quinta-feira, 2 de julho de 2020

2020 o Ano Bissexto que não Começou, ou a farsa de repetir-se 1968, ano que não terminou


Segundo o jornalista Zuenir Ventura, poderíamos dizer do ano de 1968 que ele foi o ano que não terminou.
Lançado em 1989 e já com duas reedições, o livro de sucesso, “1968: o Ano que não Terminou”, consiste de um conjunto de relatos de um dos anos mais tumultuados vivenciados pelas gerações frutos do imediato pós-Guerra.
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Em pleno auge do movimento pacifista de origem hippie e inspiração hindu, baseado no lema “Paz e Amor”,  auge do movimento de contracultura regado a muito ácido lisérgico e outras drogas alucinógenas, 1968 marca também uma etapa de reação cada vez maior contra a Guerra do Vietnã e sua barbárie.
Por outro lado, enquanto parte da juventude americana era atraída e preferia se unir a um movimento com base em características marcado por uma postura de alienação e negação da violência social, ganhavam destaque, naquele país,  movimentos sociais destinados a fazer avançar a luta em prol da conquista, ampliaçao e manutenção dos direitos civis da população de origem africana.
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Em uma sociedade doente e dominada pelo ódio e pelo individualismo exacerbado, 1968 foi o ano em que o mundo assistiu atônito ao assassinato do pastor preto Martin Luther King, em abril, principal líder dos movimentos sociais.
Logo, em seguida, em plena campanha política para disputa da presidência da República, foi morto o senador Robert Kennedy, irmão do presidente americano também vítima de assassinato, J. F. Kennedy.
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Enquanto isso, a luta pela conquista de maior liberdade, com ênfase na ampliação dos direitos políticos e na promoção de reformas no regime comunista de governo, sob liderança do Secretário do PC, Dubcek, que entusiasmou a juventude da Checoslováquia, acabou com a invasão daquele país pelo Exército russo.
Sob a violência das armas, o mundo assistiu à frustração daquele movimento que iria passar para a História como a Primavera de Praga.
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Ainda em maio do mesmo ano tormentoso, estudantes franceses invadem as ruas de Paris, em protestos contra o sistema educacional, e exigindo reformas.
Em meio a um ambiente de demanda de reformas já efervescente em escala mundial, o que começou como um movimento estudantil ganhou vulto e generalizou-se, ganhando o apoio de movimentos de trabalhadores, em greves e tumultos que abalaram e fizeram tremer a República, chamada 5ª República, do General De Gaulle.
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No Brasil, imerso em um golpe militar e em uma ditadura que provocou, em seu início, uma série de arbitrariedades, - desde cassações políticas, até prisões indiscriminadas, caça às bruxas, além de crise econômica, quebradeira e desemprego-, os exemplos de revolta vindos do exterior não poderiam passar despercebidos.
Os estudantes de todo o país invadiram as ruas, em disputas e brigas com polícias armadas e até o Exército, reinvindicando a volta à normalidade democrática. Lutas que culminaram com a morte do estudante secundarista Edson Luiz, no restaurante Calabouço.
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É bom lembrar, para não esquecer e nunca mais dar oportunidade a que tais eventos possam vir a ocorrer, que dezembro de 1968 foi a data do famigerado Ato Institucional nº 5, de formalização do regime de exceção no nosso país, com implantação definitiva da censura, fim do funcionamento livre do Congresso e do Judiciário, substituído por um funcionamento consentido, fim do habeas corpus, e outras barbaridades que irão, ao fim, institucionalizar a TORTURA.
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Todas essas recordações servem de pano de fundo para abordar o movimento da Folha de São Paulo, #useamarelopelaDemocracia, procurando trazer e fortalecer o espírito da campanha das Diretas Já de 1984, que arrastou milhões de pessoas em comícios no país.
Em boa hora, a Folha assume a liderança de um movimento necessário, não apenas para que ela possa fazer um “mea culpa” pelo apoio dado ao golpe de 1964, mas para que se afastem de vez os fantasmas de um ano que não acabou.
Ano que alguns militares saudosos daqueles tempos de privilégios castrenses, alguns imbecis e despreparados políticos que visam apenas os próprios interesses e alguns cidadãos, iludidos e confundidos por falsas propagandas e realizações – nunca efetivadas – daquele período de trevas, são induzidos e manipulados a reivindicarem um retorno desastroso.
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Esses que pedem o retorno dos atos institucionais, em especial o AI-5, o fechamento do Supremo e do Congresso e apoiam atos contrários aos demais poderes institucionais do Estado de Direito, não são apenas desmemoriados. Mostram apenas sua total, completa, cabal ignorância, o que temos de reconhecer não ser culpa deles, apenas.
Pior são os corruptos, como os filhos do presidente ou o próprio ex-capitão, que se orgulha de elogiar militares torturadores que, fosse outra a nossa configuração das Forças Armadas, apenas envergonhariam as Armas.
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Curioso é que esse movimento saudosista e de péssima e trágica lembrança ganha vulto em nosso país com mais força e apoio, em 2020.
Justo 2020, que alguém no futuro irá usar no título de outro livro: “2020: o Ano Bissexto que não Começou”.
E, embora não tenha começado, já fez tantos estragos passíveis de serem enumerados, como as mais de 60 mil vítimas fatais, de histórias de vida e carinho, amor, trabalho de mais de 60 mil pessoas, não meros números em estatísticas cheias de números e ocas de amor e solidariedade.
