terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Retrospectivas negativas e votos de Feliz Ano Novo

Fim de Ano.
Fim de um ano marcado por grandes esperanças e desastres de proporções ainda.
As expectativas criadas no início do ano vieram, uma a uma, sendo frustradas. A começar da melhoria das condições econômicas e políticas, após o encerramento de um 2013 marcado por manifestações populares como não se via há muito tempo, no país.
De resto, embora as expectativas fossem de manutenção do patamar de inflação elevado, embora dentro do intervalo do sistema de metas, não passava pela cabeça de nenhum agente econômico relevante a possibilidade de um desempenho tão pífio para nosso nível de atividade.
É verdade que ninguém esperava um crescimento do PIB muito superior aos 2, talvez 2,5%, muito embora as condições do país tivessem vindo se agravando de tal forma que, já em fins do primeiro semestre, o mercado e os agentes mais relevantes, a cada instante, reviam suas previsões, cada vez dominadas por mais pessimismo.
Ainda assim, era difícil imaginar-se uma taxa de crescimento abaixo de 1,5%, ou abaixo de 1,3% ou abaixo de 1%. Quando já ao longo do terceiro trimestre, as previsões indicavam 0,7% muitos ficaram perplexos.
Afinal o país parecia ter entrado no que tecnicamente é chamado de recessão técnica.
Crescimento abaixo de 0,3% era inimaginável.
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Como inimaginável era a elevação das taxas de juros e, ainda assim, a resistência mostrada pelos níveis de inflação, à queda.
O país termina o ano com inflação próximo a 6,4%, dentro do intervalo do sistema, mas com taxas de juros que  não passava pelos sonhos de qualquer previsão, por mais apocalíptica que fosse.
Também o déficit público surpreende mostrando um crescimento de 6% para o nominal, que inclui a despesa elevada de pagamento de juros, e resultado primário também negativo, ou próximo de zero.
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No esporte, saídos de um 2013 com a conquista da Copa das Confederações de maneira surpreendente e com um futebol vistoso,  a poucos podia ocorrer a ideia de uma desclassificação precoce do Brasil. Ainda mais jogando em casa. Com o apoio da torcida.
Com Neymar e a família Felipão, e os discursos ufanistas de toda o comando técnico da seleção e da CBF. Além, claro, da imprensa esportiva, Globo à frente.
Vá lá que poucos tinham certeza absoluta de que o time brasileiro se sagraria campeão: a Argentina metia muito medo, inconfesso.
A Alemanha sempre foi um adversário temível. E temido. E a Espanha era a campeã do Mundo, a vice da Copa das Confederações. Além desses times, havia ainda a seleção do Chile, da Colômbia, do México, e para não ficar apenas no continente americano, a Inglaterra, a Bélgica.
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Mas ninguém podia contar com os 7 a 1 para a Alemanha, que só não foi mais doloroso, porque logo a seguir, jogando o mesmo não futebol, perdemos também para a Holanda, sem jogar metade do que a crônica e a torcida iludida esperava.
E se chegamos até o ponto onde a seleção chegou, foi mais por sorte e até alguma ajuda do apito, já que desde o primeiro momento, enquanto mostrávamos um futebol velho, feio, apagado e sem qualquer vibração, outros times, como a Holanda, a Alemanha, a França, a Colômbia, o Chile mostravam futebol alegre, para a frente. Bonito de se ver. Agradável.
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Surpresa mesmo, na Copa, ficou por conta da organização, que embora fosse a bagunça de sempre do nosso país, funcionou. Ou como disse um gringo entrevistado por uma de nossas redes de tevê: nada podia dar certo, mas funciona.
Com milhares de turistas nos visitando, os horários de vôos foram respeitados, o transporte urbano serviu a contento, a segurança foi elogiável.
Ou seja, o vexame que se esperava fora das arenas, absurdamente caras, aconteceu apenas dentro delas, ao menos para nosso selecionado.
Fora, pudemos viver a Copa das Copas, o que mostra a atipicidade do ano.
