quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Cassação de Maluf: o que os militares que o criaram não fizeram; as comuns fugas aos debates; Lula vítima; os políticos novos do Novo

A decisão unânime tomada ontem pela Mesa Diretora da Câmara, de cassar o mandato do deputado federal Paulo Maluf é,  no mínimo, curiosa.
Não pelo fato de Maluf, aos 86 anos de idade, estar cumprindo prisão domiciliar, condição que o obrigou a se licenciar de seu mandato. Nem por estar em final de mandato. Menos ainda por terem sido dadas a ele, todas as condições e prazos para que adotasse uma saída, digamos, honrosa, renunciando.
Em minha avaliação, tampouco o que deve ser destacado ou discutido na medida, é o papel do Supremo Tribunal Federal, que exigiu a cassação, ou o fato de pela primeira vez, a Câmara não ter levado à decisão para votação em plenário.
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Claro, todas essas circunstâncias podem dar origem a discussões, algumas relativas à autonomia, ou independência entre os 3 Poderes, base do Estado Democrático de Direito, características cada vez menos respeitadas e mais fragilizadas em nosso país, a cada novo fato político que surge.
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Afinal, já a algum tempo, e muitos analistas e juristas de renome têm reconhecido tal situação, o Supremo, ou melhor, o Judiciário como um todo, arrebata as prerrogativas dos outros Poderes, em especial, do Legislativo, cumprindo o papel de criar leis, a partir de uma interpretação cada vez mais ampla do que está escrito.
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Na ânsia ou desejo de criar uma nação mais justa, com menos privilégios, mais igualdade de direitos, menos impunidade, o Judiciário brasileiro, encabeçado pelo STF, arvora-se no direito de ferir a própria Constituição do qual esse colegiado deveria ser o guardião supremo.
Outras instâncias e membros desse poder, menores em todo o sentido do termo, inclusive do ponto de vista da moral e da ética, se arvoram em controladores absolutos da vida social, a ponto de adotarem comportamentos de acordo e em função de um pretenso risco potencial, existente apenas em sua visão estreita e equivocadas e suas afinidades políticas prá lá de questionáveis.
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Mas, no caso de Maluf, o que mais chama minha atenção e merece meu destaque é o fato de a decisão de cassação ter sido tomada em regime dito de liberdades democráticas, muito ao contrário das cassações havidas nos períodos de autoritarismo da ditadura militar.
Período de obscurantismo, prepotência e desmandos, em que o país esteve sob o jugo de homens sem qualquer outra qualificação senão a de seus uniformes e suas patentes.
Regimes a que Maluf serviu e pelos quais foi patrocnado.
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Ou seja, e vou colocar em letras maiúsculas, como um grito mesmo, para chamar a atenção para todos os poucos leitores que tiverem acesso a esse pitaco:
MALUF É FRUTO, É CRIA DO REGIME MILITAR A QUE MUITOS ILUDIDOS OU MAL INFORMADOS ATRIBUEM, HOJE, A FAMA DE HONESTOS, INCORRUPTÍVEIS E PROMOTORES DA ORDEM E DO PROGRESSO.

Só mesmo o fato de ser um regime de exceção, de censura à imprensa, de torturas e punições nos porões dos quarteis, permitem que a verdade daqueles tempos possa ser esquecida, ou deixada de lado.
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A ditadura militar, a inspiração dos militares, fruto de autênticas lavagens cerebrais sofridas por seus integrantes na Escola Superior de Guerra, e os militares que evocam aquele período e suas práticas, com saudosismo, são justamente da mesma espécie de homens e de comportamentos daqueles que criaram, protegeram e nunca questionaram as ações de Maluf, desde sua escolha como Prefeito postiço da cidade de São Paulo, até mesmo depois, quando rumores e suspeitas de mal uso de recursos públicos lhe eram lançadas.
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Nesse sentido, não é demais lembrar que esse deputado capitão, candidato a presidente, mesmo tendo contra si uma série de acusações, inclusive de ser estar sob investigação em ações penais , sobre as quais o Supremo deverá se pronunciar, foi um dos militares, faz apologia e a defesa dos militares que acobertaram e não puniram Maluf, quando ele ainda despontava na política.
Então, esses militares, que tanto o capitão reformado elogia, são os verdadeiros patrocinadores e co-responsáveis dos males e ações condenáveis de Paulo Maluf.
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Apenas para mostrar aos que não a experimentaram e não conheceram, nem se importaram em estudar, ler e conhecer, que regimes militares são tão corruptos quanto podem ser os regimes civis, já que ambos, exercidos por seres humanos.
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Se algo os difere é o fato de que os regimes militares, têm a seu favor, exclusivamente, o poder de impor medo, pelo uso autorizado de estarem armados.
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E quem não tem o que falar, se esconde...

