Ainda de volta ao debate da Bandeirantes, não há como negar a importância que assume um primeiro evento do tipo.
Mesmo que em um programa que não conseguiu, minimamente, atingir o objetivo principal: colocar os candidatos para discutirem ou debaterem suas propostas de governo, ou seja, permitir a cada candidato um espaço para poder apresentar o que ele e seu partido enxergam como problemas principais do país; o que identifica como causas de tal problema e, em função disso, o tipo de soluções que pretende implementar, caso eleito.
A partir daí, pressupõe-se, para que haja um debate, que fosse dada, a outros candidatos, a oportunidade de: mostrar o grau de importância atribuída, por ele, ao problema considerado prioritário para seu adversário. Classificar o grau de importância que ele atribui ao problema, caso tenha outras prioridades. A partir daí, e tendo em vista o problema, analisar as causas apontadas pelo concorrente, indicando se concorda com elas, e até apontando outras. Para finalmente, tecer comentários sobre as soluções propostas por seu antagonista e, se for o caso, apontar as suas propostas específicas.
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Claro que sei que um programa como o aqui sugerido acabaria se arrastando por um tempo demasiado longo - um pecado na grade de programação de qualquer meio de comunicação - em razão do número de participantes muito elevado.
Debater com 8 candidatos, dando-lhes o espaço aqui pretendido, iria fazer com que um número muito limitado de questões fosse abordada.
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A favor de minha proposta, digo apenas que, por menor que fosse o número de temas tratados, eles seriam tratados com menos afoiteza e ligeireza que o que vimos na Band.
Primeiro porque evitaríamos que os candidatos pudessem, como é no formato atual, tratar os problemas nacionais - e a importância que atribuem a eles, em termos de hierarquia -, da forma tão geral e evasiva que lhes é peculiar.
Afinal, o candidato dizer que tem preocupação com Educação ou com Segurança ou Saúde é algo tão genérico, que seria curioso e estranho se algum candidato em seus parcos instantes de participação dissesse que discorda de que tais problemas sejam importantes.
Mas, em 2 minutos, apenas se permite que o candidato fale de forma geral, na questão guarda-chuva, e possa ganhar tempo, adotando o mesmo tipo de comportamento que, no futebol, convencionou-se denominar de cera. Ou seja, enchendo linguiça, para não ter que aprofundar a questão.
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Resultado: ficamos sabendo que, até o cabo Daciolo, também reputa que nossa educação é deficiente. E ponto, sob a glória do Senhor.
Nada contra a fé do candidato, ao contrário. Mas, depois de tanto trazer o discurso religioso para o lugar de destaque em sua participação, não seria justo que pudéssemos estabelecer como hipótese, apenas para ilustrar, que o cabo acredita que a questão central na Educação, principalmente na educação de base, é não se privilegiar o ensino criacionista?
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Vimos que Bolsonaro é a favor de uma Escola sem Partido. O que ele entende, exatamente, quanto a isso? Ninguém pergunta. Mas será que tal escola excluiria o ensino de fatos que, por enaltecerem ideias distintas das suas, não poderia ser tratado?
Em outras palavras, sem partido, de tal forma que não se permita a existência de uma, qualquer que seja, doutrinação, seria tratar das questões de conhecimento apenas pelo ângulo da sua (dele) visão?
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Com o debate no formato que está, tomamos conhecimento que Ciro irá tirar o nome de 63 milhões de brasileiros do SPC.
Como?
Ele irá mandar apagar arquivos? Irá mandar os bancos renegociarem dívidas em qualquer condição? Irá pagar para todos os devedores que se cadastrarem?
Ou irá tentar uma política econômica que assegure a recuperação do nível de demanda agregada, elevação do emprego e renda e, dai, permitir que cada um pague suas dívidas?
Nessa política de recuperação da demanda agregada, qual a importância, em meio à crise fiscal que se tanto se destaca, dos gastos públicos? E que tipo de gastos seriam privilegiados? Com que recursos?
