Ao contráriio da opinião de Emerson Kapaz, exposta em seu
comentário para o Jornal da Cultura, não achei um discurso de conciliação, nem
de união. Menos ainda de um líder ou, nas palavras de Kapaz, de um capitão por
analogia à função de um jogador mais respeitado no futebol, e não em referência
à patente.
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E vamos admitir, Mandetta não teve qualquer influência no
pronunciamento.
E, poucas horas antes, na entrevista diária da área da Saúde
com a imprensa, destinada a promover a atualização da evolução da pandemia no país,
o ministro da Saúde fez o possível para adotar um tom conciliatório, amistoso. Até
subalterno.
Mostrando já maior conhecimento da personalidade esquizotípica,
ou paranóide, ou ambas, de seu chefe, Mandetta fez questão de salientar estarem
“jogando no mesmo time”, para prosseguir utilizando a analogia de Kapaz.
Aí, foi suficientemente claro: olhamos todos o mesmo parabrisa,
para frente. Estamos unidos. E quem manda no time tem nome: Jair Messias
Bolsonaro.
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Mesmo com o ego massageado, em seu pronunciamento noturno,
melhor seria soturno, o “capitão” mostrou que o time encontra-se completamente à
deriva. Mandetta não apenas não foi citado. Pior: Bolsonaro fez questão de mostrar que
se o seu jogador mais avançado, nessa oportunidade, joga para a frente, ele
continua fazendo questão de dar chutões para os lados.
Mas tais chutões não têm o objetivo de espantar o perigo de
um ataque adversário: são apenas para, sob sorrisos de soslaios por entre a
boca torta, arremessar a bola para a pequena claque que, sem prestar atenção ao
jogo, se compraz em aplaudir e incentivar seu ídolo mor.
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Nesse sentido, Bolsonaro parece continuar agindo como a criança
mimada que, independente dos problemas que pode estar causando, se dispõe a
qualquer tipo de comportamento para continuar sendo o centro das atenções.
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Mandetta não joga no mesmo time de Bolsonaro e, a julgar pelo
comportamento da tropa de choque de brucutus que põem em movimento as redes sociais
de seu Messias, cada vez mais parece estar sendo deslocado para a extrema
esquerda. Logo ele, que não tem nada de canhoto.
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Não contente de não fazer referência ao seu subordinado,
Bolsonaro ainda se referiu aos encontros que vem mantendo com outros médicos,
para tratar da aplicação do remédio que, em sua abalizada opinião, é a panaceia
universal: o emplasto Brás Cubas.
Mas, como na história genial do personagem de Machado, Bolsonaro
corre o risco de se submeter a enorme frustração.
O que poderia ser evitado se tivessse se dedicado a alguma
leitura que permitisse o desenvolvimento do cerébro, ao invés de optar por
desenvolver tão somente a musculatura.
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E reconheçamos que Mandetta demonstrou não se opor à prescrição
da receita milagrosa. Apenas não quer correr riscos de sua utilização indiscriminada
para toda a população, sem a identificação exata sequer da contaminação pelo vírus,
temendo possíveis efeitos colaterais.
Sem qualquer compromisso, exceto com seu pensamento mágico,
Bolsonaro não se constrange de receitar o medicamento. Vai mais além: gaba-se
de conversar pessoalmente com o primeiro ministro indiano, de forma a assegurar
a aquisição e entrega de insumos necessários à continuidade da produção da cloroquina.
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Aqui um parênteses: ao fazer questão de manifestar o telefonema
ao premier indiano, Bolsonaro não estava querendo demonstrar prestígio. Tão
somente estava reconhecendo que no Ministério das Relações Exteriores, completamente
acéfalo de algum ser racional, não há ninguém que possa ser indicado para
cumprir os trâmites necessários a tal negócio.
