segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Das saúvas, de tortura, de corrupção e de como o Brasil é maior que o buraco em que insistem em atirá-lo

Há muito tempo atrás, ainda criança, lembro-me de que toda a discussão mais séria sobre os problemas e as opções para a situação brasileira, especialmente do ponto de vista da questão econômica, sempre acabava, em algum instante qualquer, fazendo referência a uma frase de extrema gravidade, dessas de grande apelo dramático, de grande apelo de marketing: "OU O BRASIL ACABA COM A SAÚVA, OU A SAÚVA ACABA COM O BRASIL".
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Lembrei-me dessa frase ontem, por ocasião da oportunidade que tive, urbano como sou, de passar uma tarde das mais agradáveis ao lado do meu irmão Leonardo, visitando a casa que ele construiu em um sítio próximo a Casa Branca, e onde pude rever uma grande quantidade das tão temíveis saúvas.
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Bem, nem o Brasil acabou com a formiga nem ela, felizmente, acabou com o Brasil, como temiam, imagem que alimentou alguns dos pesadelos de minha infância.
Como nos sonhos bons, o Brasil mostrou-se maior que o problema da saúva, mostrou ser de tamanho maior que a cova em que insistiam que iríamos parar e, de toda aquela discussão, o que aconteceu foi termos aprendido a conviver com a saúva.
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Refiro-me à questão problema da saúva, para poder tratar do problema da corrupção. Não sem antes deixar de registrar que já houve, em todo esse tempo, desde a minha infância, outras frases bombásticas, semelhantes à da formiga. 
Uma dessas frases mais recentes dizia que Tortura Nunca Mais. 
E, se deu gás a nossas manifestações contrárias ao regime autoritário da ditadura militar, e se permitiu que lutássemos pela democratização de nosso país, a verdade é que se não demos conta de eliminar o mal da saúva, tampouco demos conseguimos superar a tortura. E, aqui agora, refletindo enquanto escrevo, chego à conclusão que aprendemos a conviver também com a tortura. 
Não a tortura política, alcançada a tão sonhada volta à normalidade democrática e ao tão desejado Estado de Direito.
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Mas, o retorno à normalidade democrática não significa, por óbvio, que tenhamos acabado com a tortura, basta ver a situação de nosso sistema presidiário, onde 180/200 pessoas se acotovelam em no espaço exíguo de uma cela, onde não deveriam estar mais que 20 prisioneiros, se tanto.
Como basta iniciarmos uma discussão, mesmo em uma mesa de bar, para ouvirmos alguém, sem qualquer pudor, afirmar que bandido bom é o bandido morto, ou que esse pessoal tinha era que tomar umas belas de umas pancadas, e coisas tão animalescas e selvagens do gênero.
O que não passa de uma forma velada de se abordar a tortura. Frases que nada mais são que eufemismos para a aprovação da tortura física.
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Como também representam a aprovação de outro tipo de tortura, os atos, fatos, gestos, pensamentos, comentários e hoje, infelizmente, as postagens nas redes sociais em relação a atitudes perpetradas contra as mulheres, contra os de tendência ou orientação sexual diferente da nossa, contra os que professam credos distintos.
Ou seja, há tortura sempre que há bullying, e há violência em todo o tipo de desrespeito ao outro, nosso semelhante, embora essa muitas vezes, por não deixar marcas físicas no corpo, não são percebidas. Embora deixem marcas, mais doloridas, na alma.
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Mas, para não esticarmos desnecessariamente o assunto, apenas vou fazer a constatação de que essa tortura é tolerada, e que muitas vezes, ela passa despercebida.
Em letras garrafais, vou mencionar uma questão sobre a qual estive refletindo, e que mostra como estamos sempre a um passo da aprovação, da tortura que deveríamos tentar extirpar de nosso convívio.
Refiro-me ao problema da zica, da dengue, da presença do AEDES AEGYTPI. Das formas de prevenção contra a infestação do mosquito, das larvas e ao mal que o mosquito pode provocar.

