terça-feira, 11 de julho de 2017

A compra de votos, o mensalão de temer e a corrupção que cresce aos nossos olhos. E a tragédia da classe média que queria combater a tudo isso

Lido ontem, na Comissão de Constituição e Justiça, o parecer do relator Sérgio Zveiter do PMDB do Rio de Janeiro, favorável à que o plenário da Câmara aprove a autorização para que o Supremo investigue a denúncia apresentada pela Procuradoria Geral contra temer, o usurpador, confesso que minha maior curiosidade se volta para o comportamento de todos aqueles que foram às ruas pedir o impedimento da presidenta Dilma, de modo a recolocar o país nos trilhos.
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Isso porque a grande maioria das pessoas que foram às ruas se manifestar, e na hipótese de que não estavam apenas participando de um "happening", um evento patrocinado e incentivado pelas grandes redes de comunicação do país, apresentavam duas bandeiras principais como justificativa para sua luta, diga-se de passagem que duas razões do tipo guarda-chuva, que a tudo acolhe e protege, e contra as quais ninguém em sã consciência pode se opor: o combate à corrupção instalada no poder e institucionalizada pelo PT e a retomada da economia, representada não  apenas pelo combate à inflação e corte do tamanho do Estado e de sua ganância arrecadadora, mas pela implantação de reformas julgadas estruturantes do ambiente econômico.
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Pois bem, em relação ao combate à corrupção, não é necessário continuar insistindo nas teses de que era apenas e tão somente uma desculpa esfarrapada, quem sabe para se ver livre não de um governo completamente corrompido, senão de um governo que focou menos nos interesses e na manutenção de privilégios - poucos - de uma classe média tacanha e medíocre em suas aspirações, desviando sua preocupação para os extremos da nossa pirâmide social, os menos favorecidos e os mais abastados.
Como não é possível se voltar completamente contra os estratos mais abastados, de que depende inclusive o funcionamento de nossa economia e do mundo dos negócios, alcançando até nossa própria sobrevivência, poucos iriam se rebelar contra a série de benesses, concessões, incentivos e outros que tais concedidos à essa classe parasita que constitui nossa elite, a Fiesp e seus Skafs à frente.
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Afinal de contas, dentro de seu mundinho medíocre e limitado, nossa classe média, não aquela emergente inventada por Lula e seu bolsa família, não iria nunca conseguir descortinar horizontes maiores o que implicaria em, tal qual na França da revolução e da queda da Bastilha, tão citada nos dias de hoje, por parte dessa mesma classe pequeno burguesa, se insurgirem contra os privilégios dos mais ricos.
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Seria mais que um sonho, uma tolice, esperar que pessoas que aprenderam a viver nas franjas (como já o disse certa vez Fernando Henrique Cardoso) e das migalhas deixadas no caminho pelos mais ricos, o que inclui a possibilidade de estudarem, de terem educação formal, e de serem espectadores de manifestações culturais pensadas sobre medida para reforçar-lhes o poder, pudessem se voltar contra a classe a que, desde pequenos, aprenderam a aspirar de poderem fazer parte um dia.
Essa a banalidade de nossa classe média, e sua pouca capacidade de discernimento e análise: ter como aspiração o modelo que lhes foi permitido, aliás o único, ter como objetivo a ser conquistado na vida.
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Sem poder se insurgir contra os mais favorecidos, a classe média cada vez mais desidratada, só teria como voltar-se contra a outra ponta da sociedade a lhe reduzir benefícios (alguns dos quais a que teria merecimento, sem dúvida!).
E como essa classe obtinha cada vez maiores porções da repartição da riqueza gerada, por força de Lula e sua tropa, seria muito fácil, como foi, manipular os interesses desse contingente de pessoas, para levá-los a  desejarem a derrocada do poder de um governo legitimamente eleito.
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O problema é que a opção legal e natural para a sequência do golpe seria colocar no poder alguém como temer, que de outra forma nunca teria saído das sombras da insignificância a que ele mesmo reconhecia estar destinado.
E, para atender aos anseios, não da população brasileira, nem dessa classe média de viés autoritário, até por sua passividade, mas dos grandes e verdadeiros donos do poder, os grandes e mais tradicionais empresários nacionais, temer aceitou subservientemente, como é de seu feitio e caráter, por em execução as reformas ditas necessárias à modernização da nossa economia.
