Jogada de marketing ou não, há
que se reconhecer que a iniciativa dos dirigentes lojistas em patrocinar o Dia
Livre de Impostos é uma iniciativa que traz benefícios genuínos à grande
maioria dos consumidores.
Realizada no dia 4 de junho
último, apenas na modalidade on-line em função da pandemia da Covid-19, o
evento contou com um número menor de participantes, ainda assim significativo,
em torno de 290 estabelecimentos, compreendendo setores tão diversos quanto
supermercados, postos de combustíveis, padarias, restaurantes, drogarias.
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Segundo os organizadores, o
evento tem como objetivos, além de protestar contra o elevado peso da carga
tributária, promover a conscientização da população em relação à quantidade de
impostos e ao ônus que essa parcela representa no preço final do produto
Parcela que não representa
qualquer produção e, cuja má utilização por parte do ente arrecadador - o
Estado em seus distintos níveis de governo – justifica a crítica de que essa
carga de impostos não acarreta qualquer benefício, seja no nível da satisfação
individual, seja no nível mais macro, vinculado ao retorno efetivo dos impostos
para a sociedade, em termos de quantidade e qualidade de serviços prestados à
população.
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Por dever de consciência, e até
como homenagem, não poderia me furtar nesse momento de crise sanitária que o país e
o mundo atravessam, de lembrar da existência por mais precária que seja, do
Sistema Único de Saúde – SUS, no Brasil.
Sistema que permite – se se pode
afirmar tal coisa, sem que várias
qualificações sejam feitas, que grande parte da população sem recursos sejam
atendidos, alguns mais felizardos, até tratados. Situação completamente oposta àquela
que ocorre nos Estados Unidos, para citar o país que serve para alguns de nós
como paradigma, onde todo o tratamento é particular e cobrado a preços exorbitantes.
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Inegável, entretanto, e é sempre
obrigatório mencionar a péssima qualidade do gasto público em nosso país.
Especialmente quando se pensa na efetividade do gasto, em termos de benefícios
para toda a população.
Principalmente em áreas como a de
Saúde, Educação e a tormentosa área do Saneamento.
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Mas, voltando ao tema inicial de
nosso pitaco, o dia livre de impostos permitiu a concessão de descontos de até
70% em alguns produtos, como constave no anúncio feito por parte de alguns
estabelecimentos.
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Alerto entretanto, que o objetivo
do pitaco de hoje não é apenas uma digressão sobre tributos, carga tributária,
suas mazelas e propostas de alteração em curso.
O que não impede de fazer algumas
considerações, ligeiras, sobre o tema.
Assim, o Valor Econômico de hoje,
9 de julho, traz a informação de que relatório publicado ontem pela Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE, mostra que o Brasil ultrapassou a
França, nesse ano de 2020, sendo responsável pela quarta maior cobrança de
imposto sobre empresas, entre 109 pesquisados.
Segundo a OCDE, a taxação em nosso
país alcança 34% da renda das companhias,
contra uma média de 20% nos demais países.
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Aqui, estamos tratando de
impostos sobre lucros, já que o próprio ministro Paulo Guedes anunciava no ano
passado sua proposta de reduzir tal carga para 15%, compensando tal medida com
um imposto sobre dividendos e juros sobre capital próprio.
Também nesses termos a pandemia
trouxe frustração, já que o que temos visto é sua orientação para o veto do
presidente em relação à continuidade do prazo de desoneração de encargos para
empresas atuantes nos setores considerados os maiores empregadores, o que sem
dúvida irá causar mais estrago em termos de sustentação do nível de emprego
numa eventual retomada econômica.
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Como não podemos passar o recibo quanto
a ingenuidade, a questão no fundo é que o ministro age de forma estratégica e
mal intencionada. No fundo, o que quer é que a deterioração provocada pelo
quadro de crise econômica e social, obrigue o governo a procurar, antes mesmo de
se debater e aprovar uma reforma tributária necessária, criar um novo mecanismo
arrecadador: a reintrodução da CPMF, com nova roupagem, mais sofisticada.
