segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Esgotou-se a capacidade de Levy ou ela nunca foi uma Brastemp?

Já há algum tempo tenho manifestado aqui nesse espaço, meu desagrado com a indicação e as medidas adotadas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no afã de promover o ajuste fiscal, debelar a inflação e tornar a fazer a economia brasileira andar nos trilhos.
Para todos que seguem lendo esses pitacos, sempre deixei claro que, por mais que fosse necessário acabar com o represamento dos preços dos combustíveis e por mais que fosse necessário promover o ajuste das tarifas de energia elétrica, essas medidas, por sua capacidade de influenciar custos e preços, colocando mais lenha na fogueira da inflação deveriam ser escalonadas de forma a não ter seu impacto todo concentrado de uma vez só, alongando-se o prazo dos ajustes.
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Por outro lado, enquanto promovia o tarifaço, o ministro dava declarações que levavam o mais afoito dos otimistas a ficar atemorizado. Desejando conseguir imediatamente obter a aprovação - de resto politicamente muito difícil - das medidas de seu pacote fiscal, o ministro pintou um quadro para a economia brasileira cujo efeito foi influir na psicologia do consumidor e do empresário nacional.
Atemorizados pelo quadro pintado pelo ministro, de dificuldades enormes, os consumidores começaram a tomar medidas para evitar gastos, não apenas os supérfluos, mas reduzindo até mesmo as compras de bens imprescindíveis ao dia a dia.
Tal reação dos consumidores foi ainda mais fortalecida quando o Banco Central, que já vinha puxando a taxa Selic para cima, desde o final das eleições, deu sequência a uma política de elevação sistemática dos juros, com declarações que deixavam antever que essa política seria adotada até que o mercado começasse a projetar a taxa de inflação brasileira, de forma convergente para o centro da meta, os 4,5%.
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Com a política monetária ativa e contracionista, e juros do crediário alcançando proporções estratosféricas, os consumidores trataram de privilegiar o pagamento de prestações já contratadas, e contribuindo para a queda de vendas do comércio, o que ajuda a explicar, entre outros motivos, a razão de o setor de serviços apresentar o primeiro recuo em 25 anos.
Do lado do empresário, as medidas do ministro ainda foram consideradas mais graves, com a elevação de custos sendo acompanhada de elevação de tributos, o final de desonerações culminando pela proposta de recriação da CPMF, o imposto do cheque na semana passada.
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Vendo suas vendas se reduzirem, as encomendas cessarem, os pátios ou as prateleiras se encherem de produtos estocados, o clima criado pelo ministro contaminou todo o ambiente, e o pessimismo quanto à capacidade da economia reagir como esperado acabou dando origem a toda a série de tomada de decisões cujo resultado último tem como alvo o emprego.
O nível de desemprego começou a subir em meio à previsão de cada vez maiores dificuldades de o governo aprovar as medidas duras no Congresso, que ainda contribuía para que o circo pegasse fogo de vez, aprovando uma série de medidas cujo resultado acarretaria aumento de gastos.
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Com isso, a cada semana foi se degradando o humor dos homens de negócios, com a inflação se elevando, até por efeito da inércia e do medo; a previsão de crescimento da produção caindo até abaixo de zero, quando as variações das estimativas começaram a apresentar crescimento, ou seja, a previsão de crescimento negativo foi se elevando até alcançar mais que 2,2 % do PIB, e as taxas de desemprego e queda do nível de renda real dos trabalhadores brasileiros começaram a crescer.
Em um ambiente como esse, a psicologia dos homens de negócios, conforme anunciada por Keynes há mais de 80 anos é a de correr para a liquidez e não reagirem elevando investimentos.
De resto, investir para aumentar a capacidade produtiva de uma empresa que não está usando nem a capacidade já possuída é gesto completamente irracional.
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Com tamanha queda do produto, já refletida nos índices de produção do IBGE, tanto no primeiro quanto no segundo, quando sofreu um agravamento digno de nota, não poderia acontecer, com as contas públicas nada diferente do que se deu: a arrecadação das receitas do governo apresentaram queda vertiginosa enquanto os gastos, embora contidos, ficaram estáveis ou apresentaram crescimento desprezível.
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Claro que ninguém duvida que o ministro sabia que era isso que iria acontecer com a receita do governo, tamanho o baque do nível de atividade econômica que ele mesmo protagonizou. E, com receitas em queda era evidente que haveria um déficit nas contas públicas, tornando o objetivo maior do ministro completamente fora de alcance.
Daí a razão da redução da previsão do superávit de 1,1% do PIB, no ano, para 0,15%, com a possibilidade já embutida, de haver um déficit primário no ano.
Com déficit no primário, e juros cada vez mais elevados em perseguição à queda da inflação, não é de se estranhar a previsão de crescimento do déficit nominal, cujas estimativas já alcançam os 70% do PIB, para o ano que vem.
O que representa um quadro de deterioração acelerado do indicador e a possibilidade quase certeza de as agências de risco retirarem do Brasil o grau de economia de investimento.
E o ministro irá dizer, com apoio da midia submissa e do mercado e seus analistas ortodoxos, que tudo foi culpa do ministro anterior, aliviando a barra do atual.
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Mas, como é impossível tapar o sol com a peneira, o blog de Josias de Souza, hospedado no portal UOL, traz hoje o sugestivo título de " Capacidade de Levy de evitar o pior já se esgotou", embora no texto ainda a culpa maior seja a combinação dos "três flagelos" provocados pela gestão anterior de Dilma.
E no texto já se admite que o buraco nas contas públicas seja um insucesso dos planos de Levy, embora alegando que tais planos fracassaram pela estagnação da economia, como se tal paralisação não fosse já resultado do tal ajuste, e do discurso de terror do ministro.
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Mas, em minha opinião, mais interessante não é, como Josias faz em seu blog, admitir que apenas medidas duras, já propostas pelo ministro, afetando até programas sociais devessem ser tomadas para que a situação das contas públicas se agrave ainda mais.
Informa o blog, que para evitar o pior, medidas antipáticas teriam de ser adotadas, algumas alterando regras da previdência e do INSS, o que não é muito provável de ser acatado em período de instabilidade flagrante do governo.
Ao mesmo tempo, nos informa que o ministro propôs uma revisão de todos os programas do governo, inclusive os sociais, para evitar sobreposições de gastos e buscar uma racionalização.
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Pois bem, ontem, no Ilustríssima da Folha, dois autores, Felipe Salto e Nelson Marconi, sob o sugestivo título de "O novo emplasto Brás Cubas" mostram que o ajuste fiscal pode ser feito sem cortar conquistas sociais importantes.
E mostram com alguns dados sua ideia principal, a de que o caminho mais eficaz para elevar a solvência e a poupança do setor público passa pela melhoria de gestão, com medidas simples como controle de preços de compras públicas (sempre mais caras que o equivalente para o setor privado) e análise de pessoal ativo de forma séria (mostram, por exemplo, que foram contratados na gestão petista 86 mil docentes para 76 mil servidores nas áreas administrativas da educação. O que é um exagero, convenhamos!).
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O artigo deve ser estudado em profundidade e talvez seja objeto de críticas que uma leitura menos aprofundada não me permitiu fazer. Mas que o texto é interessante, não se nega. Recomendo pois, sua leitura.
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Fugindo um pouco ao tema, também merece leitura a coluna com a resposta dada por Antônio Prata a Samuel Pessoa, o professor de economia que o atacou em coluna anterior. A resposta em minha opinião consegue desnudar o professor e a sua  pretensa capacidade analítica e de imparcialidade. Como Prata também acho que o professor só enxerga um lado das coisas, assessor que é ou foi, do PSDB, para não dizer que suas análises estão revestidas em algumas situações de desonestidade intelectual.
É isso.




