segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Esgotou-se a capacidade de Levy ou ela nunca foi uma Brastemp?

Já há algum tempo tenho manifestado aqui nesse espaço, meu desagrado com a indicação e as medidas adotadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no afã de promover o ajuste fiscal, debelar a inflação e tornar a fazer a economia brasileira andar nos trilhos.
Para todos que seguem lendo esses pitacos, sempre deixei claro que, por mais que fosse necessário acabar com o represamento dos preços dos combustíveis e por mais que fosse necessário promover o ajuste das tarifas de energia elétrica, essas medidas, por sua capacidade de influenciar custos e preços, colocando mais lenha na fogueira da inflação deveriam ser escalonadas de forma a não ter seu impacto todo concentrado de uma vez só, alongando-se o prazo dos ajustes.
***
Por outro lado, enquanto promovia o tarifaço, o ministro dava declarações que levavam o mais afoito dos otimistas a ficar atemorizado. Desejando conseguir imediatamente obter a aprovação - de resto politicamente muito difícil - das medidas de seu pacote fiscal, o ministro pintou um quadro para a economia brasileira cujo efeito foi influir na psicologia do consumidor e do empresário nacional.
Atemorizados pelo quadro pintado pelo ministro, de dificuldades enormes, os consumidores começaram a tomar medidas para evitar gastos, não apenas os supérfluos, mas reduzindo até mesmo as compras de bens imprescindíveis ao dia a dia.
Tal reação dos consumidores foi ainda mais fortalecida quando o Banco Central, que já vinha puxando a taxa Selic para cima, desde o final das eleições, deu sequência a uma política de elevação sistemática dos juros, com declarações que deixavam antever que essa política seria adotada até que o mercado começasse a projetar a taxa de inflação brasileira, de forma convergente para o centro da meta, os 4,5%.
***
Com a política monetária ativa e contracionista, e juros do crediário alcançando proporções estratosféricas, os consumidores trataram de privilegiar o pagamento de prestações já contratadas, e contribuindo para a queda de vendas do comércio, o que ajuda a explicar, entre outros motivos, a razão de o setor de serviços apresentar o primeiro recuo em 25 anos.
Do lado do empresário, as medidas do ministro ainda foram consideradas mais graves, com a elevação de custos sendo acompanhada de elevação de tributos, o final de desonerações culminando pela proposta de recriação da CPMF, o imposto do cheque na semana passada.
***
Vendo suas vendas se reduzirem, as encomendas cessarem, os pátios ou as prateleiras se encherem de produtos estocados, o clima criado pelo ministro contaminou todo o ambiente, e o pessimismo quanto à capacidade da economia reagir como esperado acabou dando origem a toda a série de tomada de decisões cujo resultado último tem como alvo o emprego.
O nível de desemprego começou a subir em meio à previsão de cada vez maiores dificuldades de o governo aprovar as medidas duras no Congresso, que ainda contribuía para que o circo pegasse fogo de vez, aprovando uma série de medidas cujo resultado acarretaria aumento de gastos.
***
Com isso, a cada semana foi se degradando o humor dos homens de negócios, com a inflação se elevando, até por efeito da inércia e do medo; a previsão de crescimento da produção caindo até abaixo de zero, quando as variações das estimativas começaram a apresentar crescimento, ou seja, a previsão de crescimento negativo foi se elevando até alcançar mais que 2,2 % do PIB, e as taxas de desemprego e queda do nível de renda real dos trabalhadores brasileiros começaram a crescer.
Em um ambiente como esse, a psicologia dos homens de negócios, conforme anunciada por Keynes há mais de 80 anos é a de correr para a liquidez e não reagirem elevando investimentos.
De resto, investir para aumentar a capacidade produtiva de uma empresa que não está usando nem a capacidade já possuída é gesto completamente irracional.
***
Com tamanha queda do produto, já refletida nos índices de produção do IBGE, tanto no primeiro quanto no segundo, quando sofreu um agravamento digno de nota, não poderia acontecer, com as contas públicas nada diferente do que se deu: a arrecadação das receitas do governo apresentaram queda vertiginosa enquanto os gastos, embora contidos, ficaram estáveis ou apresentaram crescimento desprezível.
***
Claro que ninguém duvida que o ministro sabia que era isso que iria acontecer com a receita do governo, tamanho o baque do nível de atividade econômica que ele mesmo protagonizou. E, com receitas em queda era evidente que haveria um déficit nas contas públicas, tornando o objetivo maior do ministro completamente fora de alcance.
Daí a razão da redução da previsão do superávit de 1,1% do PIB, no ano, para 0,15%, com a possibilidade já embutida, de haver um déficit primário no ano.
Com déficit no primário, e juros cada vez mais elevados em perseguição à queda da inflação, não é de se estranhar a previsão de crescimento do déficit nominal, cujas estimativas já alcançam os 70% do PIB, para o ano que vem.
O que representa um quadro de deterioração acelerado do indicador e a possibilidade quase certeza de as agências de risco retirarem do Brasil o grau de economia de investimento.
E o ministro irá dizer, com apoio da midia submissa e do mercado e seus analistas ortodoxos, que tudo foi culpa do ministro anterior, aliviando a barra do atual.
***
Mas, como é impossível tapar o sol com a peneira, o blog de Josias de Souza, hospedado no portal UOL, traz hoje o sugestivo título de " Capacidade de Levy de evitar o pior já se esgotou", embora no texto ainda a culpa maior seja a combinação dos "três flagelos" provocados pela gestão anterior de Dilma.
E no texto já se admite que o buraco nas contas públicas seja um insucesso dos planos de Levy, embora alegando que tais planos fracassaram pela estagnação da economia, como se tal paralisação não fosse já resultado do tal ajuste, e do discurso de terror do ministro.
***
Mas, em minha opinião, mais interessante não é, como Josias faz em seu blog, admitir que apenas medidas duras, já propostas pelo ministro, afetando até programas sociais devessem ser tomadas para que a situação das contas públicas se agrave ainda mais.
Informa o blog, que para evitar o pior, medidas antipáticas teriam de ser adotadas, algumas alterando regras da previdência e do INSS, o que não é muito provável de ser acatado em período de instabilidade flagrante do governo.
Ao mesmo tempo, nos informa que o ministro propôs uma revisão de todos os programas do governo, inclusive os sociais, para evitar sobreposições de gastos e buscar uma racionalização.
***
Pois bem, ontem, no Ilustríssima da Folha, dois autores, Felipe Salto e Nelson Marconi, sob o sugestivo título de "O novo emplasto Brás Cubas" mostram que o ajuste fiscal pode ser feito sem cortar conquistas sociais importantes.
E mostram com alguns dados sua ideia principal, a de que o caminho mais eficaz para elevar a solvência e a poupança do setor público passa pela melhoria de gestão, com medidas simples como controle de preços de compras públicas (sempre mais caras que o equivalente para o setor privado) e análise de pessoal ativo de forma séria (mostram, por exemplo, que foram contratados na gestão petista 86 mil docentes para 76 mil servidores nas áreas administrativas da educação. O que é um exagero, convenhamos!).
***
O artigo deve ser estudado em profundidade e talvez seja objeto de críticas que uma leitura menos aprofundada não me permitiu fazer. Mas que o texto é interessante, não se nega. Recomendo pois, sua leitura.
***
Fugindo um pouco ao tema, também merece leitura a coluna com a resposta dada por Antônio Prata a Samuel Pessoa, o professor de economia que o atacou em coluna anterior. A resposta em minha opinião consegue desnudar o professor e a sua  pretensa capacidade analítica e de imparcialidade. Como Prata também acho que o professor só enxerga um lado das coisas, assessor que é ou foi, do PSDB, para não dizer que suas análises estão revestidas em algumas situações de desonestidade intelectual.
É isso.




