quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A decisão do Supremo

Extremamente interessante a sessão realizada ontem no Supremo que, revendo a jurisprudência firmada por aquela Corte, decidiu que todo réu cuja sentença condenatória tenha sido confirmada em segunda instância já deva ser, automaticamente, recolhido à prisão, independente de poder continuar interpondo recursos para revisão da decisão.
De certa forma, a medida visa acabar com a farra da interposição de recursos, muitos dos quais meramente protelatórios, responsáveis pela permissão de que o réu já condenado em primeira instância permaneça em liberdade, solidificando a impressão de impunidade que vigora em nossa sociedade.
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Como lembrou bem o ministro Barroso, sensação de impunidade que alcança apenas uma e categoria de cidadãos, aqueles em condições econômico-financeiras mais favoráveis, com recursos suficientes para pagarem bons e renomados advogados capazes de fazerem as causas em que atuam arrastarem-se por anos a fio, sem qualquer perspectiva de uma conclusão final.
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Desse ponto de vista, a decisão atende a um reclamo da sociedade, cada vez mais amedrontada e acuada, e por isso mesmo cada vez mais sedenta de punições a qualquer tipo de malfeitor.
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Mas foi o próprio ministro Barroso que afirmou que a morosidade da Justiça, na condenação e prisão de qualquer criminoso que acaba alimentando e justificando, até pelo silêncio, a criação de grupos de milicianos e justiceiros destinados a tomar a justiça em suas próprias mãos.
Situação que, sob a desculpa de praticar a justiça que o Estado de Direito não foi capaz de fazer, tornar-se a própria negação do Direito, o seu oposto: o império da barbárie e da condenação sem processo ou comprovação de culpa formal estabelecida.
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Mais uma vez, nesse caso, como lembraram outros ministros, arremedo de justiça que alcança apenas a uma parcela da população, em geral composta de jovens, pretos, pobres, favelados, e moradores das periferias das grandes cidades.
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Como lembrou em seu voto o presidente do Supremo, Lewandowski, a questão não é que a Justiça é falha ou tardia, na maioria dos casos. Ao contrário. 
O que explica porque aproximadamente 240 mil, ou seja, 40% da população carcerária do Brasil, hoje em torno de 600 mil prisioneiros, mofam nas celas de nossas cadeias, sem nem mesmo terem sido objeto de qualquer julgamento. 
São as chamadas prisões provisórias, ou como lembrou o ministro Fux, a soma das provisórias com as preventivas, que a morosidade de nosso aparato de investigação policial e justiça também não dá conta de chegar a termo.
Isso, em um país em que a sensação dominante é a de que reina a total e completa impunidade.Ledo engano, para um país que tem 600 mil detentos - números do presidente do Supremo, o que constitui a quarta maior população carcerária do mundo.
Como bem lembrou Lewandowski, vivendo e coabitando como animais, em condições completamente subumanas que caracterizam nosso sistema prisional. 
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Então, se temos maior número de detentos que aqueles que deveriam estar atrás das grades, já condenados, de onde vem a noção de impunidade que tanto se fala e se destaca?
A resposta é fácil de ser obtida, em  um país que atravessa, como o nosso, uma crise política, econômica, social e, principalmente, moral como a que estamos atravessando nesse período.
A impunidade decantada em verso e prosa pela nossa mídia, pela imprensa, e que provoca tanta indignação tem a ver com os crimes cometidos pelos agentes públicos, muitos dos quais, responsáveis pela manutenção da ordem estabelecida. Tem a ver com os crimes como aqueles que têm sido apurados por operações como a Lava-Jato, a Zelotes, da Policia Federal, como a do mensalão do Planalto e a do mensalinho mineiro, esse cometido pelo PSDB. Crimes como o desvio de dinheiro da merenda escolar em São Paulo, ou a de formação de cartéis para o Metrô paulista, ou ainda a compra de um triplex (ou não?) e a lavagem de dinheiro e ampliação de patrimônio sem comprovação das fontes de renda, ou ainda a descoberta de sítios em Atibaia. Ou de contas na Suíça, mesmo que sob a desculpa de serem administradas por um trustee.
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Mas, como não poderia deixar de ser, a sensação de impunidade vem também do aumento da criminalidade mais banal, como o aumento de assaltos, roubos e furtos, e aumento de latrocínios, ou simplesmente a elevação do número de ocorrências de assassinatos.
Crimes contra a vida que podem ter como autores, menores - o que, imediatamente provoca a reação irada da sociedade, cobrando redução da idade penal, entre outras medidas; ou ainda maridos, namorados, ex-de toda espécie, ainda tolerados, mesmo que de forma parcial ou camuflada, por uma sociedade machista. Crimes como os cometidos pelos grupos de milicianos ou de justiceiros, lembrados ontem.
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Nesses casos, em minha opinião, a sociedade deseja menos justiça e mais vingança, com a maior parte das pessoas e famílias não se incomodando tanto com as questões de justiça e punição. 
Afinal, não é desses menores criminosos que a questão debatida ontem, no Supremo estava tratando. 
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Assistindo ao transcurso da sessão, não pude deixar de concordar com os argumentos que eram apresentados pelo ministro relator, Teori, nem pelos votos que o acompanharam de Barroso, Fux, Carmem Lúcia. 
E já estava praticamente com a opinião formada, favorável à alteração em sua própria jurisprudência que o Supremo se propunha fazer e estava fazendo. 
