar mais uma vez a carga tributária, etc. Nossa avaliação seria agravada e novos rebaixamentos de notas poderiam ser efetuados.
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De futebol e do Galo

Em meio a todo esse cenário de crise, apenas o Galo continua sendo um oásis de alegria e otimismo.
Embora Levir Culpi, às vezes, se equivoque e faça, também ele, alguma lambança.
Foi isso que eu vi, ontem, no Mineirão, no jogo contra o São Paulo.
Sem entender bem as razões que o motivaram, Levir mudou o time e o estilo de jogo no segundo tempo, tirando Cárdenas que vinha cumprindo bem sua missão e colocando um inoperante Carlos em seu lugar.
A lambança foi ampliada com a entrada de Danilo Pires, que desmontou o que podia ainda ter sobrado do desmonte anterior, feito na estrutura do time.
Por sorte o Atlético tinha Pratto, sempre levando perigo e preocupando a defesa adversária e o meio estava bem, ontem.
Mas com um placar favorável, de 3 a zero, é inexplicável que o São Paulo tenha conseguido levar apreensão e sufoco ao time do Galo na etapa final.
Nós que ganhávamos e jogávamos bem, mas o São Paulo calou a torcida atleticana e deixou a todos nós preocupados ou temerosos.
Estranho. Mas justificado pelas mudanças malucas que Levir patrocinou.
Enfim,  Galo permanece na frente. Mas não pode dar bobeira como aconteceu ontem.
É isso.

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