E o GALO joga e dá sorte

Devo confessar que colocar Patric em campo e mandar que ele ficasse mais à frente, com Marcos Rocha, um dos melhores passes do Galo, na defesa, onde o lateral titular mostra ter deficiências de marcação, e ainda ver, Marcos Rocha indo à linha de fundo e tocar para Patric marcar o gol da vitória de ontem, contra o Flu é mesmo coisa de Burro com Sorte.
Aliás título do livro de Levir, que mostra que a ousadia no futebol merece ser sempre buscada.
No mais, apenas o comentário de que gostaria de entender porque um jogador que tem a bola dominada lá na área do adversário, com o time pressionando e atacando sempre, e conseguindo não deixar espaços vagos para as jogadas do adversário começa a pegar a bola e, ao invés de tentar alguma jogada de mais profundidade, maior agudeza, ou de busca do gol, atrasa a bola para o seu goleiro, do outro lado do campo.
Afinal, sempre aprendi e acredito que a melhor defesa é o ataque, e que quando um time joga atrás ou para trás, está é chamando o adversário para cima.
Enfim, ganhamos e mantemos a perseguição ao time do Corínthians, o que é mais importante no momento.
Afinal, lembro-me de 2012, quando o Flu e o Grêmio não deixaram o Galão desgarrar-se e o campeonato acabou com o Flu ultrapassando e (com a ajuda da CBF, como o Coringão está tendo agora, da arbitragem) chegando ao título.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Trazer o Homem no Coração (discurso de paraninfo em Colação de Grau)

Transcrevo, a seguir, o discurso realizado na qualidade de paraninfo da turma de Ciências Econômicas da UNA, solenidade realizada na noite de sexta feira, 21 de agosto.


Trazer o HOMEM no Coração

É importante ter fé. Mas traga uma picareta, uma enxada ou se for mais sofisticado, uma retroescavadeira para remover as montanhas.
Não entre na onda da terceirização. Não terceirize suas responsabilidades como homem, transferindo-as para Deus. A vida é sua. Compete a você decidir o que irá fazer de sua vida. E se quiser um conselho: traga o Homem em seu coração.
Afinal, como homens, cada um de nós traz uma centelha divina. Acho até que mais. Fruto do milagre da Trindade Santa em que, filhos, somos também o próprio Pai, somos todos Deuses. Talvez esse o sentido de Cristo nos chamar de irmãos.

Trazer o Homem em seu coração representa ver o outro como a si mesmo. Significa respeitar e tratar o outro como a si mesmo. Significa a representação do Amor Universal.
Agindo assim, você estará colocando em marcha a poderosa engrenagem, capaz de criar o mais virtuoso círculo que alimenta o desenvolvimento e a evolução de nossa sociedade: você aprende a perdoar. E aprendendo a perdoar ao outro, aprende a perdoar a si mesmo.
Sim, somos todos feitos de uma mesma fôrma, uma mesma substância, uma mesma matéria. Acima de tudo, não somos fatores de produção. Não somos coisas. Não somos mercadorias.
Somos autores de nossa própria história. Construtores de nossa própria estrada e nossos caminhos. Somos donos de nosso destino.
Por isso, temos de aprender a nos perdoar, mesmo quando abdicamos de nossas obrigações. Quando entregamos nosso destino nas mãos de outros. Ou, por comodidade, deixamos que outros dirijam nossa vida. Criem nosso futuro.

Sendo nosso o futuro, temos que assumir a tarefa de nos tornarmos melhores. Mais adaptados a um tempo que nos cobra aprendizado e evolução.
Porque nunca estamos prontos. Nunca estamos completos. Nunca podemos dizer que sabemos tudo, de todas as coisas. O que nos obriga a tomarmos consciência de que devemos estar sempre aprendendo. De estarmos sempre atentos a aprender.