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Pior: pudemos ver um candidato, escandalosamente, assumir a responsabilidade pela adoção de uma política como se fosse ele o seu principal mentor ou artífice, quando seu papel era limitado a um aspecto, importante, mas menos amplo, da mesma política.
É conveniente lembrar que Meirelles não foi o primeiro nome sondado para presidir o Banco Central. Até por ser deputado recém-eleito pelo PSDB de Goiás.
Ora, se acabou se tornando o indicado para presidir a Autoridade Monetária, é porque outros economistas convidados, declinaram do convite. Assim, de acordo com os nomes da lista de economistas que eram vistos com agrado pelo mercado, chegou-se a Meirelles.
E, por mais que Lula e o PT estivessem capturados pelo mercado, principalmente os financeiros internacionais - vide a Carta aos Brasileiros, da qual Meirelles não participou em nada-, a verdade é que é pouco provável que Lula, esperto como é, deixasse a formulação de área tão sensível, para dizer o mínimo, nas mãos de quem era do partido de oposição a seu governo.
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Mas ainda mais ridículo que querer posar de pai da política lulista - tão criticada por toda a oposição, para quem Lula só teve êxito por culpa das condições imensamente favoráveis gestadas no mercado internacional - foi Meirelles querer atribuir-se o papel de criador de 10 milhões de emprego.
Ou ainda criticar o PSDB, aproveitando-se para deixar Alckmin em "saia curta", mesmo tendo demonstrado tanta afinidade com o partido tucano.
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E poucos se lembram, mas os juros eram extremamente elevados no período Meirelles, mesmo tendo sofrido sim, uma redução em sua gestão à frente do Banco Central.
Mas poucos se lembrarão que, mesmo os índices de inflação insistindo em ficar abaixo do centro da meta, ele não seguiu a política tão reclamada pelo setor produtivo empresarial, a de reduzir ainda mais a taxa próxima a 18, ou 20%.
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Naquela época, com sua insistência, muitos criticaram a manutenção elevada da taxa de juros, acusada de ser a razão de todo o influxo de capital externo em nosso país.
De quebra, também a razão de nosso câmbio valorizado, o que encarecia nossas exportações, estimulada as importações e, por fim, ajuda a entender o processo de desindustrialização de nosso país.
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Mas se manteve os juros elevados, sob críticas naquele período de Lula, como ministro da Fazenda, depois, adotou o mesmo comportamento, com a mesma lentidão para dar início ao processo, mais tarde iniciado de redução dos juros.
Ou podemos inferir que a redução de juros não é resultado de decisões de Meirelles, mas apenas decisão do presidente Ilan, do Banco?
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Da vaidade e oportunismo de Meirelles, é desnecessário tratar.
Mas para obter cargo e projeção, e poder, ele renunciou ao mandato conquistado, abandonou o partido com que se identificava e foi servir ao seu adversário.
Mais tarde, estava sempre disposto a assumir o papel de ministro do governo Dilma, até mesmo por recomendação de ... Lula.
E, não tendo obtido êxito nessa empreitada, aceitou, sem qualquer pudor, ser o ministro do golpista Temer.
E afundou a economia, talvez por não perceber a necessidade de reduzir os juros antes, cegado por alguma incapacidade de enxergar o que não lhe interessa, como o demonstra o fato de não ter, em qualquer momento, percebido, como presidente do Conselho de Administração (cargo figurativo, eu sei) do grupo JBS, as mutretas de que o grupo se valia para crescer.
Ou então, mais uma vez, ele apenas optou por adotar comportamento mais interesseiro, pendendo de vez para os interesses dos mercados e não dos trabalhadores desempregados do país, em oposição à postura adotada por ele no governo Lula.
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Ciro mostrou bom humor. Mostrou que não é da URSAL, ridicularizando ao cabo pastor, mas mostrou também estar mais preocupado em fazer demagogia de discursos de promessas vãs, o que se ilustra pela insistência em tratar de inadimplência de parte da população brasileira.
Foi simpático a tal ponto, e comedido em seu comportamento, que deixou Bolsonaro falar o que bem quis, sem criticá-lo.
