terça-feira, 4 de julho de 2017

Pitacos de um julho que chega, ao menos aqui em BH, com ventos agosto

Começo esse pitaco tendo de reconhecer que, em minha opinião, sempre expressa nesse espaço digital, grande parte das prisões preventivas efetuadas no âmbito da Operação Lava Jato, eram apenas um subterfúgio destinado a induzir o prisioneiro a fechar um acordo de delação premiada com a autoridade pública. 
Dessa forma, o que a turma de procuradores de Curitiba anda promovendo, com a aprovação desse juiz que o Brasil passou a conhecer e admirar, e que a mim só traz preocupação e medo por seu caráter autoritário e até messiânico, em minha opinião nada mais é que uma forma de tortura. 
Tortura psicológica, como muitos advogados e juristas já tiveram a oportunidade de discutir e criticar, por deixar o preso "mofando" nos fundos da cela de uma cadeia até que ele tenha sua resistência quebrada e, informado que outros companheiros seus gozam já de liberdade parcial ou vigiada, opte por denunciar o que sabe, às vezes, até o que apenas o que intui que tenha acontecido.
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Não raras vezes, muitos dos delatores inclusive parece terem de se submeter a várias sessões de interrogatórios, para que passem a delatar e denunciar certos nomes que os procuradores desejam ouvir ardorosamente, nomes que, se não citados entravam o processo de negociação em relação aos benefícios da delação.
Ou seja, não é apenas uma tortura para levar o prisioneiro a confessar a prática de crimes e o nome de cúmplices, de preferência com a apresentação de algum conjunto de evidências capazes de permitirem a confirmação do conteúdo tornado público. 
Como a midia mesma insinua, há que se chegar em um nome, de preferência o nome de Lula, considerado, antecipadamente, a liderança da gangue que tomou de assalto os cofres públicos de nosso país.
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Nesse sentido, e até para reforçar a hipótese, assistimos a uma série de atitudes adotadas por esse juiz que se considera mais que um super herói, o verdadeiro salvador da pátria, quem sabe a entidade responsável por transformar o país eliminando todos os seus males e toda a corrupção.
Um juiz autoritário, capaz de querer impedir manifestações que não são de seu agrado, como aquelas de testemunhas que, ao invés de atacar, preferiram elogiar aqueles a quem interessava incriminar de qualquer forma. Um juiz capaz de definir que as perguntas a serem encaminhadas a uma testemunha, no caso o golpista que ocupa ilegitimamente o cargo maior do Executivo do país, não poderiam ser feitas por trazerem a possibilidade de ameaça ou constrangimento à testemunha. 
Logo que, que ameaça e constrange não apenas a testemunhas, mas a advogados, donos de prerrogativas estipuladas em lei.
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Mas, não é para falar das arbitrariedades e da falta compostura de moro que esse pitaco deseja tratar. Nem de suas animadas reuniões com tantos indiciados com quem convive alegremente pelas fotos que os jornais insistem em publicar. 
Afinal, já não é de agora que vigora a ideia de que os companheiros e amigos revelam muito da personalidade e caráter das pessoas com quem convivem. E dando maior amplitude ao ditado que diz que quem sai aos seus - não necessariamente familiares, mas também amigos, companheiros, colegas e até comparsas, todos os que contribuem no ambiente de convívio para a formação do caráter de uma pessoa - não degenera. Ou melhor não regenera, no caso em análise. 
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Toda essa digressão para tratar da decisão do ministro Fachin de mandar soltar Rocha Loures, o homem de estrita confiança do golpista temer e talvez, por isso mesmo, considerado o único homem que poderia sair correndo pelas ruas de São Paulo, portando uma mala recheada de dinheiro, cuja destinação é um segredo mal conservado e que, de concreto, sabe-se apenas que já havia reservado para si, sua comissão no transporte. 
Por mais estranha que fosse a soltura, justo no momento em que Loures parecia começar a fraquejar na prisão, e que seu espírito alquebrado pudesse levá-lo a querer fechar um  acordo de delação premiada, como a grande midia noticiava.
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Ainda assim, se verdadeira a notícia do estado de ânimo do assessor especial de temer, isso apenas viria a confirmar o caráter de tortura a que estava sendo submetido, não em Curitiba, onde apenas os simpatizantes ou os ditos investigados ligados ao PT são mantidos em cárcere, mas em Brasília. 
O que não muda o fato de que era tortura e que o objetivo era, em Brasília, quem sabe de alcançar o verdadeiro dono da fortuna da mala, quem sabe, temer?
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Logo, em sã consciência não posso admitir que Loures passasse pela tortura, como passaram os Odebrecht, Eduardo Cunha, Leo Pinheiro, ou os Palocci ou Vaccari da vida. 
Pelo princípio. Não pelo resultado a ser obtido com a decisão que, infelizmente, transforma-se em alívio para temer. 
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Fachin agiu corretamente, então. Mesmo que em hora errada, ou que não dotado das chamadas melhores intenções. 
Fazer o que? Quem sabe aguardar que Loures, em um arroubo de consciência não queira delatar o que sabe, da forma que o instrumento da delação deveria ter sido utilizado desde sempre: antes de ser preso, mas já indiciado, o suspeito se propor a reduzir sua possível pena. Mas não sob a forma de tortura que estamos assistindo acontecer, sob o silêncio constrangedor da grande maioria da população. 
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Quanto ao comportamento de Marco Aurélio, não é de se estranhar. Há muito o ministro adota um comportamento de estrito cumprimento da lei, especialmente da lei maior que resguarda e respeita a autonomia e soberania dos poderes, e portanto, ao pé da letra, deveria tratar a decisão judicial de afastamento de um senador da República como algo completamente impensável. 
E não há nem que exigir-se de Marco Aurélio que mantivesse coerência, por que foi justamente coerência o que ele manteve todo o tempo. 
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Explico: muitos acham que ele não poderia tomar a decisão que tomou, mandando aecim de volta ao Senado, depois de nada ter feito para livrar Dilma e seus 54 milhões de votos, contra apenas os 7 milhões de votos do senador por Minas. 
Ocorre que Dilma e sua defesa entraram com recursos junto ao STF, questionando a adoção de uma série de atitudes e comportamentos adotados pelo Legislativo, com que não concordavam. 
Ora, se seguido os trâmites da Lei antiga e desatualizada que regia o processo de impeachment, não havia porque o STF se arvorar em o poder Supremo, para ditar o que o outro poder da República deveria ou não fazer ou como deveria ou não se portar. 
Em outras palavras: o golpe contra Dilma foi da Câmara, seguido depois por seus pares no Senado. 
Para mim foi golpe, mas dado sob o manto da legislação, golpe político, golpe parlamentar. 
E o STF não tinha como impedir o golpe tramado dentro da legalidade, embora não dentro da legitimidade. 
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Situação semelhante a de agora, aecim não poderia ser afastado do exercício de seu mandato, salvo se perdesse o mandato por julgamento de seus pares. O que não aconteceu, mesmo que por falta de estatura moral do Legislativo para qualquer medida destinada a sanear o ambiente. 
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Marco Aurélio apenas não precisava de emitir, em sua sentença, juizo de valor, quanto às qualidades de político de quem ele acabava de beneficiar, o que levantou dúvidas e suspeição sob o ato de devolução do mandato ao senador. 
Fora esse descuido, que não pode ser analisado de forma ingênua, não há o que atacar ou criticar o Ministro. 
Talvez ele apenas quisesse com seu comentário, mostrar a que ponto chegaram nossas instituições, e nossa democracia, capaz de eleger - e se elege é por considerar digno de representar-nos - um político com a tradição e carreira de aecim... mesmo que não entremos no mérito daquilo que compõe sua carreira. 
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E mais um dos amigos vai em cana