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Aqui abro um parênteses: gostaria sinceramente, que algum desses inocentes úteis que foram às praças combater o governo petista e sua corrupção me apresentassem as razões porque, em sua opinião, reformas como a trabalhista, que longe de modernizar, pode nos condenar ao atraso da época da escravidão, ou outras como a reforma da previdência, não discutida, mas feita a toque de caixa, e com requintes de crueldade, poderiam ser positivas. Isso para não falar de uma reforma tributária ou política, tantas vezes ensaiada, e sempre visando avançar em direção ao passado.
Antes que alguém cometa o erro de achar o contrário, ACHO QUE A PREVIDÊNCIA NECESSITA SIM, DE UMA REFORMA.  Em letras garrafais, para não deixar margens a dúvidas.
Sou contrário a que não se discuta mais detalhadamente, exatamente, que reforma precisamos ter. E mais ainda, como estabelecer regras para automaticamente, do tipo de gatilhos, promover mudanças quando fatores como condições de vida e longevidade se alterarem.
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Mas temer mostrou-se pior ainda que aqueles a quem veio substituir, se não pela ação, pela inação (lembrem-se das confissões ouvidas de seu amigo, o gangster mor Joesley, contra as quais não quis agir, o que ele mesmo admitiu!).
E se o combate à corrupção era o motivo da insatisfação de nossa classe média, em pouco tempo as preocupações com a economia e a queda da inflação, ou seja, em pouco tempo interesses individualistas, tão comezinhos, substituíram, aos olhos desses manifestantes, os interesses mais dignos, de construção de uma sociedade mais justa e melhor, menos corrupta.
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Os inocentes úteis até tentaram seguir em frente, com afirmações entre sorrisos amarelos, de que não tinham bandidos de estimação. Mas se não têm bandidos de estimação, o que parece ser verdade, não se preocupam em que eles estejam presos atrás das grades.
Por que a ênfase na frase marota não devia ser no termo estimação. Mas no termo bandido. E sem bandido, não há necessidade de cadeias, certo?
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Agora o que falar do comportamento de temer e seus bons companheiros, ao partirem para o vale tudo mais despudorado?
Como continuar criticando o mensalão petistas quando o que temer anda comprando de deputados e votos por sua permanência é muito mais visível e até admitido?
E pior, para um governo que visava reequilibrar as contas públicas, com legislações impondo teto de limites a gastos, como justificar a orgia, a gastança com emendas parlamentares, com concessão de cargos e pequenas obras, e seja mais o que estiver à disposição para poder paralisar a investigação. Veja bem: não é condenação. É simples investigação!!!
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E tudo isso com dinheiros que faltam à saúde. À Polícia Federal ou Rodoviária Federal. À Educação e à formação de nossos cidadãos de classe média do futuro.
O que, no caso de nosso ministro da Educação mendonça filho, talvez até seja algo justo. Afinal trata-se de um ministro sem qualquer condição de ter a sua disposição recursos para lidar com algo que ele desconhece.
Mas para o país e para a Educação, ou seja, para o futuro de nosso país, é uma lástima. Uma perda, mais uma vez irreparável.
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E ninguém sai às ruas para protestar, mesmo que com a camisa amarela da seleção do vexame e da corrupção do futebol e da CBF.
Ninguém sai às ruas para tentar mostrar que não dá mais para continuar com alguém tão medíocre quanto temer e seus colegas de equipe. Não dá mais para tolerar as compras de votos, as substituições de deputados na CCJ, as distribuições de dinheiro seja em malas com 500 mil ou em emendas, verdadeiras vergonhas.
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E ninguém se dispõe a sair não por concordar com a corrupção. Nem por apoio ao bandido querido, seja temer ou outro nome qualquer.
Mas por preferirem, dentro de seu caráter de formação autoritária, não criativa nem libertária, nem inovadora, apenas capaz de passar adiante as lições antigas a que foram submetidos e expostos desde há muito tempo, em sua formação de base, como pessoas e como cidadãos, apoiar a solução militar.
Apoiar políticos da linha e da tradição de um Bolsonaro. Transformado em Bolsomito.
De formação de caserna, sob a égide da disciplina (que ele mesmo nunca parece ter primado por respeitar) e da voz da autoridade.
Quem sabe, para ser o governante da liberdade e do desenvolvimento econômico e sócio-cultural, de nosso país. (E nem vou rir dessa afirmação desprovida de qualquer sentido!!!)
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Mas como dizem os aparvalhados e conservadores: ou é Bolsonaro ou Lula.
E realmente, não há como negar que o país encontra-se com opções muito acanhadas e limitadas.