Porque, em minha forma de pensar, se um criminoso - e aqui, fica mais fácil olhar a questão sob a ótica do código penal, depois de percorrida toda a sequência de atos e etapas previstas nos Códigos Penal e de Processo Penal, acaba sendo levado a julgamento e condenado por um juiz ou dependendo do tipo de crime, por um tribunal de juri com a correspondente sentença sendo lavrada por um magistrado, tanto quanto a presunção de inocência, princípio fundamental dos direitos fundamentais do Homem,  há que se estabelecer a presunção de que as provas apresentadas no decurso do processo foram todas suficientemente analisadas. E o conjunto de provas era suficientemente robusto para levar à formação do juízo que responsabilizou o réu como autor do delito.
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Resumindo: se há a presunção de inocência, também deve haver a presunção de que a justiça esteja sendo feita revestida de toda a legalidade, segundo todos os ritos e, portanto, as provas sejam suficientes para não restar dúvidas da culpabilidade do acusado.
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Mas, vá lá. As provas podem ter falhas, e uma pessoa apenas, mesmo que juiz, pode também falhar. E trato desse caso do juiz que decide solitário, porque acredito que a situação do tribunal de Juri é diferente, já que, por ser a sociedade se manifestando, não há como não levar em conta que a opinião pública é forte o suficiente para alterar ou distorcer qualquer julgamento. 
Disso, a situação do tribunal de Juri, o excelente filme Doze Homens e Uma Sentença é sempre uma referência obrigatória a ser lembrada. 
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Mas, vá lá. Há o recurso e, nesse meio tempo, o criminoso, já condenado em primeira instância fica em liberdade. 
Para certos crimes de maior comoção popular, um absurdo completo, reconheço.
Mas, se em segunda instância, agora sob a formalidade de se dar por um colegiado de juristas, as mesmas provas e considerações indicam que o réu é mesmo o responsável pelo crime, não há mais como não aceitar o argumento, SOB A PRESUNÇÃO DE que os juristas firmaram suas convicções à luz do material apresentado, não há mais como sustentar o argumento da presunção de inocência. 
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Embora eu saiba que a vida não é tão simples e direta e fácil assim. E que as coisas mudam, dependendo até mesmo da posição que adotamos para nos postar para olhar. 
Há crimes, como os de mando, que fica muito complicado criar provas e demonstrá-las, já que ninguém assina contrato para esse tipo de situação, há sempre pagamentos em espécie e os motivos sempre são muito poucos para que se forme um juízo definitivo.
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E foi isso que aconteceu comigo quando as sessão do Supremo caminhava para seu final. 
Os votos de Rosa Weber, Marco Aurélio, Celso de Mello e Lewandowski vieram jogando luz em outras questões para as quais não havia ainda voltado minha atenção. 
Principalmente o argumento de Marco Aurélio, para quem não se interpreta o que não precisa interpretação, por estar suficientemente claro e cristalino. 
E como a função do Supremo não é legislar, mas apenas fazer cumprir o que está na Constituição, não há como ignorar que está lá, no Art. 5º, Das garantias e direitos individuais, que a presunção da inocência só termina com a sentença transitada em julgado. Não com a condenação em uma instância específica, mesmo que ela seja a segunda.
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Admito que esse argumento não responde aos anseios da nossa sociedade, e à busca permanente para punir aos que merecem ser punidos, por desvios de conduta social. 
Mas, está lá. De forma expressa.
E, como faz parte de uma das cláusulas pétreas da nossa Constituição, nem mesmo há a possibilidade de sugestão para que se proceda a uma alteração do direito.
É assim, e está acabado.
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O que não pode impedir aos interessados, estudiosos, e a toda a sociedade, de descobrir formas para evitar que o festival escancarado de recursos, possa prosperar. Ou seja, são os ritos e procedimentos que devem mudar. Ou são os prazos de julgamento por parte de já sobrecarregados juízes que devem ser discutidos e revistos. Para que o trânsito em julgado ocorra em tempo que, incapaz de prejudicar a quem quer que seja ou sinta ter seus direitos ameaçados, seja célere, por exigência da sociedade.
Equação temporal complicada, reconheço.
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Mas, de todos os argumentos, confesso que o que mais me fez mudar de opinião e de ideia, eu que estava já satisfeito com a vitória da corrente que se mostrou vitoriosa, foi aquele exposto por Lewandowski. 
Para crimes contra a propriedade, está assegurada mais e maior proteção por nossa legislação que aquela prevista para crimes contra a pessoa humana, por mais esquisito que isso possa parecer. 
E o presidente do Supremo deu exemplo e citou artigos do CPP - Código de Processo Penal, que determina que, decidida em alguma instância o pagamento em dinheiro, no VIL METAL, alguma punição, esse pagamento deve ser realizado conforme o prazo determinado pela Justiça. 
O que não impede a impetração de recursos de qualquer espécie, por qualquer motivo. 
Em se configurando ter havido erro na sentença original, e estabelecida a inocência do réu, a lei assegura a devolução do pagamento integral, sem qualquer prejuízo para aquele que já tinha feito pagamento sob a determinação da sentença recorrida. 
Tudo para que se reponha ao final, a mesma situação que havia antes de qualquer decisão ter sido adotada.
Ou seja: para não haver prejuízo para o que foi condenado a pagar, e o fez, há que se proceder ao pagamento integral, como devolução de sua propriedade para ele. Fazendo tudo voltar a como era antes. 
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Essa situação, por mais estranha que pareça, não pode ser adotada para o caso de repor a condição inicial da pessoa, caso essa, de forma equivocada tenha sido privada de sua liberdade. 
Isso porque o tempo de prisão é tempo, independente de qualquer consideração. Tempo de vida, que uma vez considerado errado, não há como ser reparado. Não há como voltar atrás. Já que não há como voltar o tempo, mesmo que ondas gravitacionais distorçam a dimensão espaço-tempo.
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O Galo e sua estréia