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Claro, tal estratégia não passou
despercebida a nenhum congressista, que já anuncia o fechamento de questão no sentido
da derrubada do veto.
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Em se tratanto de Reforma Tributária
e de uma das PECs já apresentada ao Congresso, o que se pode prever no caso de
sua aprovação é uma grande frustração na sociedade brasileira.
Afinal, seu próprio autor, Bernard
Appy, reconhece que a proposta – de unificação de vários impostos em um apenas,
sobre o Valor Agregado -, nada mais é que uma tentativa de simplificar e tornar
mais barata a cobrança de impostos, já que não haverá senão uma redistribuição
da carga atual, de perto um terço do PIB.
Se alguém acredita ou espera por
uma redução, certamente se frustará, já que o autor da proposta por trás da PEC
45, admite que sua proposta embora com muitos pontos importantes não foi
pensada para reduzir a carga de impostos. Para Appy, tal redução exigiria antes
uma discussão da dívida pública. O que não está em pauta no presente momento.
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Apresentado todo esse quadro, é
importante uma última consideração, relativa ao terrível peso representado pelo
ICMS na arrecadação do país, fato reconhecido por todos aqueles que têm como objeto
de estudos as Finanças Públicas.
Certo que o ICMS é um imposto
estadual, e que é cheio de mazelas, podendo citar entre outras, sem pestanejar
sua regressividade – sendo um imposto de alíquota única sobre produtos, onera
aquele que tem menos renda, ou seja, o pobre, da mesma forma que o que tem uma
renda elevada, o remediado ou o rico.
Além disso, é o responsável pela
terríve guerra fiscal entre Estados subnacionais. E já de há muito tempo seu
critério de tributação pelo princípio da origem deveria ser discutido e
alterado para o princípio do destino.
Mas essas são questões para outros
pitacos.
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O de hoje, é para tratar da
prisão de Ricardo Nunes.
Tanta informação, para poder fundamentar
o argumento que, como fiscal de tributos estaduais que já fui um longínquo dia,
reconhecer que o choro dos empresários, livre por natureza e direito não tem
qualquer razão de ser.
Porque se o mais pesado tributo
pago em nosso país é aquele que:
i) onera o preço do bem, o ICMS,
e de quebra o IPI;
ii) é pago em cada ato de consumo
pelo cidadão consumidor;
iii) que tal imposto é chamado de
indireto justamente porque quem recolhe (paga) o imposto ao Estado é o empresário
mas quem efetivamente paga por ele é o consumidor, cabendo ao empresário apenas
trasnferir ao Estado o valor que ele recebeu do consumidor como intermediário.
Em minha opinião, é no mínimo um
embuste, alegar que o imposto onera muito ao empresário.
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Está certo que a teoria econômica,
em seus devaneios a partir de considerações da visão neoclássica e dos
funcionamentos do mercado, sempre ideal, puro e de concorrência perfeita,
afirma que, dependendo da elasticidade preço da demanda do bem (a reação
cortando quantidades físicas compradas pelo consumidor, em razão de majoração
de preços), parte do tributo é pago pelo consumidor, parte pelo vendedor ou produtor.
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Pura falácia, a começar da
desconsideração de que mercados são sempre imperfeitos, e a concorrência pura
uma quimera. E que até mesmo a distância entre o consumidor e o vendedor, ou
seja a questão da localização, já é dimensão suficientemente importante para
definir (pela proximidade), os mercados como imperfeitos.
Sem me estender muito: a mesma
cerveja, de mesma marca, e mesmo preço ou até preço mais elevado, no bairro próximo
a minha casa tem minha preferência, em
relação aquela de preço menor que me exija atravessar a cidade para apreciá-la.
Ou seja: a heterogeneidade do
produto está presente e, com ela, a questão da preferência, que permite que o
mais próximo cobre preço distinto.
