segunda-feira, 17 de abril de 2017

Páscoa e a transformação em meio à bandalheira. E a presença de temer para aprovar projetos de interesses minoritários indica que nada deverá se transformar

Inexorável, o calendário trouxe a data de celebração da Páscoa, dedicada às comemorações da passagem do povo escolhido por Deus, o  povo judeu (ou hebreu) para a liberdade, depois de anos de escravidão no Egito. 
Na mesma data, a Igreja Católica comemora a passagem do Deus feito homem para sua dimensão divina, com a vitória da Vida sobre a morte, representada pela Ressurreição do Cristo.
Mas nem todo esse simbolismo foi capaz de nos libertar, nos feriados da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, do noticiário até nauseabundo relativo às gravações da Odebrecht. 
E, talvez até pela ausência de outras notícias, também em recesso, os programas jornalísticos aproveitaram para abusar de nossa paciência, repetindo à exaustão os depoimentos dos 77 delatores da maior empreiteira nacional. 
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E foi tal o bombardeio de gravações a que fomos submetidos, que não há como questionar se não tenha sido proposital a invasão dos noticiários por tantos episódios de puro escárnio, deboche, ironias e comentários dos delatores, reconhecidamente criminosos, de modo a induzir no público uma reação justamente oposta àquela em tese desejada. Ou seja, levar a maioria da opinião pública a uma sensação de inutilidade, e a adoção de uma postura de absoluto escapismo, de completa descrença em que algo possa ser feito para alterar o mar de lama que cerca toda a relação entre interesses privados e públicos em nosso país. 
Curiosamente, o oposto da festa de Páscoa, que traz a marca da Fé, em que, ao final, a vitória irá superar a morte e o pecado dos homens. 
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Porque a sensação que a apresentação das delações gravadas nos traz é a de nojo, asco. A sensação que nos resta é a de que somos todos um bando de trouxas, fáceis de serem ludibriados e passivos. Razão dos risos e ironias dos delatores, que mostram menos de como era fácil explorar nossa boa fé e ingenuidade, e muito mais de como sabem que sairão dessa situação completamente impunes, logo ali a diante, tão logo dobrem a esquina. 
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Verdade que eu já tinha ouvido comentários de que, para alguns dos políticos envolvidos nas maracutaias, era interessante que as delações tivessem seu sigilo quebrado e pudessem ser todas divulgadas, até para tirar o peso de alguns vazamentos dos delitos dos ombros de alguns poucos. 
Cientes que mais de 200 pessoas, principalmente políticos estavam envolvidos, o melhor é que os nomes todos viessem a público, permitindo que o impacto da enorme lista viesse a público para diluir seu conteúdo arrasador. 
Afinal, como insistem várias das pessoas de expressão no nosso cenário econômico-político-social, entre tantos, seria muito difícil separar o joio do trigo, o caixa 2 sem maiores consequências, mesmo que crime, daquele mero fruto de propina, relativizando os crimes até o ponto de criar uma salada completa a ponto de não distinguir mais o que deveria ser punido, ou ter punições mais pesadas. 
No fim, um acordão poderia ser costurado livrando a cara de todos, talvez contra a promessa de não voltarem a se comportar mal. 
E, nas próximas eleições, estaríamos novamente decidindo entre o bom ladrão e aquele ladrão que não se arrependeu. 
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E que tudo caminha para tal cenário não é difícil de prever. 
Primeiro porque temer, o usurpador, agora réu confesso da participação em duas reuniões de seu partido com gestores da maior empreiteira do país, em que se sacramentavam acordos de amizade e cooperação duradoura, não é molestado e não pode, a julgar pela legislação ser sequer investigado por atos ilícitos ocorridos antes de se sentar, ilegitimamente, na cadeira presidencial. 
Claro, há sempre a defesa do usurpador afirmando que em nenhuma das vezes, fosse no Jaburu, fosse em seu escritório em São Paulo, tivesse o conteúdo da reunião tratado de recursos financeiros. 
