Algum problema, que não consigo identificar, impede que os comentários e críticas de meu colega Tarcísio Barcelos, estejam sendo postadas, em meio a esses pitacos, permitindo, mais que o debate, que a gente possa aprender sempre mais.
O que é uma pena! E que me obriga a prometer que continuarei procurando corrigir o problema da publicação de comentários.
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Em seu último comentário, via facebook, Tarcísio classifica-me como alguém sempre disposto a ver o copo meio vazio. De acordo com seu ponto de vista, ao contrário, o copo encontra-se meio cheio.
Dúvida que não é sem importância, ao menos desde que há mais de 30 anos, quando as letras de músicas no Brasil eram mais bem elaboradas, Chico e Gil (que faz hoje 75 anos de idade!) cantavam que é sempre bom lembrar que um copo vazio está cheio... de ar. E que o ar no copo ocupa o lugar do vinho...
Então, em primeiro lugar, parabéns a você, que sempre nos deu tanta felicidade, Gilberto Gil!
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E, já que estamos em desvios do nosso conteúdo, meus sentimentos à família dos Velloso, Caetano e Bethania, pela perda da irmã que os ajudou a criar, conforme a Folha nos informa, em sua edição de hoje.
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Voltando ao colega Tarcísio, sou obrigado a concordar com ele, sem ter certeza se se trata de problema ligado a minhas idiossincrasias, minha personalidade, ou à questão de tentar cometer análises de nossa situação econômica sempre preocupado em observar os riscos, os problemas que podem advir, ao invés de ficar comemorando, qual Pollyanna ou Cândido, medidas de política ou propostas econômicas de qualquer que seja o governo.
Já disse nesses pitacos, em mais de uma oportunidade, que aprendi de um de meus mais importantes chefes de trabalho, com quem tive o prazer de conviver e aprender por muito tempo, Raul Paixão, que a análise de política econômica, quando boa, deve sempre partir de uma pergunta: quem ganha ou quem é prejudicado com a medida em análise?
A mera resposta a essa questão, que não é, nem um pouco trivial, já serviria para mostrar-nos sua motivação, o que ela traria de vantagens e, o mais importante, o que ela traria escondido, em seu interior. Sempre, no entanto, a resposta serviria como guia importante, para perceber até as justificativas utilizadas, e as críticas a ela dirigidas.
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Pois bem, desde que me entendo por gente, devendo ainda reconhecer que bastante distante de entender-me por analista econômico, eu que continuo em constante formação, fui levado a tomar o lado dos menos poderosos, dos mais desprotegidos, dos mais sensíveis às medidas que, em sua maioria, sempre preferiu beneficiar uma parcela, minoritária de nossa sociedade. A elite e a classe média que lhe serve de sabujos.
Por isso, desde sempre, creio ter me destacado muito mais, ao longo de toda minha trajetória, por ter sempre apresentado uma visão crítica, que alguns alunos sempre insistiram em classificar como pessimista.
Isso, independente do governo ou partido no poder. Foi assim que critiquei a ideia e a implantação do Plano Cruzado, embora não pelas razões corretas na oportunidade. Foi assim que sempre critiquei as políticas de Collor, e sua abertura indiscriminada da economia brasileira e mais ainda ao seu confisco; ou ainda ao Plano Real, que acreditei que iria tolher nossa indústria e causar desemprego. Foi assim também que em várias oportunidades critiquei Lula e sua política de continuidade das políticas de FHC e Dilma, principalmente quando da guinada pró mercado que ela deu, depois de reeleita.
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Mas voltemos ao pitaco.
O que dizer, caro Tarcísio, da medida que o governo federal está estudando adotar, lá pelas bandas do Ministério da Fazenda, de parcelar o pagamento do FGTS devido ao seu legítimo e exclusivo dono, o trabalhador? E fazer isso, justamente quando esse trabalhador, dono do recurso mais se vê às voltas com problemas de perda de emprego, renda e ... dinheiro.
