quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A tragédia da mina de Mariana, a irresponsabilidade social da Vale; a derrota de Cunha e da moralidade no Congresso; fritura de Levy e Safatle: referência de leitura

Principal manchete dos últimos dias, o desastre do rompimento da barragem de rejeitos de minério de Mariana revela mais que a fragilidade da vida (até agora contabilizados 8 corpos, seis dos quais já identificados, outros 19 ainda desaparecidos), a fragilidade das barragens da espécie, dos órgãos de controle e fiscalização, e das condições da vida e de toda a natureza em nossa terra de Minas gerais.
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Segundo informações veiculadas nos órgãos da grande imprensa, podem ser contabilizadas em nosso estado outras 750 e tantas barragens do tipo, algumas das quais em caráter precário, já admitida a situação pelas próprias empresas proprietárias das minas e das barragens.
Fala-se agora em aplicação de uma multa à Samarco, em valor que varia de 50 até 100 milhões de reais, quantia inegavelmente elevada e capaz de permitir a reconstrução das quase duzentas residências que foram levadas de roldão pelo mar de lama que invadiu o pequeno distrito Bento Rodrigues.
Sem dúvida, não será o suficiente para compensar as perdas de vidas humanas, nem de todo o prejuízo causado aos agricultores da região, aos que ganhavam sua vida com algumas poucas cabeças de gado. Tampouco será o suficiente para ressarcir as perdas provocadas pela devastação da natureza, de dimensões muito maiores, já que afetando a toda a região e à população banhada pelo Rio Doce.
Isso sem lembrar da possibilidade de contaminação das águas que banham e permitem a sobrevivência de milhões de pessoas que se estendem a Governador Valadares, e chegam até ao Espírito Santo.
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Por que, afinal, se não há como compensar a vida humana perdida, ou a vida natural agredida e também devastada, não há, nesse instante, como certificar-se de que não houve contaminação das águas por metal pesado, dos solos, das plantações. Dessa forma, não há como afirmar que mais ao longo do tempo, não aumente o número de vítimas, elevando as mortes provocadas pelo desastre, agora de forma indireta, e provocando doenças e mais sofrimento e dor.
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Em meio a todo esse espetáculo dantesco e a toda a incerteza e balbúrdia em que se transformou a vida das pessoas, do município de Mariana e das demais localidades afetadas rio abaixo, sabemos, por informação da coluna de Vinícius Torres Freire, na Folha desse dia 12 de novembro, que a Vale, acionista da Samarco, admitiu ao Wall Street Journal, ser apenas isso, uma mera acionista da empresa, procurando minimizar a sua importância e sua responsabilidade na Samarco e na tragédia.
Pode ser até isso mesmo. Pode ser que a Vale não seja dona da lama, já que como acionista, sabemos todos, apenas assume a titularidade sobre parte dos rendimentos futuros prometidos pela exploração feita de maneira irresponsável e sem respeito à vida humana.
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Curiosa a posição da Vale, cuja propaganda da responsabilidade social é destaque?
E o que dizer do desafortunado prefeito do primeiro município de nossas Minas, a cidade de Mariana, nessa hora tão preocupado em dar conforto aos que perderam tudo, salvo a vida e a coragem para prosseguir lutando, e em defender os outros mais de 4 mil cidadãos, cujo emprego e renda, ou seja, cuja sobrevivência depende da manutenção das atividades da Samarco na região, por piores que sejam as condições de exercício dessas atividades?
Conforme alega o prefeito, determinar punições como o fechamento das minas e da exploração reduziria a apenas 20% a arrecadação total da prefeitura. Ou seja, o montante de recursos que permite que escolas, postos de saúde, atividades de limpeza urbana e coisas tão triviais como essas possam ser fornecidas - como tudo no Brasil, talvez mal e porcamente, de forma deficiente - e possam funcionar em benefício, mesmo que precário, da população local.
O que representaria e imporia uma segunda punição a todos que já são vítimas.
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Difícil a situação do prefeito, dos habitantes de Mariana, dos que foram diretamente afetados pelo tsunami de lama, e dos que perderam entes queridos, de longe a perda maior, mas perderam também vida, história, valores culturais, alento, quem sabe até a fé.
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Cunha, sua entrevista de defesa e a Câmara

