Inclusive o primeiro destes destaques, um comentário do presidente que me causou profunda consternação, indignação mesmo, foi objeto de brilhante crítica por parte do Dr. Arnaldo Lichtenstein, no Jornal da Cultura, ontem à noite.
Trata-se do trecho em que o presidente, a respeito de alegada falta de informação questiona: "... quem é que nunca ficou atrás do... da...da.... da porta ouvindo o que seu filho ou sua filha tá... tá comentando. Tem que ver pra depois que e... depois que ela engravida, não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, não adianta mais falar com ele: já era".
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Respeito opiniões divergentes em relação à minha, mas confesso que fiquei surpreso com o silêncio a respeito de tal passagem da aula de histeria e baixaria que o vídeo nos proporcionou.
Admito até que, tendo em vista os interesses mais prementes ligados à reunião como a comprovação cabal da tentativa de interferência nos trabalhos e investigações da Polícia Federal, a ameaça ao então ministro da Justiça (o injusto, fora da lei e condescendente e covarde) Moro, as questões muito mais sérias e que é outro assunto que o pitaco irá tratar, tal frase poderia ficar encoberta, ou esquecida.
Daí minha alegria de ver o diretor de Clínicas do Hospital das Clínicas de São Paulo, o dr. Lichtenstein, trazer o tema à luz.
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É que eu, como o médico, sou pai. No meu caso, de três adultos, as caçulas com mais de 30 anos. (pouco mais. Talvez .... nem tudo isso!!rsrsrs).
E, mesmo tendo que admitir várias dificuldades de estabelecer uma comunicação com meus filhos, que seja produtiva e saudável como a que minha mulher consegue manter, uma conversa que não termine em divergência aberta e críticas, além de alguns poucas falas em tom mais elevado, a verdade é que nunca, em toda a minha vida, fiquei atrás de porta para ouvir o que não tive coragem de questionar, caso julgasse necessário, "na lata".
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Nunca fiquei atrás da porta, nem procurando espionar o celular, nem tentando bisbilhotar anotações, escritos, nada de meu filho, ou de minhas filhas. Nem de minha esposa. Nem de quem quer que seja, amigo ou até inimigo meu.
A questão fundamental sempre foi: o que ganho com isso?
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Por isso é que fiquei chocado com a frase e o problema que o Dr. Arnaldo tão bem explorou, depois de confessar ter filhos com a idade de 20 anos, que são "gente de bem".
Mesma opinião que tenho a respeito de meus filhos: pessoas com quem vale a pena conviver e ter contatos, conversas, troca de experiências e aprendizados.
A questão é que o doutor e eu aqui em casa, ao que parece, somos do diálogo. Diálogo franco. Conversa olho no olho. Com cobranças, mas sem condenações. Com preocupação estampada, mas sem o desejo de guiar a vida de adultos, cuja forma de enxergar a vida e se comportar é aquela que nós mesmos cultivamos e fizemos questão de ensinar.
Se ensinamos errado e/ou não tivemos competência, mesmo que não queiramos admitir a hipótese, é outra questão. A essa, o círculo de relações e amizades, a rede de contatos dos filhos é que seriam mais aptos a opinar.
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Nesse momento até abro um espaço para tratar de uma letra de música que tem, desde aquela sexta feira, vindo com frequência à minha mente. Música de Erasmo Carlos que diz: "Ei, mãe. Não sou mais menino. Não é justo que você queira parir meu destino... você já fez a sua parte, me pondo no mundo..."
Interpreto esse ato de por no mundo como mais amplo que apenas parir. Trata-se de educar para o mundo.
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Mas, voltando à fala, o que viraram os filhos numerais ou numerados do Messias? Esses que ele vivia - talvez ainda o faça - espionando atrás da porta? Investigando, coletando informações?
Exemplares de comportamento ético e civilizado? Gente que qualquer um de nós sentiríamos prazer de trocar algumas ideias, algumas horas de prosa? Alguém que poderíamos contar causos, e trocar piadas, minimamente dignas de serem chamadas de engraçadas? Pessoas com quem poderíamos nos abrir em alguma bebedeira de fim de noite, num bar?
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Os filhos do presidente, são o oposto disso. Com eles, não teria qualquer interesse sequer de cruzar na rua. Afinal, há certos vírus que se transmitem pelo ar. E são contagiosos, como os que fazem mal, tornam o ambiente putrefato. E contra os quais não há vacina.
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O Dr. Lichtenstein, mencionou algo que me escapou: é a menina a que ficou grávida, com uma crítica subliminar a um comportamento sexual. Não foi o rapaz que engravidou a namorada.
Comportamento típico de alguém mais que machista, misógino. Indigno de estar onde está e de nos representar.
