segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Da pobreza de espírito à pobreza de intenções e comportamentos. Pitacos sobre nossa indigência mental e ética

Não era nem férias, nem recesso. Tampouco um período de luto, ainda pela tragédia da Chapecoense, suficiente e merecidamente, pranteada.
Apenas o início do mês de encerramento do semestre letivo, o que obriga a nós, professores, a deixar tudo o mais de lado, para dar cabo da correção de provas, trabalhos, trabalhos de encerramento de semestre e de curso.
Mas, retomamos.
E o fazemos completamente estupefatos, como tantos outros brasileiros que têm acompanhado o desenrolar de toda a comédia em que está se transformando nossa vida política.
Então, para não ficarmos repisando, repetindo tudo aquilo que todos já tivemos a oportunidade de tomar ciência, vou fazer apenas alguns comentários ligeiros.
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Primeiro da escolha, como Brasileiro do Ano, de michel temer, o golpista, o usurpador mor, e agora, como a delação do dirigente da Odebrecht não dá lugar a dúvidas, o verdadeiro articulador e cabeça do esquema de corrupção que Lula, foi acusado injustamente de chefiar.
Agora sim, para vergonha e desespero de Dallagnol e seu power point de quinta categoria, sabemos quem era o cerébro por trás de toda a distribuição de propina e recursos de caixa dois de nosso país.
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E a situação mostra-se tão grave que o site UOL hoje já informa que os aliados governistas estão todos orientando o usurpador no sentido de manutenção de sua base de apoio, de forma a barrar o avanço de qualquer pedido de abertura de processo de impeachment.
O que não surpreende a ninguém. Menos ainda que, em decorrência de tal conselho, temer confirme o nome de Imbassahy para a Secretaria de Governo.
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Menos mal. Ao menos o nome do político tucano ainda não fez parte de qualquer das citações de beneficiados pelo esquema de propinas da empreiteira.
E, para reforçar sua estratégia de manutenção no cargo para o qual não foi eleito, anuncia-se para hoje o encontro de temer com o mineirinho do bolor, do pó, que costuma atacar a todo mobiliário carcomido pelo tempo.
Porque, convenhamos, não há nada mais antigo em nosso país, mais vergonhoso, que o tipo de comportamento político do senador carioqueiro, e ex-governador dos mineiros tolos, aécim, o mineirim.
Que além de todo seu atraso, mostrou-se golpista e traidor dos ideiais de seu avô, Tancredo. E pior, suspeito de estar em todas as falcatruas engendradas pela teia de corrupção que inundou o país.
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Para que ninguém venha depois me dizer que ofendi a "honra" do mineirim, presidente dessa agremiação cujo símbolo é um animal predador, é importante dizer que contra esse representante mineiro no Senado, nada há de concreto, senão suspeições.
Não há sequer investigações, situação que não deveria surpreender a quem quer que seja, depois de a foto dele com Moro, o juiz eleito o deus da justiça no Brasil, ter viralizado na internet ganhando todo o planeta.
Claro, Moro não pode e não poderia ser acusado de ser amigo de quem é, mesmo que respeitasse o ditado do diga-me com quem andas...
Moro não tem alçada para julgar nem mandar investigar políticos com foro privilegiado, caso do presidente do PSDB.
E, manda a educação e a cortesia, que qualquer pessoa mantenha um mínimo de comportamento civilizado, em evento social, comemorativo, o que inclui tomar parte em conversas, muito embora seja curioso que um juiz de uma operação que sabe-se deverá atingir a tantos políticos, mantenha com um deles, e talvez o mais citado nas delações que vazam por aí, um tipo de conversa de pé de ouvido.
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Mas, como a situação que estou criticando acima se deu no mesmo evento em que temer foi eleito o brasileito do ano, não há nada de estranho no ar.
Apenas a constatação de que eles, Moro, aecim, temer o golpista, se merecem.
Quem não merece, o que é uma pena, é o povo brasileiro.
Ou dito de outra forma: merece sim. Já que parcela mais abastada desse povo tanto fez, que conseguiram arrancar do poder, a única pessoa cujo nome ainda não apareceu, de forma direta, em nenhuma das delações.
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Outro ponto importante de fazer alguma referência é o comportamento submisso e subordinado do Supremo de nosso país, ao curvar-se com toda a toga e circunstância aos interesses do mercado e de seus prepostos.
