quinta-feira, 18 de junho de 2020

Pelo fechamento de acordo de delação premiada com Queiroz e sua imediata libertação; pelas mortes do Covid e pelas manifestações contra o fascismo

Praticamente duas semanas sem postar qualquer pitaco.
A explicação é simples e uma análise mais banal, dessas que a gente faz olhando o retrovisor serve para justificar minha imobilidade.
Vamos a ela. Foram duas semanas dominados pelo protagonismo, quase exclusivo, dos temas políticos.
Em especial, o surgimento dos manifestos pró-democracia que, finalmente, ganharam as ruas, apesar das recomendações de manutenção da quarentena, de isolamento ou distanciamento social, de uso de equipamentos de segurança como máscaras.
***
Em relação a tais manifestações, devo admitir minha simpatia a todos os movimentos em prol da democracia, sejam eles originários de que grupos forem, sejam integrados por cidadãos cuja filosofia política e interesses possam não estar em sintonia com o meu pensamento.
Concordo que, nesse instante em que cada vez mais 'pensamentos, palavras, atos e omissões' transformam-se em ameaças, veladas umas, escancaradas outras contra a nossa democracia, contra nossas instituições e, ao final, contra a nossa sociedade como um todo, torna-se mais que urgente que as forças de resistência venham a se unir. E manifestem com toda a sua força contra a possibilidade de aventuras de inspiração fascista, autoritária, destruidora de valores de liberdade, igualdade e oportunidade de direitos.
Em minha opinião, já estava passando a hora de nós, que somos a maioria "em desencanto" com o projeto e os rumos de destruição institucional  a que o país foi condenado a partir da eleição e posse de um sociopata, reagíssemos e cobrássemos o afastamento desse protótipo de genocida que ocupa o cargo maior do Executivo em nosso país.
Nesse sentido, independente de ser um movimento tipo ônibus ou guarda-chuva, é importante que as forças democráticas que compõem nosso espectro político, da esquerda à direita, possam agir unidas, como na grande campanha em prol das "Diretas Já".
 ***
Por tal razão acompanhei com interesse os vários manifestos vindos a público, na mídia ou nas redes sociais, e até divulguei, na medida de minhas limitações, e compartilhei postagens lembrando que #Somos70%,  movimento iniciado pelo economista Eduardo Moreira e que se pretende menos sujeito à possibilidade de vir a ser apropriado por algum grupo ou liderança.
Claro, admito que a ausência de liderança e de coordenação pode se tornar, em algum momento, um obstáculo à ação mais efetiva em defesa do Estado de Direito nas ruas e cidades.
***
Mas, admitir que #Somos70%, Estamos Juntos, Basta são importantes e devam agir unidos, procurando, na medida do possível, conciliar eventuais pontos de vista discordantes em torno de algumas ideias centrais na luta pelo afastamento desse des-governo e o que ele significa ou deseja, não quer dizer que não entenda a posição de líderes políticos ou partidários que não se sintam à vontade em incluir seu nome ao lado de outros que representem sua própria negação.
***
Entendo, pois, que Lula se recuse a assinar um abaixo-assinado em que sua assinatura estará ao lado da de alguém com intenções tão desonestas e criminosas quanto a de Sérgio Moro.
Acredito que até para ser oportunista, há que se ter um mínimo de princípios (uma antítese) e de critérios.
Não pensasse assim, não poderia concordar com Karl Popper, e seu paradoxo da tolerância, que afirma que "a tolerância ilimitada leva ao desaparecimento da tolerância. (ma vez que) Se estendermos a tolerância ilimitada aos intolerantes, e se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, ... os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles."
Concordo que devemos nos reservar o direito de suprimir as filosofias intolerantes, até mesmo pela força, ou seja, e para resumir: concordo com o direito de não tolerar o intolerante.
***
Então, porque razão cobrar de Lula uma assinatura, logo dele, reconhecidamente um político defensor das liberdades democráticas, como ele deixou claro em 8 anos em que exerceu o mandato de presidente da República?
Ou a ausência de sua assinatura em um manifesto que prega o que ele sempre praticou pelo exemplo, vai ser interpretado como se ele estivesse pactuando com o desgoverno desse Mito de araque?
Tal qual posso ser intolerante (meus filhos diriam radical!) na defesa da tolerância, sou favorável a que Lula não queira aparecer, no futuro, nas páginas da história, como tendo estado ombro a ombro com seu algoz.
***
Sim! porque mesmo que tenha feito um governo repleto de atos de corrupção, e mesmo que tenha se aproveitado  em proveito próprio ou de seus familiares, dos benefícios ilegalmente daí extraídos, a verdade é que esse ex-juiz e ex-ministro e eternamente criminoso praticante de "lawfare", caçador de líderes petistas que atende pelo nome de Moro, enquanto teve condições agiu para riscar, fazer desaparecer, aniquilar o homem e sua obra, chamado Lula.
***
Não sou defensor de Lula. Eleitor nunca fui.
Acho até que existe muito motivo para suspeições e para que investigações sérias e isentas possam ser realizadas.
Mas não admito, nem concordo com a perseguição que lhe moveu - da forma que se aproveitou para fazê-lo - alguém que tinha tanto interesse pessoal em anular a pessoa do ex-presidente.
Por isso entendo Lula e sua opinião. Nessa situação.
Até entendo também, e concordo com ele, que tais manifestos deveriam aprofundar na discussão de certas questões que uma mera substituição de nomes no exercício da presidência - seja Messias (ele não!), seja Mourão (ele também não!), seja qualquer outro que venha a concorrer em uma eleição, direta se o TSE agir rápido e cassar logo a chapa de nossa tragédia, ou indireta, em caso contrário - não seria capaz de tratar.
Refiro-me à anulação de todas essas decisões políticas cujo interesse maior consistiu e permanece sendo a destruição de direitos trabalhistas conquistadas em lutas de anos.
***
Aqui concordo com Lula: a democracia restabelecida para que tenha sequência a política de aprofundamento da espoliação e expropriação dos trabalhadores, por uma elite econômica predatória e parasita, liberal apenas quando identifica oportunidades reais e tangíveis de benefícios e, ao contrário, intervencionista quando se trata de partilhar prejuízos com a sociedade em geral, é trocar seis por meia dúzia.
Sou de opinião que um cachorro com fome e sem forças não irá latir ou abanar o rabo, por estar morrendo em um regime mais ou menos liberal ou democrático.
***