E aqui reside o problema maior de nossa sociedade. Consideramo-nos mais preparados, mais capazes ou competentes ou mais sábios que os outros. E do alto de nossa arrogância, analisamos, classificamos e julgamos a tudo e a todos.
Por esse motivo, construímos uma sociedade seccionada, dividida, esgarçada, onde o rico se acha melhor que o pobre; o branco melhor que o negro; o que mora na zona central, melhor que o que mora na periferia; o magro melhor que o gordo. Na sociedade que estamos construindo, valorizamos o corpo escultural da loura ou o a barriga tanquinho do atleta,  deixando de lado valores como a inteligência, o respeito, a solidariedade, a simpatia, a gentileza. Valorizamos o consumismo do que ostenta para parecer ser,  e não a verdade que se manifesta no semblante de quem sabe que é. E isso basta. Chegamos ao cúmulo de definir o próprio amor, rotulando o amor homossexual como nefasto, por mais sublime que seja.

Com isso acabamos ignorando o que foge a nossos padrões: de beleza, de riqueza material, de padrão de vida, de família. E condenamos todos que não se pautam por nossas definições à inexistência social. Aos diferentes, tratamos com indiferença. Transformamo-los em seres invisíveis.
Assim, negamos nossos irmãos. Repudiamos nossos iguais. Destratamos quem pode nos ensinar tantas lições. E não aproveitamos as oportunidades de trocarmos experiências pessoais, destinadas a nosso aperfeiçoamento.

Vocês formandos, meus afilhados, decidiram prestar-me homenagens nessa noite, pelo pouco que pude lhes passar de meu conhecimento e minha experiência. Como estão prestando homenagens merecidas a seus pais, irmãos, parentes, mulheres e maridos, amigos, que tanta experiência compartilharam com vocês.
De minha parte, e como pai, ouso falar também em nome de seus pais, são vocês que merecem as homenagens, por tudo que nos ensinaram. Por tanto que nos fizeram evoluir, ao exigir que nós sempre estivéssemos quebrando paradigmas, mudando comportamentos, adotando novas posturas ou enxergando o que só a juventude e entusiasmo podem nos mostrar.
Termino agradecendo a todos pela oportunidade de nosso convívio, lembrando o ensinamento transmitido pela história que um colega seus me contou um dia, em sala. Colega que, por motivos profissionais, não pode concluir o curso com vocês.

Filho de um lar desfeito, era o espírito de luta e a força de vontade da mãe, completamente analfabeta, que mantinha a união dos quatro filhos. Um dia um de seus irmãos veio da escola chorando. Querendo saber a razão do choro, a mãe perguntou-lhe o por quê do sofrimento. Por ter cometido uma indisciplina em companhia de um amigo, fora ofendido pelo pai do colega de sala.
De condição mais privilegiada, o pai falou: “é por isso que eu não quero que você ande com esse fulano. Ele não vai ser nada na vida. No máximo vai ser bandido.”
Analfabeta mas sábia, a mãe reuniu os quatro filhos no sofá e disse: “ Meu filho, se você quiser ser médico quando crescer, você vai ser médico. Se o outro quiser ser professor, vai ser professor. Se você que está chorando quiser ser bandido, vai ser bandido. Mas vai ser bandido porque quis. A escolha vai ser sempre de cada um de vocês. Só tem uma condição. Escolhido  o que quiser ser, mesmo bandido, você vai ser o melhor. Cada um de vocês será o melhor naquilo que escolheram para sua vida. Nunca deixem ninguém dizer a nenhum de vocês o que vocês irão ser na vida. 

Cada um de nós, portadores da centelha divina e da fé é que sabemos o que queremos ser e o que temos de fazer. E tenho certeza, vocês nunca deixarão de aproveitar a oportunidade de aprenderem e crescerem. Para poderem ser o que quiserem.  E serem sempre os melhores.
Felicidades. 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Política e economia; manifestações e de futebol. Está ruim comentar de tudo...

Começo reproduzindo o trecho extraído da coluna de Vinícius Torres Freire, da Folha de São Paulo de hoje, pag. A16, caderno Mercado. Escreve o colunista:
"Essa balbúrdia sem fim impede o início de qualquer reflexão mais organizada sobre o que será da economia. Que porém, vai temperar a semana."
Por balbúrdia o colunista entende a operação água na fervura protagonizada na semana passada por Dilma Roussef e o presidente do Senado, Renan Calheiros; o fogo tucano que marca o início dessa semana, tendo à frente a publicação de Fernando Henrique Cardoso, em que o ex-presidente sugere a renúncia à mandatária mor de nosso país; as manifestações de domingo último, em que um número menor de pessoas compareceu, mas ainda assim suficiente para revelar que a indignação contra o governo atual não vai ceder com facilidade; e, por fim, duas outras manifestações. Uma já marcada, para o próximo dia 20, a favor do governo, mas contrária o modo Dilma 2 de governar. Outra, que já está sendo convocada para o próximo dia 7 de setembro, pelos mesmos movimentos que têm sido responsáveis pela convocação de atos contra Dilma.r

***

A verdade é que a situação política completamente conturbada acaba ocupando o espaço das questões econômicas, que perdem importância deixando de ganhar manchetes e sendo remetidas para as páginas internas dos cadernos dos jornais.,
Dessa forma, como expressa bem a frase transcrita, fica difícil uma reflexão minimamente coerente e lógica sobre as questões econômicas.
Perante essa situação, do ponto de vista econômico, há espaço apenas para o trato das expectativas, cada vez mais deterioradas, como a informada ontem no boletim Focus que o Banco Central apresenta com as opiniões dos agentes do mercado financeiro, que prevê aquilo que já havíamos postado nesse espaço há mais tempo: não apenas haverá queda no PIB em 2015, como esse resultado deverá se repetir também em 2016. Se não se repetir, ao menos 2016 deverá ter um crescimento de zero.
***

