sexta-feira, 8 de maio de 2020

Pitacos livres, leves e soltos. E os temores (de novo) de uma grave crise institucional


Falar o que? Que comentário posso fazer da entrevista que a secretaria da Cultura, Regina Duarte, concedeu à CNN Brasil?
Que a ex-atriz global me deu pena? Que mostrou o quão baixo uma pessoa pode chegar quando opta por abrir mão de sua dignidade, de seu caráter, de sua história, arrastando para o lixo toda sua trajetória de vida pessoal e profissional, pelo mero apego a um cargo, uma função, uma posição que julga elevada?
Quando adota uma postura de bajulação, de mero capacho, permitindo-se anular e transformar-se em um não-ser. Tudo na ânsia de se destacar perante um indivíduo elevado à condição de objeto supremo de sua veneração, seu culto. O que, de  resto, apenas a iguala a um sem número de vira-latas, que sem qualquer complexo, contentam-se em ficar abanando o rabo e babando no solado de seu amo.
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Posso afirmar que não tenho nada contra essa opção.
Até porque acho que, democraticamente, cada um professa a fé, e adota a crença que lhe traz maior grau de satisfação íntima. A secretaria optou por adorar o Mito, a nova roupagem do velho Bezerro de Ouro. Esquecendo-se de que nem tudo que reluz é ouro.
E que bom: suas escolhas parecem estar lhe proporcionando a paz e o conforto internos. Razão que a permitiu manifestar em várias ocasiões como se encontra leve, livre, solta.
Afirmação tantas vezes reiterada, que capaz de despertar a ideia errônea de servir ao propósito de autoconvencimento, de quem busca ocultar seu real estado de espírito.
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Por isso, suas sempre agradáveis reuniões com o presidente, com quem tanto se diverte partilhando suas risadas. Ou seu encontro com o Sérgio Camargo, da Fundação Palmares, tão simpática que difícil até pensar em qualquer antagonismo.
E, no entanto, foi ela cuja voz, capturada em áudio chegou a admitir estar sendo dispensada. Como uma carta qualquer descartada do baralho. No lixo da mesa...
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Pois foi seu estado de saúde física e mental que me preocupam. Afinal, lembra-se bem de fatos do passado mais longínquo. Chegou a cantarolar uma musiquinha ufanista que embalava a seleção, o futebol, as massas e que, bradada em alto e bom som, ajudava a abafar os gritos lancinantes de pavor e dor, que escapavam das celas da ditadura, onde a tortura, o choque elétrico e o pau de arara eram a representação do pelourinho moderno.
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Mas essa página da história a secretaria prefere não ver remexida. Prefere deixar esquecida. Afinal, como ela admite sem negar, nessa fase  leve de sua existência que ela vem experimentando, ela não está disposta a ficar arrastando caixões.
E, como seu mestre já disse, morte sempre teve em todo lugar. Seja por tortura do Estado contra seus cidadãos, seja por uma pandemia.
Talvez até pela confusão que transforma a pandemia em uma gripezinha e essa gripezinha em apenas mais  uma forma de tortura contra o povo.
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Mas se recorda tão bem de fatos passados, confunde-se com o presente. Insiste em que uma gravação recente, que cita fatos recentes, é antiga. Acusação e cobrança requentadas.
E, leve e ligeira resolve apelar e encerrar a entrevista sentindo-se traída. Afinal, não foi aquilo que ela combinou. E as perguntas passaram a carregar um peso e uma crítica que ela mostrou não ter estrutura nem espírito democrático para rebater.
Uma pena.
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Ações de Bolsonaro e o constrangimento que ele procura provocar

Sair do Alvorada acompanhado de um grupo de empresários. Fazer a comitiva desfilar atravessando Praça dos Três Poderes em direção ao prédio sede do Supremo Tribunal Federal;  forçar a realização de uma reunião extra-agenda com o presidente daquela Corte, para reclamar das medidas de restrição e isolamento social que prefeitos e governadores têm imposto em suas jurisdições; filmar e transmitir a reunião para suas redes sociais é apenas mais uma bravata desse senhor dos pântanos que ocupa Brasília.
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E mais um passo nessa perigosa escalada autoritária e golpista que esse senhor amigo da morte, da tortura e das milícias, visa construir e manter em permanente estado de tensão.
Afinal, como alegam os empresários, a reunião agendada com o Executivo tinha outra pauta. E, acreditando que suas demandas por uma saída planejada da política de isolamento era o objeto a ser apresentado à apreciação do STF, os empresários sentiram-se como massa de manobra do presidente. Bucha de canhão, em uma luta cujo interesse do presidente era apenas pressionar e tolher a liberdade e autonomia do Judiciário.
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A ação de Bolsonaro, visando atirar os empresários contra os membros da mais alta Corte, acontece justamente quando ele é parte em vários procedimentos de investigação e várias ações, que vão desde a obrigatoriedade de apresentação de seus exames de teste para o coronavirus, até a apresentação de evidências que confirmem que não procurou interferir, indevidamente em órgãos de Estado.
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Por trás do ato midiático, sua não disfarçada intenção de jogar a parcela estupidificada e manipulada de seu eleitorado contra as instituições, contra o Estado de Direito. Afinal, não faz muito tempo que os fieis de sua seita estiveram manifestando-se a favor do fechamento do Supremo. Com sua autorização, conhecimento, presença, participação e apoio. Não diria sua organização para não roubar o espaço privilegiado que, nesse caso, deve ser concedido a seus filhos.
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Nunca é demais lembrar que novas manifestações já são agendadas pelas redes sociais. Com a participação de quem agride mulheres, enfermeiras, jornalistas, e até de grupos armados e que se dispõem a oferecer treinamento de táticas de guerra.
Sob o olhar complacente das Forças Armadas. Armadas e solidárias com esse tiranete que ocupa o Executivo.
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Aí é que mora o perigo.
Não apenas nas causas em que Bolsonaro é investigado. Mas na reação de seus mais subservientes generais, que podem se transformar no catalisador de uma crise institucional grave, senão no seu gatilho.
Intimados a depor, os ministros generais militares, analisam a possibilidade de não comparecerem.
Como a lei pode ser dura, mas é a lei e atinge a todos com o mesmo vigor (embora mais a uns que a todos os demais!), caso se configure a ameaça de não cumprimento da intimação judicial, a medida do ministro Celso de Melo, talvez precipitadamente já estipulou que se marque nova data para depoimentos, de acordo com os depoentes que, se continuarem com sua recusa, deverão ser levados sob condução coercitiva. Ou seja, sob vara.
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Como se sabe, é mais fácil um cabo e um soldado fecharem um Supremo que conduzirem militares que se acham os soberanos guardiães da Ordem, Segurança e da própria Vida em nosso triste e debilitado país.
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É nessa hora que decisões não cumpridas do STF, capazes de darem origem a um inegável crime de responsabilidade podem lançar às ruas milicianos armados, terroristas treinados e dispostos a tudo para preservarem o poder de seu mito, e militares agastados com o atrevimento resultante de não atenderem como qualquer cidadão de bem, civil ou não, à ordem da autoridade legal.
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Cada vez mais temo pela possibilidade de uma conflagração que irá fazer as covas preparadas para a Covid passarem a ser tomadas por corpos dos que tombaram em defesa dos ideais que fazem valer a pena que a vida seja vivida.
É isso.

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