Achei boa a estréia do Galo na Libertadores, embora deva reconhecer que, como todos os demais times brasileiros que estrearam ontem, exceto o Grêmio que não vi pelo adiantado da hora, enfrentamos um time infinitamente inferior em qualidade técnica. 
Se tem algum mérito, pode-se indicar na equipe do Melgar apenas a vontade. 
Muito pouco para meter medo no Galo, mesmo acima de 2000 do nível do mar. 
Ora, a equipe continuou apresentando erros no meio, no miolo da defesa, um ataque risível, com Patric sendo apenas o que se espera de Patric, etc. 
Donizete continuou sendo apenas o botineiro de sempre, sem dar qualquer segurança à defesa. As bolas atrasadas a Victor de qualquer lugar do campo, continuaram colocando nosso goleiro na fogueira em algumas ocasiões, e não fosse Marcos Rocha, de cujos pés saíram as melhores jogadas do time do Galo, tanto na frente quanto na defesa, teria sido uma partida difícil de se ver. 
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No segundo tempo, depois do chutaço de Pratto no travessão, o time caiu mais pela parte física, o que prejudica qualquer análise. E torna as críticas ao verdadeiro sufoco que tomamos, exageradas. 
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Tentando ser justo: além de Marcos Rocha, Victor foi bem, sem culpa no gol que levou; Douglas Santos foi muito bem, acima da dupla de zaga. Rafael Carioca fez um golaço, Luan foi lutador, melhor no apoio à defesa embora o passe que tenha dado para o gol de Patric tenha sido um primor. Pratto deu bastante trabalho à defesa do time peruano, Hyuri mostrou que sua velocidade será muito útil ao Galo e, devo reconhecer: Patric fez um golaço, depois de ter perdido dois outros bisonhamente. Fez gol de craque.  

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Mais dúvidas que pitacos. Dúvidas que me assombram