Alguns analistas, como o próprio Vinícius, atribuem esse resultado aos desmandos de Dilma 1, e à ruína que esse período deixou de herança.
Em minha opinião, embora houvesse sim muitos problemas em Dilma 1, já está mais que na hora de deixar de assumir as responsabilidades pela situação que o país atravessa: apesar de críticas, não foi Dilma 1 e nem pode ser o responsável por tudo de ruim que estamos vivendo. O problema foi a virada ou capitulação de Dilma que se ajoelhou ao mercado e seus desígnios e errou completamente o 'timing' da aplicação das medidas recomendadas pelo mercado.
Afinal, e o próprio Vinícius se inclui dentre esses analistas, foram os homens de mercado que cobraram e exigirão até, que o país fizesse o dever de casa. Por dever de casa, entendiam o imediato e total reajuste dos preços administrados que, desde muito tempo, provoca uma elevação da inflação, sustentada, em uma economia que continua indexada como a brasileira.
***
E como parênteses, vamos lembrar que  a indexação que o Plano Real tentou eliminar, persistiu até mesmo nos contratos de transferência de patrimônio público para setores privados. Porque já constava nos editais que as contas de luz, telefonia, e outras do processo de privatização seriam corrigidas anualmente, de acordo com a variação do IGP.
Ora, se empresas podem, e outros setores privilegiados, é mais que natural que os trabalhadores queiram, mesmo que não o consigam, aumentos salariais que reponham ao menos a inflação. E os aposentados merecem também o mesmo tratamento.
***
Até uma pessoa menos atenta será capaz de entender que, os aumentos corretivos de preços, conjugado com aumentos escandalosos de juros, mais corte pesado de gastos fiscais iriam levar a economia ao fundo do posso, lançando-a em uma recessão anunciada.
Para isso e a criação de um ambiente cada vez mais pessimista, foi dada grande contribuição pela mídia, que repercutiu os aumentos de juros e preços e que, talvez até para ter mais argumentos para atacar o novo mandato da presidenta, tingiu o futuro com cores trágicas.
Pois bem: com medo o trabalhador endividado deixou de comprar. Por falta de compras, o trabalhador foi demitido. As contas que ele já tinha feita, e que ele ainda tentou manter em dia, começaram a ficar com seus pagamentos atrasados.
Sem produzir as empresas pararam de transferir recursos para o governo. A arrecadação tributária, basicamente obtida de impostos sobre a produção e a circulação, caiu estrondosamente. O déficit fiscal mostrou-se impossível de ser coberto, ao menos o nominal. Mais juros, mais cortes de gastos, mais aumento de inadimplência, e o deus nos acuda está formado.
Daí que é mais ou menos natural que 2016 sofra a influência desses efeitos, que nada têm a ver com Dilma 1.
Já é sim, fruto da política cobrada por tantos que eram os sábios da economia e que destilavam suas políticas ortodoxas para todo canto.
***

Mas voltemos à outra manifestação, em tese a favor da manutenção de Dilma no poder, contra o golpe e contra o pacote econômico da Dilma que traiu a todos seus eleitores.
Traição que está lhe saindo muito caro, em termos de popularidade, como os índices das pesquisas de opinião revelam.
O problema é que, apesar de ser a favor de Dilma e seu mandato, a manifestação das esquerdas é também contra a política de Dilma, e a política de Dilma é a síntese de seu mandato.
A essa altura, e com a sinalização que Dilma vem fazendo, no sentido e direção de que,  para conseguir se sustentar politicamente vai se curvar ainda mais ao interesse dos mais privilegiados, fica muito confusa a situação.
***
Indícios de que Dilma está aprofundando a fuga de seus eleitores e de sua base de apoio, podem ser contados aos montes: a aceitação do pacote sugerido por Renan, que praticamente faz regredir todas as conquistas sociais que o PT de Lula e do primeiro mandato da presidenta tanto se orgulham de mostrar.
Afinal, deixar de ter obrigação, como é hoje de o governo usar recursos para bancar a saúde e a educação, é deixar ainda mais precário e pior a situação já vivida nessa área, por toda a população.
Aventar a possibilidade de cobrança no Sistema Único de Saúde, o SUS, é proposta ridícula, mesmo que a cobrança seja em função do nível de renda do beneficiário.
Aprovar a terceirização, de forma a ampliá-la, é outra questão que atenta contra o direito dos trabalhadores. E tem muito mais no pacote de Renan, que entre outros privilegia os planos privados de saúde, os rentistas e os banqueiros.
Fora do pacote, e tendo em vista o corte de gastos, agora surge a questão de deixar de pagar a antecipação do 13º salário aos funcionários públicos aposentados.
O que serve apenas para jogar por terra o minúsculo apoio que Dilma ainda mantém de 8% apenas, da população.
***
Mas, parece que Dilma, querendo passar para a história e ter seu nome nos livros colegiais, irá optar por abandonar aqueles que a conduziram até o Planalto e se juntar aos vencedores de sempre.
***
Apesar de crer nisso, e de como isso será tratado nos livros de História apócrifos (aqueles feitos pela visão não oficial), é também no mínimo curioso, ver FHC vir a público como que a solicitar que Dilma renuncie.
Segundo o ex-presidente, a renúncia seria um ato de grandeza da presidenta.
O que é no mínimo uma proposta de muito baixo nível de quem se arvora em um homem fino, elegante, etc.
Ora, em minha opinião, deixando de lado outras questões de preferências, a ninguém é lícito sugerir ou solicitar que outra pessoa desista. Ou no caso, que renuncie.
Essa é e deve ser sempre uma questão de foro íntimo, não merecendo ser aventada por quem quer que seja.
E tal solicitação classifica-se na mesma categoria desprezível em que se encontra, por exemplo, a sugestão de alguém que já conta tempo, exercer seu direito de aposentar-se. Ou a de alguém que recomende a outrem que se mate, quando a vida estiver tomando caminhos que trazem muitas aflições e dores e perdas para a outra pessoa.
***
Mas, de FHC é possível esperar tudo, já que ele fala e depois esquece, como já mandou esquecer, um dia, tudo que ele escreveu.