3 comentários:

Anônimo disse...

O Brasil é mesmo um país estranho: no século XIX, os chamados negros forros possuíam escravos e muitos deles se vestiam e comportavam como membros da elite. Uma forma de negar as suas origens.
Dreyfus em sua tese de doutorado argumenta que em 64 houve um golpe de classe. Golpe conduzido pelo ipes, ibad e a esg. Conseguir convencer a classe média de que o perigo vermelho era iminente. A igreja, majoritáriamente, conservadora tratou de abençoar aquele movimento. O concílio Vaticano II estava longe de ser concluído. Estas 4 forças derrubaram um presidente eleito por duas vezes em um único mandato: como candidato a vice e com o plebescito de 63. Meses depois o golpe foi consumado.
A classe média, inebriada, pela propaganda anti comunista (sem saber o que era isto) apoiou. Ficou ainda extasiada com o milagre econômico. ....
Mais de 50 anos se passaram e suspeito que alguns atores ainda são os mesmos. Face à corrupção e baixo crescimento econômico ("culpa exclusiva do pt") golpe novamente. Com direito a panelaços, protestos dos yellow shirts: triunfo da espetacularização da banalidade, enfatizada pelos meios de comunicação como consciência política.
Face aos desdobramentos do golpe e a constatação de que a corrupção é prática daqueles que orquestrarm o golpe a classe média está perdida. Sem consciência e formação política, descrente e sem líderes me faz lembrar a cação de Zé Ramalho, vida de gado, cujo refrão é me laconicamente moderno: "vida de gado, povo marcado e povo feliz". O pior são os berranteiros que se vislumbram no horizonte: bolsonaro e doria.

Paulo disse...

O comentário acima é de Fernando Moreira, professor da Una.

Anônimo disse...

O Brasil é mesmo um país estranho: no século XIX, muitos dos chamados negros forros possuíam escravos e se vestiam como membros da corte. Esta era uma forma deles negarem as suas origens e se assemelharem com os seus opressores.
Dreyfus argumenta em sua tese de doutorado que em 1964 houve um golpe de classe. Aquele golpe foi, segundo o historiador, conduzido com maestria pelo ipes, ibad e a esg. No processo de maturação conseguiram convencer facilmente a classe média de que o perigo vermelho era real e iminente. Há ainda que acrescentar a influência da Igreja nesta história, que naquela ocasião estava inteiramente atrelada ao conservadorismo. O Concílio Vaticano II, sequer havia sido concluído.
Estas 4 forças deram um golpe em um presidente eleito por duas vezes no mesmo mandato: Jango foi eleito vice presidente em 1961 e dois anos depois ungido por 2/3 do eleitorado retoma os poderes plenos de presidente através do retorno ao regime presidencialista. Alguns meses depois o golpe consolidou-se.
A classe média, inebriada, pela propaganda anti comunista (sem sequer saber o que era isto), apoiou golpe. Viu-se extasiada anos depois com o advento do falacioso milagre-brasileiro... Ignorando então suas contradições e o terrorismo de Estado vigente então
Mais de 50 anos se passaram e suspeito que alguns atores ainda são os mesmos, com outros nomes. Face à corrupção “exclusiva” do pt e o baixo crescimento econômico (utilizados habilmente com álibi) o golpe triunfou novamente. Com direito a panelaços, protestos com os "yellow shirts": triunfo da especularização da banalidade. Enfatizado pelos meios de comunicação como uma consciência política.
Todavia os desdobramentos da lava-jato trouxeram o óbvio: a corrupção não é exclusiva do pt. É prática recorrente daqueles que orquestraram o golpe e que ainda se mantém no poder, cometendo "peladas" explícitas para ali continuarem.
Agora a classe média está muda, perdida e estática. As panelas e as camisas desapareceram. Sem consciência e formação política, descrente e sem líderes a classe média me lembra a canção de Zé Ramalho Vida de Gado, lançada em 1.978, cujo refrão continua atual: "eh! ooohhh! Vida de gado! Povo marcado e povo feliz!").
O que me assusta são os berranteiros que se vislumbram no horizonte: bolsonaro e dória, com iniciais minúsculas, como bem aprendi com o blogueiro, ao se referir a indivíduos inexpressivos.