Ao menos a nós brasileiros de bem. Que não nos tornamos bolsotários, esses seres idiotas, e pouco qualificados, até por ausência de alguma formação moral mais atenta e mais eficiente, capaz de despertar valores e não temores, e conquistar a educação e o conhecimento e preparo para a vida, sem ameaças, espionagens e punições.
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De carona na observação do ex-capitão, fico me perguntando: o que Bolsonaro faria se descobrisse a filha grávida? Qual seu comportamento frente à desonra que inevitavelmente sentiria, dada sua formação obtusa, canhestra e sua visão de mundo tão limitada?
Entre o aborto, a surra no namorado da filha, ou até algo pior, ele adotaria que comportamento? Ou ambos? Obrigaria a realização de um casamento em tudo digno de dar errado, no futuro?
Ou todas as alternativas acima?
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Deixemos conjecturas para lá. O momento é grave para que fiquemos criando enredos fantasiosos, de horror.
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Uma segunda questão que me causou imediatamente aversão e preocupação tem sido já suficientemente explorado na mídia: trata-se da questão de se armar a população para que possa reagir a ... qualquer prefeitozinho ou governador que determina o fim autoritário de seus direitos, especialmente o direito de ir e vir.
Medidas autoritárias, que incluem até mesmo a condução com algemas de pessoas distintas, como poderia ser o caso de alguma filha nossa.
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De novo, sou obrigado a dizer que filha minha não estaria na praia, se recusando a cumprir a ordem policial de voltar para casa, por conta própria.
Pelo menos eu acredito nisso.
Porque minhas filhas foram educadas e aprenderam que o nosso direito e nossa liberdade, por mais sagrados que sejam, vão até onde começa o direito e a liberdade de outros.
Ou seja: meus filhos, mesmo que pudessem ser classificados com egoístas, egocêntricos, voltados apenas para seus próprios umbigos, onde o mundo ocuparia lugar de pouco destaque, não seriam capazes de colocarem a vida dos outros em risco. Apenas para poderem curtir o sol, o vento, a areia, ou mostrar um corpo que nem tão merecedor de atenção poderia ser.
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O que queria a mulher que se recusou a sair da praia, o que gerou a sua condução sob algemas, para a delegacia?
Ah! não há dúvida que as algemas foram algo talvez precipitado ou até agressivo.
Especialmente para ser utilizada em jovem mulher branca, frequentando praia famosa, ou da moda, no Rio.
Afinal, fosse algum pretinho, pobre, de comunidade carioca ou de qualquer outro morro das periferias das cidades brasileiras, nem teria havido algema. Nem teria virado notícia da ação desumana e desnecessária dos agentes da lei e da ordem.
Se o(s) pretinho(s) estivesse então, jogando games no interior de casa de sua família, talvez a indignação apenas surgisse por conta do gasto de tanta munição: granadas e mais de 70 tiros.
Gasto de munição inútil, desnecessário, já que apenas um "teco", resolvia a questão.
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Desculpem a ironia, sem qualquer graça. É que não me conformo com o Estado, e seus agentes oficiais, promovendo uma "limpeza étnica", como o fuzilamento de um músico pelas avenidas do Rio, ou o garoto João Pedro.
Todos que se somam à morte de Marielle, encomendada por poderosos junto ao aparato auxiliar das forças de segurança, as milícias armadas, tão ao gosto do genocida que o presidente do Brasil parece incorporar.
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Mas, armar a população não traz apenas a possibilidade de o povo estar apto a ir às ruas, em atendimento a qualquer eventual convocação por quem não passa de um liberticida da pior espécie.
Se ao mesmo tempo, decretos de armas e munições se tornarem cada vez mais ampliados em seu alcance e filhinhos do papai, ficarem divulgando filmagens de grupos de desajustados dando tiros ao léu, apenas pelo prazer de fazerem barulho ou mostrarem a virilidade que seu próprio corpo parece não possuir, então o que teremos é um exército de milicianos na rua.
Sob os olhares de aprovação dos generais que se destacaram mais pelas atrocidades e crimes cometidos nas missões que lhes foram incumbidas. Missões de paz, que os militares transformaram em ações de selvageria e mortandade, a ponto de, para vergonha de nosso país, tais militares serem objeto de solicitação de sua retirada do comando da tropa de PAZ!!!
Caso do general Augusto Heleno, defendido por seus companheiros, todos coronéis de pijama, da reserva, que não temem em falar abertamente da possibilidade de uma guerra civil
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Bolsonaro falou em armar o povo para que reagissem a uma proposta autoritária. Em sua mente deturpada, essa proposta autoritária seria, por óbvio, da esquerda, dos comunistas, seja lá o que isso signifique. Ou pior, com o significado que Bolsonaro lhe dá: qualquer coisa que contrarie sua vontade.