E o futebol

Já que está difícil tratar de política ou de economia, que tal o futebol?
Acho que está pior, ou igualzinho ao ambiente que domina o país.
Afinal, terminado o primeiro turno, o que temos pela frente?
Um Corínthians que está com 40 pontos, à frente de todos, e que tem jogado mal, em algumas ocasiões pior até que seus adversários.
Mas, se o Coringão vai mal, que tal o juizão dar uma ajuda?
Foi assim contra o São Paulo, contra o Sport, contra o Avaí...
***
Já do lado do vice-líder, o Atlético, é forçoso reconhecer que perdeu força, e está em queda de produção.
Talvez explicado o desempenho, pelas contusões de Guilherme, Dátolo, Luan, e agora que estes estão voltando recuperados, pela saída de Giovani Augusto.
Mas, que o Atlético não está mantendo o mesmo padrão de jogo, é visível.
O que não justifica as derrotas, já que em minha opinião, isso se deve ao juizão, que prejudicou o time, ao menos na partida contra o Grêmio com o pênalte não marcado logo no início da partida, e contra o Chapecoense.
***
Então, fica também difícil tratar de futebol com seriedade, quando um time tem a seu lado a Força, no caso a CBF.
E, infelizmente, nesse 2015 como fora antes, no ano de 2012, em relação ao Fluminense, há muito mais a vencer do que apenas os adversários em campo, para que o Galão volte a conquistar o Campeonato Brasileiro.
Uma pena!

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Política econômica, câmbio e operações de swap: uma pequena explicação do significado de tais operações