Afinal, mais que um julgamento de Renan, presidente do Senado, o que estava em julgamento na semana passada era o projeto privatista e mercadista desse governo que, se não foi eleito pelo povo em sua maioria, foi ungido por um dos dois maiores deuses que frequentam os altares de nossa sociedade: o mercado, esse deus ex-machine.
Mercado que máquina a funcionar à perfeição como uma divindade, é a única instituição ou instância capaz de rivalizar com o poder divino de magistrados, sejam eles supremos ou apenas da turma dos amigos de moros.
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Dizer que o supremo se apequenou, é pouco. Dizer que Celso de Mello, amigo de temer, o usurpador, mostrou mais uma vez a que interesses serve, mesmo que mesquinhos, é pouco.
Afinal, sempre há que se admitir que a Constituição permite, por lapsos, que apenas o presidente do Executivo seja afastado de seu cargo, expressamente, caso transformado em réu. E ainda assim, se o delito de que o acusam tiver sido cometido durante o mandato em curso.
Foi o caso de Dilma com as .... pedaladas???
Mas, não será, estou certo disso, o caso de temer, com sua advocacia administrativa, a confusão transparente entre público (um laudo de órgão federal, o IPHAN) e privado (o apartamento de seu amigo do peito, o anão Geddel), a participação escandalosa como mentor do esquema de desvio de verbas de obras e corrupção, conforme denúncia da Lava-Jato.
Tenho tanta certeza de que temer não será atingido, nem afastado do cargo, não por ser adivinho ou o que quer que seja.
Apenas porque o povo não quer punir temer, esse baluarte na luta contra a corrupção do PT. Apenas porque ninguém tem a capacidade, tão ínfimo que é, de ser o representante do mercado financeiro e seus interesses como a múmia que nos impingiram.
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Contando com o povo, mais para Tereza Batista do que para passar a limpo o nosso país, temer vai ficar. E comemorar com Renan, com Carmem Lúcia, a que era sem nunca ter escondido o que era.
Dizer que a ministra presidente do Supremo nos causou surpresa, é desculpa para quem não se lembra da deselegância da magistrada ao referir-se a Dilma e seu pedido de ser chamada de presidenta.
Pois a presidenta Dilma não apenas sabia de português, como hoje todos já sabemos, como não tinha interesses escusos a serem defendidos, como a presidenta da mais alta corte do país tem.
E que interesses são esses? Todos muito dignificantes: não passar a exigência de se respeitar o limite de saláirios; não passar a legislação que combate abuso de autoridade; não permitir que os juízes sejam ofendidos; etc. etc.
Mas, não vi, em qualquer momento da sessão vergonhosa da última quarta-feira, salvo um constrangido apoio em solidariedade ao ministro Marco Aurélio, nenhuma maior ênfase em reprimir os comentários agressivos e até vis, que lhe foram dirigidos por gilmar mendes.. e quem mais poderia ter o comportamento tão indigno quanto esse ministro que julga com a bandeira e a camisa do partido que representa, por baixo de sua indumentária.
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Pois bem. Ontem, na Folha, ficamos sabendo que o ministro gilmar, ao se referir ao seu colega, de quem discordava, apenas fez blague, termo que o dicionário nos revela ser observação ou relato que faz rir, que demonstra senso de humor.
Bem, sabemos agora do humor de nosso magistrado, especialmente destinado a aliviar a tensão de um momento de gravidade que o país atravessa.
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E sabemos ainda mais que se Lula não podia se tornar ministro para não ganhar foro privilegiado, já que era suspeito. Renan não apenas pode manter o seu, como senador que é, mas ainda mais pode manter o cargo que ocupa de alta representação de presidente do Senado.
Apenas que o cargo de presidente do Senado foi diminuído de sua importância, uma vez que uma das mais importantes de suas atribuições, a de constar da linha sucessória da presidência da República, em algumas situações não deverá prevalecer.
Ou seja, fugindo ou abstendo-se de realizar uma análise teleológica da Constituição, dentro da linha que o que vale para um evento ou situação, deve valer para outras circunstâncias semelhantes, até porque menores em grau de importância, o decano do Supremo resolveu que, em razão da lacuna da Constituição e da autonomia de poderes, Renan deveria continuar presidente da Casa, mesmo que fora da linha sucessória.
