sábado, 9 de maio de 2020

Generais do Exército e generais das batalhas da vida: heróis a quem a imprensa não dá ouvidos, por estarem desarmados


Promovido aos postos de general de brigada em 2003 (primeiro ano do governo Lula), general de divisão em 2008, e General de Exército em 2011 (primeiro ano de governo da presidenta Dilma),  em 2015 o militar Eduardo Villas Bôas foi indicado para ocupar o cargo de Comandante do Exército brasileiro, também no governo Dilma.
Vale observar que dentre os critérios elencados pela Lei n° 5821/72 -  Lei de Promoções dos Oficiais da Ativa das Forças Armadas, para as vagas de oficiais generais o critério a ser adotado expressamente é o processo de escolha, conforme artigo 11, item c.
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Tido como forte líder no meio militar, por toda sua trajetória na Corporação, o general deve ser merecedor de muito respeito, consideração e prestígio, já que escolhido para ocupar cargos de oficial superior e, inclusive de comandante máximo da Força nos governos petistas.
Considerando-se sua aversão que demonstra àquele Partido, presumo que a conquista de posições por indicação por desafetos tenha como explicação única, o reconhecimento de sua competência e liderança.
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Também é digno de referência a sua altivez e força de vontade, além de férrea disciplina, manifestadas por ocasião da enfermidade que o acometeu, a ELA (esclerose lateral amiotrófica), quando no comando de 222 mil homens.
Sua fibra, porém, não o impediu de dar sequência a suas atividades como comandante da tropa.
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Hoje, o general ocupa a posição de conselheiro de Bolsonaro e, face a inúmeras controvérsias a que deu origem, pela manifestação de opiniões sempre em tons de ameaça velada ou não,  e pressão inclusive exercidas sobre outras instituições, como o Supremo, visando limitar a tomada de decisões fruto de seu livre  livre funcionamento,  de sua independência e autonomia, procurei conhecer melhor a sua história.
Desnecessário dizer, talvez, que tais manifestações sempre ocorreram, como em todos os contos de suspense e traição, na antevéspera de algum evento, ou julgamento em que o ex-presidente Lula era personagem central.
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Assim, minha curiosidade inicial já partia de minha ciência de que, depois de longo período, o  general abria o espaço e reintroduzia a discussão de questões políticas, sociais e até econômicas, nas fileiras do Exército, permitindo que opiniões de toda espécie, sobre o ambiente nacional, pudessem ter acolhida.
Na oportunidade, o general Augusto Heleno, logo quem?, chegou mesmo a afirmar que os militares podem opinar sobre a situação política do país, por não serem “ antas pacíficas, omissas e sem cérebro” (citação extraída de página sobre Eduardo Villas Bôas, no Wikipedia).
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Não tenho nada contra militares dando palpites em questões políticas, cidadãos que são. Apenas, constato apreensivo, tratarem-se de cidadãos de classe especial, já que armados e detentores do monopólio legal do uso da força.
Claro que não individualmente, nem por vontade e interesse próprio. Mas, vai saber.... e sempre tem o excludente de ilicitude, por violenta emoção...
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Mas fui pesquisar e descobri que o general gaúcho, nascido em 1951, iniciou seus estudos militares na Escola Preparatória de Cadetes do Exército em Campinas, no ano de 1967, quando estava com 16 anos.
Chamo a atenção para esse fato, apenas por ser da tradição dos militares, desde aqueles que protagonizaram o movimento dos 18 do Forte. Antes até....
Tradição que se mantinha, especialmente em famílias do Nordeste que, contando com um grande número de filhos e sem condições de assegurar a educação que uma família típica de classe média urbana devia propiciar aos seus filhos, decidia por matriculá-los nos colégios militares, então gratuitos.
Outras opções eram a de não completar os estudos, dar sequência à lida dos pais, ou então a frequência às escolas confessionais, os seminários... Também era da tradição, ao menos assim nos relata a biografia de Juarez Távora, que famílias com mulheres casadas com algum indivíduo bem sucedido em suas atividades profissionais na capital do país, o Rio, ajudassem na vinda dos jovens para completarem sua formação na capital, mais uma vez, em escolas militares.
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A pesquisa que fiz não mostra se foi a opção de Villas Bôas pela formação militar se deu por motivos econômicos ou por vocação, o que pouco interessa.