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Vamos deixar discussões teóricas
de economia de lado. Meu ponto aqui é que o empresário que recebe um valor de
uma pessoa, para transferir tal valor ao governo, está cometendo um roubo:
apropriação indébita, como o direito afirma.
Em sentido amplo, é ladrão. Ficou
com algo que não lhe pertencia.
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Está certo que certa vez um
comerciante quis me fazer ver que, apossar do recurso, ou sonegá-lo, é o melhor
dos mundos. A ineficiência ou inépcia do governo para descobrir que não recebeu
o que lhe era devido, permite que, passados 5 anos, o tributo seja prescrito. Ou
extinto.
Além desse prêmio o empresário alega
que estava usando um recurso por empréstimo, para capital de giro, muito mais
barato que o cobrado por operações de crédito bancário. E, melhor que a alternativa
de ter que abrir sociedade e admitir alguém dando palpites em sua empresa, nem
sempre palpites corretos, apenas por se achar e ser dono.
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Argumentos interessantes, mas
nenhum deles capaz de mudar minha opinião de que, o empresário que não recebeu
e imediatamente fez o repasse do dinheiro ao governo, já está sendo portador de
comportamento moralmente questionável – mesmo que tenha prazos para recolher o
valor do imposto ao tesouro!
Em minha visão, é um oportunista,
um aproveitador. Mesmo que com licença para sê-lo. (Sei que vou receber muita
crítica, mas essa é minha visão. Que não é de nenhum santo!!!)
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Ricardo Nunes está preso. Está
sendo feita justiça. Serve como ilustração para quem aelga que quando o empresário
diz que paga muito imposto isso não passa de uma aberração.
Mesmo aquele imposto sobre lucros,
ou sobre a renda da empresa, de 34% de
sua renda, é uma balela: o empresário na maior parte das vezes e dada nossa
estrutura de comércio, não perfeita, sempre poderá cobrar preços mais elevados,
transferindo para o consumidor desinformado ou sem opções concorrenciais localizadas
proximamente, o imposto que EM TESE, ele diz pagar.
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É isso.
Um comentário:
Inicialmente peço licença para fazer uma pequena observação sobre a frase “jogada de marketing”... a primeira vez que a vi, foi por ocasião da eleição de Fernando Collor de Mello. Tão logo eleito começou a fazer o que prometeu que não faria: confiscou a poupança. E durante dois longos anos ainda promoveu inúmeros arroubos ao andar de jet-ski, praticar corridas, andar de caça aéreo, etc. (passados mais de 30 anos, parece que voltamos, de certa forma, àquele picadeiro). Além das medidas liberais desastrosas ao longo de 2 anos de governo.
Com o confronto entre as fantasias da campanha e a realidade da gestão, a “jogada de marketing” ganhou, com razão, notoriedade, em especial no imaginário coletivo. E infelizmente fortalecida nas ações de governos e de empresas. Trata-se, no entanto, de propaganda enganosa (que existe desde a fábula de Adão e Eva) e não de marketing.
Seja como for “jogada de marketing” passou a representar ações oportunistas que via de regra, ludibriam a sociedade e em especial os mais ingênuos. Fico com a máxima de Raimar Richers, para quem marketing é “entender para atender” e incorporando: sem enganar.
A percepção da trama de Guedes é oportuna, visto que a deterioração do quadro econômico e social, poderá contribuir ainda para acelerar o obtuso projeto de privatização que o governo vem preparando. De reforma tributária, me parece, que não há nada, apenas tornar a vida da imensa população mais onerosa com o retorno da famigerada cpmf.
O que me parece, com todo o meu limitado conhecimento tributário, é que não há, de fato, uma proposta de reforma, como o país precisa. Até porque este governo não representa estes interesses. São arranjos. Muda-se para continuar na mesma. Reformas de fato são incômodas, principalmente quando favorecem aqueles que estão na base da pirâmide... Daí a necessidade de propaganda enganosa e de pão e circo, aliás atualmente só com o circo, que tem se agigantado.
Fernando Moreira
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