Longe de mim criticar as decisões de qualquer magistrado, mesmo que cada vez mais me vejo obrigado a concordar com a sabedoria popular para quem: da cabeça de juiz e b... de neném, pode sair qualquer coisa...
Assim, não vou ficar discutindo ou criticando as razões, quaisquer que sejam  ou qualquer que tenha sido o seu embasamento, para decisões proferidas ou sentenças lavradas em qualquer juízo ou instância colegiada.
Prefiro partir do pressuposto da boa intenção de todos, sem o que não haveria o que ficar acreditando em justiça, Estado de Direito, cidadania, esses e outros valores que fundam nossa sociedade e nossa convivência.
Apenas devo admitir que, seres humanos como são, sujeitos às influências das paixões que afetam a todos os seres humanos, também os juízes, ou principalmente eles, são falíveis.
Afinal, nem o Papa, considerado o representante, o Ungido de Deus na terra, é considerado infalível, valendo a ideia da infalibilidade apenas para as questões consideradas dogmáticas da religião católica.
Assim, estabelecido também o pressuposto de que não são deuses e que estão sujeitos a falhas de julgamento, parto do princípio que as falhas dos juízes, quando ocorrem são mais fruto de ignorância dos fatos e motivos, são mais por equívocos de compreensão e interpretação de fatos que por algum tipo de interesse, escuso ou expresso.
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Por esse motivo, não vou, como alguns conhecidos, criticar ações e decisões tomadas por qualquer magistrado, em qualquer instância, principalmente por membros do vetusto Supremo Tribunal Federal.
Dessa forma, vou preferir admitir a correção da ideia do conhecimento ou domínio do fato, mais que a certeza da existência de tal ciência. Prefiro admitir que havia inúmeras razões para que Daniel Dantas tivesse a Opportunity de responder em liberdade por seus atos, podendo estar mais próximo a seus negócios em seu Banco e em todas as oportunidades que ser banqueiro proporciona.
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É verdade que algumas vezes, mesmo não sendo da área, tento entender a argumentação adotada por Ministros como o Ministro Marco Aurélio, e confesso que, se entendo a argumentação em alguns casos, escapa-me esse entendimento em outros.
Claro, a explicação deve estar em meu parco conhecimento das lides jurídicas e, como algumas das falas, comentários, decisões tomadas pelo ministro citado são compatíveis com aquilo que é meu pensamento, sempre considero que as decisões de Marco Aurélio, que para mim carecem de sentido, são tão corretas quanto aquelas com as quais concordei.
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Por esse motivo, repito, não acho que devesse comentar decisões de qualquer magistrado. O que não significa que concorde com todas elas, embora também caiba aqui o ditado de que decisões da Justiça não se discute. Cumpre-se.
Ou melhor: cumpre-se enquanto buscamos, em outros foros, provocar a ampliação da decisão tomada. Para isso, aliás, é que existem os recursos, e os Colegiados.
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Dito tudo isso, há, no entanto, algo que me causa dúvidas e estranheza. Trata-se do grau de isenção necessário e que deve ser levado em conta, quando da participação de qualquer juiz em algum caso sob sua apreciação.
Claro que, como seres humanos, movidos pelas paixões, também os juízes julgam de maneira parcial, mais com o fígado que com o cérebro, ou mais com o coração que com a razão.
Reconhecendo os interesses que todos os juízes podem desenvolver em relação a todos os fatos e assuntos da vida, é nítido que algumas das decisões e sentenças podem estar eivadas dos piores tipos de substâncias conselheiras: a ira, o ódio, o despeito, a vingança, a bílis, o interesse pecuniário ou outro qualquer.
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Justo por admitir tais interferências, que apenas confirmam o acerto de que os julgamentos de homens devem ser realizados por seus pares, é que há, nos tribunais, a figura do impedimento.
Ou seja, a ideia de que, em alguns casos em que haja manifesto interesse de um juiz no assunto, ele se declare impedido de participar do julgamento. Evitando que, a título de praticar a Justiça, se cometam injustiças ainda maiores.
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Como não sou da área jurídica, não sei se há alguma instância ou situação que poderia ser invocada para que se decretasse o impedimento de participação de qualquer magistrado em algum tipo de ação sob análise. Não sei se a decisão de se declarar impedido é de foro íntimo do juiz, o que grande parte das vezes exigiria desse homem um comportamento de completo desprendimento. Tamanho desprendimento que, o homem capaz de tal atitude, apenas pela atitude já se mostraria imparcial e justo, o suficiente para participar da discussão e decisão.
Bem, isso, em minha opinião.
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Feitas todas essas considerações, é necessário deixar claro que também os tribunais e os juízes que deles participam, devem representar todas as correntes de ideias, pensamentos, crenças, opiniões da sociedade que, no Estado de Direito, democrático, devem representar. Ou seja, tanto quanto na representação política, legislativa, quanto na representação judiciária, devem estar representados, em igualdade de oportunidades e de condições, todos os interesses e grupos, da sociedade.
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A título de parêntese, apenas no Executivo, terceiro pilar da tríade de poderes do Estado Democrático, não é assegurado que a representação dos grupos da sociedade e de seus interesses, se dê de forma proporcional: porque eleito o governante, ele vai indicar para os postos que lhe prestarão auxílio representantes de tudo, ou de nada. Quem sabe e talvez, áulicos, puxa-sacos, amigos, etc.
O que exige que nosso debate caminhe sempre na direção de mais eleições para escolhas de auxiliares, ou o que é mais fácil, um regime em que o chefe do Executivo não seja um ditador temporário, de plantão.
Nesse sentido é que acho que o parlamentarismo seja o regime mais próximo do ideal, se é que exista tal situação.
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Retomando então o tema, os juristas que chegam, por seus méritos ou por motivos outros, nem tão meritórios, a ocupar cargos de julgadores, árbitros, não estarão livres de toda aquela visão de mundo, ou cosmovisão, que está na base de sua formação como ser social.
Todos são mais ou menos radicais, em termos de comportamento. Todos são mais ou menos religiosos, todos têm princípios mais rígidos ou não, todos politicamente são mais conservadores ou liberais, todos são do ponto de vista econômico, mais liberais ou mais intervencionistas, mais estatizantes ou mais anárquicos.
E, por óbvio, não seriam esses os motivos para que se declarassem impedidos. Muito ao contrário. Claro que, na discussão de limites da propriedade, devem estar representados, tanto proprietários, grandes que sejam, quanto aqueles que nada possuem. Em uma discussão do direito à vida, devem estar representados tanto os que defendem tal direito acima de qualquer circunstância, quanto os que, do lado oposto, respeitam o direito de a mulher, a geradora de vida, ter o direito respeitado, de decidir sobre o que se passará com seu próprio corpo, etc.
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Mas, pedir que o juiz que teve a infelicidade de ter uma perdido um filho atropelado em um acidente de trânsito julgue o motorista que conduzia o automóvel, instrumento do acidente, é no mínimo uma temeridade.
Querer que um juiz julgue com isenção o médico, por exemplo, responsável pela perda de um ente querido, na mesa de cirurgia, é desconhecer que juízes são pessoas comuns, normais, com reações normais.
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É nesse sentido que me preocupa o comportamento do Ministro Gilmar Mendes, seja no Supremo, seja no Tribunal Superior Eleitoral. E a minha dúvida, se seria a melhor solução deixar que tal ministro participasse de alguns dos julgamentos que deverão ocupar a agenda de tais Cortes.
Se não haveria alguma instância que pudesse ser ouvida, que declarasse que o Ministro deveria se declarar ou ser impedido de participar de tais julgamentos, já que seu comportamento mostra que ele não seria capaz de julgar algumas questões, com a isenção que dele se espera.
Afinal, Gilmar Mendes, por mais bem preparado juridicamente, tecnicamente, etc, é quem, por seu comportamento, acaba trazendo a público a sua incapacidade de julgar com correção e procurando fazer justiça.
Porque independente dos motivos que o levam a emitir juízos antes de as causas serem pautadas nos tribunais, o ministro tem se comportado como líder de torcida mais que como o juiz capaz de manifestar-se, contrário que seja, de forma ao menos equilibrada e não espalhafatosa.
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Minha dúvida é que julgamento isento e justo, pode ter a presença e até a presidência de um homem que se comporta como líder de facção de torcida de comportamento agressivo e furioso?

