terça-feira, 7 de abril de 2020

A pergunta de um milhão de dólares: Quando Mandetta vai dispensar Bolsonaro?

É triste e forçoso ter de reconhecer a veracidade do ditado popular de que "não há nada tão ruim que não possa ficar pior". 
Frase que uma pesquisa no Google não permitiu a identificação da autoria. Menos mal, o site "Quem disse" informa tratar-se de um provérbio de origem inglesa. 
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E não é que, em meio à pandemia do Covid-19, insatisfeito com o protagonismo de seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o destemperado ex-militar do Exército Nacional, "convidado a pedir para passar à reserva", e que, infelizmente, ocupa o principal posto do Executivo nacional, resolve que vai exonerar o ministro do seu cargo. 
Tudo porque o brilho do ministro e o apoio popular revelado pelas pesquisas de opinião pública mais mais que dobrou a aprovação do presidente. 
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Confesso que não sei se é apenas insegurança, se é alguma característica de personalidade narcísica, bastante fora da normalidade,  doentia, mórbida até,  ou se a explicação para o comportamento do presidente se deve à canalhice de um indivíduo que se compraz em elogiar a tortura e torturadores.
Ou se segue alguma lógica perversa, alguma estratégia que o obriga a prosseguir dando voz, seja por que forma ou meio ele tenha que chamar a atenção, para que seja mantida em fogo alto uma pretensa batalha contra tudo que a imaginação,  a fantasia ou o delírio possam caracterizar como fruto de ações da esquerda ou dos esquerdopatas, do marxismo cultural ou do multiculturalismo que se instalou em todo o mundo e que domina os principais foruns e organismos multilaterais existentes.
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Curiosa, em minha opinião, o fato de a proximidade com a loucura em seu estágio mais bruto, afetar algumas pessoas consideradas mais informadas, formalmente mais educadas, com nível mais elevado de qualificação, a ponto de permitir-lhes identificar a patologia em tudo e todos. Razão do gozo que sentem ao se referirem a qualquer pessoa que não pense ou aja da forma deturpada como estão agindo e pensando, como esquerdopatas. 
Ou seja: são suficientemente inteligentes para identificarem a patologia à sua volta. Mas não conseguem desvencilhar-se do mal que lhes capturou e que vai envolvendo-os e transformando-os na antítese do estudioso que um dia desejaram ser. 
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Transformaram-se em meras marionetes, meras caixas de ressonância de  um movimento que, em outras circunstâncias mereceriam deles a repulsa.
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Mas, foi assim também quando da ascensão de Hitler na Alemanha, ou de Mussolini na Itália ou até de Franco na Espanha. Cidadãos do bem, de boa índole e alguns de alta qualificação foram cooptados, ludibriados e, sem que se dessem conta transformaram-se nos arautos, nos relações públicas de toda a banalidade do mal. 
Entre esses,  a história revela cientistas, filósofos, músicos, artistas, profissionais liberais, gentes tanto da oligarquia financeira quanto do capital industrial e da pequena burguesia.
Em comum, todos apresentando a mesma cegueira ou envergando a mesma viseira, que os levava a identificar ao alcance da imaginação e não apenas da visão, um verdadeiro terror, representado pelas massas comunistas, na defesa de seus interesses e de seus direitos, sempre negados.
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Essa mesma visão dantesca, continua sendo permanentemente cultivada para permitir a manutenção do domínio sobre mentes e corações mais suscetíveis às ameaças de um pretenso e até folclórico movimento destinado a lhes roubar a liberdade, a individualidade, as propriedades, posses, riquezas e até a esperança. 
De fato, o medo que alimenta esses pobres coitados nasce da consciência de que  sua independência e liberdade se fundamentam na desigualdade e na exploração que assistem ter lugar e a qual apoiam. E que, um dia, irá acabar por desnudar-se, quando serão obrigados a repartir com outros os nacos que sempre reservaram para si. 
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Mas, deixando essas elucubrações de lado, retornemos ao tema central do pitaco: as ações do Cavalão da triste figura em que, cada vez mais, vai se transformando Bolsonaro. 
Fosse um líder e não um paspalho, teria sido o primeiro a admitir que teria muito a ganhar em prestígio e popularidade eleitoral se em todo os instantes, aparecesse ao lado, incentivando, dando força, reiterando o acerto das medidas adotadas por Mandetta e sua equipe.
Afinal, proporcionasse tal apoio, a cada momento poderia lembrar a toda a população de que não poderia ter feito  melhor escolha para comandar uma área tão importante de qualquer governo, principalmente em momento em que essa área, a Saúde, passa por teste de tal envergadura. 
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Trump, seu ídolo, começou a tratar do problema da pandemia com a mesma displicência e desprezo. 
Ao que se sabe, até chegando a se atritar com seu secretário responsável pelas ações de saúde. Até que "caiu a ficha" para o também egocêntrico presidente americano. 