A notícia de que o anão (do orçamento) Geddel Vieira Lima foi preso, ele que foi ex-ministro de temer apenas mostra que o golpista e usurpador do poder, sempre se cercou da fina flor da ralé humana. 
O que mostra que tipo de ambiente ele, o golpista sempre fez questão de frequentar. Afinal, é dele mesmo o reconhecimento de que Joesley era um bandido, da pior espécie.
O que não o impedia de recebê-lo à noite, em sua casa, fora da agenda. 
Também não por acaso, o nome de Geddel surge nas gravações feitas pelo dono da Friboi. Como emissário e representante de temer, nas negociatas. 
Um nome queimado como ambos admitem nas conversas. O que faz temer indicar para falar em seu nome, Rodrigo Rocha Loures...
Geddel está preso, preventivamente, por sua gestão na Caixa Econômica Federal. Mas poderia estar preso a muito tempo, inclusive por usar de seu cargo para pressionar colegas do Ministério a aprovarem, ao arrepio da lei, matérias de interesse privado. 


Econômicas

Do ponto de vista da economia, continuamos comemorando sucessos devidos a nossos fracassos mais rotundos. 
Agora mesmo é o resultado da balança comercial do país, de superávit de mais de 36,2 bilhões, obtido no primeiro semestre, que ocupa os destaques das manchetes. 
Resultado digno de comemoração, um recorde, sem dúvida. 
O problema é que tal resultado deve-se a fatores sobre os quais não temos controle, como a alta de preços das commodities, ou a supersafra que estamos colhendo no país. 
Importante salientar, nesse caso, que também Lula surfou no bom momento das commodities no mercado mundial, e que muitos analistas que hoje comemoram o resultado agora alcançado sempre fizeram questão de indicar que, nada daqueles resultados se deviam ao governo Lula. 
Agora nenhum deles usa do mesmo argumento em relação ao governo golpista.
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Pior é que tal resultado revela também a péssima performance de nosso mercado interno, o que se traduz em continuidade de vendas em queda, crédito em queda, desemprego em alta. 
Com relação ao crédito, as informações do mercado mostram que a inadimplência se elevou. Com isso, os bancos aumentaram suas taxas de juros de operações de crédito pessoal, exceto as taxas vinculadas a uso de cartão de crédito. 
Ou seja, vamos bem lá fora, porque estamos ainda muito mal internamente. 
Situação que já foi reconhecida pelo próprio ministro da Fazenda, Meirelles. 
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Na Folha de ontem, o ex-ministro Delfim Netto, deu entrevista para lamentar que no nosso país, o poder econômico destruiu e dominou o único freio que as sociedades democráticas podem utilizar para controle do capital: o Congresso. 
Sua conclusão de que, eleito com apoio financeiro pela primeira vez, o representante do povo irá ficar na expectativa de receber mais aportes financeiros em eleições seguintes, o que o faz não ir contra os interesses do financiador é perfeita. 
Tardia, mas interessante e perfeita. E revela que não há necessariamente a compra do deputado eleito pelo empresário. Apenas o deputado passa a alterar sua forma de comportar-se, deixando de ser mais combativo e até de zelar pelo interesse dos que ele representa, para não perder a possibilidade de continuar no exercício, até eterno, de seu mandato. 
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O pitaco final é para lamentar, a tragédia que se abate sobre o Rio de Janeiro e seus tiroteios constantes, cujas balas perdidas foram achar um bebezinho que nem mesmo encontrava-se fora do útero de sua mãe. 
O que mostra o grau de barbarismo que estamos atingindo em nosso país. 
Terrível. 

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