quinta-feira, 16 de julho de 2020

Gilmar Mendes e o alerta ao Exército para evitar o genocídio. Que Guedes parece perseguir, junto com sua CPMF


O dia era 18 de março de 2016 e o país atravessava instantes de grave crise política e institucional que a oposição derrotada nas eleições presidenciais de 2014 prometeu manter em pressão alta.
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Repetia-se, sob a liderança de Aécio Neves, herdeiro de Tancredo Neves, político democrata considerado  arqui-rival de Carlos Lacerda, o comportamento condenado por seu avô em relação a Getúlio Vargas, por ocasião da eleição de 1952.
Então, Lacerda teria dito que Getúlio não poderia ser candidato. Se candidato,  não poderia ser eleito. Eleito, não poderia tomar posse. Caso tomasse posse, não poderia governar.
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Aécio, hoje envolvido em delações, investigação e denúncias várias e distintas por corrupão teria assumido o compromisso de por em prática a proposta de Lacerda, apenas que em relação ao governo Dilma.
Razão porque adotou comportamento no Legislativo destinado não aprovar qualquer proposta ou projeto enviado pelo governo, de forma a retirar do Executivo as mínimas condições procurar estancar a crise econômica em que o país mergulhara já em 2014.
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No caso de análise e aprovação de algum projeto do Executivo, o resultado era o da criação de um autêntico monstrengo, tantas as mudanças e emendas destinadas a frustrarem o resultado proposto. O país vivia o período de aprovaçao de um conjunto de pautas bombas, ao tempo em que a Operação Lava Jato a cada dia descobria e trazia à luz mais e mais denúncias de corrupção que envolviam gestores nomeados pelo governo, em setores em que a presença do setor público era quase exclusiva.
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Agindo como caixa de ressonância, praticamente toda a mídia de cunho conservador, principalmente a televisiva, bombardeava a nação com as notícias da Lava Jato, as críticas daí decorrentes aos políticos, com destaque para as críticas ao governo, criando as condições para que a crise institucional e políticase se somassem e  se alastrassem, ganhando cada vez mais substância e força.
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É nesse cenário de crise e incapacidade do governo Dilma de estabelecer uma interlocução confiável com o Legislativo que surgiu, como se fosse a última cartada do governo, a nomeação de Lula para ocupar o cargo de ministro da Casa Civil, responsável por retomar as negociações com o Congresso.
Por questão de justiça, há que se realçar que, embora os problemas do governo Dilma não se limitavam a sua relação com o Congresso, poucas foram as tentativas – tímidas - de Dilma, no sentido de abortar, travar ou dificultar que a Justiça, o MP ou a Polícia Federal exercessem seu dever.
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Assim chegamos ao dia 18 de março de 2016, depois da nomeação e um dia após a posse de Lula na Casa Civil do governo Dilma, em que o Ministro Gilmar Mendes decidiu monocraticamente suspender a posse do ex-presidente, analisando ação impetrada pelo partido de Aécio e “mas otros” corruptos amigos.
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Para dar suporte à decisão de suspensão, sob o argumento de desvio de finalidade do ato de sua nomeação para o cargo, sob a justificativa de que a nomeação apenas visava conceder ao ex-presidente o benefício de foro privilegiado, a grande imprensa, Rede Globo, Estadão, Folha, todos repercutiram de forma avassaladora os áudios vazados pelo juiz Sérgio Moro, de conversa da presidente Dilma e Lula.
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Àquela altura, pouco importava a legalidade da gravação, o fato de a conversa ter se dado depois do período de tempo autorizado para que fosse efetuada a gravação,  o desrespeito à figura da presidenta da República, nada.
Importava apenas dar força ao juiz então tido, pela Globo em especial, como o paladino da moralidade e o super-herói defensor da sociedade brasileira contra a corrupção.
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A decisão do ministro Gilmar Mendes na ocasião ainda mantinha e enaltecia a presença de Moro, no comando da Lava-Jato em Curitiba.
Só três anos mais tarde, em 2019, mesmo defendendo a decisão adotada naquela ocasião,  Gilmar Mendes reconheceu que não tinha o conhecimento amplo necessário para embasar sua convicção.
Já nessa hora, a Vaza Jato era de conhecimento público e todos os cidadãos sérios já sabiam quem era, o caráter ou a completa ausência dele, e os interesses escusos que moviam Sérgio Moro.
A ponto de Mendes ter se tornado um dos principais críticos de toda a operação que visava passar o país a limpo.
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Afinal, não é cometendo crimes e descumprindo a lei que quem quer que seja pode querer impor a ideia do império da lei.
Moro já provou o bandido que pode existir nos mais celebrados magistrados em busca de um julgamento justo e imparcial.