DESTACO, EM ESPECIAL, A PROPAGANDA E SEU SLOGAN QUE DIZ QUE SE O MOSQUITO MATA, ENTÃO ELE NÃO PODE VIVER. 
OU NÃO PODERIA NEM NASCER.

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Estou vendo fantasmas ao acreditar que deixar martelar essa ideia germinar na cabeça, mentes e corações de toda a população - DE QUE TUDO QUE MATA NÃO PODE SOBREVIVER - pode dar origem a outro tipo de justificativa, em uma sociedade tão agressiva que os autores de mortes não compreendem apenas os assassinos, mas também os policiais, e talvez até, principalmente os policiais, os justiceiros, os milicianos, os bandidos fardados ou não?
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Mas o tema que eu queria tratar era, ao início da postagem era a corrupção. 
Porque há agora o mesmo movimento que se vale do slogan que ninguém pode, em sã consciência contestar: CORRUPÇÃO NUNCA MAIS. 
E se ninguém, muito menos eu, estaria favorável ou poderia estar favorável a esse tipo de comportamento completamente anti-social, aético, e causador de tantos males para o meio social, embora também do tipo de atitude que consegue se disfarçar por deixar mais cicatrizes na alma da sociedade, a verdade é que a corrupção não é de agora, embora agora mais cobrada, e nem exclusividade de nosso país e nossos costumes. 
Ou seja, embora torcesse para que isso acontecesse, não creio que vamos conseguir eliminar ou superar a corrupção. 
E, sendo assim, torço para que aprendamos a conviver com ela.
Mas espera aí! Alto lá, como diria o sentinela atento!
Isso não significa que estou aprovando sua existência.
Tão somente que devemos, como outros países e até alguns mais desenvolvidos e de mais tradição democrática e de respeito aos direitos humanos e civis, aprender a lidar com ela, se não conseguindo agir para evitá-la, ao menos sabendo agir para puni-la. 
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 Que a corrupção não é de agora, em nosso país, basta puxarmos pela memória e lembrar do governo de JK, berço das grandes firmas empreiteiras, especialmente das mineiras, conterrâneas de nosso estadista. Essas mesma firmas de construção que agora frequentam as páginas policiais da operação Lava Jato.
E olhe que estou sendo bastante econômico, já que não fui mais atrás no tempo, para não falar do mar de lama que derrubou Getúlio.
Mas, mais próximo de minha época, ao menos os comentários, críticas e acusações, não havia uma série de acusações feitas a Lúcio Costa e ao responsável pela gestão da Novacap, Brasília, Israel Pinheiro?
A ponto de na campanha para a presidência, Jânio Quadros utilizou a vassoura como símbolo, segundo ele, para varrer a corrupção para fora do cenário nacional?
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E quem não se lembra dos governos militares, e situações com a que nós mineiros até hoje não conseguimos engolir ou entender, insatisfeitos com a derrocada e posterior compra do Banco Mineiro do Oeste, banco mineiro como todos nós, do Joãozinho Nascimento, posteriormente adquirido pelo Bradesco? E quem não se lembra de como Delfim foi acusado de ter interesses particulares nas ações e depois nas tratativas para que o Banco pudesse mudar de mãos?
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E Andreazza, apresentado como um dos maiores corruptos do país? Ou deixando de lado os militares, que não se lembra de que nunca o país teria outro governo tão corrupto quanto o de Sarney? Ou com tanta roubalheira quanto o de Collor? 
Vá lá que em seu início, Fernando Henrique não sofreu esse tipo de acusação. Mas quanto tempo durou essa situação de ausência de comentários e acusações? Silêncio que permitiu a gestação do mensalão mineiro, pai do mensalão mais ostensivo, do PT. 
E, já na oportunidade não estavam em curso as falcatruas do metrô paulista? 
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Passou o governo FHC, veio o caso de Carlinhos Cachoeira, do mensalão petista, da Petrobrás, e novamente os comentários de que: "Nunca antes na história desse país....."  
E veio o primeiro mandato do governo Dilma, que em seu início entrou tomando medidas que agradaram a todos que nela não acreditavam, fazendo uma faxina elogiada, mas logo interrompida...
E agora os comentários estão de volta...
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E o que dizer da corrupção no mundo do futebol, na FIFA, em torno da presença de atletas olímpicos russos, e etc. etc. etc.
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Ou seja: a corrupção não é atributo nosso, nem de nossos tempos bicudos, 
E como a saúva ou a tortura, devemos aprender que ela existe e identificar nela os seus malefícios, para podermos desenvolver as formas de combatê-la, minimizá-la ou reduzir os seus efeitos. De tratar de puni-la, se não for o caso conseguir extirpá-la de vez.
E aprender a conviver com ela, punindo para servir de exemplo e, dessa forma, conseguir desestimular a tantos quantos poderiam em algum instante, serem picados pela ideia de se beneficiarem particularmente, em detrimento de toda a sociedade.