Mas, não foram apenas as manifestações de grupos contra o proto-genocida ou favoráveis (sim, ainda existem os bolsotários, alguns gente bem intencionada e mal esclarecida, outros apenas a escória mesmo na escala de nossa humanidade!), que dominaram as duas semanas.
Houve as manifestações várias de militares, muitos dos quais pendurados em cargos do governo e com receio de perderem a boquinha que lhes assegura algum tipo de privilégio. Ao menos o de poder levantar e tirar o pijama, ou o de não ter que ir jogar damas nas rodinhas de quarteirões fechados.
Ou seja: alguns militares, estariam reclusos em total ostracismo, não fosse o capitão de araque depender deles para sua blindagem.
***
Curioso é que, manifestando-se contrários a "infundados ataques feitos a um colega de farda", acabam mostrando o verdadeiro caráter de que são portadores e que nunca possuíram. Afinal, perfilam agora, com alguém que foi convidado a se retirar da Arma, justamente por querer praticar ato terrorista contra instalações militares.
Daí que concluo que de duas, uma: ou sempre foram terroristas, desde aquela época, ou transformaram-se agora no inimigo que sempre se preparam para combater.
Na psicologia, parece-me, a isso se dá o nome de síndrome de Estocolmo.
***
Mas, quem sou eu para criticar militares de reserva, esses valorosos combatentes em prol da pátria, se eles não têm pruridos de se revelarem como de fato são.
***
A propósito de arroubos e manifestos de apoio ao protótipo de ditador, a verdade é que parece-me que Bolsonaro estica a corda o máximo que pode, como se estivesse praticando um jogo de cabo de guerra, até que o lado adversário caia de fundilhos para cima... e a brincadeira tenha possa prosseguir.
Porque, não fosse pelos filhos completamente fora dos padrões normais que foi capaz de gerar, parece que a mentalidade do presidente é apenas a de cultuar brincadeiras infantis, além de fazer ameaças nunca levadas adiante.
Típica ilustração do ditado de que cão que ladra não morde.
***
Porque, no fundo, ciente de sua total inépcia, Bolsonaro não iria querer assumir, de fato, o governo do país.
Mas não deseja abrir mão de continuar podendo, sob sua aura de honestidade e sua figura incorruptível, agir em prol de que os filhos -esses sim, na personagem de facínoras - continuem delinquindo em rachadinhas; em operações de lavagem de dinheiro, com a estupenda lucratividade dos negócios de intermediação de veículos via Queiroz; em operações de lobby de armas de fabricação americana; de apoio a grupos milicianos, nunca suficientemente esclarecidos ou investigados, seja em suas ligações de amizades, seja em outras, de parceria e sociedade.
Isso é que importa ao presidente manter: a imagem imaculada de incorruptível, e o espaço amplo para atuação dos amigos.
Muitos dos quais dispostos a financiarem redes sociais movidas pelo ódio e interessadas na criação de uma realidade paralela para vender a eleitores incautos, vítimas de sua própria ingenuidade.
***

