Mais uma vez, ainda ontem tive minha atenção chamada para essa impressão, quando uma colega observou que setembro já está entrando, praticamente, em seu último terço.
E, tal qual a estação de chuvas, que se recusa a retornar à nossa realidade - já completados mais de 90 dias de umidade e aridez de deserto- também esses pitacos iam passando pelo mês que marca o início da primavera em branco.
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Culpa de uma certa fadiga de material, talvez? De pura e simples preguiça mental da minha parte? Da sensação de mesmice transmitida por nossa situação econômica, representada por uma lenta, e ainda não convincente recuperação, longe de dar sinais de ser sustentada. Ao menos enquanto os níveis de investimento não mostrarem alguma reação, o que depende de uma difícil eliminação da capacidade ociosa apresentada por grande parte de nossos setores produtores de bens.
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Entretanto, tal cenário não impediu que o IBGE anunciasse, no primeiro dia do mês, um crescimento de 0,2% do PIB no segundo trimestre, tendo como base de referência o trimestre anterior, o que representa, no período de 12 meses, um crescimento de 0,3%.
Sinal de que, ao menos do ponto de vista técnico, o país finalmente deixou a recessão para trás, dado devidamente comemorado nos meios do governo e empresariais.
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As razões do crescimento foram atribuídas a uma reação do gasto em consumo das famílias, explicado por uma série de fatores, alguns dos quais do tipo "once and for all", ou seja, razões que não tendem a se repetir, tendo acontecido e se esgotado, bem como a seus efeitos.
Exemplo deste fator de crescimento foi a liberação das parcelas inativas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço que, além de auxiliar parcela da população a colocar "ordem na casa", acertando suas finanças e liquidando dívidas e obrigações, também contribuiu para que algumas famílias retornassem às compras.
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Acredito importante lembrar sempre que por serem de mais curta duração, os bens de consumo - e não me refiro a alimentos etc.- tendem a se esgotarem pelo uso, exigindo uma reposição sempre necessária, a intervalos não extensos de tempo.
Ora, depois de vários trimestres de indicadores indicando queda do nível de atividade, de queda dos níveis de emprego e renda, a possibilidade de acessar uma fonte de recursos inesperados sem dúvida nenhuma iria permitir a algumas das famílias beneficiárias da medida promoverem a substituição dos bens já em estado de total desgaste.
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Claro que a própria possibilidade que as cotas liberadas do FGTS permitiram, de que compromissos financeiros fossem saldados e saneadas as finanças pessoais de muitos cidadãos, permitiriam a reinserção desses brasileiros ao mundo do crédito, o que alimenta o fluxo de gastos.
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Adicionalmente há que se levar em conta que outros dois fatores, de caráter mais duradouro contribuem para explicar a elevação do consumo: primeiro, e mais importante, a queda da inflação, especialmente a queda dos preços de alimentos que permite a redução relativa do gasto com produtos essenciais, o que representa menor necessidade de alocação de recursos para tal finalidade e sobra de dinheiro para algumas outras aquisições de bens importantes. Em segundo lugar, houve um aumento do nível de trabalhadores com ocupação remunerada, não de emprego formal, mas ainda assim de pessoas que, talvez até no desespero partiram para "fazerem bicos", com remuneração que lhes permitiu elevar seu consumo.
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Por outro lado, a inflação mantida sob controle permitiu a redução da taxa de juros básica da economia, que atingiu ao menor nível, 8,25%, desde 2013. Embora a redução da taxa Selic, como se sabe, demora a se manifestar em redução das taxas de juros cobradas nas operações de crédito das instituições financeiras mais triviais, se se soma essa informação à possibilidade de muitas famílias terem liquidado obrigações pendentes, reduzindo a inadimplência, pode-se estimar que tenha havido uma sequência do movimento de elevação do consumo das famílias, também nos meses de agosto e até setembro.
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Razão talvez para o comportamento apresentado pela arrecadação federal, por exemplo, cujo resultado em agosto deve trazer surpresa positiva, apresentando crescimento bastante significativo, de 7,9%, quando comparado com o mesmo mês do ano passado.
Conforme o "papa" na questão tributária, José Roberto Afonso, da FGV, a recuperação da arrecadação, se positiva e importante, não pode ser superestimada, principalmente por estar concentrada em poucos impostos e poucos setores.
Refiro-me ao dado, anunciado hoje no portal UOL, por que a contribuição maior coube ao setor financeiro, bancos, principalmente, em movimento que mesmo surpreendente e inesperado, Afonso acredita se dever à reversão de provisões para devedores duvidosos, que permitiu aumento dos lucros do setor.
Confirmada essa hipótese, a possibilidade de que o FGTS liberado tenha permitido a reinserção no mercado de crédito de milhares de trabalhadores, que passam a contar com acesso a novas operações, em consequência da redução da inadimplência ganha força.
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Fora essa questão, e a redução da taxa da Selic, a economia e as questões a ela relativas, sofreu o impacto das sequência de escândalos políticos, de que fazem parte, entre outros fatos, a condução para o sistema prisional de Geddel, então em prisão domiciliar.
O anão do orçamento, sabe-se agora, é também o homem de 51 milhões de reais, toda essa grana acondicionada em sacos plásticos, malas e caixas de papelão, em apartamento que era usado como um cofre forte, ao que parece pela família Vieira Lima.
No episódio, ao menos há que se salientar que a mídia não fez qualquer menção ao fato de que 51, o valor encontrado, é sempre marca de uma boa ideia.