Mudança de Ministros

Embora os mercados tenham reagido mal, com a bolsa despencando, e o dólar subindo, creio que essa reação mais que descabida é apenas uma ameaça, para não usar o nome mais apropriado de chantagem. 
Nelson Barbosa, agora acusado de ser desenvolvimentista, é apenas alguém com perfil mais preocupado em retomar o crescimento, o que exigiria, algum afrouxamento nos gastos.
Nada de exageros como os pretendidos por Levy.
De mais a mais, todos sabem que para voltar a crescer é necessário certo estímulo à demanda. Que do ponto de vista do gasto público, não tem mais muito espaço fiscal para acontecer, tendo em vista a situação orçamentária que o equilíbrio fiscal de Levy nos legou.
Ao ir com muita sede ao pote, querendo acertar a situação fiscal de um só golpe, Levy errou na intensidade e, com isso, não conseguiu agradar a ninguém, exceto a seus colegas, os técnicos do mercado financeiro.
Conseguiu foi criar ou aumentar o ambiente de pessimismo e incertezas, agravando o quadro, já deteriorado de expectativas, desde o final da tão renhida eleição.
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Pois bem, todos cobravam crescimento de Levy, que não conseguir crescer o PIB, nem muito menos as receitas e o superávit primário.
Mas o fiasco econômico patrocinado pelo ministro que sai foi acompanhado de uma perda progressiva da crença dos agentes do mercado de que Levy teria condições de atender minimamente a seus anseios. 
Todos assistiram e acompanharam a lenta derrocada do ministro e, por baixo dos panos, até já admitiam como necessária sua saída. 
O problema é que os mercados - financeiros - não jogam para o país, para a massa assalariada, para o trabalhador, para o mundo da produção real. E na luta inter-capitalista, pouco se preocupam com a situação do empresariado que, de fato, produz riquezas e bem estar. 
E Barbosa  parece ter mais o perfil de quem não vai querer contentar apenas a banqueiros, nacionais ou não. 
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Por isso, já os ataques, as ameaças e chantagens, as acusações de que é gastador, e que vai ser pau mandado de Dilma (como se qualquer ministro não o fosse em um regime presidencialista). 
Esquecem-se de que era isso que clamavam de Levy. Que  ao não cortar os subsídios e incentivos e desonerações concedidas aos empresários, foi Levy que não conseguiu reduzir os gastos públicos. Esquecem-se de que ao não conseguir adotar medidas capazes de reduzir juros, foi Levy e sua equipe, que não conseguiram impedir o governo de gastar tanto a ponto de ampliar a participação da dívida interna no PIB.
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Mas, fundamentalmente, esquecem-se de que Barbosa não chega agora à equipe de Dilma 2. 
Ele já fazia parte da equipe, o que permite apenas projetar que, com mudança do ritmo ou não, o objetivo que continua no horizonte é o do ajuste fiscal. 
Até para criar espaço para as políticas compensatórias de cunho keynesiano poderem voltar a ser implementadas.


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