Deixando de lado o fato por si só já passível de punição, em minha escassa opinião, de se estar misturando interesses públicos e privados (afinal o Jaburu é um palácio oficial, e o vice presidente por mais que fosse figura decorativa, não deveria ficar em convescotes com representantes de nossa elite empresarial), os próprios delatores afirmaram inúmeras vezes que os valores foram acertados antes, no caso de São Paulo, ou depois, no Jaburu.
O que torna a presença  do sósia de Drácula nas reuniões uma espécie de aval, senão do compromisso de que toda a alta camarilha estava autorizada a tratar dos temas de interesse comum, que eram de conhecimento de seu líder maior, o presidente da agremiação a que pertenciam. 
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Logo, não há como a imprensa permanecer tratando temer como se ele estivesse ao largo dos delitos, da corrupção, da distribuição de propinas ou caixa 2. 
Não dá para entender que a Band, por exemplo, se vanglorie de apresentar uma entrevista exclusiva com o golpista temer, como se ele estivesse fora de todo o lamaçal ou como se, independente disso, tivesse que ter as portas abertas para vir tentar convencer a população de que nada deve lhe acontecer, pelo menos não enquanto ele não aprovar o pacote de medidas de interesse do empresariado nacional. 
Porque em minha opinião, é no mínimo curioso que todos respeitem ainda a figura menor desse usurpador, e lhe dêem espaço, porque ele é o condutor das reformas de mercado, tão ansiadas e desejadas pelos mercados e seus arautos.
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Curioso que ninguém destaque, no caso das tais reformas, que de um lado está temer, um político citado várias vezes no escândalo das propinas do momento, e do outro, dando-lhe suporte, estão empresários de vários setores, principalmente do setor financeiro, de saúde, da educação, etc. que estão cobrando do golpista que use todo seu poder para aprovar as reformas. 
E tudo isso, em um Congresso cheio de políticos delatados, sem que em nenhum momento se fale ou se levante ao menos a indagação de se tais empresários interessados já não teriam também eles, comprado os votos necessários à aprovação das matérias que lhes interessam. 
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Em outras palavras: para a grande midia, ao que parece, mesmo em meio a todo esse escândalo de corrupção para aprovação de medidas de interesse dos empresários, acontecido no passado, outras medidas, muito mais duras, muito mais penalizadoras do grosso da população estarão sendo discutidas e aprovadas, sem que nenhuma propina esteja sendo paga às escondidas. 
Já que é impossível não fazer a ilação, e a imprensa não o faz, volto à tecla inicial: o bombardeio das fitas gravadas da delação parece ter muito mais o interesse de jogar tudo e todo mundo em uma mesma vala. Igualando depois a todos, poderá ser feito um pacto capaz de anistiar a todos os envolvidos e assegurar, daí em diante, a governabilidade e um país de práticas mais limpas, mais honestas. 
Dirigido pelos mesmos acusados e dublês de bandidos que agora estão nos noticiários. 
E enquanto isso, o país terá alterado sua legislação, acabando ou limitando seus direitos sociais e os direitos dos trabalhadores e dos mais desvalidos. 
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Por isso, a apresentação das gravações à exaustão. Para que todo o povo fique entediado, a ponto de adotarem a postura do comodismo e da inércia, de quem sabe que nada irá mudar, passado esse furacão provocado pela Lava Jato. 
Ou porque como diz a nossa ministra Eliana Calmon, a operação não chegará ao Judiciário, poder suficientemente cheio de sujeiras para ser alvo das investigações. Ou porque um acordão deverá ser feito, livrando a todos os principais líderes de nosso país, de qualquer punição mais pesada. 
Ou ainda porque nossa política continuará dando oportunidades de que novos agentes possam surgir, talvez até com mais sofisticação, para continuar a adotar as práticas de sempre da corrupção e da desonestidade e dos interesses escusos. 

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