terça-feira, 13 de novembro de 2018

Bravatas no lugar de ideias que não existem; e mais uma vez, o silêncio sobre Marielle ou as gargalhadas de Allana e sua mãe

Não foram poucos os analistas e colunistas dos principais jornais do país que, sem conseguir disfarçar o sentimento de frustração que os invadiu, em escala variável, chegaram à conclusão da inoperância demonstrada pela equipe de transição do governo eleito do capitão da reserva. 
Como não foram poucos os que chegaram a assinalar que está mais que passada a hora do capitão "cair na real", descer do palanque, e perceber que as eleições já acabaram, e que de agora em diante, ele fala como presidente eleito. 
O que não permite mais que ele continue recorrendo a transmissões de recados e mensagens via redes sociais particulares (as quais acabam sendo sintonizadas e depois transmitidas por todos os veículos de comunicação de massa, retirando delas o caráter mais "pessoal" que poderiam querer assumir), nem de continuar fazendo bravatas, ou discursos que mais contribuem para gerar instabilidade.
Porque a impressão que esse comportamento passa, e talvez com grande dose de correção, é a de que o capitão não tinha qualquer ideia para governar o país, tendo importância por representar apenas a figura pública capaz de galvanizar, com seu discurso tosco e frases de efeito, toda a insatisfação da população brasileira com a situação político-econômica e social do país. 
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Pois, tivesse ou não alguma ideia ou proposta séria de governo, além de meia dúzia de propostas mais adequadas a promover uma reação catártica no eleitorado do país, o ponto é que ele foi eleito. Seu discurso conseguiu alcançar e atingir a fundo grande parte da população brasileira. A princípio, suas promessas conseguiram o grande feito de descarregar as frustrações e, depois, acalmar parte da população. 
Afinal a segurança pública, responsabilidade do Estado, encontra-se completamente desaparelhada, desarticulada, em frangalhos? 
Tudo bem, cada cidadão de bem poderá ele mesmo adquirir e ter a posse ou quem sabe até o porte de arma para providenciar sua defesa e de sua família. Como daí em diante cada cidadão será o responsável por sua própria segurança, a situação irá, apresentar melhora imediata, já que ninguém melhor que o próprio indivíduo para zelar por aquilo que lhe é tão caro, sua própria sobrevivência. 
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Não resisto a um parêntese e a um comentário: fosse o principal responsável pela preservação de sua segurança e de sua vida, fosse o responsável por manter o estrito controle sobre os riscos a sua sobrevivência, o indivíduo certamente não iria dirigir manuseando ou falando ao aparelho de celular, nem iria atravessar a rua movimentada usando o fone de ouvido enquanto ouve alguma mensagem do whatsapp, ou enquanto vê e se enamora das "selfies" que, à la Narciso, examina a cada instante. 
Fosse mais responsável por manter sua integridade física, não dirigiria embriagado, nem iria ser capturado pelas imagens de radares, transitando com velocidades superiores a 190 km por hora, quando o limite estipulado é de 110.
Ou não iria ultrapassar veículos em faixa contínua, etc. etc.
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É comum ouvir-se referência a uma certa imaturidade da juventude, em especial da fase da adolescência, em que as pessoas não sabem avaliar a dimensão exata do perigo e, acreditando-se super-heróis, acabam ultrapassando os limites do bom senso. 
Pois, ao listar os exemplos de "falhas de segurança" acima, começo a me questionar se essa imprudência juvenil não se estende por todos os primeiros cem anos de vida.
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Mas no caso do porte de arma, não se questiona a fundo e com a devida seriedade, sua utilidade na proteção pessoal e da propriedade. E a grande maioria das pessoas acredita que pode sim, resolver à forma do velho oeste os problemas que o afligem. 
Esquecem que soldados com formação e treinamento para portarem armas, muitas vezes são surpreendidos e, mesmo com todo seu preparo, são vítimas de criminosos e da reação que tentaram manifestar quando apanhados de surpresa. 
Esquecem que pessoas em situações de estresse, seja como resultado de  relações familiares, crise financeira, problemas no trabalho ou qualquer outra situação extrema podem usar uma simples situação de desentendimento no trânsito como válvula de escape. E estando armados, podem cometer atos que, de outra forma, não iriam patrocinar. 
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Também no palanque, e como promessa de campanha, o presidente eleito falou em algumas ocasiões de levar a flexibilização da legislação trabalhista a um extremo. Mantendo de pé, em defesa do trabalhador, apenas os direitos previstos e inseridos na Constituição. 
Que vale a pena lembrar e repetir, sempre pode ser objeto de mudanças e emendas, excetuadas as cláusulas pétreas, constantes do Art. 5.
Ora, mais uma vez, na última sexta feira, o capitão agora eleito repetiu que, não é ele quem afirma, mas que os empresários que o cercam e o apoiam,  afirmam que ou se tem direitos sem emprego, ou empregos sem direitos. 