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Não podemos deixar de destacar que, em certo momento e mais
uma vez, como um disco arranhado que fica repetindo sempre o mesmo trecho da música,
fez questão de deixar claro sua intenção de respeitar a autonomia dos entes
federativos, indicador de que já tinha tomado ciência da decisão do Ministro Alexandre
de Moraes, assegurando a autonomia das instâncias subnacionais para tomar
decisões sobre como lidar com a pandemia.
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Bolsonaro acusou o golpe. Tanto que, novamente, fez questão
de transferir a responsabilidade ou o ônus das medidas de isolamento social
para governadores e prefeitos.
Mais tarde, e sempre, qualquer que seja o resultado ele
poderá apontar o dedo e falar: eu avisei.
Exatamente, o que ele falou ninguém sabe, mas... não é ele o
responsável.
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Dois comentários: o primeiro, relativo aos ataques que
começarão a ter como foco a figura do ministro Moraes, em razão da sentença
contrária ao interesse do megalomâno e suas legiões.
Não há problema: além dos brucutus descerebrados, os ataques
virão de quem não conhece nem para onde aponta o nariz, quanto mais o que significa
o respeito Constitucional à autonomia dos poderes.
Curiosamente: a verdadeira ilustração do dito mais Brasil,
menos Brasília a que os desmemoriados de sempre (e os sem caráter) poderão fazer
vistas grossas.
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Segundo: os ataques e transferência de responsabilidades
para governadores como Witzel e Dória funcionam com a história de Caramuru. Bolsonaro
atira no que vê, e erra. E acerta o que não viu.
Eleitos na esteira da histeria provocada pelo vírus
corrosivo para os neurônios que levou ao poder o energúmeno lá instalado, Dória
e Witzel, além da mesma truculência e despreparo, apenas mostram o mesmo
problema de ego de Bolsonaro.
O que explica a ridícula disputa da paternidade da aplicação
da cloroquina.
Isso independente de, em minha opiniao, bem assessorados,
terem os dois governadores agido como as autoridades devem agir, em momentos de
insegurança.
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Procurando não se alterar, Bolsonaro mudou o tema de seu
discurso passando a tratar de questões econômicas, e aproveitando para, mais
uma vez, como agulha emperrada, falar da liberação dos R$ 600,00 reais para os
mais necessitados. Além da liberação de cota de um salário mínimo do FGTS.
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Quanto a essa parte do discurso, apenas um registro. O capitão
começou afirmando que seu governo tinha duas preocupações: a luta contra o
vírus, e a luta contra o desemprego.
Ora, dado que seu (des)governo já completou um ano de
exercício de mandato, e que a Covid-19 nos atingiu apenas recentemente, o fato
de colocar a luta contra o vírus como preocupação é algo a se comemorar.
Afinal, não há muito tempo, esse vírus era causador apenas
de uma gripezinha.
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Quanto ao desemprego é forçoso reconhecer que, transcorrido
já um ano, nada foi alterado. Independente de medidas destinadas à precarização
do trabalho e à retirada cada vez mais agressiva dos direitos dos trabalhadores
(o que inclui a possibilidade de, no futuro próximo, assistirmos, no limite da
retirada de sua própria remuneração), os dados mostram que o aumento de emprego
se deveu à elevação dos informais, ou autônomos. Aqueles que vivem de bicos,
mas por terem CNPJ, acreditam que se transformaram em empresários
empreendedores.
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Bem, com um ministro da Economia capaz de vender a imagem de
superior competência, entregando um resultado como o obtido até aqui,
convenhamos que o corona vírus é até uma excelente desculpa para tanta
incompetência.
Do jogador, e do técnico que o escalou e o mantém.
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Ainda assim, prefiro Bolsonaro, o ex, esquentando a cadeira, já que a tinta da caneta se esgotou, que uma farda ocupando aquele espaço.
Ainda assim, prefiro Bolsonaro, o ex, esquentando a cadeira, já que a tinta da caneta se esgotou, que uma farda ocupando aquele espaço.
É isso aí. Como ele
falou, boa Páscoa. Que não seja apenas a passagem para o outro mundo, mas a reabilitação
da vida e dos ideiais que a fazem dignas de serem vividas.
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