Ao agir asism, alterou a própria Constituição, castrando o cargo que ela descreve de forma cristalina, com todas as atribuições, uma das quais, seu ocupante eventual não pode cumprir.
Ainda assim, esse ocupante de ocasião é quem deverá permanecer no cargo, já que trata-se de uma questão de decisão política, em um país que está precisando da adoção de medidas duras para sair da crise econômica que o abate. Medidas que, apenas com a presença de Renan poderia e pode ser levada a plenário.
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De toda a farsa, entretanto, ficará em minha memória a "altivez" da sua presidente, capaz de representar a mais elevada posição a ser ocupada pelo órgão que ela dirige. Ou seja, Carmem ficará registrada como a presidenta que mostrou que os corvos ou urubus do Supremo, em razão de suas capas pretas, nada mais são que as aves do lixão que aquela Corte está parecendo querer se tornar.
Pobre Carmem. Pobre povo brasileiro.
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Na economia, por outro lado, mais que a fritura de Meirelles, que agora descobriram ser apenas um gerentão ou um sargentão, sem qualquer possibilidade de se tornar um estrategista, as pressões para que os juros possam cair fazem corar de vergonha qualquer analista. Ou deveriam, já que é de interesse do mercado, agora, que os juros possam cair. Agora que eles já estão todos comprados em títulos, cujos preços irão subir, caso as taxas caiam.
A desculpa, como sempre, é que os juros têm de cair,  e isso por dois motivos. Primeiro porque a inflação já cedeu, podendo até ficar dentro do intervalo de confiança da meta, próxima ao seu limite superior, de 6,5%.
O que será uma vitória, a julgar pelas comemorações que já começam a pipocar na midia. A propósito, o mesmo comportamento que o governo Dilma manteve, ao menos até 2014 e foi tão criticado.
Mas a queda de juros deve também acontecer para que o país volte a crescer, promessa de temer ao assumir, e que conforme dissemos aqui em outras oportunidades, não tinha como se realizar.
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Agora, repetindo algumas das políticas de Dilma, e indo até mais longe, na análise da possibilidade de levar o pobre trabalhador a utilizar seu FGTS, seu patrimônio para o futuro, de forma a pagar contas de agora, o governo fala na necessidade de se resgatar o crédito, para o que a queda das taxas de juros é imprescindível.
Ainda não explicaram apenas, como que empresários que estão com altos níveis de capacidade ociosa vão investir e ampliar essa capacidade, apenas porque agora terão empréstimos a mais baixo custo. Se é que isso irá mesmo acontecer, a queda dos juros nas operações bancárias.
O que ninguém explica é porque empresários com dinheiro barato, não preferirão nessas circunstâncias liquidarem suas obrigações mais caras, ajustando seu patrimônio e reequilibrando passivos e ativos. O que não explicam é porque o empresário irá acreditar que pessoas que estão mais preocupadas em se livrar de dívidas e até limpar o nome na praça, irão correr às compras, única motivação para voltar a produzir, e não de ampliar a produção.
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A inflação caiu porque os juros altos, desde Dilma e sua curvatura ao mercado com Levy, levaram a economia a um estado de coma induzida, onde as funções vitais do organismo são mantidas, com menos sacrifício do funcionamento dos órgãos. Caiu porque os alimentos cairam em razão da melhoria da condição climática, e não de vontade ou decisões de analistas de mercado.
A inflação caiu porque os ajustes de preços públicos já estão todos diluídos, o que apenas não deve valer para possíveis correções de preços do petróleo, nessa nova política da Petrobras de manter nossos preços em sintonia com os do mercado internacional.
Então, há motivos na economia para comemoraçaõ: o doente não precisa mais permanecer entubado.
Mas, isso é muito pouco para um país que ampliou o número de desempregados como foi o caso do nosso país, e que ainda está sujeito a continuar vendo as contas públicas continuarem no processo de deterioração que vem se manifestando, por força de queda da arrecadação que acompanha o movimento do nível de atividade econômica.
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Enquanto isso, fora militares, policiais e políticos, o povo vai penar e sofrer para poder viver e ter saúde, educação, transporte público de qualidade, segurança, em função da PEC do teto dos gastos. Isso para poder viver agora, enquanto tem forças, porque para o fim da vida, a situação ainda irá piorar mais, em razão da PEC da Previdência.
Pobre economia.Pobre povo brasileiro.

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