A mim, interessa observar que de Campinas para Agulhas Negras, e daí para os níveis de aperfeiçoamento, até o oficialato e a Escola de Comando e Estado Maior do Exército, onde tornou-se instrutor, a folha do General não tem qualquer senão.
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Mas, convenhamos que o general fez toda sua carreira em tempos de paz, em um país que nunca teve qualquer participação mais ativa em ações bélicas, e que nem mesmo, pela idade, o hoje general pode alegar ter sido um dos rapazes que lutaram a luta desigual contra jovens estudantes de classe média urbana, sem preparo militar de qualidade, que foram tachados de perigosos guerrilheiros...
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Eduardo Villas Bôas merece o respeito que granjeou por ter cumprido seu papel com dedicação. Ponto.
Daí a tornar-se referência para a sociedade, e para a grande imprensa e toda a mídia, que repercute todas as suas declarações, inclusive, com receio de comentar criticamente o descabimento, em regime democrático de Estado de Direito, o general ficar se pronunciando sobre tudo e sobre todos, como se senhor e dono da razão, vai uma grande distância.
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Vários civis, funcionários públicos se destacaram muito mais em seus cargos e funções públicas que o general, por mais respeito que sua folha de serviços imponha.
Eu mesmo conheci pessoas onde trabalhei, que forjaram planos de guerra contra a inflação e que, mesmo sujeitos a várias críticas de minha parte, venceram as batalhas que se propuseram lutar.
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No Banco Central, local em que tive a oportunidade de trabalhar, não foram poucos os “generais” que, contra tudo e contra todos, muitas vezes, conseguiram se sagrar vencedores de suas campanhas. O que faz o Banco Central ser reconhecido como a instituição que saneou o setor financeiro no Brasil; que saneou e deu respeitabilidade aos consórcios que, sob a adminitração de outros órgãos não eram devidamente tratados. Foi o Banco Central quem fez o setor de Cooperativas, poder demonstrar para a sociedade o nível de seriedade da maior parte de seus abnegados gestores.
Foi o Banco que, mesmo sob críticas pesadas, conseguiu manter o país vitorioso nas lutas de combate à inflação; de controle de riscos incorridos pelos intermediários do Sistema Financeiro, o que permitiu que essas instituições não fossem arrastadas à bancarrota pelo vendaval da crise financeira de 2008.
Ou até antes, e por coisas mais triviais, como quando armaram verdadeiras legiões de soldados para ficarem de vigília a fim de enfrentarem o temível inimigo do Bug do Milênio. Tão falso quanto as falas de Bolsonaro e suas brincadeiras de churrasqueiro. 
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São muitas as guerras e muitos os generais. Alguns já fora do campo da batalha, aposentados.
Não os vejo dando palpites a torto e a direito, mesmo que não tenham armas para lhes assegurarem serem ouvidos. Exceto as armas dos argumentos e da razão.
São mentes brilhantes. Vários em condições de contribuírem apontando alternativas de solução para problemas do país.
O mesmo vi na Receita Federal, outro órgão sem armas, exceto a lógica dos programas de coleta de dados e informações econômicas, contábeis e econômicas pessoais.
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Vários desses generais também têm posições políticas semelhantes às do general. Mas a imprensa não lhes procura, não os dá ouvidos e eles não ameaçam, como criança birrenta.
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Declarações do general, tanto quanto as do “sábio e autodidata filosófico” Olavo de Carvalho, cuja principal preocupação é escandalizar com palavrões a plateia que acredita que ele é mais que mero astrólogo, temerosos talvez de sua capacidade de previsão do futuro, a meu juízo, não deveriam merecer qualquer linha, qualquer divulgação.
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O que o general acha da entrevista de Regina Duarte, ou deixou de achar, pouco deveria importar. Afinal, cada um gosta de um tipo de artista. Uns gostam do que domina o palco. Outros dos que levam reflexão e consciência à plateia.
Alguns, ainda, gostam de quem rouba a cena, não por motivo nobre. Mas por serem canastrões que não se encaixam no cenário, ou por que são mesmo da espécie dos ladrões que são capazes de roubar atenção, papéis, sonhos, e até verdades e história.
Enfim, cada um tem uma estrela para admirar.
O general tem 4 e eu acho que a imprensa gasta papel de mais, quando há gente paisana, que tem mais, muito mais que toda uma via láctea. Têm o sossego de terem lutado o bom combate e vencido. Portanto, têm todo o mundo ao seu redor.
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É isso.

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