E Trump percebeu que ao invés de fritar, queimar e até destituir seu auxiliar, deveria capitalizar o apoio que esse funcionário atraía para quem o nomeou e o apoiava.
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Porque razão os ideólogos de seu governo, os filhos do mal e os funcionários do Gabinete do Mal que coordenam, não perceberam que essa seria uma forma de manter a popularidade de Jair em alta é, para mim, um mistério. 
Porque não fizeram o Messias, nessa época de Páscoa, cavalgar na onda de popularidade de seu auxiliar eu confesso não entender. 
Afinal, duvido que fosse por achar que ao agir dessa forma, seria Bolsonaro que estaria se submetendo a Mandetta, invertendo aquilo que só não reconhece alguém que fosse mal intencionado. Por que é claro que Mandetta era um ilustre desconhecido, mesmo que médico competente, técnico, político e até deputado. 
O alegado mito, até meados de 2019, era o outro. 
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Daí, entende-se a razão de o presidente resolver apostar uma queda de braço com seu ministro, em um instante em que todo o resto do governo teme os efeitos do corona vírus e prefere ficar ao lado de quem sabe do que está falando e transmite a impressão de ter segurança no que está falando e em suas ações. 
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Motivo porque Bolsonaro, tentando mostrar sua importância, poder e força, acabou mostrando que não passa de um fantasma, um espectro a vagar pelos palácios e até ruas de Brasília, um morto vivo  capaz apenas de agradar aos populares que, acreditando no poder do sobrenatural em relação à ciência, ainda continuam acorrendo à portaria do Palácio, atrás de risos fáceis e falsos de seu guru maior. 
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Alegar que o apoio à Mandetta implicaria em desarticulação da Economia, o que levaria seu des-governo para o lugar de o mais desastrado de todo o período republicano (não digo nem depois da redemocratização) é uma tolice total. 
Ao contrário, agindo como líder, mesmo indo contrário ao seu posto Ipiranga, cada vez com combustível mais falsificado, e imediatamente tomando decisões semelhantes àquelas de Trump, seu guru, ou de outros líderes de Executivo mundo afora, Bolsonaro poderia se cacifar junto a toda a população, principalmente os mais desvalidos. 
Para tanto, bastaria determinar a concessão de apoio financeiro, ágil, em montante razoável a todos os que pudessem estar prejudicados na crise, empresários, autônomos, informais, etc. 
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Evitasse se agarrar às opções preferenciais da equipe liberal da Economia, pela manutenção do orçamento e do equilíbrio fiscal; pela projeção de evolução da dívida pública futura; pela necessidade de se privatizar nesse momento, ele poderia ganhar mais apoio, suficiente para, lá na frente, poder cobrar dos beneficiados de agora, sua parcela de sacrifício e contribuição para o ajuste das contas do país. 
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Mas, na direção contrária desse comportamento, o que o governo faz, cada vez mais flagrantemente é postegar, adiar, protelar qualquer apoio. O que é perigoso, pois depois de acenar com benesses, e criar no povo uma expectativa, negar tais esperanças ou adiá-las é criar a pressão que pode fazer explodir a panela já em fogo alto. 
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Pior ainda, é verificar a quantidade de agressões que seu governo, sem sua desautorização, e até mesmo seu filho, fazem em relação a parceiro comercial do país, que não apenas tem se mostrado o maior dos parceiros, mas pode prestar o auxílio para nos ajudar a sair da crise da Covid. 
O que tem se repetido tão constantemente, que parece ser uma campanha orquestrada para criar mesmo uma situação de total beligerância com a China e seus possíveis aliados, ainda que de ocasião. 
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O que quer o Brasil?
O que querem os Eduardos Bananinhas e os iletrados Weintraubs? O que quer o Ernesto Araújo, outro espantalho inútil na casa do Barão do Rio Branco?
O quer o Carluxo em sala no Planalto, sem cargo para tanto? O que quer o oligofrênico Olavo de Carvalho?
Será apenas tumultuar pelo tumulto?
Ou sua estratégia é manter uma constante chama crepitando o fogo da discórdia entre os homens?  
Será que é a persistente sobrevivência do comunismo como mal maior da humanidade?
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Porque o que é certo é que tão autoritário como pode ter sido o regime comunista, tão tirânico e criminoso, também não há como negar terem sido os regimes escudados pela ultra-direita, tais como o nazi-fascismo, o fascismo do Duce, o franquismo ou o salazarismo, para não falar em Orbán na Hungria. 
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Então, o mal não está na posição em que se situa o autoritarismo, mas na possibilidade de sua vigência. 
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Para concluir as divagações desse pitaco, revelo apenas a expectativa criada depois da reunião ministerial de ontem em que Bolsonaro perdeu a chance de ficar quieto, perdeu poder, e perdeu espaço em seu governo: a pergunta que não quer calar e que vale um milhão de dólares.
Quando é que Mandetta vai demitir Bolsonaro?


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