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Marina foi a mesma de sempre. Verde... Ainda à espera de uma ocasião para mostrar mais maturidade, quem sabe, se conseguir escapar da Rede, em que se acha enredada.
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Boulos mostrou que é articulado, mas que não é elegante, em debates do tipo, não deixar os adversários ficarem fazendo elucubrações e devaneios.
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O que é permitido pelo formato do debate.
Onde situações como a que ilustro a seguir, confirmam que antes de mais nada, o programa é apenas uma oportunidade para que os candidatos possam aparecer, tentar agradar, mostrar sua cortesia, seu bom humor, etc.
Senão vejamos: o jornalista pergunta, o candidato responde à questão. Outro candidato é selecionado pelo jornalista para criticar a resposta ou pensamento do candidato questionado. E o que esse "comentarista" faz?
Desvia do que foi falado pelo oponente, para falar do que lhe interessa, às vezes sem qualquer ligação, inclusive, com a questão e sua resposta.
Na réplica, o mesmo comportamento - fugindo da questão e indo para outros assuntos, é adotado pelo candidato questionado.
Nesse meio tempo, o jornalista nada fala, não cobra, não mostra que o candidato está tergiversando, fugindo do assunto. Ou seja, não confronta a nenhum dos candidatos e suas respostas.
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Daí minha opinião: o programa foi muito fraco. Difícil de manter nosso interesse, em suas 3 longas horas de apresentação.
O que nos mostra que o debate e seu formato tem de ser repensado.
Se for mesmo para contribuir com o aperfeiçoamento de nossa democracia.
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Ausências no Debate
Morno como foi, o debate ainda mostra uma falha, em minha opinião insanável: a ausência do candidato do PT, Lula. Que poderia participar, via internet, direto da prisão em Curitiba.
Isso, uma vez que sua candidatura ainda não foi impugnada. E por ser, até aqui o líder das pesquisas.
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Muitos dirão que Lula não tem o direito, por estar preso, condenado. Outros dirão que ele é inelegível e ponto.
Aliás, embora todos se silenciem, até mesmos os juízes que irão, imparcialmente, emitir seus julgamentos e manifestar-se a respeito no devido processo legal, já afirmam, abertamente, que Lula é inelegível.
Antecipam decisão que ainda não foi tomada.
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Por tanta curiosidade que insiste em acontecer no processo em que Lula está envolvido- com juízes reconhecendo que deixaram de respeitar a letra fria da lei (vide a coluna Radar da revista Veja, com referência a Gebran) - resta-nos a todos os brasileiros mais cientes de compete a nós exigir e manter o respeito primordial às leis, nos filiar à corrente dos que acham que debate sem Lula é golpe.
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Mas mais curioso que a ausência de Lula, é o manifesto que roda pelas redes sociais, pressionando para que Amoedo, do Novo, possa passar a participar dos debates agendados.
Isso, vindo de várias pessoas que não aceitam a participação de Lula, por ser contrária ao ordenamento vigente, na estreita e já antecipada decisão de inelegibilidade. Mas que no caso de Amoedo, não se constrangem em desejar que a lei não tenha eficácia.
Apenas por que o discurso do empresário é um discurso que soa como música aos seus ouvidos, e seja mais, muito mais fácil de deglutir que os destemperos de Bolsonaro ou Daciolo.
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Pergunte a quem pede que a lei, que pode ser falha ou não, mas existe, e diz que partidos Novos, sem um número mínimo de deputados não devem ser necessariamente convidados para participar desse tipo de programa.
O interessante seria poder perguntar a eles, se no caso de Lula, em que ainda não houve qualquer decisão pela impugnação ou não, se a lei não deveria ser cumprida?
Bobagem tratar de especular qual a resposta.
Porque para alguns, o ditado romano vale sempre: Dura lex, sed lex.
Mas apenas para alguns: de preferência, os adversários.
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E essa é a democracia que julgam estar construindo. (E devo dizer que acho que todos os candidatos deveriam ter o mesmo espaço para apresentação de suas ideias. Inclusive o Amoedo).
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