Pior, em minha opinião, e que teve pouca repercussão já que todo mundo está tratando, ao que parece, como bravatas, ou seja, sem importância: ao citar uma entrevista que concedeu a programa de rádio instalada nos Estados Unidos, deu a entender que, aquele que quiser ganhar mais, deverá trabalhar mais, o que significa que não deve querer aproveitar de repouso semanal remunerado, por exemplo. Na mesma direção, afirmou que quer tirar uns dias de descanso, pode e deve, mas não fará jus a qualquer remuneração. 
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Sem aprofundar na questão, tendo em vista a existência de mais de 12 milhões de desempregados no país hoje, se oferecendo para trabalhar e não passar fome, e tendo em conta a lei da oferta, tão a gosto do liberal que é seu guru, o que significam tais falas?
Que a hora da jornada de trabalho, fruto da discussão e negociação individual, será extremamente reduzida. E que para melhorar sua remuneração e ter  um mínimo de dignidade de vida, o trabalhador deverá desejar trabalhar o máximo de tempo disponível. 
Ou seja: a ideia é voltarmos ao tempo dos primórdios da indústria na Inglaterra, onde trabalhadores trabalhavam mais de 20 horas por dia, mulheres e crianças, com uma carga horária menor, mas nunca abaixo das 16/18 horas. 
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Para piorar, segue o capitão fazendo bravatas, e algumas sem qualquer significado e importância para o nosso país, exceto bajulação explícita de Trump e seus desvarios, como a decisão anunciada de transferir a embaixada do Brasil em Israel, para Jerusalém. 
Qual o interesse? Que benefício tal medida pode nos trazer, concretamente?
Na mensagem da sexta nas redes, o capitão chegou ao cúmulo de comparar a transferência de capital de Israel, de Tel Aviv para Jerusalém, com a decisão brasileira de transferir a capital do Rio de Janeiro para Brasília. 
Mas mostrou total conhecimento de história, ou total desrespeito com a memória e inteligência alheia, ao afirmar que se querem culpar alguém por estar acatando decisões da política interna de Israel, culpem a quem presidia a sessão do Conselho da ONU responsável pela divisão da região da Palestina e pela criação dos DOIS Estados, de Israel e da Palestina: Osvaldo Aranha. 
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Desnecessário recordar que a questão de Jerusalém passa antes, por resolver e reafirmar e dar apoio, à criação do estado da Palestina, que interesses escusos evitam abordar. 
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Não bastasse esse tipo de disparates, proferidos por quem a cada dia mostra menos preparo para assumir os encargos que 55 milhões de brasileiros lhe delegaram, ainda vem o filho, Eduardo, em entrevista a jornal de São Paulo, reproduzida pela Folha, afirmar ainda outras sandices, como a de convocação de Constituição privativa para tratar de assuntos da reforma política. Da legislação que tenta, ferindo a Constituição, criar o Escola sem partido, ou pior, classificar como movimento terrorista, movimentos sociais de reivindicação. 
E ainda afirmando que não tem problema se tiver que prender 100 mil ditos "terroristas". Ah! ia me esquecendo: criminalizar o comunismo...
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Bem não vou ficar me alongando. Enquanto isso, a reforma da Previdência já foi deixada para o ano que vem. 
Parece que chegaram à conclusão que não existe uma ideia, uma proposta digna desse nome, um projeto de Previdência para apresentar, negociar, e aprovar. 
Da mesma forma, as indicações do que fazer com as funções do Ministério do Trabalho, e uma tal carteira verde e amarela não estão fechadas, se é que existe alguma noção.
Em relação à questão ambiental, nada de concreto. Sabe-se apenas que, do alto de sua pretensão e arrogância, o capitão quer subordinar os interesses de um eventual ministro a suas ideias atrasadas que apenas consideram o agronegócio, sem qualquer outra vinculação com questões da sustentabilidade. 
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Mas, não vamos ficar cobrando: afinal, equipes de transição servem mais para conhecer a situação do país, do governo, de cada pasta. Valores, números, atendidos, problemas, projetos em curso. 
Não são o momento para se elaborar propostas. 
Esse momento era anterior à eleição. E as propostas deveriam ter sido apresentadas à população. 
Como elas não existiam, também não tinha o que falar, nem apresentar. 
O que explica a fuga dos debates. 
Debater o que? O vazio?
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Agora, é momento de conhecendo a situação real das contas e do funcionamento do governo, verificar com adaptar as propostas da equipe vencedora à realidade. 
Na falta de qualquer proposta, o jeito é esperar que com a informação e o conhecimento da realidade em mãos, o governo comece então a elaborar alguns planos. 
O que, se conheço a estrutura do poder público, deve indicar que lá para março, talvez e na melhor das hipóteses, comecemos a saber realmente o que era a proposta de governo que levou milhões de pessoas a elegerem o capitão. 
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Indignação é Preciso