De forma a se enquadrar na nova lógica da política econômica adotada nesse segundo mandato da presidenta Dilma, de cunho nitidamente mais liberal, mais voltado ao livre funcionamento dos mercados, o Ministro presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, anunciou a disposição da Autoridade Monetária em reduzir, até eliminar, a intervenção no mercado de câmbio, que caracterizou grande parte do mandato anterior.
Antes de avançar em nosso pitaco, é importante deixar claro que o sistema de câmbio utilizado em nosso país, desde a crise cambial de início de 1999, é o câmbio flexível ou flutuante, comumente apresentado como o funcionamento livre do mercado de moedas estrangeiras, ou seja, o mercado onde o preço é determinado pelas leis da oferta (os que têm moeda estrangeira para vender) e da procura (os que têm que comprar moeda estrangeira). Aprofundando um pouco mais a explicação, entre os agentes que têm moeda para vender, encontram-se os empresários exportadores, que venderam parcela de sua produção para o estrangeiro, ou ainda os ainda aqueles que receberam empréstimos ou têm dinheiro a receber por qualquer motivo, no exterior. Por outro lado, do outro lado, encontram-se os agentes que têm compromissos a pagar no estrangeiro, ou por terem efetuado importações, comprando produção no exterior, ou aqueles que têm que pagar juros, amortizar empréstimos, pagar dívidas.
Em cada momento, o mercado livre vai fixar o preço da divisa ou moeda estrangeira, levando em conta a existência de maior quantidade de ofertantes da moeda (oferta) ou de demanda.
Nesse caso, se a oferta é maior, cai a cotação do dólar. Ao contrário a cotação sobe, o dólar passa a valer cada vez mais.
***
Só lembrando, desde o início do Plano Real, e principalmente nos tempos do governo Lula, a prática de juros estratosféricos sob a justificativa de combater a inflação, comumente vista como sendo consequência de excesso de demanda, acabou provocando uma verdadeira enxurrada de dólares em nosso país, com o capital estrangeiro se dirigindo massivamente para aproveitar as taxas de juros mais rentáveis do planeta. 
Isso provocou a desvalorização do dólar, e a valorização do real, com efeitos como, entre outros, provocar o encarecimento da produção brasileira cujo preço é em real, a moeda mais cara, promovendo a redução de nossas exportações industriais. (Dadas as suas características, a produção de commodities geralmente não é afetada por movimentos cambiais). 
Por outro lado, a desvalorização do dólar tem como consequência a redução do preço de produtos importados, o que fez aumentar nossas compras no estrangeiro, em detrimento, mais uma vez de nossa produção industrial.
Isso explica, em grande parcela, o porquê da indústria nacional ter perdido tanto mercado e, principalmente, a importância relativa que tinha na formação de nossa produção ou PIB.
***
Como resultado dessa valorização do real, nossos empresários passaram, em muitos casos a optar por substituir os fornecedores nacionais de insumos por produtos importados, condenando cadeias de fornecimento de partes, peças, componentes ao desastre.
Mas, se na oportunidade, esse comportamento era racional, dada a possibilidade de redução de custos de produção, essa situação poderia acabar sendo prejudicial se, por qualquer motivo, alheio à nossa vontade, o dólar voltasse a subir de valor.
Caso isso acontecesse, sem qualquer responsabilidade de nossa parte, as matérias primas mais caras iriam provocar um aumento do custo e dos preços, gerando inflação.
***
Mas, voltando ao Banco Central, mesmo nosso regime cambial sendo flexível, é sempre possível, dentro das regras do jogo do mercado, haver alguma intervenção por parte daquele órgão. Para tanto, basta que o Banco participe do mercado, comprando ou vendendo moedas estrangeiras, o que significa, dado o seu porte e a grande quantidade de moeda que detém como reservas, impor sua vontade ao mercado. Ou seja, como maior 'player', o Banco Central despeja dólares no mercado, quando quer fazer a cotação reduzir-se ou entra comprando dólares, no caso oposto.
***
O interessante, dado o desenvolvimento dos mercados financeiros, é que o Banco Central pode assumir esse papel mesmo sem ter de realizar qualquer desembolso de moeda que ele tem em reserva. Para isso, basta que ele faça uma operação conhecida como 'swap' cambial, ou a troca de uma remuneração sobre um ativo qualquer, pela troca da remuneração paga por outro ativo. 
Ou seja, basta o Banco Central propor comprar a remuneração equivalente à variação cambial e vender, em troca, a remuneração equivalente, por exemplo ao que é pago pelos títulos públicos ou o valor da remuneração dos certificados de depósitos bancários (lastreado nesses títulos), os CDI.
Uma explicação facilita o entendimento. Mas antes, devemos propor uma outra ilustração, para maior clareza do objetivo por trás das ações do Banco.
***
Comecemos imaginando um padeiro que comprou farinha de trigo importada da Argentina para fazer o pão francês, prometendo pagar o trigo em 60 dias, em dólares (usamos a moeda americana apenas para facilitar o entendimento!). 
Ao receber a farinha ele sabe que tem de pagar, por exemplo, 1 milhão de dólares em sessenta dias. E para dar conta de seu compromisso, começa a produzir e vender pães. 
Mas, por estar no Brasil, a receita de vendas gerada pelo pão é toda recebida em reais. Para não ficar com dinheiro parado, enquanto ele produz e vende pães, ele aplica o dinheiro em reais na compra de títulos públicos, para receber um rendimento em DI. 
Decorrido o prazo de sessenta dias, ele deverá tirar o dinheiro aplicado e comprar dólares pagando seu compromisso.
Ora, se a aplicação que ele fez em reais rendeu um juro maior que a variação cambial do preço do dólar, ele teve além do lucro na produção, um ganho financeiro, devido à diferença das taxas de aplicação, em DI frente à do dólar.
Caso o dólar apresente uma elevação de preço maior que a taxa de juros, ele teve um prejuízo financeiro e ficou mais difícil para ele obter a lucratividade no negócio de panificação.
***
Esse é um problema que todo o importador tem pela frente e teme: o dólar começar a subir de preço e consumir parte do ganho gerado na atividade produtiva do empresário.
Assim, se por qualquer motivo o dólar começar a subir seu valor, o empresário começa a ficar preocupado, e procura antecipar as compras da moeda estrangeira, com medo de ela subir cada vez mais até a data em que deverá ter a moeda em suas mãos.
E ao se apavorar com suas expectativas pessimistas, ele corre e compra dólar no mercado 'spot' ou a vista, e aumenta a demanda pela moeda americana, pondo mais lenha na fogueira, ou seja, ele mesmo ajudando a elevar o preço do dólar, dada a maior procura de que ele faz parte.
***
Pois bem, o objetivo do Banco Central ao fazer o 'swap' é dar uma proteção ou 'hedge' a esse nosso panificador.
A operação é feita como se fosse uma venda de dólar para entrega futura. O Banco anuncia que vai vender dólar, ao preço pouca coisa diferente da cotação da moeda no mercado a vista, em geral, acima, dado que o preço é o futuro, ou seja, o que o mercado está esperando que o dólar estará custando no prazo de sessenta dias. Em nosso exemplo, como a cotação está é se elevando, o dólar futuro deverá ter um preço maior que o a vista.