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Já a partir de abril, ganhavam as manchetes dos jornais, cada vez com notícias mais surpreendentes, a operação Lava Jato, da Polícia Federal, e a corrupção na Petrobras.
Embora todos saibamos, mesmo os que nada sabem, que a Petrobras seja apenas a ponta do iceberg.
E findo o vexame da Copa, já que dificilmente alguém poderá algum dia, falar em passado o vexame da Copa, veio o segundo semestre e, com ele, as eleições.
Eleições que polarizaram o país como poucas vezes se viu, depois do retorno do país à democracia.
A ponto de alguns desesperados, mais afoitos, mesmo depois de finda a eleição, desejarem não apenas um terceiro turno, mas o próprio retorno à fase autoritária.
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Sem candidatos que pudessem representar qualquer novidade, apenas o fato lamentável do acidente aéreo que ceifou a vida de Eduardo Campos foi surpresa.
No mais, um PSDB cada vez mais à direita, com visão conservadora de mundo e um candidato conservador, mas chique. O suficiente para atrair votos de todos os conservadores mais enrustidos. De todo o interesse das classes representativas do atraso... ou da modernidade, se por moderno entendermos a nossa submissão formal ao capital internacional, ao capital financeiro, de caráter especulativo.
Capital que não produz riqueza, mas produz lucros. E que ajuda a entender porque os empresários, tão ajudados pelo governo e seus financiamentos e isenções e incentivos, e juros altos e gordos, acabaram preferindo não produzir e aproveitarem-se dos juros altos e gordos.
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Das eleições, o mais moderno foi Luciana Genro e as ideias do PSOL, nem tão modernas assim, mas ao menos coerentes.
Eleita Dilma, ou reeleita a presidenta, para o ano marcar de vez sua principal característica: a da frustração, o país atônito acompanha a escolha dos ministros da área econômica, com perfil que assegura a todos nós que o PT ganhou o governo, mas o capital financeiro e especulativo é que ganhou o poder.
Dilma escolhe e sinaliza para toda a sociedade que vai fazer a política que Aécio propunha fazer. e que foi o que lhe deu votação significativa.
A bem da verdade, a mais significativa de toda a história de oposição do PSDB.
Embora quanto de tal votação seja em função de Aécio ou quanto se deve ao peso e prestígio de Alckmin, seja uma grande interrogação.
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O que se percebe é que, mais uma vez, o PSDB derrotado, deve ter uma luta muito intensa para indicar o candidato a 2018, talvez para enfrentar Lula e seu gigantesco ego.
Pouco afeito ao trabalho árduo de fiscalizar ações do governo, Aécio terá de aprender a ser oposição, descendo de cima do muro, caso deseje aproveitar da boa imagem que, junto com a imprensa, ajudou a criar.
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Agora ao fim de 2014, o governo Dilma continua nos brindando com pérolas como a de montagem de um ministério cada vez mais medíocre, não fosse a presença em corpo de um Patrus Ananias. O que é muito pouco para dar alguma maior visibilidade ao grupo.
E reformas em benefícios sociais, algumas das quais ninguém questiona, sejam extremamente necessárias.
Embora ainda sem tocar o ponto central da questão dos gastos excessivos. Por exemplo, se cria mais restrições ao seguro desemprego, não é capaz de combater a vergonha que é o seu beneficiário continuar recebendo, embora já esteja recolocado, ainda que informalmente no mercado de trabalho.
Em prática que, todos conhecem e não conseguem nem comprovar sua existência, nem punir.
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Aliás, punição é a palavra de longe, mais falada e a ação menos desempenhada em nosso país, nesse 2014.
Mesmo com grandes empreiteiros experimentando pela primeira vez em suas vidas, o peso e o rigor da lei.
Apenas que faltam muitos para serem punidos. E, embora seja já uma promessa, a punição que está em marcha ainda é muito insignificante.

Mas, fazendo votos de que o país possa ter um 2015, ao menos decente:

UM FELIZ 2015 PARA TODOS.

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