E o GALO joga e dá sorte

Devo confessar que colocar Patric em campo e mandar que ele ficasse mais à frente, com Marcos Rocha, um dos melhores passes do Galo, na defesa, onde o lateral titular mostra ter deficiências de marcação, e ainda ver, Marcos Rocha indo à linha de fundo e tocar para Patric marcar o gol da vitória de ontem, contra o Flu é mesmo coisa de Burro com Sorte.
Aliás título do livro de Levir, que mostra que a ousadia no futebol merece ser sempre buscada.
No mais, apenas o comentário de que gostaria de entender porque um jogador que tem a bola dominada lá na área do adversário, com o time pressionando e atacando sempre, e conseguindo não deixar espaços vagos para as jogadas do adversário começa a pegar a bola e, ao invés de tentar alguma jogada de mais profundidade, maior agudeza, ou de busca do gol, atrasa a bola para o seu goleiro, do outro lado do campo.
Afinal, sempre aprendi e acredito que a melhor defesa é o ataque, e que quando um time joga atrás ou para trás, está é chamando o adversário para cima.
Enfim, ganhamos e mantemos a perseguição ao time do Corínthians, o que é mais importante no momento.
Afinal, lembro-me de 2012, quando o Flu e o Grêmio não deixaram o Galão desgarrar-se e o campeonato acabou com o Flu ultrapassando e (com a ajuda da CBF, como o Coringão está tendo agora, da arbitragem) chegando ao título.


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