quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Postagens de um outubro seco e árido, e não apenas no clima, mas de ideias

Difícil tecer quaisquer comentários quando as notícias que a imprensa repercute tratam do nada edificante bate-boca entre a presidenta da República, Dilma e ninguém menos que o deputado Eduardo Cunha, que vem a ser apenas o presidente da Câmara de Deputados do país.
Tudo bem que Renan Calheiros seja o presidente do Senado, Aécio o presidente do partido de oposição (faz-me rir!!!) e Delcídio Amaral, um dos próceres do PT.
Aliás, justiça seja feita, do grupo citado acima, é mais que necessário deixar claro que duas pessoas não estão na lista de suspeitos de terem se aproveitado do repasse de comissões e propinas e verbas para campanha das denúncias da operação Lava-Jato: a presidenta Dilma (ao menos diretamente) e Aécio, que só aparece na lista por, em minha opinião tentar se passar por algo que, definitivamente não consegue ser.
Afinal nem Aécio, cujo comportamento está mais afeto à tradição "de cima do muro" tanto quanto seu avô Tancredo, quanto o PSDB embora tente não consegue chegar a incomodar o governo como gostaria ou deveria.
Já os demais nomes estão sob suspeição, especialmente o do deputado Eduardo Cunha, dono de polpudas contas na Suíça.
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Mas, para não perder definitivamente o foco, o que eu gostaria de abordar é a viagem da presidenta Dilma a dois países da Escandinávia, Suécia e Finlândia, com o objetivo divulgado pelo Ministério das Relações Exteriores de dinamizar as relações bilaterais, adotando o "Novo Plano de Ação de Parceria Estratégica", discutindo a cooperação do Brasil em áreas como investimentos, comércio, energia renovável e educação.
Aproveitando a viagem, Dilma esteve também em visita à fábrica da Saab, parceira comercial de nosso país na operação que envolveu a aquisição dos caças Gripen daquela empresa, em negócio de mais de 5,4 bilhões de dólares.
Apenas torço para que no futuro Dilma não venha a ser acusada de estar em viagem, em visita à Saab e até tendo a oportunidade de entrar e ter assento em um dos jatos, por favorecimento àquela empresa.
Porque esse é ou passa a ser o temor doravante: o presidente que sai mundo afora vendendo a imagem das empresas de seu país e de seus bens e serviços, como todo os presidentes de todas as Repúblicas do mundo o fazem, ser acusado de estar a soldo de tal ou qual empresa.
Como está ocorrendo com Lula, no caso da Odebrecht, OAS e outras empresas de construção pesada.
Embora seja necessário também dar o devido desconto, já que na época de FHC, embora ironizando as viagens de nosso caixeiro viajante, a imprensa não chegava a ponto de apresentar nosso mandatário como garoto de recados ou boy de qualquer interesse empresarial.
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Não percamos o foco. Tradicionalmente, a viagem de um presidente gera uma calmaria, ao menos no mundo político e nas notícias que envolvem esse assunto.
Mas, tendo em vista o momento especial e interessante que estamos atravessando no país, não é o que temos visto.
Tanto que, para surpresa de quantos puderam acompanhar a evolução dos acontecimentos, já na segunda feira, tradicionalmente um dia morto, sem vida e assunto em Brasília, especialmente nas dependências do Congresso, tivermos movimentação, com Eduardo Cunha presente em seu gabinete e não perdendo a oportunidade de alfinetar a presidenta e sua declaração em relação às acusações que pesam sobre o deputado.
O que foi o bastante, nesse deserto de ideias e de clima seco e árido que cerca a região Sudeste e Centro-Oeste do país, para dar o tom das principais manchetes dos noticiários. Eduardo acusa o governo de ser o mais corrupto da história do país; Dilma rebate dizendo que não é ela nem seu governo que está sob suspeição; Cunha volta à carga dizendo desconhecer que a Petrobras tivesse deixado de fazer parte do governo.
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Em meio ao tiroteio que nos enche de orgulho, outros tiroteios e assassinatos continuam acontecendo, mas merecedores de menos destaques, como agora o caso do cadáver do vigilante em São Paulo que voltava para casa e que soldados da Polícia Militar, acusados de serem os autores do disparo, registraram como morte por atropelamento.
Ou como o caso do haitiano morto barbaramente em Santa Catarina, no município de Navegantes, apenas por ser haitiano, ou ser negro. Em mais um escabroso caso de falta de respeito e de humanidade, para dizer o mínimo, de quem se acha superior apenas por ser de nossa nacionalidade ou de uma cor de pele diferente.
Ou seja: situação que nos leva a concordar com a frase célebre de Blaise Pascal, de que "quanto mais conhecia os homens, mais gostava de seu cachorro."
O pior é que essa idiotia ou essa ação inominável, irracional, indefensável, não é apenas um episódio isolado no nosso Brasil, cada vez mais retrógrado e  conservador, cada vez mais atrasado em sua mentalidade, com uma população cada vez mais desrespeitosa. Vide a campanha nas redes sociais, contra o novo e aguardado filme da série Guerra nas Estrelas, sugerindo um boicote ao filme tão somente por contar com um ator negro como um dos personagens principais.
Ou seja: a intolerância cada vez maior, em escala planetária. Sinal dos tempos. Tempos cada vez mais difíceis.
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Nesse meio tempo, no Senado, é feita a leitura do relatório do TCU, que recomenda a não aprovação das contas do governo de 2014, o que permite seu envio à Comissão de Orçamento para análise e emissão de parecer quanto à acusação de pedaladas fiscais.
Por outro lado, na esfera econômica, o COPOM reúne-se para deliberar sobre a manutenção da taxa de juros básica - a Selic, dando sequência à política, equivocada em minha opinião de combate à inflação, cujas previsões só fazem  aumentar, acompanhando as taxas de juros.
Enquanto isso, despenca o nível de atividade econômica, o nível de emprego, a renda do brasileiro e do país, trazendo a reboque a arrecadação fiscal.
Razão para que o déficit estimado do governo já se encontre em mais de 50 bilhões, apenas para esse ano.
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E, para contornar o problema do déficit orçamentário ao menos para o próximo ano, as propostas variam da recriação da CPMF, ao aumento da CIDE, que traria impactos maiores para a inflação, graças ao repasse do imposto para os combustíveis, ou o pior: corte pura e simples na única grande conquista ainda mantida pelo desvario desse segundo governo Dilma, o programa do Bolsa Família.
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Trágica situação para quem, como eu, acreditou que ao menos os programas sociais iriam ser mantidos por um governo que, no resto da gestão econômica e financeira, apenas capitulou e cedeu às determinações dos mercados...
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Quanto ao futebol, depois do vareio de bola do Sport, que sapecou 4 a 1 no Galo em Recife, agora é esperar que o Flamengo resgate parte de sua mística, que a Ponte não seja mais uma vez madrasta para o Galo, e que possamos recuperar os pontos que perdemos por culpa de nossos erros.
Enquanto isso, a solução que nos cabe é acompanhar as partidas que dão início às semifinais da Copa do Brasil, lembrando com saudades da campanha do Galão, no ano passado.

É isso.

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