Pois bem: armar o povo para ir às ruas, defender o fim da esquerda autoritária, com a instalação da autoridade liberticida, selvagem, da lei do mais forte, no caso, o ocupante do poder nos dias de hoje.
O que os bolsotários não percebem. Lutam em prol da defesa da liberdade, fazendo questão de defenderem o seu oposto: a implantação de uma ditadura mais feroz, militar.
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Em seu discurso, o sociopata, além de xingar como poucos, também falou de que todo o governo que desarmou o povo - aqui no Brasil, movimentos nesse sentido do desarmamento se dão desde FHC, ou Lula - foi para preparar a instalação de um governo autoritário. Afinal, o povo sem armas não reagiria.
Talvez por isso, Bolsonaro odeia história, educação, cultura: não se sabe de qualquer movimento de que foi favorável ao desarmamento aqui em nosso país, nas últimas décadas, destinadas a implantar nada mais que a sociedade livre, democrática, soberana.
Salvo se para o atual chefe do Executivo, sociedade democrática seja a sociedade comunista, por representar a chegada do povo ao poder.
Da maioria do povo.
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Minhas preocupações incluem outras questões: quem irá ter recursos para comprar armas e munições? Todos os cidadãos, mesmo os que não têm recursos sequer para terem uma alimentação digna?
Os cidadãos que o ministro cada vez mais decadente da Economia, deseja remunerar - sem direitos outros - com 200 reais?
Os jovens que o mesmo fascista que cada vez vai ficando mais nítido, o tal do Guedes, deseja levar para fazer treinamento ou estágios, pelos mesmos 200 reais, no Exército, apenas para se tornarem objetos de manipulação e lavagem cerebral? Para depois saírem às ruas em defesa de que ideais de liberdade?
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Aquela defendida por esse mesmo sinistro, para quem a classe média, o cidadão que ganhou anteontem uma graninha tem o direito de ir se "foder" perdendo tudo em cassinos, de livre funcionamento?
Ou isso é uma estratégia de tornar a classe média cada vez mais empobrecida ou é mera empulhação sob a desculpa de trazer investimentos, recursos, talvez empregos e renda, livrando os barões do dinheiro do mercado financeiro livres de serem tributados, já que tais empreendimentos, ou resorts, trarão muito imposto. Além de muitos suicídios e crimes?
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Mas essa excrecência que é nosso sinistro da Economia, parece não dar levar em consideração que os ricos já viajam e vão jogar, quando o desejam em cassinos em todo o mundo. Comportamento que, mais limitado, também alcança a classe média mais abastada.
A abertura de cassinos no Brasil apenas seria o atendimento a uma demanda de quem não pode se deslocar para jogar fora do país, com mais frequência: nossa classe média, que logo iria ficar mais pobre.
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E olhe que sou favorável à aprovação da volta dos cassinos, sob condições que não foram objeto de qualquer consideração pelo ministro, exceto e insisto, mais uma vez, para deixar cada um se "foder" como bem o desejar....
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Voltando à questão das armas e do armamento da população, se os pobres não teriam condições de ter acesso a armas e munições, e os ricos todos tivessem armados até os dentes, não custa perguntar: como os pobres teriam acesso às armas? Estaríamos, mesmo que involuntariamente, incentivando ondas de assaltos, violências, furtos e roubos, em busca da defesa de pessoas desses segmentos?
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Quem sabe aí, não justificaria a ação da polícia, matando bandidos que cometeram crimes até bárbaros, para tentarem se armar e se sentirem incluídos na sociedade. Afinal, se todos têm armas, porque alguns não podem ter? Só para serem tratados com cidadãos de segunda categoria, excluídos do bangue-bangue?
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Por outro lado, se cidadãos de bem, nobre estirpe (seja lá o que isso possa significar) se encontram, andam armados, têm munição, qualquer ato que pudesse atemorizá-los, que eles pudessem se sentir vítimas potenciais de alguma agressão ou ataque não permitiria a eles, cidadãos acima de qualquer suspeita, de atirarem e matarem quem apenas não tinha a cor de pele que eles considerassem mais correta? Ou vestimentas de grife mais badaladas? Ou condições de comportamento, fala, visão de mundo mais adequados?
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Estaríamos praticando além do armamento da população, a liberação da prática do genocídio da pior espécie, a eugenia.
Sob as bençãos do presidente que nem precisaria de sujar as suas mãos.
Bastaria ter milícias e incentivá-las, ter polícias e cobrar delas o respeito obtuso à hierarquia, ou o povo de maior poder aquisitivo, liberado para por para fora, como catarse, sua mentalidade doentia e egoística, de que o mundo é uma criação de Deus para atender à vontade deles.
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O que seria engraçado, já que subverteria a própria noção de um deus, agora, submetido aos desejos e caprichos de quem acha que tem todos os direitos e que de fato é quem manda.
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