Tudo para poder financiar, com tal medida, o seguro desemprego, o que nos leva a perceber que o governo estuda formas de usar o dinheiro do trabalhador, para financiar o pagamento de outros direitos do mesmo pobre coitado!
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Se antes da aprovação de qualquer reforma trabalhista no Legislativo, o governo já avança contra os direitos dos trabalhadores, o que esperar depois, caso a tal reforma seja aprovada?
A volta da possibilidade de pagamento aos trabalhadores com o fornecimento de bens e serviços (como aluguel de residência) no lugar de pagar-lhes em dinheiro? O retorno de tudo que todos os historiadores econômicos do país sempre destacaram ser a forma mais básica de transformação do trabalhador no que foi chamado de "escravidão branca"?
A fragilização de toda a legislação protetiva ao trabalhador e a eliminação paulatina dos direitos sociais conquistados, ao longo de anos de lutas? A começar pelas férias, fixação de horas de jornada, décimo terceiro e benefícios sociais da previdência?
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Mudando de assunto, mas mantendo a mesma toada, o que pensar da declaração de Robson Andrade, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, e como analisá-la e entendê-la, publicada pela Folha na sua edição de hoje, segunda, dia 26 de junho?
Sob o título de "Empresariado prefere ficar com Temer, diz CNI", o industrial não tem qualquer problema em afirmar que "Todo o empresariado prefere continuar com o presidente Michel Temer. Hoje a posição é essa: é melhor seguir e fazer a transição no país. Chega de turbulência."
É importante observar e destacar o eufemismo: é melhor fazer a transição. Ou seja, aprovar as reformas que o povo não deseja, não escolheu, não elegeu.
Mas que agrada demasiadamente ao empresariado.
Tanto que os empresários não se preocupam em que à frente do país, esteja alguém envolvido com tudo que há de pior em um agente público: corrupção, desvios, propina, jogo de interesses menores, obstrução da justiça.
A lista não é pouca, nem pequena, mas ao empresariado isso pouco importa.
Isso significa que eles estão interessados em melhorar o nosso país e suas condições políticas, sociais, ou econômicas, ou apenas que estão pensando, mais uma vez e como sempre, apenas em seus próprios interesses e objetivos?
Alegar que o processo de escolha de novo governo poderia demorar até o final do ano, é risível. Porque a chance desse governo aprovar as medidas, parece sofrer problemas exatamente por ser, cada vez mais, um governo e um Congresso que não merecem mais nenhuma credibilidade. E é essa mesma situação política indefinida, já que ninguém em sã consciência pode afirmar o que irá resultar de um provável pedido de abertura de processo contra o presidente, pelo Procurador Geral da República, que é apontada como razão para que as reformas sejam adiadas cada vez mais.
Afinal, como o próprio ex-presidente FHC publica hoje, em artigo ainda na Folha, como esperar e obter alterações de suma importância para o país, a partir de um conjunto de instituições sem qualquer legitimidade?
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Por falar no ex-presidente, é interessante observar sua posição e sua argumentação, especialmente quando se sabe que o PSDB paulista está em meio a mais uma guerra interna, mais uma vez tendo como principais combatentes, as facções que apoiam o governador Alckmim e aquelas que apoiam o senador Serra.
Guerra por cargos e controle do comando nacional do partido, que tenta desesperadamente se livrar de aecim e toda a lama que o acompanha e que tanto mal cheiro exala para as hostes tucanas.
Pois bem, nesse momento em que o partido se prepara para mais uma de suas já famosas escaramuças, o ex-presidente pede a temer um gesto de grandeza histórica, que tomaria a forma de uma remessa de proposta de emenda à Constituição decretando eleições gerais, para todos os níveis que, segundo FHC iria permitir a temer dirigir o processo de sua substituição no poder, o que lhe asseguraria, segundo o articulista, um lugar garantido e de grandeza na história do país.