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Uma segunda dúvida, a respeito de comentaristas de futebol

Outra dúvida, essa de bem menor relevância, é a de que razões sustentam a permanência no ar, mesmo que seja em um canal como a TV Comunitária, de menor audiência e penetração, de um programa como  o de comentário de futebol, apresentado por um jornalista (?) como Afonso Alberto???
Nada contra a TV Comunitária, canal 6 da Net, que tem em sua grade programas que são bastante interessantes e bons, como o Contraponto, apenas para ilustrar.
Mas, o programa comandado pelo jornalista é um primor de falta de educação, autoritarismo, de exposição de seus colegas de cenário à humilhações, que beiram ao ridículo.
A ponto de chamar de mal-educados, de ignorantes, e outros adjetivos de mesma categoria aqueles que são seus convidados, desde que não pensem ou falem ou concordem com as opiniões, por mais obtusas que sejam, emitidas por ele.
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A minha dúvida é quanto a quem dá audiência a um programa desse nível tão baixo,  e como tal programa consegue patrocínios, como de empresas que reputo sérias.
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Para não estender muito, no programa de ontem, o tal apresentador chegou ao cúmulo de, no ar, comentar que as mulheres de torcedores do América deveriam investigar o comportamento de seus maridos, já que eles, pelo visto, devem sair de casa dizendo que estão indo ao jogo e devem estar tomando outros rumos... Tudo isso, porque o público das partidas do Coelho é muito restrito, diminuto....!?!?
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Não adiantou nem a intervenção de um dos convidados, imediata, dizendo que tal afirmação era absurda e inconsequente e que não deveria ser feita.
O tal falastrão, que se acha dono da verdade, reafirmou o que tinha dito, e continuou cometendo outros impropérios, em relação a tudo e a todos, e até em relação a quem ele convida para compartilhar com ele o horário.
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Como pode?

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Queda das vendas e crise do comércio

Também não dá para entender os analistas e comentaristas econômicos que frequentam as telas de nossos televisores.
Afinal, não era a política de combate à inflação que eles, ventríloquos dos mercados, tanto solicitavam que fosse adotada pelo Governo? Não eram eles que, antes, criticavam a tal Nova Macroeconomia de Dilma, que conduziu a economia a uma valorização do consumo exacerbada, alimentando um processo de elevação da demanda agregada sem sustentação, e capaz apenas de gerar inflação?
Não eram eles mesmos que aplaudiram a escolha do ministro Joaquim Levy, há pouco mais de um ano atrás, e trataram de elogiar a preocupação do ministro em conter a demanda agregada, com medidas que têm, como principal instrumento a elevação dos juros?
Não foram eles que, ainda recentemente, por ocasião da última reunião do COPOM, que manteve inalterado o juros básico de nossa sociedade, criticaram a postura do Banco Central, considerada subserviente ao Planalto, e indicativa de que o governo deixou de considerar o combate à inflação como sua preocupação?
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Bem, adotadas as medidas que eles pregavam, e advinda a crise recessiva que era a consequência óbvia de tais decisões, inclusive responsável por queda maior ainda da arrecadação do governo e do aprofundamento do desequilíbrio das contas fiscais , eles agora se assustam?
Espantam-se e acusam o governo de estar fabricando a maior recessão de nossa história?
O que querem eles, a não ser juros mais elevados para continuar sustentando os lucros de seus patrões reais, os magnatas do mercado financeiro?
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Porque não comentam, como devido, que se há crise de queda de vendas tão grave, a inflação, que se generaliza em nosso país e alastra-se para todos os preços livres, deixando de ser apenas de preços administrados, só pode ter como explicação e causa o enorme poder de formação de preços dos setores oligopólicos de nossa economia?
Inflação que apenas se justifica pela tentativa de manutenção de margens de lucros elevadas pelos setores que tais comentaristas tanto se preocupam em defender?


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Com Aguirre, o Galo vai conseguir voltar vitorioso da partida de estreia na Copa Bridgestone Libertadores, hoje, contra o Melgar?

Será que o time vai mostrar alguma novidade capaz de sacudir a massa atleticana e permitir a ela voltar a acreditar não apenas no título, mas em praticar um futebol capaz de encher os olhos?

