quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Políticas econômicas para o país e o debate importante a ser realizado

Embora não estejamos de recesso, o feriado do dia 8 de dezembro em Belo Horizonte, aliado à situação de estagnação que o país está atravessando e que, segundo noticiado ontem por Boris Casoy, levou o ex-presidente Lula a dirigir-se a Brasília com a  finalidade de auxiliar a presidenta Dilma no doloroso e vergonhoso processo de negociações para composição da nova equipe ministerial justifica, em parte, nossa falta de postagens.
É certo que haveria muito a se tratar, ao menos no campo econômico, especialmente depois da entrevista concedida ao canal de televisão da Assembleia Legislativa de Minas Gerais pelo professor de Economia da UFMG, Cláudio Gontijo. Tal entrevista, que tem sido retransmitida em vários horários e dias da semana durante esse mês de dezembro vale a pena ser vista, pelas críticas que o professor faz à escolha da equipe econômica que deverá comandar os destinos da nação nos próximos quatro anos de mandato da presidenta Dilma.
Importante é assinalar que normalmente os programas da TV da Assembléia também podem ser vistos no site da Assembleia, que disponibiliza seu conteúdo para dowload.
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E qual é o conteúdo da fala do professor Cláudio Gontijo, com a qual concordamos integralmente?
Em síntese, vai na mesma direção que tivemos a oportunidade de tratar, ao menos superficialmente em postagem anterior desse blog, ou seja, tentando mostrar o equívoco que essa guinada da presidenta Dilma em direção à demanda e interesses do mercado, principalmente do mercado financeiro pode significar. 
Para chegar a tal conclusão, basta verificarmos o conjunto de medidas que foi anunciado pelo novo ministro e comparar tais políticas com aquelas recomendadas pelos analistas e consultores do mercado, e pelas autoridades do FMI e órgãos afins, para adoção nos países europeus, como Grécia, Espanha, Portugal, etc.
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Não é segredo para ninguém que as políticas impostas a tais países, a título de fazerem o chamado para casa e por sua economia em ordem, apenas aprofundaram a recessão que veio como consequência da crise para cujo surgimento esses países contribuíram muito pouco ou quase nada.
A adoção de tais medidas, como forma de se capacitarem a tomar os recursos de empréstimos do Banco Central europeu que os ajudaria a sair da crise, apenas provocou desemprego em níveis elevados e problemas sociais que a grande imprensa pouco assinala.
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Ora, já tendo dado resultados ruins em países europeus, seria muito difícil que tais medidas de retorno aos "fundamentos econômicos da estabilidade" pudessem funcionar de forma a melhorar as condições de vida da população brasileira, país onde persistem tantas e tão graves desigualdades. 
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Mas, se o professor Cláudio Gontijo acertadamente, em minha opinião, põe o dedo na ferida, e mostra que o discurso do novo ministro da Fazenda traz contradições internas muito elementares, como por exemplo a questão da necessidade de cortar gastos públicos, para gerar superávits fiscais, muito embora os gastos de pagamento de juros deverão ser cada vez maiores, a revista Veja rasga elogios às promessas de Joaquim Mãos de Tesoura. 
Bem entendido, aquela tesoura que vai cortar gastos voltados para o lado social, em escala suficiente para compensar a elevação dos gastos com pagamentos direcionados às classes mais ricas de nossa sociedade. 
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Vindo da Veja, dirigida por ex-presidente de instituição financeira e da Febraban, a poderosa Federação dos Bancos, não há muito o que se assustar. A bem da verdade, era a postura mesma a se esperar, já que na direção de atender aos interesses justamente desses setores. 
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O que é interessante é que a fala de Cláudio Gontijo, embora remando contra a maré do mercado e da opinião pública de cabeça feita por essa mídia que apenas defende seus interesses próprios, está em consonância com o discurso e palestra apresentada em São Paulo pelo professor Piketty, o mais badalado e elogiado economista de nossa atualidade, autor do livro apontado como nova bíblia da economia, O Capital no Século XXI. 
Livro que é bom dizer, foi aclamado por todos os principais economistas dos principais centros de estudos do mundo, embora combatido por essa sumidade que é Rodrigo Constantino, que na Veja (sempre nela!) considerou o livro estúpido. 
Também nada de absurdo para quem em debate com o ex-ministro Ciro Gomes foi simplesmente engolido, ficando sem qualquer argumento.
Na palestra que pode ser vista no Youtube, Pikkety mostra que, ir na direção contrária a um aprofundamento das políticas de redução da desigualdade de renda no nosso país pode ser um erro do qual nos arrependeremos muito no futuro.
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E é esse nosso problema!
Adotadas as políticas preconizadas por nosso pensamento conservador e pela ortodoxia econômica, e recomendado por pessoas que nada entendem ou entendem muito pouco das questões tratadas pela ciência econômica, embora sempre na direção de seus interesses particulares, e obtido um resultado errado, de rotundo fracasso sempre a desculpa vai ser a de que as medidas preconizadas não deram certo por não terem sido na profundidade necessária. 
Ou seja, nunca a sugestão de política está errada, apenas que se não der certo é por não ter sido adotada na medida necessária. 
O que torna cada vez mais difícil o debate. 

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