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Quanto a Gilmar Mendes, que naquela ocasião foi tão elogiado por todo o mundo político e social “de respeito”, continuou sua trajetória, desfilando sua personalidade caracterizada por incomensurável vaidade, sempre boquirroto, falastrão, inconveniente, grosseiro até.
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Assim, não há como não lembrar sua contribuição para o golpe, cujo desfecho foi a queda da presidenta democraticamente eleita, Dilma; a trágica passagem de Temer pelo poder e seus encontros sem agenda e nas sombras dos Palácios, com empresários de peso; até a eleição do sociopata que ocupa hoje o poder e desgoverna esse país.
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Independente disso, Gilmar está certo.
Muito se fala em uma função precípua do Exército,  em um país que não tem qualquer tradição militar de peso, exceto ser a polícia de nossas fronteiras e servir para combater sua própria população, em “combates” completamente desiguais, como a do combate aos poucos e maltrapilhos e mal armados “guerrilheiros do Araguaia” ou pior ainda, os guerrilheiros urbanos.
O glorioso Exército Brasileiro é muito mais lembrado pelos golpes de que participa e sua sede de poder, fundado em sua crença de ser a Instituição mais conhecedora dos problemas e mais capacitada a implantar soluções  para o bem do país.
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Mas, a presença de militares no loteamento feito pelo governo Bolsonaro, para blindar o ex-capitão em sua tarefa de provocar a destruição, a desconstrução das instituições e por fim à democracia e ao Estado de Direito, deve ser sempre destacada.
De igual forma, denunciar que o Exército, como Instituição, está sendo conduzida por alguns poucos de seus líderes, incluídos os da reserva, mesmo que inconscientemente para um projeto que pode, mais à frente ser questionado como genocida é, mais que uma crítica, um alerta.
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Gilmar Mendes está dando uma demonstração de estar mais preocupado com a imagem dessa respeitada Instituição e em preservá-la, que algumas de suas lideranças de visão obnubildada pela sua suposta onisciência.
Genocídio de população carcerária, de índios de várias tribos amazônicas, de toda a população de pobres, de periferia, comunidades sem condições de habitação digna, incentivados a não respeitarem as recomendações que se impõem em plena crise sanitária, é a isso que Bolsonaro parece querer conduzir o país, levando o Exército a reboque.
Uma lástima que o Exército não se dê conta de tal risco.
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Enquanto alguns militares põem mais lenha na fervura, Guedes aproveita para “passar a boiada” com sua proposta, que comentaremos no próximo pitaco, de não desonerar a folha de pagamentos para 17 setores, de forma a não restar outra alternativa senão a receita final de implantação de seu projeto de precarização total de direitos trabalhistas e pauperização da população idosa, com o contraponto dos ganhos fantásticos do sistema financeiro privado, especialmente do setor previdenciário.
Assim, ele quer implantar a contratação por hora pondo fim ao regime de contratação mensalista e à existência assegurada do salário mínimo mensal.
Em contraponto, implanta um programa de Renda Brasil, destinado a ampliar o valor concedido pelo Bolsa Família, financiado por nova taxação, de transações financeiras, digitais. No fim, e mais sofisticada, uma CPMF cuja principal finalidade é assegurar recursos para a tal renda mínima universal.
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Sendo Guedes quem é, longe de sua intenção criar um imposto sobre grandes fortunas, ou grandes patrimônios. Que alcançaria os mais abastados, mais ricos e mais poderosos. Seus patrões e associados.
Para ele é preferível a criação de um imposto, mais um, de caráter cumulativo, em cascata, onerando, se verdadeira a ideia,  o incipiente mercado do ‘e-commerce’. Embora recente, e com grande impulso na pandemia, o que Guedes irá conseguir é reduzir as compras àquelas operações tradicionais, em que as pessoas se acotovelavam nas lojas, e o contato com o vendedor era pessoal.
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Mais provável é que tal imposto seja para toda transação, e mais uma vez, Guedes mostra total desprezo pela realidade: também a criação do IPMF, posteriormente transformado em CPMF, foi recurso com destinação carimbada para a Saúde de Adib Jatene.
Pelo menos em tese, já que o recurso que entra no regime de Caixa Único do Tesouro, hoje, como naqueles tempos irá, ao final, estar transportando goiabada para políticos de maior peso e representatividade. Enquanto isso, a saúde patinava. Como no futuro, a renda básica irá escorrer por entre dedos de pessoas famélicas, sem outra expectativa.
Sem dignidade, sem razão para viver. Sem aposentadoria.
Sem qualquer remorso de Guedes, que cumpriu sua missão de contribuir com os seus...

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