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Pitacos de retomada. Após o carnaval e saudando a Verde e Rosa, mas com receio do time do Galo

Fim de Carnaval, começa agora, oficialmente, o ano de 2016 no Brasil.
Com alguns indícios de que o ano será de surpresas e novidades. Boas novidadMes... a julgar pelo desfile e vitória da Verde e Rosa na Sapucaí, sob as bençãos dos santos da Bahia.
Parabéns à Estação Primeira de Mangueira, por voltar ao seu lugar de destaque, com um atraso de 13 anos.
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No futebol,  mais especificamente fazendo referência à Libertadores da América, com o Brasil conseguindo, com esforço e sofrimento maiores que o necessário, incluir seus 5 representantes na fase de grupos, que já começa essa semana.
A vitória do São Paulo, em seus domínios, embora magra, serviu para por ordem na competição. Afinal, o time peruano, que mostrou muito pouco futebol em seus domínios, não poderia ser um time tão difícil para o time paulista. Apesar da retranca armada em São Paulo. E apesar de a Libertadores continuar sendo encarada como uma guerra. Sem qualquer motivo para isso, segundo a opinião de Tostão, para quem essa opinião apenas tenta dar mais destaque a um torneio que aquele que ele de fato merece.
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Prosseguindo no futebol, também iniciaram-se os campeonatos estaduais, tão combatidos e criticados por toda imprensa especializada, não sem razão.
De minha parte, concordo com os argumentos que criticam tais campeonatos a partir da alegação da pouca ou nenhuma motivação que os jogos entre grandes e fortes equipes da capital e times muitas vezes formados de última hora no interior apresentam.
Claro que os jogos perdem a graça, tamanha a desigualdade, e o desinteresse acarreta prejuízo elevado para times de tradição, que têm folhas de pagamento elevadas para liquidar e são obrigadas a jogar para 700 e poucos torcedores, como aconteceu com o Fluminense, no Rio.
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Com a torcida ao início do campeonato já sabendo que times conseguirão se classificar para a fase decisiva, essa sim, de algum valor, há de fato muitas razões para se questionar a realização desses campeonatos regionais.
De minha parte, apenas considero que os regionais servem como desculpa para que os times grandes, em nosso caso todos da capital possam, ao menos uma vez no ano, irem se apresentar para sua fanática torcida, impossibilitada de deslocar-se à capital com mais constância.
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E esse argumento, da homenagem a sua torcida do interior, já de há muito é o único argumento válido, já que o outro, de que tais viagens são oportunidade para que os clubes possam descobrir novos valores para suas equipes já não se sustentam, nessa era de internet, vídeos circulando por youtube, e jogadores que, mesmo sendo bem indicados, não conseguem passar pelas peneiras realizadas pelos clubes onde, muitas vezes, o que menos importa é o potencial do jovem em testes.
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Mas, se criticam a realização desse campeonato, alegando que o motivo de homenagear seus torcedores é romantismo puro, acho curioso que a mesma imprensa passe a incentivar, como tenho visto agora, torneios como esse que inclui times de expressão do Sul, Rio e Minas Gerais, organizado pela 1ª Liga.
Porque, mesmo que fosse uma boa ideia, o que vemos é apenas mais do mesmo. Os mesmos times de futebol, encontrando-se e duelando em 3, 4 , até 5 competições, o que gera um verdadeiro jogo do tipo arroz com feijão, com evidente desgaste de times, atletas e torcedores.
A consequência de tal desgaste ou cansaço é que os times mesmo acabam não valorizando o torneio, mandando a campo times mistos ou apenas reservas, apenas para testes.
O resultado é que, depois de tantas brigas políticas, e até apesar delas, os torneios passam a não valerem nada, mostrando-se tão somente como caça níqueis.
Tal e qual o antigo torneio que tantos clubes grandes desejavam e brigavam para disputar, a tal Sul americana cuja vaga, depois de conquistada, acabava tornando-se um estorvo para os times concorrentes. Ao menos para os grandes, sempre optando por mandar times reservas a campo, para preservar seus interesses na disputa do Campeonato Nacional, de maior visibilidade.
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Ainda no futebol. mas com foco no Galo que disputa e lidera o campeonato mineiro, depois de fazer um papelão na disputa do tal torneio da Primeira Liga, minha opinião é que Aguirre não tem o perfil que um técnico precisa para comandar o Atlético, apesar de reconhecer seus méritos, esforços e dedicação.
E não é por querer fazer justo o que levou a torcida ou parte dela a pedir a cabeça de Levir Culpi: inventar. E inventar com a transformação de um jogador limitado, em minha opinião, em jogador coringa do time, jogando na defesa, nas duas laterais, como armador, como ponta nas duas extremidades, e até como atacante, se bobear, como temos visto acontecer com esse esforçado bom reserva para a lateral chamado Patrick.
Que não tem culpa alguma de, por ser voluntarioso, acabar chamando a atenção dos treinadores, como se fosse a tábua de salvação.
Patrick é ruim. Limitado. Voluntarioso, apenas.
Tão voluntarioso como Luan já foi em um dado momento, até que assegurasse lugar no time e seu ímpeto ficasse mais reduzido.
Não que Luan não continue batalhando, mas dá demonstrações de não ter mais o mesmo apetite,
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Mas voltando ao Galo, não vejo no Atlético de Aguirre um time que sabe o que fazer com a bola em seu poder. Ao contrário, o time mostra o mesmo futebol e até erros, se os considerarmos assim, que mostrava com Levir.
Pratto muito distante da área, onde deveria estar. A defesa muito exposta, face à ausência de um meio campo mais capaz de servir como primeira linha de contenção.
Continuamos com a velocidade na saída de bola, em toques rápidos, explorando a leveza de nossos jogadores mas, não vejo jogadas ensaiadas, capacidade de alterar a tática do time durante o jogo, por exemplo.
Ou seja, continuamos sendo o futebol da crença. Do Eu Acredito. Da vontade. Da força de vontade e entrega. Tudo isso necessário para um time que deseja ser campeão. Mas, ainda faltando aquela faísca mágica que conseguiu ser criada em 2013, e que conseguiu resgatar o futebol de gênio de Ronaldinho e até o futebol de Jô, antes desacreditado.
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Em relação à política, ainda o que se nota é um certo marasmo, curioso, em razão da tão veloz deterioração do quadro de expectativas de nossos analistas econômicos, ouvidos pelo Banco Central para elaboração do Boletim Focus e a calibragem da política do país.
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Enquanto isso, mercê das dificuldades políticas que o governo enfrenta, evita-se mesmo a discussão dos problemas que, de fora, são capazes de agravarem nossa situação econômica.
Aqui, o que se vê, ao contrário, são os analistas dos jornais da grande-  e nem tão séria assim-, imprensa, destacando que lá fora, é deflação e juros negativos. Aqui, ao contrário, inflação que se eleva e mostra sinais de resistência e juros estratosféricos. Lá fora, políticas monetárias keynesianas para impedir a crise recessiva se tornar mais aguda. Aqui, governo gastando muito mais que o que podia.
E ninguém que se propõe a analisar que chegamos onde estamos, justamente por tentar, em 2010 e 2011, adotar as políticas que agora adotam lá fora.
E nem estou classificando tais políticas de certas ou erradas. Apenas querendo que medidas que antes foi objeto de críticas internas não fossem agora elogiadas apenas por que foram adotadas por governos que consideramos mais capazes.