O Banco Central então vende dólar por cotação maior que aquela do dia, mas inferior à que o mercado está esperando para sessenta dias.
Com isso, o produtor ou empresário pode comprar o dólar e ficar seguro de que o preço da moeda já não trará maior implicações para seu negócio. Ele assegura que irá ter em mãos, quando necessário, o dinheiro para pagar seu compromisso.
E isso a um preço inferior ao que suas expectativas ou palpites estariam esperando ter de pagar.
***
Para a Autoridade essa operação é interessante porque ele tira do mercado à vista esse empresário, ou seja, a demanda não terá motivos para continuar se aquecendo e fazendo a cotação subir.
E tudo isso, sem que ele precise de gastar recursos para comprar os dólares para entregar ao panificador, já que apenas em sessenta dias é que ele terá que entregar a quantidade de moeda vendida.
Passados os sessenta dias, aí sim, o Banco terá que fazer um desembolso, comprando dólares para entregar ao empresário que comprou a moeda.
Se o dólar atingiu o valor que todos esperavam, o Banco terá que pagar o valor do dólar mais caro que o que recebeu pela venda daquela quantia. O Banco terá um prejuízo. Caso o dólar tenha caído de preço, o Banco faz um lucro por ter vendido a moeda a preço maior que aquele que lhe custará comprar a divisa.
***
O cliente fica tranquilo, e o mercado fica avisado de que, como ninguém deseja ter prejuízos, o Banco Central irá fazer tudo que estiver ao seu alcance para jogar o dólar para baixo.
Por isso a ação do Banco Central no mercado acaba derrubando, efetivamente, a cotação da moeda estrangeira.
E o BC fez a flutuação suja.
***
No caso do 'swap', a operação é um pouco diferente, já que o Banco Central está fazendo a seguinte proposta: você panificador está aplicando e ganhando rendimentos em DI, por outro lado, eu tenho dólares e posso ganhar a variação cambial. Mas você tem um compromisso em dólares, que sofre a incidência dessa variação cambial, e pode ser prejudicial a você.
Então, o Banco propõe pagar a variação cambial ao panificador, o que significa que, qualquer aumento do preço da moeda estrangeira quem irá arcar será o Banco. Por outro lado, a variação do dinheiro aplicado pelo panificador para ganhar juros em DI será dada em troca para o Banco.
Nessa operação, não entra nenhum dinheiro, nenhum gasto de recurso de nenhum lado: o Banco não irá precisar comprar nem agora, nem depois, qualquer quantidade de moeda estrangeira. Ele apenas irá comparar dentro dos sessenta dias, qual das duas taxas variou mais, ou aumentou mais. Se a variação do câmbio foi maior, o Banco paga a diferença das duas remunerações, em reais ao empresário.
Com esses reais, mais os da aplicação e juros, o empresário irá comprar o dólar a preço mais caro, mas isso pouco importa para ele, porque quem paga o que ele paga a mais é o Banco.
No caso de a variação do câmbio cair, ele paga a diferença de taxas para o Banco Central.
O efeito é o mesmo, de permitir ao empresário fazer um 'hedge'.
Para o Banco, o efeito foi de evitar que esse empresário tenha de ir ao mercado comprar dólares ajudando a cotação da moeda a subir a cada dia.
***
Dada essa explicação, que espero tenha ajudado a clarear as operações realizadas, podemos verificar que ao fazer ou renovar operações de 'swap', o Banco está novamente indicando que tudo fará para que o dólar não se valorize, o que deve servir como um alerta para o mercado de que o dólar não irá continuar subindo.
Isso permite que muitos agentes fiquem mais tranquilos e deixem de correr para comprar dólares à vista, elevando o preço do dólar.
O Banco Central ao agir para  'segurar' o preço do dólar ajuda a conter a elevação de custo das matérias primas e isso contribui para o combate à inflação.
Entretanto, persiste o problema do sucateamento da nossa indústria, em função do dólar mais desvalorizado.
***
Foi isso que durante grande parte do primeiro mandato de Dilma o BC fez. E foi isso que ele prometeu deixar de fazer, não renovando a totalidade dos títulos de operações de 'swap'.
No início do ano, de fato, começou a renovar apenas 70% do total de operações da espécie. Depois passou a renovar ou rolar apenas 60%.
Mas, com a disparada do dólar nesse início de segundo semestre, em especial, no mês de agosto, ele resolveu voltar a intervir e anunciou que iria renovar maior quantidade de operações, o que eleva, mantido o comportamento no restante do mês, a rolagem para 100%.
Com isso, o dólar fica contido e não promove a degradação do estado de expectativas que encontra-se em curso, em função dos problemas principalmente de cunho político que estão afligindo as questões de âmbito econômico.
***
O problema é que, se o Brasil e o resto do mundo continuar vendo o Congresso ferir Dilma para fazê-la sangrar e perder todo o poder, já desgastado; se ao avaliar a economia brasileira, os credores internacionais concluírem que Dilma não terá condições de cumprir o compromisso que eles tanto nos cobram, de equilíbrio fiscal; se perdermos o grau de investimento em nossa avaliação pelas empresas de 'rating'; se os Estados Unidos passarem a elevar suas taxas de juros como têm anunciado; se os nossos clientes de exportações de commodities não aumentarem suas compras, e se o preço das commodities continuar caindo no mercado internacional, como tem sido a tônica até aqui, não há razão para que o capital financeiro externo aplicado aqui não queira ou tenha que ir embora.
Se tiver que haver uma debanda de capital externo do nosso país, o dólar irá subir independente do desejo do Banco, o que fará o BC ter grande prejuízo, nossas exportações caírem ainda mais, e a inflação se elevar.
O que irá forçar a novo aumento das taxas de juros, e aprofundar nossa recessão e fazer crescer nossas taxas de desemprego.
Ou seja, o pior dos cenários.
***
Por esse cenário, é que o BC resolveu voltar atrás na promessa feita. Embora como deve ficar claro, não depende de sua vontade apenas, ele obter o efeito desejado.
De mais a mais, há muito que questionar, em relação ao ajuste fiscal que o governo vem tentando realizar, especialmente frente a sua fragilidade junto ao Legislativo, que continua fazendo tudo ao seu alcance para fazer as propostas não serem implantadas.
***
E o povo culpa Dilma, cujo maior pecado foi ter deixado de lado suas convicções para se curvar ao mercado e a seus interesses.
Ao ter feito o que corretamente tem sido chamado de estelionato eleitoral, adotando a política econômica que seu adversário é que anunciava, Dilma perdeu apoio em suas bases, junto aos movimentos que a sustentavam, sem obter o apoio daqueles que já não estavam a seu lado.
Em parte, a culpa é da própria Dilma e seu governo, que ao invés de reconhecer os vários erros na insistência de uma política que mostrou-se inoperante, a de subsidiar lucros dos empresários, resolveu aprofundar tal política, o que levou a uma fragilização das contas públicas.
Por outro lado, ao tentar, agora, promover a responsabilidade fiscal, volta-se contra tudo aquilo que foi considerado a maior conquista do governo de seu padrinho, Lula, e do início de seu mandato.
E mais uma vez, o ajuste recai apenas sobre o ombro da classe trabalhadora, que vê a cada dia, acentuar-se as perdas das conquistas, extremamente positivas para toda a economia, que obtiveram nos doze anos de governo petista até aqui.
É isso. 