Não podemos nos contentar com os silêncios. Eles, muitas vezes, falam de forma mais eloquente que os ruídos. 
Amanhã, 14 de novembro, comemora-se mais um mês do assassinato de Marielle Franco e seu motorista Anderson.
E nada. Nenhuma pista ou revelação de que a Polícia já evoluiu nas buscas do assassino, ou assassinos. 
E a sociedade assista inerte ao descaso com a vida de uma luta pelos direitos mais fundamentais de todos nós. 
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E embora revolte a todos, ninguém faz um movimento para cobrar o esclarecimento das mortes de adolescentes no Rio, na última semana, em ação das forças de segurança na Rocinha. Ou na Maré. Ou em Manguinhos. 
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Mas pior é a situação do assassinato brutal, frio, de Daniel, o jogador de futebol. 
E a população, inerte não faz qualquer manifestação de repúdio, de cobrança, nada...
Nem pelo crime ou a selvageria que o cercou. 
Em minha opinião, e aqui o meu mais veemente repúdio, muito mais cruel, mais violento ou selvagem, muito mais indigno de ser obra de alguém que se classifica como ser humano, é a gargalhada que as câmeras do shopping filmaram, dadas pela mãe e filha, Allana. 
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Nos últimos tempos, nada me causou mais engulhos que a cena do shopping. 
Razão de aproveitar o pitaco para deixar meu desabafo. 

2 comentários:

Unknown disse...

Que o ex-capitão tão tinha proposta alguma boa parte da população sabia. Que ele conseguiu capitalizar o ódio e ou pre-conceito pelo PT, é fato. O mais triste é constatar que poucos são os críticos da exótica situação.
Assistir a escalada da violência, agora sob o manto de um incerto "cidadão de bem"... cujo esteriótipo podemos imaginar. A sociedade civil precisa de reagir!

Unknown disse...

O caso do jogador Daniel assusta tanto pela crueldade quanto pela denúncia falsa de estupro ( de acordo com as investigações). Mulheres são violentadas diariamente neste pais e a cada denúncia falsa voltamos para o tempo que culpa a mulher por ser agredida.
Quanto às bravatas nada de novo amigo...teremos até Levy de novo.
Parabéns pelo texto.