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A continuar vendo a pobreza do debate e de seus comentaristas nas tevês, melhor ver no canal da tevê Escola (25 da Net) ou no Youtube, a documentários como o que está sendo apresentado nesse mês de fevereiro, chamado Porque Pobreza.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Pitacos de retorno: futebol, política, CPMF, crise nas instituições financeiras, cujos lucros cresceram pouco....

Fevereiro chegou com calor, ao menos na nossa Belo Horizonte; com sinais de batucada, folia e animação, prenúncio de um carnaval animado, apesar de mais cedo; a volta das aulas, com milhares de alunos uniformizados pelas ruas, início do campeonato mineiro de futebol e o reinício das atividades políticas, nessa 55ª legislatura.
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No futebol, a gratíssima surpresa é a equipe do América, fruto do trabalho sério e competente desse excelente técnico, e pouco reconhecido, Givanildo.
É comum se afirmar que existem técnicos com a cara de um time ou clube de futebol. E isso, desde muitos anos atrás. Assim era Oswaldo Brandão com o Corínthians, Joel com o Vasco, um pouco, talvez, Telê com o São Paulo.
Nesse sentido, Givanildo incorpora a fisionomia e a cara do América. E está fazendo um trabalho digno de elogios, desde a campanha do ano anterior, em que fez o América subir para a divisão especial.
Nesse início de ano, já obteve resultados animadores, vencendo o time do Figueirense, pelo torneio Sul-Minas-Rio, e não ocupando a liderança por força de um golzinho a mais feito pelo Flamengo. Além disso, saiu na frente no Campeonato Mineiro, vencendo o Tupi de Juiz de Fora, despontando como sério candidato a classificar-se para as rodadas decisivas e até mesmo alcançar o título.
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Ainda no campo do futebol, vimos o Atlético conquistar a Florida Cup, vencendo o time alemão do Schalke 04 e um Corínthians completamente desfigurado, depois da queima de estoque que o clube foi obrigado a fazer com seus atletas, sob o efeito dos milhões de dinheiros da China.
Mais contra o time alemão, em que apresentou um jogo mais consistente que contra o time paulista, as vitórias do Galão, em campos internacionais, servem para dar visibilidade à marca e conquistar prestígio, além de terem permitido algumas observações e algumas conclusões, embora ainda muito preliminares.
Primeiro, o time de Aguirre muda pouco o estilo de jogo em relação ao de Levir Culpi, embora a imprensa especializada insista no fato de que o time está mais compacto no meio de campo e no setor defensivo.
Confesso que não vi isso, muito antes ao contrário. Continuo vendo muitas brechas no setor de defesa do time, especialmente porque Donizete é muito fraco, valendo mais sua presença pelo grau de violência que emprega nas partidas. Não por outra razão, a torcida - que gosta dele, o apelidou de general, o que sempre implica em um viés autoritário, de força.
Também não à toa, são raras as partidas em que não é amarelado, ou acaba inapelavelmente expulso.
Mas, se impõe terror aos adversários, futebol mesmo, que é bom, nada...
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Por outro lado, Rafael Carioca é um volante que, talvez por excessiva confiança no General, acaba marcando sem muita eficiência, ele que é, em minha opinião, melhor para sair jogando que defendendo.
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O miolo da defesa passa agora a se ressentir da ausência de Jemerson,  também arrancado do time pelos euros franceses, em um momento que as pernas de Leo Silva já começam a mostrar serem incapazes de acompanharem sua cabeça.
Leo tem falhado e falhou muito no jogo contra o Flamengo, embora as falhas já se evidenciassem em alguns momentos do jogo contra o Corínthians.
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Se no torneio internacional Yuri mostrou que pode ser útil para nosso time - em minha opinião mais que Cazares, pelo pouco que vi -, não achei Erazo tão melhor que Edcarlos ou que o próprio Tiago, dono de uma arma que pouco é usada no Galo: o potente chute.
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Do meio para a frente, o Galo continua praticamente o mesmo que o do ano passado. Com Aguirre inventando tanto quanto Levir, ao acreditar que Patrick pode ser mais que voluntarioso, jogando na frente.
Patrick é muito ruim, e no jogo de estréia do Mineiro, contra o Uberlândia mostrou isso, se é que alguém conseguiu perceber a sua presença em campo.
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Mas, as falhas continuam, como mostrou o jogo contra o Flamengo, em que Giovanni Augusto esteve abaixo da crítica, parece que querendo mostrar para a torcida que seu período de Atlético tinha chegado ao fim.
Que tenha êxito no Corínthians, embora eu não o considere um jogador de nível tão elevado como parte da torcida.
E Lucas Pratto tem que voltar a jogar na área, ou perto da área, deixando de lado a função de ficar armando jogadas para poder finalizá-las, ratificando sua condição de artilheiro.
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Política