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Em outra frente, tivemos as acusações - já que ainda não se tornaram delações- disparadas por Palocci contra Lula, no depoimento prestado ao juiz santificado Moro, nas audiências que tratam da compra e doaçã, pela Odebrecht, de um terreno para o que seria - mas não se concretizou, o prédio sede do Instituto Lula.
Dias depois, destemperado, Lula depôs ao mesmo juízo, despejando adjetivos nada amistosos em direção àquele que foi considerado seu braço direito por muitos.
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Em minha opinião, contudo, nem Lula agiu de forma destemperada quando chamou a representante do Ministério Público de querida, um vício de linguagem peculiar a ele, nem quando questionou ao juiz se poderia dizer que estava em frente de um árbitro imparcial.
Pelo que senti, ele fazia a pergunta a título de desabafo, não para obter qualquer resposta. E mesmo não gostando do juiz empinado e empombado, acho que o juiz não deveria responder ao depoente naquele instante.
Se o fez, ainda mais tendo dito que condenara Lula por convicções - não por provas, só mostrou insegurança.
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A segunda denúncia contra temer, o líder político do que se convencionou chamar de quadrilhão, foi mais um dos fatos que nenhuma novidade acrescentaram a esse nosso pobre e podre país.
De há muito, desde antes do golpe até, temer já é notório líder de pessoas de extensa fama como Moreira Franco, o Angorá; Elizeu Padilha (ou Elizeu Quadrilha, como gostava de se referir ao político o ex-senador ACM); Geddel; todos com a exceção desse último, com foro privilegiado, por força de aceitação, pelos gilmares da vida, de atos de que apenas Lula deveria ser, como foi, privado.
E nem listamos acima o amigo Lima, coronel da PM paulista, nem os amigos das docas, nem os Loures, mesmo que daí saiam 500 mil, com poucos louros.
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Outra novidade, a substituição já mais que esperada de Janot e seu bambuzal e flechas por Dodge, que a imprensa insiste em descrever como profissional avessa à ribalta, aos flashes midiáticos, mas que não se constrange em nas brumas da noite, ir visitar a um denunciado, em sua residência, em encontro, para não ser diferente, fora da agenda.
Se é verdade que nada há mais desinfetante que a luz do sol, começa mal nossa nova PGR!!
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A respeito ainda dos dias finais de Janot como Procurador Geral e das trapalhadas por ele protagonizadas no período, quem sabe querendo achar desculpa para voltar atrás no prêmio concedido aos irmãos Batista, sou de opinião que, se as provas apresentadas na delação são de fato passíveis de serem utilizadas, então não há como, depois de obtê-las sob um acordo, voltar atrás e roer o combinado, mesmo que não concorde com o prêmio negociado na delação.
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Desnecessário ter de deixar claro, mas não concordo com delação que dá total liberdade para quem admite ilícitos cometidos, mas acho pior ainda, para as instituições do país, que um acordo fechado seja desrespeitado.
Porque alegando-se que eles, Joesley, seu irmão e Saud, o executivo seu amigo comprometeram-se a falar tudo e que omitiram irregularidades, é algo que, em minha opinião é completamente abstrato.
O que eles sabiam de irregularidades que pudessem falar? E que ficou demonstrado que eles sabiam, que era mesmo um ato ilícito e que esconderam para obter vantagens posteriores?
Complicado. Tanto quanto o comportamento de Moro, por exemplo, em relação ao doleiro Youssef, que não apenas mentiu, como depois de ter delação premiada acatada, voltou a delinquir.
Ainda assim, o tratamento que lhe foi concedido por Moro foi objeto de muito menos críticas.
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Mas, também é verdade e deve ser ressaltado, que válidas ou não as provas, todos vimos e ouvimos temer o anão usurpador, afirmar que tem que manter isso aí, ou que Loures era homem de sua estrita confiança, quem sabe tão íntimo que capaz até de ter, em seu nome, corrido com uma mala repleta de dinheiro pelas ruas da capital paulista.
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Finalmente, o mês de setembro traz a questão sócio cultural da exposição que o MBL resolveu censurar por ser contra a família brasileira.
Além da mediocridade de ser simples censura, de revelar que nada entendem (nem poderiam entender) do que é o obra de arte e seu significado subversivo, e de querer cada vez mais ser, sem qualquer procuração os defensores da família brasileira, o MBL mostra apenas suas verdadeiras raízes.
Tudo bem que ainda não chegaram ao mesmo comportamento de um Hitler, ordenando a queima de livros em praça pública, mas não resta dúvida que, pelo que pregam não estão muito distantes desse tipo de atitude.
A mim parece, contudo, que sem darem esse passo decisivo para a agressão ao direito livre de expressão e da tentativa, pela força, de impedirem a pessoas maiores de idade e com livre arbítrio de irem e assistirem a exposições artísticas, apenas serão os zumbis do tradicional movimento da TFP, de trágica memória.
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De minha parte, se não gosto da exposição prefiro não ir, ao invés de ficar mostrando todo o desconhecimento cultural, humanístico, que as pessoas que infestam as redes sociais com ataques à exposição de Porto Alegre demonstram.
Sou favorável à exposição e, caso o Santander, que já mostrou a estreiteza do pensamento de sua direção - ao menos a regional, a traga para Belo Horizonte, faço questão de ir vê-la. Até para depois, caso seja o caso, eu ter elementos próprios para gostar e defender ou não o material de arte.
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Em todo caso, fico apreensivo, se terei tempo ainda de ir visitar o Davi de Michelângelo, antes que o MBL consiga promover uma manifestação de tal monta, que obrigue o monumento a aparecer de cuecas.
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É isso. Estamos de volta para concluir o mês que dá início à estação das flores.
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