Do livro, várias passagens me marcaram, ficando gravadas para sempre em minha memória,algumas das quais por se referirem ou descreverem lugares da cidade em que nasci, vivia, alguns deles que eram velhos conhecidos meus.
Caso, por exemplo, do Viaduto Santa Tereza e de seus arcos, que eram usados pelos jovens amigos do protagonista do livro para testarem sua coragem quando embriagados nos finais das noites, então modorrentas de Belo Horizonte. No livro autobiográfico, o autor conta que sua turma de amigos desafiavam-se, mutuamente, para ver aquele ou aqueles que teriam coragem para subir pelos arcos e atravessá-los, lá em cima, correndo.
Morador do centro da cidade e algumas vezes tendo ido ao serviço de meu avô, no antigo edificio Sulacap, encravado em lote em que o Viaduto tem início (ou fim), era como se eu mesmo estivesse sido transportado para as noites descritas no livro.
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Tinha também referências ao Minas Tênis Clube, clube a que eu era associado e que frenquentava constantemente, tentando participar das inúmeras equipes de natação, esporte ao qual eu tinha dificuldades para me adaptar; vôlei ou basquete.
Pela história narrada no livro, Fernando foi nadador vitorioso e competiu pelo clube conquistando várias medalhas.
Consta até um trecho em que, sei lá por que tipo de decepção, já mais velho, como querendo recuperar alguma autoestima ele voltou a treinar com afinco, obtendo novamente êxito nas piscinas.
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Também me lembro da história de sua iniciação sexual com a personagem Mariazinha, cujo nome eu guardo, embore não me recorde do fato descrito.
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Ao fim, o personagem muda-se para o Rio, onde mantém amizade com outros escritores mineiros lá radicados, até que um dia, encontram-se ele e mais dois de seus amigos de juventude, no evento que dá nome ao livro e que corresponde, sem qualquer intencionalidade, ao resgateode um compromisso firmado pelo trio, muitos anos antes, de um dia virem a se encontrar.
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Faço aqui referência ao livro, não apenas em homenagem a seu autor, e aos amigos de mais idade que têm a paciência de acompanharem esses pitacos e que também leram o romance, mas por que uma situação recente ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, de certa forma remexeu com minhas recordações.
Trata-se do caso da morte da jovem Maria Eduarda, de 13 anos, no pátio interior da escola em que estudava, em momento que estava participando de atividades de educação física.
Menina que, de acordo com os primeiros informes, foi vítima de bala perdida.
QUATRO balas perdidas, que curiosamente parece terem marcado um encontro no corpo da menina.
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Não estou fazendo piada. Seria de muito mau gosto proceder dessa forma, desrespeitando a dor de uma família simples, que perdeu uma filha jovem, cheia de sonhos e ideiais.
O que estou pretendendo é destacar um ponto importante na história: as notícias diziam de uma bala perdida, o que por pior que seja, é fato que vem se tornando corriqueiro no Rio.
Mas, vá lá: por mais trágico que seja, é aceitável uma versão que justifica uma morte por bala perdida.
No entanto, QUATRO balas perdidas é demais.
E, ao meu ver, é indício de que a história está muito mal contada.
Especialmente quando da história, e dando tiros a esmo (?) participavam dois policiais militares, fardados e com fuzis, que alegam estarem em meio a um fogo cruzado, ou uma troca de tiros com traficantes da região próxima à escola.
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O que os policiais, cujas fichas levantadas e noticiadas pelos jornais indicam participação em 37 outros casos, pelo menos, de vítimas fatais em decorrência de resistência à prisão, não sabiam é que estavam sendo filmados e gravados.
E as gravações mostram que os dois envolvidos em outras situações que apenas são um eufemismo para disfarçar execuções sumárias de bandidos, disparam seus tiros de fuzis em dois suspeitos ou criminosos até, ambos já feridos e caídos ao chão.
Um deles até se mexendo, como quem tivesse suplicando pela sua vida. O que não lhe valeu de nada, já que o policial disparou a queima roupa, de forma inapelável contra si.
Para não ficar para trás, o parceiro do primeiro mau policial, para não ficar para trás, aproveitou e disparou também contra o segundo criminoso caído.