E por tratar no deputado capitão, que tanta questão faz de elogiar os responsáveis pela tortura e assassinatos nos porões da ditadura, praticados no país, não é de se estranhar que os portais de notícias anunciem, no dia de hoje, sua disposição de não participar mais de qualquer debate.
Tomando todo o cuidado, já que essa é uma decisão que, mesmo que definida pelo candidato, pode ser revertida a qualquer momento, o que daria a sua divulgação a classificação de "fake news",  vou abordar o anúncio por outro ângulo.
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Afinal, já vimos, há muito tempo e em várias eleições, a estratégia de candidatos bem postados nas pesquisas eleitorais decidirem não comparecer a debates, de forma a manter a ignorância que sabem que são portadores, escondida dos eleitores.
Deste ponto de vista, o deputado do nanico PSL não é nada diferente, nem estaria fazendo nada que outros políticos, mais experientes e tão pouco aptos a exercerem o cargo a que almejam, já fizeram.
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No caso de nosso militar, cujas únicas propostas são as de armar a população, para aumentar o clima de insegurança nas ruas, nas cidades de nosso país; acatar e, quem sabe, até colaborar com a adoção de comportamentos destinados a cortarem direitos dos trabalhadores que queiram ter emprego, em  uma chantagem explícita; ou ainda admitir que há argumentos favoráveis a que a mulher, pela possibilidade de se tornar mãe, receber menos que os homens em cargos e atividades de igual nível de responsabilidade, não é de se admirar que não queira participar de novos debates.
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É que seu arsenal de propostas já se esgotou e ele já disse tudo que tinha a declarar em debates anteriores.
Pelo menos no debate da Bandeirantes, a que assisti, já que ao debate da Rede Tv, não tive a oportunidade de acompanhar.
Mas, tratando do debate da Band, além das propostas acima, pelo menos duas delas, tratadas de forma clara, o que mais o candidato apresentou foi sua compaixão por Wal, sua caseira que ganhava mil e poucos reais, embora seu salário de assessora fantasma da Câmara dos Deputados não devesse ser tão limitado.
O que, ainda assim levou a alguns espectadores do debate a julgarem que o capitão se saiu muito bem, calando a boca do candidato Boulos.
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Bem, cada um assiste e interpreta o que assistiu com os olhos que deseja ver. Alguns, sem óculos, míopes que são, outros com as lentes sujas e embaçadas.
Mas a verdade é que, para reforçar as ideias desses que acham que a questão de Wal era pouco importante, o próprio deputado candidato se viu na obrigação de dispensar sua empregada.
Talvez para não ter de enfrentar, nesses tempos de Câmara às moscas, a possibilidade de pedido de um exame da correção da contratação da assessora, e de sua correta remuneração...
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Menos mal que a caseira possa sobreviver da venda de açaí.
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E apenas a título de informação: o que fez Boulos se calar foi a agressão que sofreu do capitão valentão, de chefiar invasões de imóveis, o que os portais de notícias informam que será motivo para o candidato do PSOL, entrar em juízo contra o capitão.
Que se mostrou tão valente na oportunidade, mas que não foi capaz de suportar e até reclamou de seu questionamento por.... Marina...
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E mais a imprensa faz campanha e bate, mais cresce o fermento..