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Mas, ninguém deve se iludir, pois o ex-presidente não é nenhum tolo ou ingênuo.
Depois de afirmar que é golpe tentar por fora o presidente (agora é, com Dilma não era bem assim que FHC pensava!), e questionar o resultado do julgamento do TSE, que absolveu a chapa Dilma-Temer, chegando inclusive a afirmar que tal resultado apenas assegura a temer a legalidade para estar no cargo, mas não a legitimidade, o que faz o ex-presidente?
Assim, como quem não quer nada, comenta que um processo de alteração constitucional que, de quebra, poderia ainda trazer outras questões de uma necessária reforma política, talvez levasse aí nove meses, tempo em que as reformas necessárias (e que ele, espertamente elogia, já que não pode e não quer perder o apoio do empresariado do país) poderiam ser apreciadas, já agora sob nova roupagem, sob a direção de alguém que teria recuperado sua imagem junto à opinião pública e ao eleitorado, como temer?!?!?!?
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A que serve esse tipo de posição de FHC, senão a de ganhar tempo, dourar a pílula, e propor mudanças, apenas para poder controlar a situação, para que fique tudo como antes?
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Outro pitaco, ainda em reforço ao viés de sempre olhar e enxergar o copo meio vazio.
Em artigo publicado também na Folha, no sábado, de autoria de Rodrigo Zeidan sobre a China, que faz parte de uma série de artigos sobre aquele país, com periodicidade quinzenal, vemos que a chamada diz: "É difícil de imagina, mas a corrupção na China é muito, mas muito maior que no Brasil."
De resto, o autor cita dois exemplos de corrupção do dia a dia, que mostram que o Brasil está longe de alcançar a China nesse quesito.
E o autor afirma: "assim como no Brasil, a relação de corrupção é extremamente forte entre o sistema político e empresarial. O nosso capitalismo de compadre não é muito diferente na China."
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Ao que parece, na China, na Coréia do Sul, e em outros países como a Rússia.
Ou seja, gostemos ou não, a questão é muito menos de partidos e mais do sistema econômico que optamos por adotar: o capitalismo.
E os empresários que visam apenas e tão somente, maximização de lucros, doa a quem doer.
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E antes de terminar esse pitaco, dois comentários adicionais: o primeiro, a respeito de os projetos financiados pelo BNDES para países africanos estarem sob risco de calote.
Foi essa a matéria de capa do caderno Mercado de ontem, 25 de junho, na Folha.
Pela notícia, o financiamento feito a Moçambique e a Angola, ou melhor, para empreiteiras nacionais que foram as responsáveis por construção de obras naqueles países, estão sob risco de calote, face à grave crise que atravessam, principalmente Moçambique, desde que os Estados Unidos, Europa e outros suspenderam a ajuda financeira que davam ao país africano.
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Interessante é, para aqueles que acusam Lula e o PT de terem usado o BNDES para emprestar para países estrangeiros, a informação que consta na reportagem, e que transcrevo a seguir: "Só no ano passado o Brasil conseguiu renegociar dívidas da décadas de 1970 e 80 decorrentes de calores no financiamento de obras de empreiteiras brasileiras na África."
Só a título de lembrete: anos 70 e 80, de governos autoritários, militares, assim como é o candidato Bolsonaro. Militares com comportamento semelhante ao que os partidários de Bolsonaro tanto gostam de criticar em Lula e no PT.
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Por fim, comentar o relatório de estudo encomendado pela ABRAPP, entidade que cuida dos interesses do setor de fundos de previdência privados, a José Roberto Afonso do IBRE/FGV, em parceria com Paulo Roberto Vales, que mostra que os fundos de pensão estão fadados a ficarem sem recursos a partir de 2031.
Apenas para mostrar que a questão da Previdência não é simples, nem trivial e merece mais discussão e análise e sugestões, que o arcabouço que temos visto servir de pano de fundo à reforma de temer, em análise do Congresso.
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É isso.
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