Por fim, devo admitir que está certo, em minha opinião o Supremo e os seus ministros, a quem já muito critiquei.
Porque pau que dá em Chico, tem que dar em Francisco. E se Lula não pode ser ministro de Dilma, que motivo justificaria a nomeação de um delegado amigo, Alexandre Ramagem poder prosperar?
Apenas para criar musgo na PF e impedir seu trabalho?
***
De mais a mais, acho que o STF não exorbita quando atua de acordo com seu Regimento Interno, aceito pela Constituição, mesmo que entendendo que seu Regimento cria a figura do inquisidor em certas situações.
Mude-se pois, a Constituição. Cobre-se a alteração do Regimento. Mas enquanto não se faz isso, que se cumpra o rito e que os ministros continuem sendo os responsáveis por investigar atos terroristas, criminosos, de ameaças e ataques à honra ou à integridade física dos ministros e seus familiares.
Inclusive as filhas, que a advogada gaúcha queria ver estupradas.
***
Ora, a advogada já deveria fazer parte de processo de perda de sua condição de advogar, pela OAB. E já deveria ter sido instaurado, contra ela, processo criminal por incitar prática de crime. Artigo 286, do Código Penal.
***
Nesse meio tempo, acharam o Queiroz e ele agora está preso.
Tomara que o libertem logo, e que ele tenha todos os benefícios dos acordos de delação premiada que tanto já provocaram de espanto e revoluões políticas.
***
E nesse tempo de silêncio dos pitacos, a voz surda dos Covid19 se fez presente.
E mais de 45 mil pessoas já nos deixaram, e suas famílias sentem o peso da saudade e da total descoordenação e desconsideração daquele que deveria ser o mais preocupado com o combate à pandemia.
***
Mas ele não é médico, talquei?

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu caro amigo, minha opinião é hoje, também um desabafo, solitário, melancólico e deprimido. Por isso, peço que não se sinta obrigado a publicar em seu blog, cuja leitura me faz sentir vivo.
Primeiramente, penso que Lula está equivocado ao não aderir ao movimento #somos70porcento. A esquerda (hoje um espectro que incorpora qualquer pessoa ou instituição que não pensa como o bozo) precisa de aprender a encontrar pautas que são comuns, de convergência. De forma simples, ou talvez simplista, foi assim que a democracia perdeu em 1.964, e ainda nos anos seguintes, de trágica obstrução aos direitos fundamentais, diga-se de passagem, com o silêncio de muita gente boa... O momento, no meu modo de ver, é cáustico! Há agora um imperativo: a absoluta violação de direitos conquistados, ainda que parcos, ao longo dos últimos 40 anos. Faz-se preciso reagir e não divergir.
Neste momento valho-me de uma posição de Luiz Carlos Prestes ao manisfestar o seu apoio a Getúlio Vargas (1.950), cujo governo (ditadura do Estado Novo, década de 1930) contribuiu para executar Olga Benário, na Alemanha nazista "neste momento o Sr. Getúlio Vargas representa o interesse nacional". Sobrepondo assim de forma magnífica às suas dores pessoais. O que para mim, já faz de Prestes, um indivíduo único, indiferente de suas contradições... assunto para outro momento.
O advento de toda a desordem que paira em nosso país se revela nos momentos do dia a dia: no sábado passado fui a super mercado, tido como diferenciado, em meu bairro (Buritis). Em 5 minutos presenciei 3 momentos de desrespeito a regras básicas de convivência social;
1. havia uma vaga para estacionar, cuja preferência era de um carro à minha frente. Cantando pneu um outro carro se apossou da vaga, reservada para idosos, dentro dele desceu um indivíduo de não de menos de 40 anos, ignorando a senhora de cabelos brancos, cujo direito à vaga, aparentemente lhe pertencia. E mesmo que não pertencesse não era daquele indivíduo.
2. manobrei até o segundo piso do estacionamento, fiz a manobra orientada por placas, para estacionar. Infringindo as regras uma moça, aparentemente de 30 anos ou menos, manobrou por outro caminho e ocupou uma vaga (aliás a última), manifestei o meu descontentamento, levantando os braços. A moça saiu do carro esbravejando: "o que é que foi??!!!". Decidi sair dali, dizendo que ela não havia respeitado as orientações.
3. ao sair me deparei com uma moto que tentava entrar (detalhe, o caminho era só de saída). A passagem não comportava os dois veículos. Parei meu carro, puxei o freio de mão. Para minha sorte, outro carro parou logo atrás, e depois outro. Começou um buzinaço... Logo um funcionário deste super mercado pediu ao proprietário da moto que se retirasse, liberando assim o caminho para que eu, e os demais motoristas pudéssemos passar... o que ele fez, mas não sem antes me estender o dedo médio e fazer o sinal das arminhas, protagonistas dos gestos do "já ir"...
São imagens do cotidiano que bem representam o estado de coisa em que estamos, válido ainda para outras dimensões de nossa vida: sala de aula, convivência com parentes, vizinhos, etc.
Estou com saudades... saudades de ter esperança...
Abraços.
Fernando Moreira