Duas execuções bárbaras, de ditos policiais que não deveriam estar vestindo a farda que trajavam.
Dois assassinos, com direito para matar.
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E aí é que a história me intriga e daí o fato de eu estar tratando dela nesse pitaco: quem sabe, a história da morte da menina não tenha também ela sido forjada. Quem sabe a ordem dos acontecimentos não tenha sido distinta daquela que parece ter sido a ordem natural dos eventos.
As notícias dizem que os policiais perseguiam e trocaram tiros com traficantes e que, nisso uma bala atingiu a menina, que estava em local na linha da troca de tiros.
Mas, porque não a história seja outra. Os policiais trocam tiros com os suspeitos, acertam os dois, que caem e aproveitam para fuzilar a ambos.
Depois de feita a "limpeza" vêm que foram observados por Maria Eduarda, e eliminam a testemunha. Com 4 balaços, nem um pouco perdidos.
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Afinal, eles não sabiam que tinha alguém filmando. Espero apenas que a morte da menina seja apurada corretamente e que os bandidos da polícia punidos exemplarmente.
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A propósito, os portais de notícia informam que pesquisa realizada no Rio indica que 37% dos consultados são a favor da tese de que bandido bom é o bandido morto.
Felizmente 60% parecem ser contrários, o que indica que a humanidade ainda tem alguma possibilidade de evoluir e criar uma sociedade mais justa.
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Mudando de assunto, o jornal Valor Econômico traz uma nota sobre o processo de elaboração do orçamento para 2018, destacando que a LDO - Lei de Diretrizes Orçamentárias cujo prazo para envio de seu projeto ao Congresso vence em 8 dias pode ter alteração na previsão de seu resultado.
Originalmente previsto em 79 bilhões, o déficit primário para o próximo ano pode ser majorado, para valor ainda não definido pela equipe, tendo em vista o fato de as previsões feitas até aqui estarem se comprovando muito otimistas.
Para um desgoverno (ilegítimo, golpista e usurpador) que inicou prometendo realismo nas contas públicas, visando angariar confiança dos mercados, a notícia é no mínimo curiosa.
Tão curiosa ou estranha quanto o motivo: a percepção da equipe, apenas agora, da necessidade de se contingenciar, ainda nesse ano de 2017, a bagatela de 42 bilhões de reais.
Isso, repito, porque a equipe não iria trabalhar com estimativas fantasiosas. E porque acreditava que as receitas iriam crescer, já que a economia voltaria a ter o PIB em ritmo ascendente, o que iria impactar as receitas.
Isso para um governo cujas medidas, ao menos algumas delas, apontam na direção de um aperto maior na queda da demanda agregada, o que tem impedido de se confiar em que a recessão esteja mesmo alcançando o fundo do poço.
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Mas, como de ilusão também se vive, deixa o ministro Meirelles continuar sua pregação de que, ao final do ano, o crescimento da produção de bens e serviços estará aumentando de 3%.
Como se sabe, final do ano é época que a agenda do ministro deve marcar algum encontro seu com Papai Noel!!!
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E, finalmente, as mulheres têm conseguido manifestar-se e têm obtido resultados na sua luta em prol de que seus direitos sejam respeitados.
E aqueles estúpidos machistas de plantão que alegam que, desde pequenos, aprenderam que as mulheres deviam atender aos caprichos do homem (como a nota de José Mayer dá a entender) estão sendo devidamente punidos.
No caso da nota do famoso ator global, é de se destacar que, apesar de reconhecer seu erro, tal reconhecimento soa falso, a partir do momento que alega ter sido apenas uma brincadeira. O que soa ridículo, quando a brincadeira chega à situação de bolinar a figurinista que o acusou.
Independente disso, e da punição bem-vinda, ainda há muita gente que adota uma posição bastante condescendente com o astro, embora recriminando seu comportamento.
O que mostra o grau em que o machismo está impregnado na população brasileira (e não apenas nos homens).
Tomara que tal reação seja o início de uma conscientização que seja capaz de dar um fim ao feminicídio que envergonha ou deveria envergonhar a todos nós.
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