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Sessenta mil vítimas da irresponsabilidade genocida de um mandatário que não conseguiu captar a gravidade da situação de pandemia que se alastrava mundo a fora, mais preocupado com o desastre econômico que medidas sanitárias recomendadas iriam provocar para seu mandato e seu projeto de reeleição.
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Mas não foi só. Em Minas, e felizmente, se é que o termo pode ser empregado, 6 pessoas morreram e outras tantas ficaram afetadas, pelo simples ato de desejarem comemorar a vida e a alegria de estarem entrando em um novo ano.
As marcas da cerveja contaminada, ainda bem, repito, não se espalharam por todo o país, atendido pela cervejaria desatenta.
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Belo Horizonte assistiu ao drama, já repetido, mas poucas vezes com a mesma violência das chuvas torrenciais e dos alagamentos de janeiro, estendidos para o mês de fevereiro, também provocando destruição e mortes.
E ainda na virada do semestre, final de junho, para coroar tanta dor e sofrimento, a passagem do ciclone bomba, detonando o Rio Grande do Sul, já afetado pesadamente pela seca, e ameaçado pela nuvem de gafanhotos e Santa Catarina, inclusive Floripa e mais perdas materiais e mortes.
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Não poderia terminar de elencar todas as catástrofes que castigam nosso país – o governo e sua trupe, a maior delas, se tentasse listar e rememorar, tantas vidas perdidas em investidas policiais nas comunidades das capitais, com o objetivo de prover segurança (???).
Especialmente são tantas mortes, de CRIANÇAS. De crianças PRETAS. De crianças pretas e POBRES. Todas ingênuas, com esperanças e SONHOS.
Como o menino Miguel de morte por negligência da patroa no Recife. De João Pedro, de 14 anos, no Salgueiro, ou de Guilherme, 15 anos. Ou ainda ontem, de Ítalo Augusto, de 7 anos, esse por tiro endereçado à guarnição policial que patrulhava a área, segundo consta do BO.
São 16 mortos nessa faixa etária. Vítimas da violência. Da nossa vergonhosa desigualdade.
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Marx dizia que a história se repete, a primeira vez como tragédia, a segunda vez como farsa.
Está aí, na farsa desse ano em que o prazer,  a alegria entrou em recesso, ou em quarentena como todos nós que ainda nutrimos solidariedade por nossos semelhantes, que tem se caracterizado o ano de 2020, a constatação do acerto do filósofo que alguns que nunca o leram e não o conhecem ou a sua obra, querem esquecer.
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2020 é um ano que não começou. Não começou bem, para o cidadão do mundo, em geral, e para o brasileiro em particular.
Mas, parece que Jair já teve sua atenção chamada, pelos militares que infestam o Planalto. Afinal, com o comportamento da marionete que eles julgavam estar assumindo o poder em nome deles, o país só conseguiu notícias de recordes negativos.
Como o de se instalar no Ministério da Saúde, ministros que, por não serem adeptos da cloroquina meu amor, foram sacados de seus postos, onde apareciam e tinham mais prestígio que o seu chefe enciumado e ignorante.
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Ou o de colocar um negacionista, para dirigir a Fundação Palmares. Ou a de ter um ministro da Educação que não falava português, substituído mais tarde por outro que não sabia escrever a língua de que se utilizava para, afiada, falar impropérios sobre outros aos quais não conseguia chegar aos pés. Refiro-me ao trânsfuga e veloz Weintraub.
Em meio a tantos desastres, na Cultura, com a Damares e seu concurso de máscaras contra a Covid, é forçoso reconhecer que Carlos Decotelli, ao menos teve a fibra e galhardia de reconhecer o vexame e pedir para sair, de fininho.
Mas, ministério onde Moro se destacava como símbolo de justiça, honestidade e espírito democrático, só podemos mesmo ficar vendo a produtividade do laranjal de Marcelo Álvaro Ântonio, ou a boiada passageira de Salles e o ministro Guedes e seus delírios.
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Só para lembrar, foi de Maia a articulação e a responsabilidade pela aprovação da mal-fadada reforma da Previdência. Foi de Maia e do Congresso a aprovação do auxílio social de 600 reais de que Guedes agora se gaba.
Foi do Congresso que partiu a aprovação, para o bem e para o mal, do marco legal do Saneamento.
Guedes, apenas faz volteios pelo salão. E brada pela previdência pelo regime de capitalização, pela volta da CPMF, e pela liberdade de o empresário – especialmente o maior, expoliar o seu trabalhador. Por estar em meio aos reflexos das luminárias do salão de baile, não percebeu que a economia não conseguiu decolar hora alguma, e que andou de lado no primeiro bimestre desse fatídico 2020.
E, se continuar como estamos, desse lamaçal a economia não vai sair em V. Vai sair, arrastando-se aos prantos.
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Enquanto isso, Jair aprende a se comportar, para que seu silêncio eloquente, sirva de exemplo para Queiroz e ele não venha a se tornar seu algoz.
Jair mostra ao amigo e companheiro de contatos milicianos que manter silêncio pode, se não ajudar, ao menos tirar da berlinda os filhos do capitao. Todos com algum tipo de relação com práticas como as de rachadinhas, contratação de funcionários fantasmas e peculato, disseminação de fakes news e atentados à democracia.
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E assim, no ano que não começou, chegamos a julho.

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