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Retomada de atividades sem pauta bomba. E Cunha ainda sai como democrata merecedor de respeito

Iniciado o mês de agosto, o país já vai voltando à normalidade: trânsito caótico, carros em fila dupla à frente do portão das escolas, milhares de meninos de uniforme pelas ruas e avenidas, o Congresso de volta após o recesso, e a perspectiva de uma retomada dos pitacos de forma mais constante.
Perguntava-me eu, a razão de ter diminuído a frequência das postagens desses comentários meus, embora acredite que muito poucos dos amigos leitores tenha percebido isso.
Mas a resposta não tardou a surgir, quando li ou ouvi em algum lugar da imprensa alguém comentando que o segundo semestre desse ano de 2016 promete muito, diferente da inércia da economia e das notícias econômicas na primeira metade do ano.
Talvez seja essa a explicação e, sendo assim, embora a coluna tenha o interesse claro de tratar de questões econômicas, podemos esperar bastante tema para discussão em agosto, embora mais do ponto de vista de política, em geral.
***
Entretanto, tratar de questões da política não nos afaste muito da economia, já que, a política econômica estará também ocupando grande parte das atenções, como algumas das situações desse início de retomada dos trabalhos legislativos servem para nos alertar.
Afinal, apenas no dia de ontem, tivemos o ministro Levy em mais uma peregrinação pelo Congresso, agora para se entrevistar com Renan Calheiros, presidente do Senado, na tentativa de convencer aquela Casa a votar a parte final do pacote de ajuste fiscal, que trata da desoneração da folha de pagamentos, que o governo deseja modificar.
***
Por outro lado, no mesmo instante, na Câmara os deputados mostravam clara intenção de aprovar a proposta que redundaria em elevação das remunerações dos advogados da União, com consequências imediatas sobre a folha de pagamentos da União, mas também de Estados e municípios, em função das emendas que estendem a nova regra aos advogados de todos os demais entes administrativos.
O que permitiu que Eduardo Cunha, esperta, hábil, e oportunisticamente pudesse fazer um discurso em que afirmava que, junto ao colégio de líderes, decidira adiar a votação da matéria apenas no dia de hoje, quarta, 5, para evitar que a proposta expandida pudesse trazer uma obrigação para os demais entes tais como estados e municípios que inviabilizaria suas contas.
Ou seja, aproveitou o momento para declarar que, como presidente da Câmara não pretende e não vai colocar em votação, de forma irresponsável, projetos que comporiam uma pretensa pauta bomba pelo poder de destruir as finanças da União e os esforços feitos para reencontrar o equilíbrio fiscal. 
Em seu discurso deixou claro que sua preocupação maior é com o país e, dessa forma, justificou o adiamento da votação da matéria para que houvesse tempo para que as negociações que seriam prolongadas permitissem atender aos reclamos da classe de advogados da União apenas, sem a natural expansão do benefício a outras esferas e categorias.
***
Com tal discurso, buscando evitar ser responsabilizado pelo fracasso eventual de o governo alcançar o superávit primário proposto, concordou com o adiamento de prazo solicitado pelo Executivo, em relação à problemática questão da correção dos recursos do FGTS.
Vale dizer que, como outras matérias da pauta, a questão da correção dos recursos do Fundo de Garantia é mais que necessária, tendo em vista que há muito tempo a remuneração prevista e creditada, de apenas 3% ao ano,  vem perdendo feio da inflação.
Ou seja, a correção como se encontra "rouba" o futuro do trabalhador, que conta com os recursos do Fundo para quando chegar a sua aposentadoria. 
Ora, com a remuneração atual e no ritmo que caminha a inflação, seria mais que justa a proposta que determinasse que o FGTS não poderia remunerar abaixo da inflação do ano. Ao menos para assegurar o valor da parcela vinculada a cada trabalhador. 
Mas, isso traria um evidente problema para o governo, que utiliza-se desses recursos muito baratos, para financiar programas de financiamento de planos de investimentos.
***
Mas, se hábil e tranquilo em seu retorno, Eduardo Cunha sabe que munição para trazer o desconforto para o governo Dilma que ele pretende gerar. 
Apenas duas situações: a primeira, a aprovação da instalação de Comissões de Inquérito, as CPIs  do BNDES e dos Fundos de Pensões ambas de potencial extremamente explosivo,  sem qualquer representante do PT em seu comando, o que é extremamente ruim para o governo; a segunda, a aprovação do critério de urgência para o exame de contas do governo, desde a época de Itamar, de forma a poder abrir caminho para a discussão em plenário das contas de Dilma, exatamente essas relativas a 2014, que o TCU deve votar pela desaprovação.
Uma terceira situação, pronta para explodir no colo de Dilma é apontada pela Folha de São Paulo no dia de hoje, sob a forma de uma manobra destinada a levar para a pauta e para o plenário, o pedido de abertura de impeachment de Dilma.
Cunha rejeitaria dar continuidade aos pedidos vários relacionados à matéria, o que levaria um deputado entre os vários paus mandados do presidente da Câmara ou um dos golpistas de plantão instalados na Casa, a recorrer da decisão de Cunha. 
Por um lado, Cunha sairia como não favorável ao golpe, e o recurso tornaria a abertura do processo de impedimento da presidenta uma decisão do plenário, em votação simples, cujo resultado exige apenas maioria simples.
Hábil. Muito bem arquitetado o plano. Pena que pessoas possam compactuar com tal comportamento, aproveitando-se oportunamente e em proveito próprio de tal situação que, se não corrompe a folha de serviços prestada ao país, aliás, algumas bastante discutíveis, macula a memória dos antepassados, que tanto lutaram pela manutenção das regras do jogo democrático.
***
Quanto a José Dirceu, pouco a comentar, exceto que quem foi pego cometendo ilícitos deve pagar. E só.
Apenas lamentar que o juiz Moro não pudesse ter atuado em casos como o do mensalão mineiro, ou do mensalão do DEM de Brasília, ou do caso do metrô de São Paulo, para dar a tais questões, a mesma celeridade da operação Lava Jato. 
Se .... se é que nesses outros casos, mesmo com a presença do Juiz Moro, o processo mudasse seu ritmo de tramitação.
***
Os resultados econômicos vêm saindo, em respeito ao calendário de sua divulgação. Do lado externo, tivemos o anúncio de um resultado positivo, o que é importante. Mas não compensa o péssimo resultado negativo das contas públicas do primeiro semestre do ano.
Sobre números ou esses números iremos tratar em outras postagens, nos dias que seguem.
Outro assunto passível de ser tratado tem a ver com as colunas e comentários que Samuel Pessoa tem publicado em sua coluna da Folha. Mas a pregação desse professor é tão repleta de viéses e sua retórica tão pobre, que não vale a pena perder tempo discutindo seus textos. Nem os lendo.
***
É isso.