E Cunha resolveu falar e, para meu espanto, mostrou que ainda existe e bem forte e resistente, a amizade e a confiança, até mesmo entre homens públicos, que se notabilizam em nosso país por agirem na vida pública, de maneira como não agem na privada... Ou não?
Agem na vida pública, c... ando na cabeça de todos os seus eleitores e cidadãos, tal como o fazem na privada...
Mas, para não me estender muito, chega a ser comovente que Cunha tenha condições e possa emprestar a um amigo, aliado, o equivalente a 1, 3 milhões de francos suíços, cotados hoje a algo próximo a R$ 3,70, ou seja, perto de R$ 5 milhões de reais, e o faça sem qualquer documento, QUALQUER um, que ao menos sirva para reconhecer a existência da dívida. Não para servir de instrumento de cobrança posterior. Mas ao menos para mostrar como a amizade vale mais e como Cunha foi leal com seu amigo.
E, diga-se de passagem, amigo que era dono do Frigo Diniz, portanto um empresário.
Óbvio que um empresário da boa cepa, daqueles que não se fazem mais nos dias de hoje, e que tomam recursos emprestados fiando-se apenas no fio do bigode.
Pois foi o fio do bigode que serviu para garantir a Cunha a devolução do recurso. E da forma mais espetacular que se tem conhecimento.
Porque, atingido pela fatalidade da morte, o devedor voltou do mundo dos espíritos de luz apenas para orientar o pagamento da dívida que seus familiares desconheciam. Mas que, para ele e sua memória e consciência eram questão de honra saldar.
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E já tivemos presidente da República que foi acusado de ter ganho um Fiat Elba e que, embora tivesse grana de forma completamente inexplicada em instituições financeiras do Uruguai, foi apeado do poder por sua conduta condenável.
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Mas Cunha não. Com ele é diferente. Como ele mesmo deixou claro, ele não tem medo da ação de seus colegas no Conselho de Ética, já que tem contas a acertar com a maioria deles, tal qual tinha com Fernando Diniz.
E, como ele deu a entender, com ele é  tudo às claras, e nas falas. Não é costume dele, sair fazendo comentários depois, em fitas degravadas de anotações feitas em diários, como o fez FHC.
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Isso é apenas parte, pois, da explicação do comportamento do pessoal do PT, que se notabiliza cada vez mais por ser farinha do mesmo saco, e talvez a pior parte da farinha do saco, dos políticos brasileiros.
O que é importante dizer não pode e não deve justificar agressões, de qualquer espécie que alguns idiotas que se dizem educados, têm feito a políticos do partido, como o ministro Patrus Ananias, a quem já fiz elogios rasgados à capacidade e integridade, aqui nesse blog. Ou a um homem da estatura de Suplicy, ambos agredidos simplesmente por estarem em local público, o primeiro em um restaurante, o segundo, professor, em uma livraria.
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Aliás, esse assunto da agressão de imbecis que se acham cidadãos acima de qualquer suspeita e eleitores de partidos que amargam a oposição merecia até mesmo uma postagem toda para ele.
Mas os  imbecis, não merecem que suas ações ganhem qualquer tipo de destaque, eles que concedem o benefício da dúvida, sempre, a seus candidatos, mas querem impedir até o simples ato de ir e vir das pessoas que pensam de forma diferente das suas.
Minto e exagero, esses imbecis não têm capacidade para pensar.
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Mas Cunha foi ontem traído pela sua tropa, que votou o projeto de repatriação do dinheiro mantido no exterior por brasileiro, sem que tais recursos tenham sido sequer informados à Receita como prevê e determina a lei.
De cara, se estavam fora e não foram informados, já são recursos criminosos e, portanto, ilícitos.
Daí não consigo perceber a diferença que tem entre esses recursos e aqueles do crime organizado, do tráfico de drogas, mulheres e armas, etc.
Custo a ver diferença entre um recurso que não pode ser informado e outro que não foi informado por ter origem ilícita. Como afirmei acima, a mera falta de informação já constitui ilícito. Ou não?
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Mas Cunha não conseguiu impedir que seus colegas apresentassem emenda proibindo que ele e seus familiares repatriassem o recurso que mantêm fora do país, na Suíça, inclusive o do pagamento da dívida de seu amigo Diniz.
E foi derrotado, embora tenha tentado um golpe.
Justiça seja feita, a emenda que pegou Cunha no contra-pé foi apresentada pelo PSDB, de oposição.
E que, agora, resolveu desembarcar da canoa de Cunha. Bastante furada e fazendo água por todos os lados.
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Curioso em tudo isso, é o fato de que, para dar jeito no ajuste fiscal, tudo bem e a grande imprensa ou os analistas de mercado não gritam nem reclamam.
Afinal é o ajuste de seu preposto: Levy.
O que permite que esqueçam de que essa fonte de recursos é da mesma espécie, talvez até pior por estarem fora do país, daquela usada por Mantega e sua equipe, que valia críticas por quase um mês inteiro.
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E aqui chegamos a outra questão interessante, destacada no tópico abaixo.


A fritura de Levy e a possibilidade de Meirelles

Gostaria de saber porque o homem de mercado, que Lula foi obrigado a blindar concedendo a distinção de tornar-se ministro, Ministro Presidente do Banco Central, apenas para paralisar e mandar arquivar os processos administrativos existentes contra ele no próprio Banco que ele dirigia, é superior a Levy.
Gostaria de saber porque o responsável por manter juros muito acima do normal, quando a inflação estava abaixo da meta, apenas para enriquecer os mercados, em detrimento da atividade produtiva e da população é quem Lula indica como o homem da solução para a retomada do crescimento da economia brasileira.
Porque importa assinalar e lembrar que ambos, Levy, talvez mais ortodoxo, e Meirelles, mais pragmático talvez, a essa altura da vida, são de mesma origem: o sistema financeiro.
E agem da mesma forma, ou muito parecida.
Daí, qual a diferença entre a política de um e outro? Ou o apoio que um ou outro poderão trazer para seus planos de ajuste recessivo da economia brasileira?
Difícil saber, e mais difícil ainda, entender o porque da insistência de Lula com seu protegido.
Por mim, a economia não muda nada, nem a política econômica em curso.
Apenas muda o ministro...


Uma referência importante

Vale a pena indicar a leitura da coluna da semana passada, na Folha, de Vladimir Safatle, mostrando que a briga entre liberalismo e intervencionismo é uma falácia.
A verdeira discussão, uma vez que o Estado sempre foi o agente responsável por medidas que auxiliaram o desenvolvimento capitalista, destravando seus caminhos é para quem se direcionam as principais medidas adotadas pelo Estado.
Quem se beneficia da intervenção do Estado, os proprietários do capital ou o povão?
Leitura imperdível.

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E a Folha traz que Cunha movimentou suas contas na Suíça de forma que contradiz suas declarações. E o nome de sua mãe era a senha...

Um comentário:

Élcio disse...

Parabéns PC, ouro brilhante texto.