Na política, também parece que foram poucas as alterações e transformações que 2016 trouxe para nós, ao menos em seus primeiros meses.
Dilma e seu ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, insistem na aprovação da CPMF, o que irá provocar resistências inúmeras junto aos congressistas da base aliada e da oposição.
Enquanto o  novo imposto não é aprovado, o remendo encontrado é a ampliação de impostos sobre produtos que variam de chocolate a cigarros, bebidas e viagens, especialmente internacionais.
Como a elevação de tarifas de produtos sobre a produção e o consumo é mais regressiva, prejudica mais à população como um todo. Efeito semelhante, do ponto de vista da justiça distributiva, da própria CPMF.
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Mas se continua o ajuste fiscal merecendo a atenção e ocupando as manchetes dos noticiários e a preocupação das autoridades, dois fatos marcam esse início de ano, em minha opinião: a reunião do COPOM, com a manifestação de Tombini, na véspera da reunião que definiria a nova taxa meta para os juros; e, mais uma vez, as jogadas de Cunha para fazer voltar à estaca zero, a discussão sobre a autorização para que ele possa ser investigado pelo Comitê de Ética, por quebra de decoro.
No caso de Cunha, caso o STF não aja, ele terminará o mandato à frente da Câmara sem que tenha andado um milímetro qualquer investigação contra ele.
No caso de Tombini, mais uma vez, acusado de ter se curvado às determinações de Dilma, o ministro presidente do Banco Central foi dominado por verdadeiro pânico, resultado de sua viagem a Davos.
Basta que o presidente da Autoridade Monetária participe de reuniões em foros econômico e financeiros internacionais, para que volte assombrado pelas expectativas pessimistas que têm dominado esses ambientes.
Foi assim em agosto de 2011 e é assim agora.
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O problema é que, como da vez anterior, ao pegar os analistas do mercado financeiro desprevenidos, infligiu perda a esses agentes, o que os leva a cobrarem a malfadada independência do Banco Central, mercê de divulgarem que a presidenta do BC é, na verdade, a nossa voluntariosa presidenta.
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Lula

A imprensa tem divulgado timidamente, mas FHC, tanto quanto Sarney, ao saírem da Presidência da República receberam favores de grandes empresários para alavancarem, no caso do tucano, a instalação de seu instituto, no caso de Sarney, reformas em propriedades.
No caso de Fernando Henrique, em situação ainda mais constrangedora, já que a reunião em que o peessedebista passou o chapéu entre os empresários para angariar fundos ocorreu no final de seu mandato, em Palácio.
Mas, tudo isso fica esquecido, agora que, como cão danado, todos se lançam contra Lula.
Não sou eleitor de Lula e não estou aqui para defendê-lo, mas que é curiosa a sanha com que seus inimigos avançam contra o ex-torneiro mecânico, não há a menor dúvida.
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O que prova que ninguém aceita que a classe operária vá ao paraíso, já que isso só pode ser conquistado se através de relações ilícitas...
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O problema é que, ou achem logo algo concreto contra o petista, que encerre de vez sua carreira, ou estarão dando a ele tudo que ele precisa para sair do caso, virtualmente eleito em 2018: um atestado de bons antecedentes.


E enquanto isso

O Itaú, mesmo perdendo suas apostas na elevação da Selic, fatura mais de 23 bilhões de lucro em 2015. Aquele ano que deveria ter sido de crise para todos os setores da economia.
Ou não?
Ah! crescimento de pouco mais de 15% no ano...