São as pesquisas eleitorais, mesmo que anunciadas por manchetes que, a todo custo querem tampar o sol com peneira.
Pior, peneira esgarçada, rasgada.
Porque a manchete do Estadão, para divulgar que os líderes da corrida incluem o capitão, seguido de Marina e Ciro é, no mínimo, o pior tipo de jornalismo que se pode praticar.
Muito pior que os pasquins, do jornalismo marrom de antigamente.
O Estadão, que apoiou o golpe militar de 64, mas não embarcou na ditadura, o que lhe valeu censura, renega seu passado, correndo o risco de jogar na lata de lixo parte de sua história digna.
Uma pena.
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Enquanto isso, não apenas Lula sobe nas pesquisas, talvez, por força desse sentimento de que tudo e todos estão contra ele. O que o vitimiza. O transforma em mártir. E impede de que ele possa ser questionado, em sua trajetória, seus erros e acertos, em relação ao período em que esteve no poder ou indicou alguém para representá-lo.
Lula, como todo governante, tem vários pontos de fragilidade. Talvez menos que os seus sucessores, mas ao invés de se tornar alvo de críticas sérias, preferem, em erro de estratégia de marketing de seus opositores, colocá-lo como alguém que foi punido por se posicionar a favor de interesses dos menos privilegiados (e até aqui, há muito o que se questionar, mesmo admitindo que suas políticas tiraram 46 milhões de brasileiros da miséria absoluta! Mas os banqueiros nunca antes na história desse país, ganharam tanto...)
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Lula sobe como foguete, os mercados se agitam, os especuladores aproveitam para ganhar milhões, o capital estrangeiro, vide Coca-Cola, aproveita para fazer ameças e obter benefícios fiscais; o dólar explode, a ONU é desrepeitada, e Fernando Haddad, mostra até aqui apenas que é um ilustre desconhecido, mesmo que se saiba ou imagine que se Lula indicá-lo, e na hora que o fizer, ele dispara...
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Entrevistas com Amoedo e Zema

Boas as entrevistas dos empresários candidatos pelo partido Novo.
Que diga-se de passagem, nada trazem em suas declarações e acusações de novidade. Afinal, há quanto tempo já assistimos a empresários justificarem com seu sucesso, sua trajetória vitoriosa, sua capacidade gestora, e críticas à eficiência ou à capacidade de planejamento, decisão, implementação e controle, dos políticos tradicionais, seu interesse em entrar para a política?
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São todos muito bem intencionados. Claro. Como aqui em Minas, também o eram e foram, Walfrido Mares Guia, diretor do empreendimento educacional Pitágoras, de muito sucesso. Ou Cláudio Mourão, vindo da iniciativa privada, e que chegou afirmando que o funcionalismo público era o câncer da administração pública mineira. 
Ou ainda o empresário de sucesso das linhas de ônibus, Clésio Andrade. Ou do antigo dono da Batik, Márcio Lacerda.
Isso para não falar, em nível nacional, de Paulo Maluf, da família proprietária da Eucatex. Ou de Guilherme Afif Domingos e seu juntos chegaremos lá.
Ou de Dória e sua cômica e veloz passagem pela Prefeitura de São Paulo.
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E o que esses empresários têm em comum?
Além do fato de estarem ou condenados ou na cadeia. Ou com o passado sujo por acusações algumas das quais que, por sua sorte, prescreveram?
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O problema do discurso de Amoedo e Zema, cujo passado não permite que sejam comparados aos demais citados, é que ele é correto, mas não leva em conta muito das questões, legais e necessárias, para proteção das riquezas de toda a população, com que vão se defrontar, caso tenham êxito.
Nesse aspecto, mostram serem muito novos, ao acreditarem que, como em suas empresas, podem decidir e implantar suas decisões, de forma imediata, sem quaisquer postergações, ou entraves, de qualquer ordem.
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A administração pública, para o bem ou para o mal, é diferente. Tem outra lógica de atuação, e outros trâmites.
Capaz de frustrar aos bem intencionados, e levá-los a total desânimo ou inércia.
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Pensando bem, não é o passado de ambos, sem quaisquer arranhões - que deve nos preocupar. Mas, seu futuro...


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